Kandor: as chamas da magia

Capítulo IV - Inimizades


O riacho era um de seus lugares favoritos em todo o reino desde criança. Diana já tinha perdido a conta de quantas vezes fugiu do palácio, sozinha ou com Ariana, para se distrair a beira dele, ouvindo o canto dos pássaros e o correr da água por entre as pedras. Às vezes, tudo o que precisava era ficar ali e deixar que a água corrente levasse embora suas preocupações.

Parada junto a Trovão, seu cavalo negro e robusto porém dócil e adaptável, não percebeu quando alguém se aproximava deles. Descendo pela encosta, Henry trazia um garanhão também​ negro com uma meada branca entre as orelhas que se estendia por parte de sua crina. Parece que alguém teve a mesma ideia que eu.

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Fazendo um pequeno barulho, o suficiente para que Diana o notasse, chegou à base da encosta.

— Se veio para me levar de volta, saiba que está perdendo seu tempo.

— Não é essa a intenção, Imperatriz. Pensei em descansar um pouco após a ronda.

— Não é proibido ficar tempo a mais no serviço? Meu tio sabe que não está descansando?

— Receio que se contar a ele vai me render um mês limpando os estábulos. Faria isso com um guarda leal, Imperatriz?

— Talvez. Se contar que me encontrou aqui terá um castigo pior do que os estábulos. — E dando uma pequena risada, virou-se para atirar uma pedra sobre as águas. Aproximando-se ele a observou atentamente, o semblante pensativo e a testa franzida.

— Está tudo bem Imperatriz? Parece preocupada.

— Não é nada em especial.

Percebeu que não poderia vencer tão fácil a barreira​ que ela construía em torno de si mesma. Não era tão simples vencer isso, era destemida e se mostrava todo o tempo segura, e então veio o seu título de personalidade forte e inabalável.

— Tenho certeza que conseguirá resolver.

Virando-se para Henry ela estava surpresa com a firmeza da sua voz, quase como se acreditasse de verdade que ela poderia resolver algo, mesmo sem saber exatamente do que se tratava. Olhando fixamente para ele, imaginava se algum interesse maior estava por trás de sua apresentação por Agenon e esse encontro justamente agora; quando um relincho os assustou. Trovão e Órion estavam de frente um para o outro. Órion sacudia a crina enquanto o outro batia com força uma das patas sobre a terra, levantando um pouco de poeira.

— Órion, acalme-se!

Com dificuldade os dois afastaram os cavalos. Diana tinha a sensação de que algo agitou os dois mas não havia nada que ela pudesse ver que teria causado isso.

— O que deu em vocês?

— Só devem estar se estranhando. Eles não participam juntos nem mesmo do treinamento.

— Trovão costuma correr muito. — Disse Diana, com um sorriso no canto esquerdo da boca.

— Órion é o cavalo mais rápido do reino.

— Tem certeza​? — Diana o olhava com a sobrancelha levantada e cara de quem queria pagar para ver.

— Quer apostar, Imperatriz?

Sem responder, Diana montou no cavalo e ajeitou as rédeas.

************

— Onde você esteve a tarde toda?

Com olhar de desespero Ariana a observava chegar pela porta dos fundos que dava acesso ao jardim interno do palácio.

— Aconteceu alguma coisa?

— Claro. Sua decisão de abrir os portões agitou todos!

— Você também acha que é uma má ideia?

— Claro que não. Imagina. Eu acho ótimo.

— Não seja irônica. — Ariana estava com as mãos na cintura e o semblante sério. Depois o suavizou e por fim deu alguns passos em direção a amiga.

— Acho que você pegou todo mundo de surpresa e rápido demais. Dizem por aí que você seria a mudança mas não esperava que fosse tão rápida.

Com os olhos fixos na amiga, Diana pensou que ela poderia ter razão.

— Onde estão todos?

— Te esperando para o jantar.