A Rainha da Beleza

XXI - Preto em Branco


—Sua... Sua mãe? Mas isso quer dizer que você é... - Não consegui completar. Eu estava sem palavras o bastante para completar aquela frase.

Tina – ela me contou, delicadamente, sentando se na cama e batendo na colcha para que eu me sentasse ao seu lado – Sou apenas Tina, a mesma Tina que eu era à cinco minutos atrás. – ela pegou um porta retado sobre o criado mudo, me entregando– Aqui estamos, eu, Dylan, Fox, nossa prima Camille e Marie, a irmã de Fox.

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—Ele são tão parecidos – falei, passando o dedo da pequena Marie até a versão jovem de Fox, com um sorriso tão grande e brilhante que me fazia querer sorrir também – Por que está me mostrando isso?

—Por que eu sou uma musa, Bethany. Não uma princesa e com certeza não uma rainha – ela explicou, tão triste como eu nunca a havia visto – A coroa acabou com a minha família. Matou minha mãe, e destruiu meu pai e me tirou mais pessoas que eu jamais poderia contar.

—O que houve com os seus pais? - perguntei, sem querer parecer muito intrometida, mas vencida pela curiosidade.

— Minha mãe foi mortas por rebeldes, em um ataque brutal, para proteger a mim e Marie, e a morte dela fez meu pai desistir da vida... Embebedou-se até morrer - ela secou uma única lágrima solitária do rosto - É isso que a realeza faz com as pessoas, ela as tira de si mesmas. Fez Dylan tornar-se o idiota que é, sobre a insatisfação do pai, e Camille não passar mais que algumas semanas por ano no palácio, temendo pela própria segurança. Marie, pode passar o dia ao seu lado, e você nem saberá que ela é a princesa, de tantos anos que vive as escondidas, e Fox... Nem acredito que Fox será rei!

—Acha que ele não será um bom rei? – perguntei, tentando entender as milhares de coisas atrás do olhos azuis-violetas de Tina.

—Fox tem tudo que é preciso para ser um excelente rei, Bethany. O melhor desde Lamarque Paris – Ela deu um suspiro pesado, pegando novamente o retrato e recolocando em seu lugar no criado mudo – Mas ninguém o apoia. O Duque, que foi um dos melhores amigos do pai de Fox, quer Dylan no trono a qualquer preço; A Rainha nunca o viu como a primeira opção... Se Marie quisesse a coroa, ela daria a filha sem pensar duas vezes. E claro, muitas pessoas na corte esperam que eu reinvindique a coroa.

—Mas você não faria isso, certo?

—Nem se fosse a última opção de toda a Eurásia – ela uma mecha do cabelo, olhando em volta – Eu não quero um poder que me faria infeliz, não quero viver com medo todos os dias. Não quero ser mãe, e ser rainha me obrigaria a isso e a temer todos os dias por meus filhos. Eu quero desenhar, costurar, e ser livre para poder fazer minhas escolhas sem pensar no medo que ela possam me causar no futuro.

—Por que vocês estão demorando tanto? – Livie abriu a porta bruscamente, com um fio de luzes de natal enrolado em volta do pescoço como se fosse um cachecol.

—Eu não estou encontrando as fitas – Tina figiu mexer nas gavetas, quase derrubando o retrato.

—Você quer dizer aquelas? – Livie apontou para os rolos de fitas coloridas sobre a penteadeira – Onde você está com a cabeça Valenttina?

Mas antes que Tina pudesse responder, ela pegou as fitas e saiu correndo de volta a sala, de onde os gritos e risos eram impossíveis de ignorar. Sem falar mais nada, nós duas nos entreolhamos e pegamos as caixas, seguindo de volta para a sala, onde Kali e Jin guiavam duas criadas, que levavam bandejas de chocolate quente e biscoitos fumegantes, enchendo o ar com cheiros doces e quentes, que tiravam minha cabeçada história de Tina, da princesa que perdeu os pais e desistiu de reinar.

Lilie, assim como a irmã, enrolava fios de luzes em volta do pescoço enquanto os desembaraçava, e acompanhava Alicia que cantarolava músicas de natal enquanto Annie tocava o piano. Até mesmo Isabel parecia feliz, girando uma bengala de açúcar de plástico entre os dedos, estirada em seu divã, distante em pensamentos.

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—Onde está Nisha? – receosa, Tina perguntou, enquanto Alicia se aproximava, respondendo por mim.

—Nisha não comemora o Natal – ela falou, em voz baixa, antes de voltar a cantarolar pela sala. E enquanto nós nos separavamos pela sala, tentei não julgar, o quanto a ausência de Nisha parecia ter deixado Tina feliz.

......

Phelipe Paris. Janeiro, 2210

Queria que estivesse aqui, pai.Nunca imaginei que seria tão difícil ser rei. O senhor não se orgulharia de mim hoje. O povo tem medo, assim como o senhor descrevia neste diário, a África não ficaria em silêncio para sempre.

Pessoas morrem, quase todos os dias. Brancos, negros e orientais. Nosso povo, os Euroasiticos, estão fugindo para os países do norte, em busca de distância das fronteiras. Estão mudando seus sobrenomes para não serem localizados.

E os que não estão? Estão armados. Matando negros sem nenhuma piedade, culpando a raça inteira por alguns deles.Sei que a culpa é mais nossa do que deles, eles tem razão. Mas temo não poder salvar a Eurásia desta guerra."

......

Faltava exatamente uma semana para o Natal quando pela primeira vez, Nisha sentou-se conosco na sala de estar do salão das musas, que ganhará com sua chegada um tom bem mais silencioso do que antes. Com exceção das gêmeas, que riam folheando as páginas de suas revistas, ninguém mais parecia se interessar em falar algo que não fosse no tom mais baixo de voz, enquanto embrulhavam os presentes que haviam sido encomendados na última semana, com papeis coloridos e fitas brilhantes.

—Eu me lembro disso! - Todas nos viramos para Nisha, quando ela apontou para a televisão, surpresa. Na tela, uma das propagandas oficiais do palácio aparecia, com Fox, pomposo e nobre falando sobre como a coroa vinha lutando contra os ataques e socorrendo os sobreviventes dos incêndios. Com os olhos cheios de lágrimas, Nisha continuou – Q-Quando eu estava presa. Eu poda ouvir, eu ouvia ele... Eu não sabia que era Fox, que era... O príncipe!

—Você tinha uma televisão? - Kali recebeu um olhar raivoso de Isabel, quando sua curiosidade foi maior do que a muralha que elas haviam concordado em erguer contra Nisha, mas mesmo assim ela não pareceu se abalar, colocando mais um presente na pilha enorme que havia embrulhado.

—É claro que tinham uma televisão, Kali, antes de eles invadirem aquela era a casa de alguém - foi Jin quem respondeu, com uma expressão entediada, sem nem tirar os olhos de suas agulhas de tricô para responder. Imaginei que ela faria com as próprias mãos os pressentes que daria a todas, ou ao menos quase todas nós - Pelo que eu ouvi, a casa de uma família. Com crianças, e um bebê.

—Por que será que isso não me surpreende? - Isabel parou de pentear os cabelos, olhando o próprio reflexo nas costas da escova. Aos pés dela, uma única sacola, cheia de pequenas caixinhas que já haviam chegado embrulhadas - É só o que esse tipo de gente faz. Invade o lugar que chamamos de lar e fazem com que as pessoas que amamos sejam mortas.

—Isabel, você pode calar a boca? - Annie fechou terminou um laço, encarando Isabel com um ar cansado – Parece que faz um ano que você não fala nada gentil...

—Eu só estou falando a verdade, me desculpe se a verdade não é gentil - ela prendeu os cabelos e estalou o pescoço, colocando os ombros para trás antes de continuar - Não concorda comigo Nisha?

—Eu não invadi a casa de ninguém - Nisha se levantou, com os punhos cerrados e tremendo, encarando Isabel, que sorriu vitoriosa - E nem escolhi ser levada para aquele lugar, você não tem o direito de falar isso, você... Você não faz ideia do que é...

—O que? Perder pessoas? Ter medo? Estar sozinha? – Isabel cuspiu as palavras, tão enojada quanto possível – Acredite, graças ao seu povo eu sei muito bem o que é isso.

Eu não sou como eles – Nisha perdeu o controle, gritando. A lateral do lábio de Isabel se ergueu, ela sabia que havia vencido.

—Olhe para si mesma, você não se encaixa aqui. É mais um animal do que uma pessoa... Você me enoja. – Isabel se acomodou divã, cruzando as pernas – Você diz que não invadiu a casa de ninguém... Mas é exatamente o que está fazendo aqui.

—Eu não queria estar aqui, mas eu estou. Por que eu tenho medo das pessoas com a pele como a minha, eu tenho medo de ir lá fora e ser usada e presa no escuro de novo – Tremendo, com os olhos escorrendo lágrimas, Nisha engoliu o pranto para terminar - Eu nunca matei ninguém, mas isso pode mudar também... Eu mataria para sobreviver. Mas eu não quero machucar nenhuma de vocês, Isabel, nem tirar o lugar de vocês. Eu só tenho medo.

E chorando, ela nos deu as costas enquanto corria de volta para o quarto e batia a porta. Annie suspirou, se levantando, e encarando Isabel – Isso era mesmo necessário?

—Depois de tantos anos, foi preciso essa garota para que você resolvesse tomar uma posição? – Isabel grunhiu, erguendo uma sobrancelha - Você é adorável, Niette.

—Meu nome, é Annie – ela grunhiu, encarando Isabel.

Isabel deu um sorriso azedo – Sim, todas sabemos disso.

—Eu vou falar com Nisha – Annie anunciou, saindo e sumindo pelo corredor até o quarto de Nisha. Isabel deitou-se no divã, fechando os olhos. Alicia e Tina se entreolharam, confusas, assim como todo o resto de nós antes de voltarmos aos nossos embrulhos, tricôs e conversas.

Já era fim da tarde quando enfim terminamos. As gêmeas já haviam ido embora, e Annie ainda não havia saído do quarto de Nisha, quando Veronicca entrou no salão, extremamente animada, e pediu para falar com Alicia, que em poucos minutos voltou boquiaberta com uma notícia empolgante e assustadora.

—Vossa Majestade, a Rainha Lenna, convidou as musas a juntarem-se a ela, o príncipe e o restante da corte para a ceia de Natal este ano – Alicia anunciou, enquanto todas as outras a encararam surpresas.

—O que isso quer dizer? – perguntei, franzindo a testa.

—Bem... É a ceia de Natal da rainha – falou Kali, piscando os olhos.

—Mas nós sempre somos chamadas para todas essas festas, e bailes, e... – comecei, mas Alicia me cortou antes que eu acabasse.

—É diferente Bethany, a ceia de natal geralmente é um evento fechado, nunca as musas são chamadas... Uma ou outra, individualmente, mas todas? – ela mordeu o lábio inferior, inquieta – Me pergunto o porquê disso.

—É sério Alicia? – Isabel olhava para o teto, deitada, enquanto falava – Querem nos julgar. Junto com as outras garotas da corte. Precisam de opções para Fox, e uma musa é a escolha mais fácil. É provável que já tenham um ou dois nomes em mente...

—Isabel está certa – Tina concordou, pensativa e distante – Assim que o Natal passar, teremos menos de um mês para o aniversário de Fox, e logo após isso a coroação. Ela precisa de uma rainha, e logo.

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—E será uma das garotas nesta sala – falou Isabel, antes de se levantar e sair.

......

A festa de Natal da Rainha não me pareceu tão especial quanto eu ouvirá, quando a véspera de natal enfim chegou. Se o dia foi de comemoração, risos e maquilhagens, a noite foi o momento que assim como a neve que caia lá fora, a animação começa a esfriar. Alicia, em um deslumbrante vestido verde esmeralda, esvoaçante, anunciou que na verdade iria para uma festa na cidade, com um acompanhante misterioso que causou gracejos de algumas das garotas. Nem todas tinham noites tão divertidas pela frente... As gêmeas, que há poucos anos atrás tinham tido sua cidade queimada em plena noite de Natal, estavam lindamente maquiadas e penteadas em seus pijamas bebendo chocolate quente na sala de estar, enquanto esperávamos por Isabel.

Nisha tão pouco pareceu animada quando foi lhe dada à notícia - e isso não mudou nenhuma das vezes em que Alicia foi tentar convencê-la, levando a mim e a Lilie junto a ela mais de uma vez, e Annie não aparecerá todo o dia, assim como Tina dissera que ela fazia todo o natal, e dificilmente apareceria.

Por fim, quando Isabel saiu do quarto, em um vestido longo, negro, todo bordado com pedrinhas brilhantes minúsculas, fomos cinco há nos dirigir, escoltadas pelo soldado Martins, até o salão de festas da rainha.

Era duas vezes maior do que o salão convencional, e estava trinta vezes mais vazio também. As janelas eram altas e ocupavam três das paredes por completo, e o piso refletia todas as peças brilhantes dos lustres, tão altos que parecia impossível que alguém os tivesse pendurado. O salão ocupava o mais alto dos andares do palácio, onde apenas a neve brilhante era vista do lado de fora, e nada além dela e da escuridão.

—Você está deslumbrante, Bethany - Dylan falou, parando ao meu lado enquanto eu me perdia nos flocos de neve - Falta pouco para me convencer a lhe dar o meu voto.

—Voto?- franzi a testa, olhando para ele confusa e em seguida para a taça em sua mão - e você, já está bebendo?

—Assim que aquela bela dama rejeitou meu convite para dançar, me recolhi com esta bela companhia - ele sorriu para a taça - Mas você está certa, sequer ceiamos não é mesmo?

—Sequer ceiamos - concordei, caminhando ao lado dele pelo salão - por que se importa?

—Com o que? - ele perguntou, indiferente, olhando fixamente para frente.

—Com certa "bela dama" - Olhei para Isabel, que parecia muito confortável sentada falando com algumas mulheres mais velhas.

—Quem disse a você que me importo, Bethany? - ele desfez, arrogante de uma maneira que combinava tanto com ele, que talvez sua face já tivesse a sombra de tal expressão fixa - Não, não me importo. Não com Isabel Venezza.

—Não? - ergui uma sobrancelha, sem me conter ao rir - Então, é com alguma daquelas outras senhoras?

—Não me importo com ninguém, Bethany, pare de tolices - ele grunhiu, me lançando um olhar venenoso - Muito diferente de você e meu primo...

—Eu... - senti minhas bochechas arderem e respirei fundi - Sim, sim, me importo com Fox.

—Então deveria estar com ele - ele apontou para Fox, deslumbrante ao lado da mãe. Desta vez, parecia haver algo sincero nas palavras dele, mas antes que eu pudesse responder Dylan já havia se afastado, se misturando a multidão e puxando uma garota para dançar, muito, muito perto dele.

Do outro lado do salão, Isabel parecia estranhamente ter parado de rir, olhando para o chão - talvez, para seu próprio reflexo no piso brilhante.

Ou talvez tivesse visto algo que não lhe agradasse.

Sem Dylan, nem mais nenhuma companhia, segui andando pelo salão, sorrindo e cumprimentando as pessoas que por mim passavam, até que duas menininhas distraídas bateram contra mim.

—Desculpe – a menina que havia me atingido pediu, vermelha, se afastando e alisando o vestido branco tão grande quanto um bolo, e em seguia me olhando curiosa – Você é uma musa?

—Ruby! – reclamou a menina do lado, nervosa – Ela ainda está falando com a minha mãe.

—Sim, sim, eu sou – estendi a mão para ela – Bethany, prazer. E você é...

—Ruby – ela sorriu, animada – Eu quero ser uma musa quando crescer.

—Como se seu pai fosse deixar – brincou a outra menina, olhando sobre o ombro.

—A professora de dança está há horas falando com a mãe dela – Ruby me confidencia lizou, não tão discretamente como ela devia pensar – Ela não dança muito bem.

—Danço sim – a outra alegou, vermelha de fúria – Você é quem não dança.

—Não é com meu pai que ela está falando, ou é? – Ruby perguntou, cheia de certeza. Olhei para Isabel, junto às mulheres mais velhas. Sim, dava para saber quem era a mãe da menina, com os mesmos cabelos loiros e intricescamente encaracolados. Mas não consegui encontrar alguma que possivelmente fosse ser a mãe de Ruby, e, enquanto observava o salão uma confusão começou a se formar, me fazendo distrair das outras meninas até perceber o que estava acontecendo.

—Meninas, vão encontrar seus pais. Agora. – falei, enquanto as duas percebiam a confusão e saiam andando rapidamente em direção as duas mulheres.

Enquanto eu me aproximava, vi o vestido azul de Tina, com uma grande saia rodada e o brilho dourado do de Kali. Ao lado das flores vermelhas do quimono de Jin, Annie estava parada com um vestido salmão de mangas longas e decote em V, séria, quase furiosa.

As quatro, percebi, formavam uma barreira para os convidados, pois atrás delas, em um deslumbrante vestido cor de rosa brilhante, preso por duas alças finas, Nisha parecia apavorada.

—Mas que brincadeira é essa? – uma mulher idosa perguntou.

—Isso é algum tipo de piada? – Uma das amigas da mãe da garotinha loira perguntou – É algum tipo de fantasia? Maquiagem?

—Eu reconheço essa garota... Ela estava nas festas, vi meu filho dançando com ela e sua pele era branca – um homem alto e impotente gritou, aterrorizado – O que isso significa? Onde está a rainha?

Onde estava a rainha? Era difícil dizer, Fox seguia no mesmo lugar ao lado do trono, parado e ilegível, mas a rainha Lenna, em todo seu esplendor, havia desaparecido.

—Senhores, senhoras, acalmem-se, está não é uma situação para se alarmar – um dos amigos do duque falou, acalmando a todos, com um sorriso cínico – Está claro que este deve ser um dos novos brinquedinhos do palácio. Não é fantástico? Uma mulata, uma selvagem, adoçada e domesticada... Com um pouco de criatividade, todos podemos nos divertir um pouco com ela.

Ele deu um passo para frente, mas alguém chegou antes dele – Não ouse tocar um dedo nela.

—Srta. Venezza, está sendo indelicada – ele acusou, recuando – Não pode realmente achar que isso merece alguma proteção. Este tipo de garota sabe muito do que você nunca saberá.

—Isto, como o senhor se refere, tem nome. Nisha é uma musa tanto quanto eu, e uma garota do mesmo tipo, senhor, uma que pertence à rainha. – ela grunhiu, dando um passo para frente enquanto o homem dava outro para trás – E acho que o senhor já aprendeu muito bem o que acontece com quem tenta ser... Criativo, com as garotas da rainha.

—E onde está, sua poderosa rainha? – perguntou ele, desdenhando – Ou seu príncipe, que sequer de mexeu até agora.

Olhei sobre o ombro, mas ele estava errado. Fox havia se mexido, ele havia trocado o pé de apoio desde a última vez que eu olhara.

—Eu não vou ficar no mesmo lugar que ela – alegou uma mulher, furiosa, avançando em direção as garotas – Saiam da porta, agora, antes que eu mesma tire vocês.

Ela se olharam. Não podiam dar um passo, não sem evitar que todos atacassem Nisha. Eu queria me juntar a elas e ajudar, mas seria inútil. Nisha sequer queria vir à festa, parecia tão assustada. Tinha que haver algo que eu pudesse fazer.

Então, em um minuto, eu estava prestes a chorar, e no outro meus pés estavam deslizando para fora dos sapatos e eu estava correndo até o outro lado do salão, até Fox.

—Você precisa fazer alguma coisa! – Exigi. Ele era o príncipe. Eu não me importava. Eu me sentia tão apavorada quanto Nisha naquele momento, me sentia apavorada por todas as garotas, me sentia inútil por não ser como Isabel e estar lá, indo contra tudo para defendê-la mesmo odiando o que ela significava.

—Eu não posso – ele falou, engolindo em seco. Ali, de perto, era possível ver o suor frio dele enquanto descia as escadas – Se eu defende-la, todos irão embora. Se eu apoia-los, vocês irão. Ninguém pode sair daqui, Bethany. O palácio está sendo atacado.

Aquilo foi como ser colocada dentro de uma caverna gelada, quando seu corpo inteiro está pegando fogo – O que?

—Minha mãe foi buscar as gêmeas, Veronicca e algumas outras pessoas – ele respirou fundo – Assim que Nisha entrou, o ataque começou. Quando a viram aqui, os negros ficaram furiosos, acham que estamos a mantendo presa.

—Nós a salvamos – Arfei, confusa – Ela estava presa. Ferida, e usada.

—Eles não sabem disso, Bethany – ele respirou fundo e olhou para os nobres – Assim como eles não sabem o que Nisha passou. Não sei o que fazer, preciso que a minha mãe volte.

—Você não precisa da sua mãe Fox, você é o príncipe – falei, subindo um degrau. Eu ainda estava um degrau abaixo dele, mas e mesmo com a minha altura, sem os saltos altos, precisei ficar nas pontas dos pés para estar olho a olho com ele, e não sei dizer de onde veio à coragem para beija-lo, mas foi exatamente o que eu fiz – Seja o príncipe.

A multidão parecia ter ficado apenas mais e mais furiosa, e a voz de Isabel ainda mais alta, e junto à dela agora tinha a de Annie.

—Todos quietos – de onde estava, a voz de Fox retumbou pelo salão, numa acústica projetada exatamente para isso, imaginei – Deveriam ter vergonha de si mesmos, num dia tão especial como este. Esta garota que vocês julgam sem conhecer, foi encontrada presa, ferida e estuprada pelos nossos guardas há poucas semanas. Todos vocês a conhecem, a viram e dançaram com ela, sob o efeito de bebidas, maquiagem e luzes, e não acho que ninguém tenha algo para provar que ela seja uma má pessoa.

Todos, exceto as garotas que não se mexeram um centímetro, começaram a se aproximar.

—Nisha é minha convidada neste palácio, e quem eu ouvir falar algo contra ela, terá o titulo retirado e a cabeça cortada como traição, entenderam? – Fox deu um passo para trás, tocando o braço do trono – Agora, enquanto minha amada mãe não retorna para começarmos a ceia, voltem a festejar.

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—Não vai falar sobre o ataque? – perguntei, confusa, e ele negou com a cabeça.

—Isso só causaria mais alvoroço – ele suspirou – Vem comigo?

Assenti, pegando seu braço e seguindo até as garotas, que começavam a desmanchar a formação. Annie abraçava Nisha, que respirava ofegante, mas não havia começado a chorar. Kali e Jin estavam paradas junto a Tina, parecendo confusas se deveriam ou não se juntarem a elas, e Isabel, de braços cruzados, encarava-as.

—Me desculpem por não ter me juntado a vocês – pedi, antes de tudo, quando chegamos ao grupo.

—Você fez melhor do que isso – Tina sorriu, olhando para Fox – Você foi ótimo.

—Obrigada – ele sorriu, antes de se desvencilhar de mim e ir até Annie e Nisha – Como vocês duas estão?

—Bem, estamos... Estamos bem – Annie respirou fundo, sem soltar a mão de Nisha, colocando o braço livre em volta aos ombros de Fox e o abraçando, falando algo que não consegui ouvir, mas que fez o queixo dele se contrair. – Obrigada.

—Sim, muito obrigada Vossa Alteza – Nisha concordou, um pouco receosa – Sinto muito por tudo isso, eu sequer queria vir, mas Annie insistiu tanto...

—Não se preocupe Nisha, você tem todo o direito de estar aqui – ele sorriu gentilmente para ela – E eu se como minha cara... Como Annie, pode ser insistente quando quer algo. Ela é muito mimada.

—Venha Nisha, vamos dançar – o rosto de Annie tinha, de repente, ficado sério, enquanto puxava a menina para o meio do salão, enquanto Dylan se aproximava do grupo.

—Tenho que admiti, esta noite está cheia de surpresas – ele sorriu, olhando para Isabel.

Per favore, stai zitto – ela pediu, respirando fundo – Eu preciso de uma bebida.

Ela começou a se afastar, e então se virou, raivosa, encarando Dylan – Você não vem, stupido?

Não consegui ler todas as expressões de Dylan, antes que ele corresse atrás dela. Fox estava sorrindo, quando se virou para Tina – Minha mãe voltou. Pode contar a ela o que aconteceu?

Tina assentiu, franzindo a testa – Por que você mesmo não conta?

Ele se virou para mim – Não quero perder a chance de dançar com a Srta. Bethany antes de servirem o jantar.

E sem esperar por resposta, ele me puxou para o centro do salão. Mas não era em mim que os olhos de Fox estavam àquela noite – eles seguiam cada passo de Annie.