A piece of cake

Recaída de Pirata


Em outras circunstâncias, eu teria falado alguma coisa. Dessa vez, entretanto, permaneci mudo. Não exatamente ofendido. Mas aborrecido. Como já dito antes, estávamos numa noite tediosa no meio do alto-mar, ninados pela ventania que empurrava o barco roubado. E embora eu já o conhecesse mais do que deveria, ainda restava um pouco de esperança em pensar que Sherlock Holmes partilhasse algum tipo de sensibilidade.

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Constatando o óbvio, simplesmente virei para o outro lado, tentando me manter ocupado em observar o reflexo da lua na maré baixa. Senti um cheiro estranho depois de algum tempo, então ao virar-me no impulso de averiguar do que se tratava, encontrei Sherlock soprando um cigarro para trás, e não pude deixar de sorrir em notar que havia sim preocupação naquele coração plúmbeo. Sherlock Holmes tentava, certamente, não me incomodar com a fumaça.

— Acabaram os adesivos? — rendi-me àquela guerra de silêncios.

— Pensei ter pedido para ficar quieto.

— Pensei que isso — apontei para o cigarro em seus dedos — fosse um intervalo. Você sabe. De seus devaneios no Palácio Mental.

Sherlock finalmente pôs os olhos em mim, e mesmo à meia-luz senti o olhar dele queimando-me.

— Está com insônia, John?

Não respondi.

Sherlock estendeu-me o masso de cigarros.