Andressa estava sentada em meio à multidão que assistia à mais um culto de Bernardo, ela podia sentir que Bernardo estava pondo, de leve a sua vontade naquele povo, inclusive nela, porém devido à anos de convivência com o pseudoprofeta ela já conseguia discernir quando uma ideia ou opinião era dela ou se era Bernardo falando por ela.

Andressa levantou-se quase no fim do culto e foi para uma área mais ao interior da capela, onde poderia ficar sozinha até o fim daquilo, sua cabeça já não aguentava mais ouvir sempre os mesmos discursos de seu companheiro.

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— Novamente cansada? — Bernardo questionou ao entrar no cômodo, suas feições eram alegres, o dia havia sido produtivo.

— Não confio nela — Andressa exclamou não dando atenção à primeira pergunta de Bernardo.

— Não confia em quem?

— Cassandra — Andressa respondeu friamente, odiava com todas as suas forças aquela mulher, que para ela, era uma das maiores responsáveis pela antipatia das pessoas pelos corrompidos, suas ações extremistas e violentas é o que reforçavam essa ideia negativa — Você sabe que ela não é como nós, ela é louca, extremista, uma assassina torturadora.

— Talvez nós precisemos de alguém assim na nossa equipe, você sabe, alguém com coragem de fazer o necessário quando a situação se complicar.

— Eu não sou assassina... — Andressa resmungou comparando-se à Cassandra.

— Eu sei que não é, e é por isso que precisamos dela e de seu pessoal, eles podem sujar suas mãos por nós, fazer o que não fazemos.

— Isso é errado — Ela respondeu.

Bernardo se aproximou daquela garota, depois de Letícia ela era a pessoa pela qual ele mais nutriu sentimentos positivos na vida, ela era como uma irmã caçula para ele.

— Não, é o necessário — deu-lhe um abraço — Estamos em guerra, às vezes coisas que não nos orgulham precisam ser feitas.


***

Os gritos eram incessantes, o barulho era tão alto que um quarteirão inteiro poderia ouvir os pedidos de socorro se não fossem as habilidades corrompidas de uma das soldadas de Cassandra que conseguia filtrar aquele som, não permitindo que qualquer ruído fosse ouvido do lado de fora daquele galpão sujo.

Dentro do galpão, um homem estava amarrado à um cadeira, sangue, queimaduras, hematomas e cortes desfiguravam o então vereador Marcilio Albuquerque. Em torno, um pequeno grupo o cercava, liderados por Cassandra; Enrique, Marcel, Renata e Juliano torturavam o homem que segundo eles, era culpado por nunca se esforçar para mudar o panorama dos corrompidos perante à sociedade.

— Por favor, eu lhes imploro... AAAHH — Seu cérebro fritava, Juliano usava seus poderes contra o vereador, o elo psíquico que ele poderia criar com qualquer pessoa num raio de 5 metros estava sendo aplicado naquele homem, que era forçado a ver sua família sendo morta e torturada de milhares de maneiras diferentes.

Ao mesmo tempo a Caliburnus de Enrique estava traspassada em seu braço esquerdo, a lâmina fria e extremamente afiada não era a única coisa que causava a dor física à Marcilio, visto que a habilidade primordial de Enrique era combinar sua espada com seus poderes elétricos, criando uma verdadeira arma destrutiva e extremamente dolorosa que era capaz de cortar, perfurar, rasgar e eletrocutar o seu alvo.

— Nós já cansamos de clamar pela sua misericórdia, porque deveríamos ouvir aos seus gritos de socorro? Você não merece — Cassandra, a mulher morena e de músculos definidos fitava Marcilio nos olhos, gostava de ver como eles se arregalavam em meio a dor que sentia, isso de certa forma era gostoso para ela — Sabe, — falou com um sorriso no rosto — torturar alguém não é algo que deve ser divertido, mas devo admitir que isso cria um sorriso em meu rosto.

***

Jonas estava estático, seu corpo não se movia porém sua mente havia ido à mil lugares naqueles segundos que sucederam às revelações de Serena, primeiramente ele havia beijado à garota, algo que não era planejado por ele, porém que aconteceu num impulso inesperado após ele se perder em meio aos seus olhos e ao biquinho sedutor, em sua opinião, que ela fizera.

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Logo após Serena revelou saber que ele é o Aracnídeo, ou achar que sabia, que deveria ser o que Jonas teria que convencê-la, fazê-la pensar que ele ser o Aracnídeo seria coisa de sua cabeça, não uma realidade, e por conta disso ele pensava em mil desculpas diferentes, desde ele ser amigo do Aracnídeo, servindo apenas como conexão do herói com o que estava acontecendo na cidade, um cara da cadeira, como dizia Rafael. Até, ele secretamente cheirar pó, ser um viciado e por conta disso às vezes precisava se meter em brigas para sustentar seu vício em drogas, porém tudo se perdera em meio à um turbilhão de pensamentos quando a garota desapareceu em sua frente se revelando um corrompida assim como ele.

— Surpreso? — Ela questionou fitando-o — Deve ser algo novo para você, ter mais alguém assim, especial, no colégio.

Jonas permaneceu imóvel, seu cérebro trabalhava agora mais lentamente, processava às informações recebidas ao invés de tentar, à todo custo, criar novas desculpas, tampar possíveis furos em suas mentiras entre outras formas de fazer Serena acreditar que ele era só um cara normal.

— Tá, nem todo mundo reage assim. — Serena tentou cortar o silêncio constrangedor.

— Você é uma corrompida? — Foi a primeira coisa que ele conseguiu falar.

— É o que parece, né? Tem alguma outra possibilidade ou nomenclatura para uma adolescente de 17 anos que pode ficar invisível, sentir e controlar sentimentos alheios e pelo que parece também está virando uma espécie de Sue Storm completa, com direito à escudo invisível ou seja lá como você queira chamar?

— Você pode controlar sentimentos? – Jonas fazia as perguntas mais idiotas para o momento, possivelmente um reflexo do choque de informações.

— Bem — Serena deu de ombros — É o que parece né.

— E sentir...

Serena suspirou, a euforia que ela sentia até poucos instantes já havia sido substituído por decepção em Jonas, ele estava se mostrando mais lesado do que aparentava ser.

— Foi o que eu disse não é? — Ela novamente pegou em suas mãos, não precisava disso para saber o que ele sentia, uma mistura de desespero, euforia e estranhamente, excitação. — Certo — Ela soltou sua mão e deu dois passos para trás — Quando você voltar para a terra a gente conversa. — soltou um sorriso tímido fitando-o.

Serena começou a se afastar porém foi impedida por Jonas que começava a terminar de processar tudo.

— Espera — Ele a chamou e logo depois suspirou, se sentia em débito com ela. Serena havia descoberto o segredo dele e não contara para ninguém, nem para ele mesmo, não o ignorara nem muito menos passou a agir diferente perto dele, além do mais, ela havia acabado de se revelar para ele, não seria justo mentir para ela naquele momento — É verdade — colocou sua mão esquerda sobre seu braço direito — Eu sou o Aracnídeo — Se focou e pôde ver todos os detalhes do rosto de Serena, cada sarda em seu rosto, cada fio de cabelo bagunçado que caía sobre sua face, os lábios finos que escondiam dentes brancos porém levemente amarelados, mais acima estavam aqueles olhos que o fitavam diretamente em seus próprios olhos e ele sabia o porquê, seus olhos haviam assumida outra coloração, estavam azuis, como sempre ficavam quando ele passava a usar sua visão aracnídea.

— Você tem olhos azuis? — Serena questionou surpresa fazendo Jonas sorrir, agora era ela quem fazia as perguntas óbvias.

***

Andressa caminhava pela rua, o que era de costume para ela que sempre saía à noite para ver a cidade, as pessoas e ouvir o som de uma capital brasileira, o rotineiro barulho de moto, pessoas discutindo alto ao celular, carros buzinando, dentre outros ruídos característicos da cidade grande.

Esses passeios à distraiam e à ajudavam a refletir sobre sua vida, suas escolhas e se o que ela estava fazendo era o certo, àquela noite ela pensava em Jonas, Bernardo, Cassandra e na revolução. Andressa temia estar fazendo escolhas erradas, o que ela queria para os corrompidos não mudara até então, seus objetivos eram os mesmos, porém ela questionava se o meios a qual ela e seu pessoal estavam tomando eram os certos.

Ela odiava Cassandra e detestava mais ainda ter que se unir à ela, uma das responsáveis pela morte de uma das pessoas mais queridas para Andressa poucos anos antes. Uma mulher que fora tão importante tanto em sua vida quanto na de Bernardo que ela não sabia como ele conseguia se unir à ela. Andressa preferia pensar que Bernardo não queria a união, lá no fundo, porém estava a se sacrificar, deixar de lado o seu querer pelo bem maior dos corrompidos.

Enquanto caminhava e refletia, ela pôde ouvir um disparo, correu na direção do som e se deparou com mais uma cena de violência numa das cidades mais violentas da América latina, quiçá do mundo. O corpo de um homem de aproximadamente 30 anos jazia sem vida ao chão, um homem fugia da cena, entrando em um beco escuro sendo seguido por uma Andressa 100% focada, ela já estava cansada de tanta violência.

— Parado! — exclamou para o assaltante que se via preso, havia entrado num beco sem saída.

Em desespero o homem tentou saltar o muro, porém sentiu uma rajada de choque atingir suas costas empurrando-o contra a parede de tijolos.

— Você é surdo ou se faz?

O homem se levantou apressado, seu coração estava disparado, as descargas elétricas ainda percorriam o seu corpo e de certa forma lhe davam energia e disposição para correr em direção à saída do beco, passando por Andressa como se ela não estivesse lá, mas na verdade, tomando esta atitude justamente por saber que ela estava lá e não suportar a ideia de ficar ali preso entre um muro e uma garota mutante-aberração.

Andressa suspirou e focou sua concentração no fugitivo que parou de correr, não de forma intencional, mas sim por que a corrompida anulou a energia cinética resultante de sua corrida, em outras palavras, ela o paralisou de forma que não importava o quanto ele se esforçasse, ele não conseguiria mover nem um músculo sequer.

Andressa apenas caminhou a passos lentos em direção à seu adversário derrotado, concentrou-se um pouco e o fez ficar inconsciente, seu metabolismo havia abaixado repentinamente devido à falta de energia química.

— Você realmente sabe se virar sozinha — Uma voz familiar chegou aos ouvidos de Andressa, ela se virou e pôde vê-lo pendurado na parede suja do beco vestido em seu uniforme dourado — Eu ouvi o disparo e vim o mais rápido que pude, infelizmente não cheguei a tempo de evitar uma morte — Andressa podia ver que o Aracnídeo estava triste e se culpava por ter sido imponente — Mas, pelo menos você cuidou desse cara aí.

— O que você quer, Jonas? Achei que a carta fosse o suficiente para você entender que por enquanto não podemos ficar juntos, não até essa revolução ser concluída.

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Aracnídeo desceu ao chão — Eu sei — suspirou enquanto se aproximava de Andressa — E acredite, eu entendo seus motivos.

— Será que entende mesmo?

— Sim — afirmou — Só não entendo o porquê você acredita que me afastar é o melhor.

— Você é certinho demais para isso, não conseguiria seguir em frente.

— Talvez — Jonas retirou sua máscara, seu rosto tinha alguns sinais de lutas das quais ele se envolvera recentemente — Ou talvez você saiba que eu nunca faria o que você e o Bernardo querem, pelo simples fato de beirar a insanidade.

Andressa deu uma risada sarcástica.

— Defender seu próprio povo, sua raça, não é insanidade.

— Hitler também falava sobre defender uma raça.

— Não nos compare a ele, nós somos as vítimas do racismo, do preconceito, somos nós que somos perseguidos — Seu tom de voz se elevou.

Jonas balançou a cabeça negativamente.

— Aqueles que sofrem preconceito, seja ele qual for, realmente são vítimas, porém, às vezes, eles acabam se tornando aquilo que mais odeiam. Focalizam tanto no fato de serem oprimidos, no ódio que sofrem, que acabam desenvolvendo o mesmo sentimento, o ódio e assim se tornam o opressor.

Andressa sorriu, não podia negar que a forma de Jonas ver o mundo era cativante para ela, no entanto, ele parecia um professor falando, e ela já tivera sua cota de professores na vida.

— Você continua o mesmo. — comentou se virando.

Jonas à segurou pelo braço.

— Se não quer desistir dessa loucura, ao menos tenha cuidado para não morrer em nome de uma causa que não vale a pena.

Andressa se soltou de Jonas e seguiu seu caminho, ela ouvia as sirenes se aproximando, alguém já havia ligado para as autoridades.

— Adeus Jonas.

***

— Já sabe não é Bia? Festa sábado lá em casa, leve o gatinho do Rafael — Natália se distanciava de Beatriz indo em direção à suas amigas mais próximas.

— Claro — Bia sorria para Natália, ela nunca gostara muito de festas, não era uma das pessoas mais comunicativas do mundo, só se soltava com pessoas próximas, porém Natália era sua amiga e ela sabia que Rafael sempre gostara dela, poderia ser uma oportunidade de juntar o casal mais improvável do colégio — Estaremos lá.

Beatriz foi para a biblioteca onde ela sabia que poderia encontrar Jonas e Rafael, os dois haviam combinado com ela de estudar lá após o fim da aula. Até porque haveria prova àquela semana e eles estavam precisando revisar alguns conteúdos para ter uma maior garantia de terem notas boas.

— Oi — Beatriz foi até uma das atendentes da biblioteca do colégio — Você sabe em que sala os garotos estão? — A biblioteca era um local onde os alunos poderia estudar, pegar ou doar livros e até mesmo acessar computadores para fazer pesquisas e trabalhos. Por conta disso era um local onde o silêncio era primordial, ainda assim, haviam quatro salas de estudo onde poderiam reservar para estudar de forma separada, seria melhor para privacidade e discussões sobre os assuntos sem que atrapalhassem as demais pessoas presentes na biblioteca. Jonas havia reservado uma dessas salas para aquela tarde.

— Boa tarde Bia — Michelle olhou o registro no computador — Sala 4.

Beatriz agradeceu e foi até a sala 4 onde Jonas e Rafael não estudavam, os livros e cadernos estavam sobre a longa mesa, porém eles nem sequer olhavam para os materiais, eles apenas conversavam.

— Cheguei — anunciou sua chegada.

— Bia — Rafael se levantou e puxou uma cadeira para a garota se sentar — Nosso amigo aqui ataca outra vez, agora foi a vez de Serena.

— Serena... Serena? — Beatriz tentava não pensar em Jonas brincando com os sentimentos de sua amiga — A nossa Serena?

— Rafa...

— A nossa Serena! — Rafael exclamou.

— Tá, tá, tá. Não rolou nada, só um beijo e o assunto morreu. — Jonas puxou seu livro.

— Vocês se beijaram? — Beatriz questionou surpresa.

Droga. Jonas pensou enquanto soltava relutantemente o livro.

— Difícil de acreditar né — Rafael comentou — E tem mais, ela sabe que ele é o Aracnídeo.

— Não.... — Bia se mostrava mais surpresa, era mais uma pessoa compartilhando o segredo.

— O que você diria se eu te dissesse que ainda tem mais?

— Rafa...

— Mais?

— Ela é uma corrompida também — Rafael continuava — e pelo que ele falou, uma das fodonas.

— Mentira!

— Não mesmo.

Jonas praticamente se deitou na cadeira.

— Ótimo, mais alguma coisa senhor Rafael? — A ironia em sua voz era forte.

— Até onde eu saiba não, o que você me diz, senhor Jonas?

— Não. — Jonas encerrou o assunto e começou a ler o assunto em voz alta.

— Bem, temos uma festa sábado, Natália nos convidou — Beatriz olhou para Rafael — Principalmente você. Você é quem ela faz mais questão de que esteja lá.

Rafael engasgou e Jonas começou a gargalhar enquanto dava um tapinha nas costas do melhor amigo.

— E Rafael ataca outra vez, agora é a sua vez de beijar uma ruivinha.

— Cala a boca — Rafael resmungou.