Kandor: as chamas da magia

Capítulo V - Uma noite para recordar ( Parte I)


Na biblioteca Diana analisava os mapas do reino já tarde da noite. Todos já haviam se recolhido a seus quartos mas ela não conseguia dormir. Clermon a recebeu muito bem para o jantar e Aurora, sua esposa, lhe deu um de seus sorrisos calmos como se soubesse exatamente como ela se sentia, e muitas vezes ela soube. Ao seu lado se sentaram Marcon e Ailla, seus primos. Marcon se tornou nos últimos tempos mais próximo e atencioso, bem diferente do antigo primo que todos conheciam. Acredita-se que isso é o resultado de ter entrado para a Guarda que exigiu muito dele, tanto em disciplina como em caráter. Ailla é apenas um ano mais nova que Diana e dez anos mais nova que seu irmão. É notável que elas nunca foram muito próximas, sendo que em certo tempo quando pequenas, Diana preferiu brincar com as crianças que moravam fora dos muros do palácio e Ailla não se juntava a elas. Do outro lado da mesa estavam seus tios John e Martha, pais de Adones, ex-integrante da Guarda; e Vanda, sua tia solteira. John parecia sempre alerta, em contraste com sua esposa que muitas vezes demonstrava imensa tristeza. Vanda estava sempre ao lado dela e uma sempre apoiava a outra em tudo. Além deles, Ariana também estava presente, porém sem muitas palavras, e os membros do Conselho desculparam-se por não estarem presentes devido a questões urgentes para tratar. O jantar tinha seguido quase sem comentários, exceto que também acreditavam que ela mudaria os membros do Conselho, algo que Vanda pensava ser o mais conveniente, dizendo que ele não evoluía e como estavam há certo tempo em seus cargos, se acomodaram.

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Imersa em pensamentos e revendo seu dia, Diana foi interrompida por seu primo Marcon que entrou com um buquê nas mãos.

— São para você. Sei que gosta de flores e agora seu tempo para os jardins está reduzido. Então por que não trazer o jardim até você?

— Eu nem sei o que dizer, Marcon. Mas entre. — Entregando as flores ele espera Diana se sentar para depois tomar lugar em uma das cadeiras a frente da mesa.

— Obrigada. São lindas.

— Achei que te fariam bem. Eu decidi resolver outras coisas e daí passei pelo jardim e lembrei que você me pareceu preocupada no jantar.

— É impressão sua. — Diana olhava para as tulipas, as flores mais belas daquele verão e com voz firme completou. — Eu só estava analisando alguns assuntos.

Sentado diante dela Marcon parecia um homem verdadeiramente interessado no bem estar do reino, e no seu também. Seus olhos estavam fixos nela sem parecer intimidador ou inconveniente, e logo puxou outro assunto:

— Faz bem sair um pouco para pensar com mais clareza. Cavalgar seria bom. Lembra quando meu pai nos levava para a colina? Nos divertíamos muito.

Ela se recordava sim. Cavalgavam até as colinas ao sul e brincavam sobre a relva verde. Se davam muito bem apesar de Ailla ficar emburrada e querer que tudo girasse ao seu redor. Enquanto ela fazia birra os outros dois armavam brincadeiras para provocá-la ainda mais e depois riam juntos. Brincadeiras de criança...o sorriso de Marcon era lindo.

— Está tarde, Marcon. — Um sorriso no canto esquerdo da boca denunciava que as lembranças te agradavam mas seu rosto dava a entender que a conversa terminaria ali e seu primo compreendeu bem sua deixa.

— Dê um tempo a eles. Logo poderão ver que você é uma excelente Imperatriz. — E devagar virou-se para sair quando Solano bateu levemente na porta e entrou. Seus olhos passaram de Marcon para a Imperatriz e então para as flores sobre a mesa. Sua expressão mudou, não demonstrando nenhuma emoção.

— Lamento, não queria atrapalhá-los.

— Eu já estou de saída, Conselheiro Solano.

Marcon passou por ele e fechou a porta atrás de si. Solano aproximou-se devagar, seu rosto havia se transformado em um misto de preocupação e nervosismo.

— Não consegue dormir também, Solano?

— Estava resolvendo alguns assuntos, Imperatriz.

— Não precisa me chamar o tempo todo assim. Pode me chamar de Diana também. Ou eu mudei?

— Não é isso. Trata-se de seu novo posto e lugar de direito.

— Parece preocupado.

Solano andava de um lado a outro organizando os objetos sobre a mesa, ajeitando os quadros que já estavam mais do que no lugar certo.

— Andou ganhando flores?

— Marcon me surpreendeu com o buquê.

— Me surpreende também.

Colocando os mapas de lado, Diana juntou as mãos na borda da mesa e olhou fixamente para ele.

— Solano, você quer me contar alguma coisa? Está preocupado que eu faça mudanças no Conselho?

— Não é isso. — Sua voz não se alterou, manteve-se firme.

— Acha que eu não sou capaz de levar o reino em frente?

— Também não pensei nessa hipótese. Eu te conheço desde criança, sei exatamente como é. É capaz de lidar com tudo muito bem.

— Então o que te aflige? — Diana se aproximara e com delicadeza tocou o braço dele. Solano tinha alguns cabelos brancos, nunca se casou e desde cedo se dedicou ao serviço no palácio. Era um amigo fiel, um apoio, um pai; e Diana tinha certeza que ele a considerava uma filha.

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— Eu queria que esse dia demorasse mais. Eu desejei tanto que não fosse agora. — Suas palavras antes carregadas de um tom sério agora vieram cheias de angústia e hesitação. — Venha comigo Diana. Eu preciso te mostrar algo.

No terceiro andar do palácio havia um quarto por muito tempo fechado. Era o maior de todos para a Imperatriz e seu marido e depois da morte dos pais de Diana, ninguém ousou mudar uma só mobília de lugar. Solano abriu a porta com uma chave diferente dos outros modelos do palácio e entrou devagar. Desde que começou a participar das reuniões do Conselho, Diana poucas vezes retornou ao local de forma que quando entrou, parecia que olhava o quarto pela primeira vez. Decorou a cor das cortinas, observou os desenhos da caixa de jóias de sua mãe, redescobriu as cores do manto que seu pai usava. A saudade aflorou de todos os cantos do cômodo e pediu passagem direta para seu coração.

Solano parou do lado do guarda-roupa e esperou para que ela o olhasse.

— Você queria me mostrar o quarto deles? — Ele demorou a responder, pensando em cada palavra que diria naquela noite.

— Não. O que eu quero que você veja não está aqui.