Terceiro Capítulo

A felicidade foi momentânea.

O desespero passou a tomar conta da minha mente no exato momento em que me lembrei de um fato muito importante: Eu não sabia nadar.

Braçadas desorganizadas era o que ainda me mantinham na superfície e perto do oxigênio, mesmo que o balanço do mar gélido não me permitisse respirar corretamente.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Ed! – gritei para o moreno enquanto lutava com o revoltoso mar. A saia do vestido se enrolando em minhas pernas, prejudicando ainda mais a minha fracassada tentativa de não me afogar. O tecido encharcado era como ancoras de tão pesado que estava, e que insistia em me arrastar para o fundo.

Como me arrependo de não ter feito aulas de natação! E não foi por falta de oportunidade.

— Edmundo! Eustáquio! Sam! – Lucia gritou, não muito longe mim, tentando nos localizar em meio a toda aquela confusão.

— Aqui, Lu. – Tentei responder para ela, mas a força me faltou, me fazendo parar de me debater.

Braços rodearam minha cintura no exato momento que acabava de submergir, evitando que eu afundasse. Com a cabeça já para fora da água, meus olhos focaram na minha escuridão preferida.

— Não pare. Continue batendo os braços e as pernas. – gritou Edmundo, enquanto me segurava em seus braços – Eu vou de ajudar.

Uma forte sombra se aproximou de nós, nos alertando que o navio estava bem ali.

— Eustáquio, nade! – gritou a menina para o primo perto de si, esse que só sabia berrar assustado. – Vamos, Eustáquio. Vamos sair da frente.

— Continuem nadando. – Edmundo, que me ajudava a permanecer na superfície, gritou para os outros dois enquanto tentava nos afastar da enorme embarcação.

Só paramos de nos mover quando a voz alegre de Lucia se fez presente.

— Edmundo, é o Caspian!

Olhando para trás, o rapaz moreno ajudava a Pevensie mais nova a permanecer na superfície.

— Eu não quero ir! – choramingava Eustáquio ao ser arrastado por um dos marinheiros que haviam se jogado ao mar para resgatar os náufragos. – Quero voltar para a Inglaterra! Vou voltar para a Inglaterra!

Alívio tomou conta do meu peito ao avistar a imagem turva do moreno mais velho. Só pude sorrir para ele e ignorei o menino Mísero.

— Fiquem tranquilos, estão a salvo. – disse ele ao nos aproximarmos.

Mais homens se aproximaram de onde estávamos, nos ajudando a chegar até perto do navio. Só me soltei de Edmundo no momento em que cordas foram atadas a minha volta para que fosse içada para bordo.

— Estamos em Nárnia? – perguntou apressado Edmundo, quando todos já estávamos seguros a bordo.

— Sim, estão em Nárnia. – Exclamou o outro, risonho pela expressão abobalhada no rosto do mais jovem.

—Isso foi emocionante! – Exclamou Lucia, se enrolando em uma toalha.

— Só se for para você que sabe nadar! – resmunguei para a menor enquanto tentava me esquentar com a toalha ao meu redor.

— Caspian! – chamou Ed ao meu lado, feliz ao rever o velho amigo.

— Edmundo! Sam! – Alegrou-se o mais velho o abraçando, logo sendo a minha vez de ser envolvida pelo abraço do atual rei. – É um prazer ver vocês.

— Estamos felizes em vê-lo, Caspian. – disse para o mesmo quando nos afastamos.

— Como vieram parar aqui? – perguntou ele.

—Não faço a menor ideia. Você não nos chamou? – perguntou a menina mais nova, meio confusa.

— Não. Não dessa vez. – respondeu Caspian.

— Bem, seja como for, estamos felizes por estar aqui. – disse Edmundo, contente por estar de volta à terra da magia.

Um grito apavorado foi ouvido mais para trás e não precisávamos nos virar para saber de que se tratava.

— Tirem isso de cima de mim! – choramingava o Mísero, jogado ao chão com o que se parecia ... Um rato?

— Parece um bebê. – Zombou o pequeno animal.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Tirem isso de cima de mim! – amedrontado, o rapaz atirou longe o rato que antes estava sobre si.

— Ripchip! – Lucia e eu falamos ao mesmo tempo quando o pequeno valente caiu onde estávamos.

— Vossas Majestades! – curvou-se o rato-chefe, após ajeitar sua espada e seus pelos desarrumados. Surpresa era evidente em sua face.

— Olá, Rip. Que prazer. – Disse o rei mais novo, com um sorriso no rosto.

Naquele momento, senti uma vontade enorme de pegar Ripchip no colo e acaricia·-lo. Mas sabia muito bem que nunca poderia fazê-lo, pois ele ficaria profundamente ofendido. Em vez disso, ajoelhei-me para conversar com ele.

— É um prazer revê-lo, Rip.

— O prazer é todo meu, Majestade. A esta maravilhosa aventura faltava apenas a presença de Vossas Majestades. – disse fazendo outra reverencia - Mas antes de tudo, o que faremos com esse intruso histérico? – perguntou Ripchip apontando para Eustáquio que ainda estava ajoelhado no chão do convés.

— Esse rato enorme estava tentando arranhar a minha cara! – berrava histérico o mais novo apontando para o rato valente.

— Estava apenas tentando tirar água de seus pulmões, senhor! – retrucou calmamente Ripchip.

— Ele falou! Vocês viram? – o horror era visível no rosto de Eustáquio, que até gaguejou ao falar – Alguém ouviu? Ele falou!

— Ele fala sempre! – disse um dos marinheiros.

— Difícil é fazê-lo ficar quieto. – brincou Caspian.

— Quando não houver nada a ser dito, Majestade, prometo que não falarei. – comentou Rip, de maneira cortes.

— Não sei que tipo de brincadeira é essa, mas eu quero que pare, agora! – berrava o Mísero aos quatro ventos.

— Por que não o jogamos de volta ao mar? – indagou o valente rato, apontando para o garoto.

— Edmundo! – exclamou Lucia, socando o braço do irmão pelo fato dele ter estado sujeito a aceitar tamanha proposta.

— Não seria uma má ideia. – falei baixinho para Caspian ao meu lado, que segurou a risada com o olhar que a Pevensie mais nova nos lançou.

— Exijo saber agora mesmo onde estou! – Eustaquio falou para um grupo de marinheiros que estavam ali por perto, rindo-se da situação do pobre rapaz.

— Está no Peregrino da Alvorada. O melhor navio da marinha de Nárnia. – disse o Minotauro, com orgulho de estar ali naquele lugar.

Bastou pôr os olhos em cima dele para que Eustáquio Mísero caísse ao chão. Desmaiando pelo choque e medo.

— Foi algo que disse? – perguntou o Minotauro ao seu rei, sem saber o que havia feito de errado, quando este se aproximou.

— Cuide dele, por favor. – pediu Caspian, rindo do que tinha acabado de acontecer.

— Sim, Majestade.

—Homens! – chamou Caspian a atenção de todos, subindo na escadaria do convés para que todos pudessem vê-lo - Vejam os nossos náufragos: Edmundo, O Justo. Samantha, A Sábia. E Lucia, A Destemida. Grandes Rei e Rainhas de Nárnia.

Todos então se ajoelharam, honrando a presença dos antigos Rei e Rainhas. Felizes por encontrarem os salvadores de sua amada terra.

— Vamos descer para mudar de roupa. – disse Caspian momentos depois - Como é natural, meninas, cedo-lhes o meu camarote, mas o que não tenho é vestimenta feminina de acordo. Espero que não se importem de usar minhas vestes.

O moreno então nos guiou até uma portinha que dava para a cabine da popa. Na salinha abriam-se três janelas quadradas para o mar revolto; bancos baixos e almofadados cercavam os três lados da mesa; uma lâmpada de prata balançava sobre suas cabeças e, na parede em frente, a esfinge de ouro de Aslam, o Leão, pendurada acima da porta. Viu tudo isso num relance, pois Caspian imediatamente abriu uma porta a bombordo e disse:

—Este agora vai ser o quarto de vocês. Só vou tirar daqui umas peças de roupa para mim - e enquanto falava remexia as gavetas - e depois deixo vocês a vontade. Ponham suas roupas lá fora; mandarei que as levem para secar.

O camarote era tão confortável. O movimento do navio era um pouco incomodo, afinal, nunca havia velejado antes, nem mesmo nos velhos tempos em que fora rainha em Nárnia. O camarote era pequeno, mas muito alegre, com painéis pintados (aves, outros bichos, dragões vermelhos e trepadeiras), e estava imaculadamente limpo.

As roupas de Caspian eram demasiado grandes, mas conseguimos dar um jeito. Os sapatos, é que eram impossíveis de calçar, por causa do tamanho, sendo mais fácil então andar descalça a bordo.

Olhando pela janela, após terminar de me vestir, suspirei ao ver a bela paisagem. As ondas se chocando com a passagem do navio, deixando para trás um rastro de espuma.

— Nós realmente voltamos, Lú? – perguntei para a mais nova, que terminava de prender o cinto – Não é um sonho?

Lucia sorriu. Aquele sorriso infantil, que sempre lhe alcança os olhos.

— Não é um sonho, Sam. – respondeu segurando minha mão na sua e me puxando para um abraço – Estamos aqui. De volta a Nárnia. Estamos aqui.

Naquele momento, enquanto abraçada a Lucia, tive a certeza de que passaríamos uma temporada maravilhosa.