Sisterhood

Capítulo I - Estou morta?


A morte é o abraço da eternidade

*

Ainda chovia forte, abri meu guarda roupa e peguei um agasalho, sequei as lágrimas que teimavam em escorrer por minhas bochechas quentes.

Caminhei até meu mural de lembranças e arranquei todas as fotos de família e todas as fotos minhas e de Liam. Uma delas me chamou atenção.

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Eu estava sorrindo como boba, profundamente apaixonada enquanto ele olhava para algum outro lugar, só então me lembrei que tirara aquela foto no último aniversário de Claire, há três semanas atrás. Ela estava deslumbrante em um vestido preto curto.

Rasguei a foto no meio, as lágrimas teimando em me envergonhar ainda mais, eu sentia ódio de mim mesma por estar sofrendo tanto.

Tirei minha caixa de madeira rosa de debaixo da cama e abri-a, mil cartas de Claire para mim, cartas de aniversário, cartas com declarações lindas extensas, uma delas foi o discurso que ela fizera no dia do meu baile de quinze anos. Naquele dia eu chorei e hoje percebo que eram mentiras.

Querida pequena Diana...

Você é um presente na minha vida, a garotinha mais linda e mais fiel do mundo inteiro, quero que sabia que sua irmã mais velha te ama muito e tem por ti imenso orgulho.

Desejo toda a felicidade do mundo, desejo que as estrelas do céu sempre te guiem para casa, desejo todo o amor do mundo.

Você Didi é a minha melhor, você é a parte de mim que regozija de felicidade e orgulho.

Você e eu sempre e para sempre.

Irmandade é um laço que jamais se quebra, passe o tempo que passar, aconteça o que acontecer.

Irmandade é amor, sinceridade e lealdade.

Te amo imensamente, sua irmã Claire.

MENTIROSA.

Amassei a carta e joguei no meio do tapete de veludo vermelho, arranquei o lençol da cama, quebrei todos os bibelôs do criado mudo e da penteadeira, joguei o abajur roxo na porta, a lâmpada se quebrou em vários pedaços.

Peguei o porta retrato que continha uma foto de Claire entre mim e Liam, joguei para fora da janela arrebentando o vidro, o cachorro latiu, então lembrei que me esqueci de abrir a porta para ele.

Liam batia na porta, batidas urgentes que poderiam quebrar a madeira maciça a qualquer momento, não ouvia a voz de minha irmã e nem queria, girei a maçaneta da porta e encarei os olhos dele, ele chorava, não por amor a mim, não por sentir muito, mas por ter sido pego no flagra.

— A gente precisa conversar — segurou meu pulso.

Em um só movimento me desvencilhei de seu toque firme e descei as escadas correndo,destranquei a porta dos fundos.

— Nemo entre — o labrador passou correndo entrando na casa e ficando perto de mim.

— Mamãe te ama, quem dera que os humanos fossem fies como os cachorros — acariciei sua cabeça e sorri entre lágrimas.

, Bati a porta atrás de mim e puxei minha bicicleta vermelha, montei, rodeei a casa e pedalei o mais rápido que pude, olhei para trás e vi Liam a minha porta gritando meu nome, continuei pedalando, pedalando, as lágrimas misturando-se com as gotas da chuva forte, a bicicleta derrapava, já havia caído umas três vezes desde que saí de casa.

— Di — a voz melódica de minha melhor amiga, Helena, soou abafada pelo som da chuva, só então percebi que estava na rua dela.

Parei a bicicleta e ela veio correndo descalça segurando um guarda chuva rosa Pink, estava vestindo um pijama azul com o emblema do Capitão América.

— Onde você está indo? — questionou preocupada — Pensei que você tivesse pânico de chuvas.

Só então me lembrei de que tamanha fora minha dor que eu esquecera meu maior medo.

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— Melhor pedalar no meio da chuva do que ver minha irmã e meu namorado juntos.

— Ah não, você descobriu dessa maneira — abaixou a cabeça.

“Você descobriu dessa maneira”

A frase ecoou em minha mente, Helena já sabia, todos já sabiam, todos menos a idiota aqui. Eles riam de mim pelas costas, a corna.

— Você não podia ter me escondido isso — joguei a bicicleta no chão.

— Eu não sabia como contar, Laurel me disse que eu seria uma vadia se escondesse, mas seria pior ainda se destruísse sua relação com a Claire.

— Espere — passei a mão vorazmente pelos lábios — Você, Laurel... Quem mais sabia?

Helena não me respondeu, só então me dei conta, a irmandade sabia. A irmandade era um grupo das garotas mais bonitas e mais populares da cidade, passava de geração em geração.

— Há quanto tempo você sabia?

— Uns três meses atrás quando os vi juntos depois do treino — contou — Vamos entrar.

Eu precisava das respostas, a segui para dentro da grande casa acinzentada. Ela se sentou no sofá e eu fiquei em pé no meio da sala.

— Quando os vi juntos surtei, gritei, fiz o maior escândalo, mas você sabe Laurel, é minha irmã e melhor amiga da sua, ela me aconselhou a dar um tempo, Claire prometeu que iria parar — ela chorava.

— E os outros?

— Marie e Juliette os viram no armário do zelador, quando elas vieram me contar eu disse que já sabia e por isso elas não falam mais comigo — passou as mãos nos fios avermelhados — Milah e Kath também sabem e denunciaram Claire para nossa superiora.

Superiora ou líder é a garota mais bonita e descendente da criadora da irmandade, na minha geração é Karen Mars.

— E ela disse o que? — questionei,

— Que seria um escândalo e que ela teria que expulsar ou você ou sua irmã da irmandade, nós fizemos uma votação secreta e como você sabe que Claire sabe como conseguir o que quer, ela persuadiu Juliette, Milah, Laurel e Kath contra você — seus olhos castanhos mel encharcados de lágrimas — Só eu e Marie te defendemos.

— Eu estou fora da irmandade, perdi meu namorado e a minha irmã — solucei — Eu não tenho mais nada na vida.

A baixinha de cabelos ruivos abraçou-me com todo seu carinho, embora eu a amasse, eu sabia que ela havia me traído também. Empurrei-a e ela caiu sentada no tapete, arranquei a correntezinha da amizade que tínhamos desde crianças e joguei no chão, saí batendo a porta ignorando seus chamados.

Corri o mais rápido que pude, o último ônibus da linha estava partido, entrei nele e me sentei nas primeiras poltronas, só havia eu e mais três pessoas.

— Diana o que faz fora de casa uma hora dessas? — o motorista, senhor Paul, questionou-me.

— Poderia me emprestar seu celular — pedi e ele me entregou.

— Peter?

— Diga Didi.

— Estou ligando para perguntar se você sabia que minha irmã e meu namorado estavam se pegando?

— O que? Eu vou matar aquele idiota.

— Ele é seu irmão Peter, não faça nada.

— Eu vou quebrar a cara dele.

— Fale baixo, estou ligando do celular do seu tio.

— Onde você está?

— Estou indo para qualquer lugar.

— Didi desça agora e me espere no centro, irei te buscar.

— Foi um prazer te conhecer Pitt, amo você.

— Diana Montana não desli...

Coloquei o celular na poltrona e me levantei ficando no meio do corredor.

— Para, por favor.

— Menina Diana aqui é muito deserto.

— Para. Aqui.

Senti-me mal por trata-lo daquela maneira, conhecia-o desde que me entendo por gente, ele obedeceu, eu desci e sorri para ele já na calçada.

— Volte para dentro menina, te levo para casa.

— Foi um prazer conhecê-lo, diga ao Pitt que eu vou mandar notícias.

Saí correndo atravessando na frente do ônibus parado, a chuva começou a parar, eu caminhei até a estrada e de longe vi um carro vindo em minha direção, não consegui me mover, fiquei parada esperando a morte. Não que aquilo fosse um suicídio. Mas eu estava em pânico demais para correr ou me jogar para longe do carro.

Só consigo me lembrar de sentir uma pancada enorme, meu corpo pendendo para a beirada da ponte, o vento açoitando meu corpo que em algo e então tudo ficou escuro.

Será que eu estou morta?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.