O molho de chaves tilintou quando Silas girou-o na fechadura.

A luz em cima deles piscou, o tom amarelado ficou mais forte e então estabilizou. Alek olhou para os fios presos no teto adentrando nas paredes de rocha. Sentiu um calafrio ao pensar que há poucos dias era ele preso ali. Não mais, tudo se acertou agora.

— O que você fez? — Kaedra perguntou, sem deixar a cela.

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— Pode sair...

— Não! Os guardas não simplesmente soltam a gente...

— Está certa, você está saindo sob responsabilidade de Turmo Gÿrvanza. Mago Supremo da Ordem dos Turmanos. — Alek disse em um tom alegre. — Ele está me ajudando, me explicando tudo...

— Você confia nele?

— Você vai ficar ai dentro mesmo?

Então Kaedra cedeu, se levantou da cela e deixou-a junto de Alek.

— Obrigado Silas. — Alek agradeceu o guarda que, uma quinzena atrás, estava escoltando ele para dentro de uma cela como aquela.

Estavam em outro bloco dentro do Pilar, este não havia sofrido danos com o ataque que ocorrera. Desta vez os corredores estavam inteiros, não havia rachaduras ou combates, os guardas olhavam para Kaedra e para Alek com olhares tortuosos, mas nada faziam.

— Você e esse mago... Ele é importante?

— Mais do que eu imagino que seja, tenho certeza.

— Então se eu pedisse, você conseguiria... É algo sim importância para ele, mas para mim... — Kaedra olhou para Alek enquanto entravam no elevador interno do Pilar, os dois portões se fecharam e as engrenagens rangeram. O túnel em linha reta não possuía iluminação e no elevador havia apenas um candelabro com óleo queimando, de forma que eles se viam mergulhados em sombras, vendo silhuetas demarcadas pelo vermelhão do lampião. — O corpo de Orfeu, ou o que sobrou, tenho certeza que eles desobstruíram o túnel...

— Sobre isso; não acharam corpo algum. — Alek disse se lembrando do que fizera há três dias.

Kaedra não disse nada na hora, apenas suspirou e olhou para frente. Devido à escuridão Alek não pode ver, mas a imaginava sorrindo aliviada. Para Alek o pensamento era o mesmo que naquele instante passava pela mente de Kaedra, se não há um corpo, Orfeu não estava morto.

— Eu menti. — Ele disse então. Ela lançou um olhar fulminante, mesmo nas trevas, a respiração de Kaedra mudou. — Para eles, não para você... Disse que Orfeu estava entre os mortos, desfigurado... Não estava.

— Por quê?

— O quê?

— Mentiu.

— Não sei. — Respondeu para ela. — Me pareceu o certo a fazer. Eu não sei o que vocês fizeram o que vocês são um do outro. Só não acho que sejam os monstros aqui.

— Você está junto dos monstros, Alek.

— Não também. — Alek sentiu o elevador parando, então abaixou o tom de voz enquanto chegavam à base do Pilar. — Os Carza e os Hasgyz, os Turmanos, Zelotes, todos tentam mandar aqui, e os guardas obedecem a todos. Não sei de quem foi à ordem da prisão de vocês dois, mas a soltura é ordem de Gÿrvanza, dos Turmanos. É com ele quem eu estou, ele conheceu... Ele era o melhor amigo do meu pai!

Então abriram os portões e desceram do elevador.

Alek guiou Kaedra pelo corredor, ele já havia descido ali duas vezes, conhecia mais ou menos o caminho. Nos últimos sete dias Gÿrvanza havia o deixado ir e vir por conta própria pelo Pilar, o que havia resultado em Alek se perdendo vez ou outra. Para sua sorte não era difícil encontrar guardas, para seu azar idem; alguns guardas eram dos Carza e se não o atacavam fisicamente, os olhares não disfarçavam as vontades.

Após caminharem um pouco, ainda dentro dos tuneis do pilar, chegavam em um salão, algo como um campo de treino coberto com um grande portão de madeira para o exterior. Havia ali mesas compridas e dezenas de banquetas agrupadas, além de caminhonetes e tendas de couro desmontadas, lenha e lingotes de ferro e bronze.

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— Acredita nessas coisas? Neste Gÿrvanza e nessas histórias? Eu sei quem me prendeu; o Rei dos Reis. Ele, e todos abaixo dele, são um só. Você vê divisões, mas eu vejo o inimigo!

— Queria que visse diferente, quem sabe se um dia me der uma chance...

— Eu sou muito grata por isso, Alek. — Kaedra disse pegando na mão dele. — Mas olha, se Orfeu... aquela explosão, você acha que foi acidente?

— Eu não quero pensar sobre isso. Eu não quero saber sobre isso! O que vocês fizeram, o que farão... Eu não... Não preciso saber! — Alek a interrompeu, apertando os dedos frios de Kaedra contra os seus.

— Porque tem medo, que se eles te torturarem você diga! — Ela concluiu por conta própria. Alek não temia isso, mas sim algo semelhante. — Você queria saber sobre nós dois. Ele é meu irmão, eu quem fui presa, ele não fez nada de errado, acabou indo parar ali de propósito, ele foi me buscar. Esse era o plano!

Alek abaixou os olhos, lentamente soltou os dedos de Kaedra até que as mãos se separassem.

— Se eu soubesse...

— Nada teria mudado. Família... Não é só o seu ponto fraco! — Ela sorriu, então pareceu se lembrar de algo. — Como eu dizia. Eu sou grata pelo que está fazendo, Alek, de verdade. A última coisa que quero é te prejudicar, você é bom, e isso é raro. E eles são os inimigos. Você não vê isso agora, mas eles são! E se você estiver junto deles...

Então ela não disse mais nada.

Alek entendeu o que Kaedra queria dizer. De súbito entendeu até mesmo o que ela e Orfeu faziam. Então os braços dela se abriram, abraçaram Alek e o apertaram. Ele demorou um instante para retribuir, mas quando o fez sentiu o calor do momento, era uma despedida, mas não estavam tristes, muito pelo contrário.

— Volte algum dia. — Ele disse quando se separaram.

— Voltarei, acredite! — Então, dizendo aquelas palavras com um pesar estranho, Kaedra se virou e foi até a porta, cruzou-a rumo ao Anel, e sumiu no mar de pessoas.