Sisterhood

Prólogo


De quantas maneiras um coração pode ser partido?

E do que o amor é capaz quando se transforma em um ódio mortal?

*

HOOD, 27 de Novembro de 2014, 20h30min.

O vento uivava furioso naquela noite, os primeiros pingos de chuva molhavam o telhado, passei as mãos no rosto, sempre havia detestado chuvas de novembro, vinham sempre para destruir e depois partiam deixando apenas seus rastros de destruição e caos.

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Rapidamente os ventos começaram a fazer seu trabalho, como sempre faziam, sempre arrancando os telhados. A chuva açoitava tão forte que o vidro da janela parecia estar a ponto de se partir em um milhão de pedaços irregulares, meus pais estavam viajando, certamente mamãe estava surtando nesse momento, ela sempre soube do meu pânico por chuvas, quando criança chegava a me esconder e chorar de tanto medo.

Puxei o edredom para cima de mim e me encolhi sentada na cama, eu não conseguia ouvir quase nada além do som ensurdecedor da chuva forte, até que de repente tive a impressão de que minha irmã gritava ou falava algo.

— Claire? — chamei seu nome, mas ela não respondeu.

Empurrei o edredom rosa, meus pés descalços tocaram o chão enquanto eu tateava procurando por minha sandália, levantei devagar, meus passos vacilantes no corredor vazio.

— Claire — chamei novamente.

Seu quarto estava perto, e quanto mais me aproximava finalmente conseguia entender o que ela dizia, melhor, gemia.

— Liam — sua voz embargada.

Gelei dos pés a cabeça.

— Shiu! Clary, sua irmã pode ouvir — sussurrou.

— Já te disse que ela foi dormir na casa da Leninha — estava impaciente.

Por um momento cogitei sinceramente voltar ao meu quarto e me trancar fingindo que era impressão minha, dormir e acreditar que era só um pesadelo.

— Pare de demora Liam — ela vociferou com sua voz saindo exasperada — Você sabe que eu não sou a freirinha da minha irmã, vamos logo com isso.

Meu coração disparou, minhas mãos tremeram, meu corpo perdeu a força, caí sob meus joelhos, abafando meu choro com as mãos.

Minha irmã. Meu namorado.

As coisas começaram a fazer sentido na minha mente naquele momento, Claire sempre ficava depois do treino de líderes de torcida alegando estar esperando por Mike, seu melhor amigo e ficante, mas era mentira. Era por ele. Por Liam. Os olhares nos almoços e jantares em família, o motivo de sempre arrumarem os pratos juntos, os olhares na escola, o motivo de Liam odiar Mike, tudo fazendo sentido, a maneira com que ela me censurava quando eu tentava falar sobre meu namorado.

Eu estava sendo enganada por todo esse tempo, manipulada como uma marionete.

Levantei com as pernas falhando, caminhei dois passos e empurrei devagar a porta, só uma fresta, mas o suficiente para vê-los juntos, os dedos dele afundando na pele morena dela, Liam beijando o pescoço dela enquanto ela revirava os olhos.

Meu estômago embrulhou de vez, mas não foi meu vômito que chamou atenção deles e sim o som do meu choro já incontrolável. Liam arregalou os olhos azuis, Claire cobriu o corpo com a coberta vermelha.

— Mana não é o que você está...

— Pensando? Eu não estou pensando, estou vendo sua vadia — gritei fora de meus pulmões.

Liam se apressou em começar a vestir-se enquanto eu olhava furiosa para minha irmã, ele tocou meu braço e eu me desvencilhei, sentia nojo de suas mãos que outrora estavam pelo corpo dela fazendo sabe lá o que.

— Di — os olhos encheram de lágrimas de crocodilo.

Acertei um tapa em seu rosto, ele abaixou a cabeça fingindo uma vergonha que sei que ele não tem.

— Me perdoe irmã — ela rastejou por cima do colchão.

Só estava pedindo desculpas em nome do show, fazendo-se de coitada como sempre fizera, todos sempre ficaram ao lado dela, eu sempre fui a vilã e ela sempre teve tudo o que queria alegando ser o destino.

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— Sua vadia sádica você não merece perdão algum — gritei em sua direção — Sabe quando eu vou te perdoar? Quando o inferno congelar — entre dentes.

No breve momento em que os dois traidores trocaram um olhar cúmplice, cheio de... cheio de cumplicidade, saí do quarto andando de costas e corri pro quarto.

Eles pagariam por toda a dor que eu estava sentindo, todos eles, inclusive os que sabiam e me escondiam, eu descobrirei o nome de todos os traidores e os farei pagar e sofrer tanto quanto eu.

Só então depois de tanta dor comecei a entender no que o amor se transforma depois que seu coração é quebrado.

Transforma-se em ódio.

E ódio gera destruição.

Devastação.

Dor.

Como essa chuva de novembro, que me marcará para sempre.