queria não estava em jogo.

Mas eu queria ir.

Minha curiosidade coçando meus pensamento também não estava me ajudando, apesar de que um problema maior estava à minha frente.

O que falar para alguém que sentia medo de mim, mas que queria me ver? Desde que havia me encontrado com Evan, muitas coisas que eu não podia prever aconteceram me fazendo perder o controle da situação. Eu estava me sentindo desconfortável, não importasse quantas vezes pensasse nisso. Eu o conhecia há dois dias e minha vida já estava de ponta-cabeça! Mas havia uma urgência, algo dentro de mim que me atraia para tudo aquilo enquanto eu aceitava de bom grado, sem nem ter ideia das possíveis consequências.

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Só posso estar ficando louca.

— Sarah? — Meu pai me chamou, fazendo-me despertar do pequeno transe.

Olhei para ele, incrédula comigo mesma por ter me preocupado primeiramente em como lidar com Evan em vez de fazer o mais coerente e racional no momento: minimizar ao máximo o impacto do que estava para acontecer.

— Houve uma emergência com Evan. Eu preciso ir — despejei a primeira coisa que veio a cabeça.

Não podia dizer que era para me ver porque ele perguntaria o óbvio: não acabou de sair da casa dele? Não o viu o dia todo?

Ele hesitou por um momento, provavelmente em dúvida se perguntava o que havia acontecido ou se me proibia de sair.

— E por que precisam de você? — Enfatizou a última palavra.

— Porque nesse instante nem a Sra. Roberts nem Jonathan podem ajudá-lo.

Criar meias-verdades estava se mostrando uma tarefa relativamente complicada.

— Eles são a família dele! Se eles não podem ajudá-lo, como poderia você?

Sorri colocando minhas mãos em cima das dele para tranquilizá-lo.

— Porque eu entendo o que ele está passando — respondi; antes que ele pudesse perguntar, acrescentei: — Têm algumas coisas que não posso explicar agora, paps. Mas preciso que confie em mim.

Seus olhos se encheram de ternura e preocupação; ele passou a palma da mão pela minha bochecha.

— Vai.

Beijei-o no rosto e fomos para a porta de entrada onde o táxi já estava aguardando. Olhei para o meu relógio de pulso.

22:47.

A noite seria longa e eu ainda teria que me preparar para o trabalho amanhã que na verdade era para onde eu estava indo no momento. Será que eu ganharia o dia seguinte de folga? Duvidava muito.

Um pensamento me ocorreu quando o carro estacionou em frente ao prédio do qual eu saíra uma hora e meia antes. Era Evan quem estava vindo a mim. Eu não havia feito absolutamente nada e acreditava que seria assim por algum tempo. Talvez até semanas, mas em apenas um dia de trabalho ele veio a mim. Eu só não sabia o porquê.

O elevador subiu rapidamente e quando cheguei no andar correto, vi que a porta estava semi-aberta, de forma que pude ouvir algumas vozes vindo da sala. Todas conhecidas por mim.

— ... sei o que você está fazendo aqui — ouvi pela metade Evan dizer para alguém. Não era uma pergunta.

Ouvi uma gargalhada, provavelmente Jonathan.

— Não permito que me falte com o respeito, Evan — repreendeu a Sra. Roberts.

Antes que alguém pudesse falar mais alguma coisa bati na porta levemente. As vozes morreram instantaneamente, ouvi passos se aproximando e logo a porta abriu por completo. Olhei para cima apenas para ver Jonathan que me encarava com o mesmo olhar de diversão de mais cedo.

Não conseguia entendê-lo de jeito nenhum.

— Srta. Bright se revela cada vez mais Bright.

Ergui uma sobrancelha.

Ele apenas ignorou e gesticulou com um floreio para o corredor para que eu entrasse.

Vi primeiro a Sra. Roberts que já estava voltada para a minha direção, ela não estava sorrindo, mas todo o seu rosto estava, principalmente os olhos. Parecia cansada. Então vi Evan que estava sentado o mais afastado possível no sofá. Ele não olhou para mim, mas notei o momento em que seu corpo se tensionou e as mãos tremendo fecharam em punhos.

Ele sabia que eu estava ali.

— Boa noite — comecei, era mais direcionado a Sra. Roberts, pois ainda não a havia visto naquele dia.

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Ela balançou a cabeça em cumprimento.

— Srta. Wright.

Imediatamente Evan se levantou e foi para o quarto dele deixando a porta aberta.

— Acredito que essa seja a sua deixa — Jonathan apontou com a cabeça para onde Evan entrara.

Olhei para eles tentando imaginar o que estava acontecendo e o porquê daquilo tudo, mas desisti.

Ao me direcionar ao quarto reparei que o lugar onde Evan quebrara o porta-retratos já estava limpo. Assim, que deslizei para dentro do cômodo e voltei a cadeira para fechar a porta, tudo ficou escuro.

Não havia luz dentro do quarto, não mais do que a que entrava pela fresta embaixo da porta. Levantei os braços tateando com as mãos a parede acima de mim próxima à porta, pois é onde geralmente há um interruptor.

— Não — a voz de Evan soou um pouco mais firme do que eu lembrava.

OK, isso está começando a ficar estranho, como ele sabia o que eu estava tentado fazer se não podia me ver?

Parei de tentar acender a luz e abaixei os braços. Alguns segundos se passaram.

— Por quê? — Perguntei.

Silêncio.

— É melhor assim.

— Eu sei, não foi isso o que quis dizer — corrigi-o.

Claramente não tinha como eu saber como ele sabia que eu estava tentando acender a luz, mas eu sabia por que ele queria apagada. Provavelmente, era mais fácil lidar só com uma voz estranha do que encarando a estranha.

Eu não conseguia ver nem mesmo um palmo a frente do meu nariz, pela voz dele parecia que estava a uns dois ou três metros de distância. Se havia janela no quarto deveria estar coberta completamente, pois nem a luz da lua entrava.

— O que quis dizer, então? — Perguntou.

— Por que me chamou aqui?

Não falou por alguns segundos.

— Jonas me contou — respondeu, a voz tão baixa que mal podia ouvi-lo.

Jonas provavelmente era Jonathan.

— Contou o quê?

— Foi você quem disse para me trazer para o quarto — sua voz era incerta, um pouco trêmula.

— Sim.

— Não vai perguntar o porquê da luz apagada?

Sorri mesmo sabendo que não poderia me ver.

— Eu não preciso perguntar.

— Como sabe tudo isso? Como sabe de coisas que nem mesmo Jonas que mora comigo sabe?

Respirei fundo tentando alcançar o máximo de ar que meus pulmões podiam comportar antes de soltá-lo silenciosamente.

— Porque eu já estive no seu lugar uma vez. Como pode ver, eu também não sou exatamente o modelo de pessoa que a sociedade gosta de ver. Pessoas como eu são o tipo de coisa que você sabe que existe, mas prefere ignorar porque andar sobre duas pernas é o normal — pausei antes de acrescentar: — assim como é normal conversar com o outros sem tremer de medo.

— Eu não era assim — defendeu-se entre dentes.

— Nem eu — sussurrei, apesar de ter certeza que tinha ouvido.

Ficamos em um silêncio desconfortável por alguns minutos, eu não sabia o que dizer, então preferi ficar calada.

— Você é assustadora — sua voz soou tranquila, ele não parecia nervoso como no início. Provavelmente não deveria estar tremendo tanto.

— Perdão?

Ele riu baixo.

Meu coração começou a bater mais rápido sem eu saber o porquê. Era algo ao qual meu corpo reagiu espontaneamente, como se tivesse gostado de ouvi-lo rindo. Eu não estava esperando que ele fosse rir, muito menos estava esperando a reação que eu tive.

Eu estou ficando louca.

— Você ficou em frente à minha porta a tarde inteira, praticamente umas cinco horas — explicou. Pisquei algumas vezes e então ri junto com ele. — O que ficou fazendo todo esse tempo?

Lembrei-me do meu livro que provavelmente devia estar na sala onde Jonathan e a Sra. Roberts estavam.

— Lendo — respondi.

— Devia ser uma leitura muito interessante.

Sorri ao pensar em meu velho livro da Jane Austen.

— Sim, com certeza — uma ideia então surgiu: — Se não tiver preconceito posso te emprestar meu livro para ler. É o meu favorito.

Sem querer acabei fazendo um trocadilho com o nome do livro.

— Então é um livro? Qual é o nome?

— Orgulho e Preconceito.

Ouvi-o bufar.

— Com certeza não é sobre ação.

Sorri já imaginando o tédio que seria para ele as cenas de Lizie e Darcy.

— Oh, mas tem muita ação — rebati.

— Sério? — Seu tom era de descrença.

— Pode ler e verificar você mesmo, tenho certeza que a sua agenda não deve estar muito ocupada.

Não me arrependi do que disse, queria testar Evan e saber quão longe eu poderia levar uma conversa com ele.

Ficou em silêncio por alguns segundos.

— Me desculpe — falou por fim.

Ele sempre fazia ou dizia as coisas que eu menos esperava.

— Por quê?

— Por ontem e por hoje.

Demorei alguns segundos para entender que ele fazia menção as aparições abruptas nada convencionais.

— Estamos quites — respondi.

— Por quê? — Sua voz denunciou confusão.

— Hoje mais cedo. Eu e Jonathan.

Eu sabia que com a casa tão quieta, Jonathan e eu conversando e rindo de alguma forma incomodou Evan. Desconfiava que havia se comportado daquele jeito por causa do barulho ou porque havia pessoas conversando normalmente quando ele não podia se juntar.

— Como sabe dessas coisas? — Voltou à pergunta do início. — Você pode ter passado pela sua própria situação, mas não passou pela minha.

Balancei a cabeça concordando.

— Sou boa em observar.

— Então sabe por que a chamei?

Não respondi. Essa era a pergunta que eu havia feito a mim mesma desde a ligação da Sra. Roberts até chegar ali. Ainda não havia encontrado uma resposta.

— Não — fui sincera.

Abri a boca para tentar dizer alguma coisa, mas ele começou primeiro:

— Você se machucou?

— Como?

— Você se machucou mais cedo quando eu...?

Lembrei-me da cena de Evan caindo sobre mim. Amortecer a queda com a mãos realmente tinha ajudado, então dor não era exatamente a lembrança que eu tinha daquele momento.

— Não, estou bem.

Pensei tê-lo ouvido expirar aliviado, mas abandonei esse pensamento imaginando que era coisa da minha cabeça.

— Vai vir amanhã? — Sua voz soou diferente.

Louca, minha voz interna cantarolou. Mantenha o foco, Sarah.

Percebi então que em nenhum momento ele respondeu o porquê de ter me chamado.

— Sim. Sua mãe me contratou 24/7 — respondi sorrindo.

A Sra. Roberts havia me contratado para os dias úteis da semana no período da tarde, mas algo me dizia que se Evan decidisse me chamar às 3 da manhã ela iria me buscar em casa pessoalmente se fosse necessário. Cheguei a conclusão de que ainda que o meu tempo oficial de trabalho fosse um turno, cinco vezes na semana, eu teria que dar um jeito de estar livre para quando precisassem de mim.

Estão te explorando, lembrei de meu pai. Ele com certeza não poderia saber disso e eu torcia para que ninguém me ligasse me chamando para ir para lá às 3 horas da manhã.

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— Você quer vir? — Perguntou.

Ele sabia ser direto.

— Ainda estou descobrindo o que eu quero. Quando souber, te conto.

Mas era mentira, eu já sabia muito bem o que eu queria.