Sem voz

Carlinhos espalhou os jornais pela mesa e Eugênia lhe deu alguns contos de réis pelo serviço. Sisudo e desconfiado, levou algum tempo até adquirir confiança, pegar o dinheiro e correr.

Eugênia estava concentrada recortando as reportagens que mencionaram seu artigo publicado uma semana atrás.

Álvaro comemorou as vendas, mas Eugênia não preocupava-se com dinheiro, e sim a repercussão.

“Exagerado e delirante?” Ela amassou o jornal com raiva.

Aquele tema era como cutucar uma colmeia de abelhas ferozes. Vivia numa recente democracia, não havia espaço para discutir o futuro dos filhos de outras famílias abertamente. Especialmente como mulher sem voz.