Born To Die

Capítulo 7


— Quem é você?

A garota parece grande não só na altura. O cabelo loiro é a primeira coisa que me chama a atenção e talvez a única coisa que vejo por causa da iluminação fraca do lado de fora.

Quem sou eu? — ouço uma risada fraca e meu coração perde uma batida.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Sinto minhas pernas perderem a força e apoio minha mão na parede só para o caso de desmaiar ali mesmo. Pisco uma, duas, três vezes para ter a certeza de que não estou sonhando.

Acho que eu preferiria estar sonhando.

Ignoro a voz me chamando e corro dali. Corro e me perco um pouco no caminho. Quando paro me vejo diante da nossa biblioteca, tentando abrir — em vão — a porta. Os corredores nessa parte do prédio estão iluminados, mas isso só me deixa mais nervosa ao tentar entrar na biblioteca.

— Você não vai conseguir abrir, ela deve estar trancada.

Relutante, viro na direção da voz.

Aqui no corredor do prédio consigo ver melhor quem está me seguindo. E fico ainda mais espantada ao perceber que estava certa na minha suposição. Ela na verdade é ele.

O rapaz parece um pouco ofegante com a corrida.

Você é um garoto. — minha voz sai trêmula. O desconhecido arruma sua postura, me observando dos pés à cabeça.

— Sim — ele responde e sua voz é diferente de tudo o que eu já escutei antes.

— Um garoto numa escola de garotas — não consigo acreditar. O que ele está fazendo aqui?

Esse contato entre nós não é proibido?

A pergunta pareceu tosca em minha mente. Mas é claro que é!

— Você sempre diz o óbvio? — ele questiona e sinto meu rosto esquentar.

— Essa situação não é correta... — olho para os lados com medo que alguém apareça ali de repente.

Ele me ignora. Tira um objeto retangular do bolso e começa a mexer nele, levando o mesmo até a orelha.

Que droga, Yixing! Você e o Taemin são retardados ou o que? — o rapaz diz, num sussurro gritante. — Era só brincadeira. Não acredito que vocês realmente me trancaram dentro dessa escola.

Não sei o que fazer. Para falar a verdade, acho que nunca sei o que fazer, mas é porque sinto que minha sabedoria é tão limitada. Se fosse a Wendy nessa situação, tenho certeza de que ela saberia como agir. Até mesmo Seulgi e Tiffany.

Mas eu? Não, eu só sei o básico do básico. E isso não é de muita ajuda.

Em momentos assim, eu gostaria de ser mais esperta, mais inteligente, mais as outras.

Encaro o rapaz que fala com aquele objeto estranho. Nunca vi um rapaz antes e só escutamos falar deles nas aulas de História do País. Solar um dia questionou se iríamos estudar sobre ele nas aulas de Primeiro Socorros, mas a professora Lee disse que não éramos permitidas a conhecer o corpo masculino antes do Grande Dia. Sempre imaginei que os garotos seriam iguais as garotas, apesar da professora Lee nos garantir que eles eram só um pouco diferentes.

A camisa azul acinzentada cai bem nele, a cor favorecendo sua pele alva. A calça preta parece ter sido feita sob medida o que deixa o visual do rapaz mais deslumbrante do que provavelmente era para ser.

Sento no chão, evitando olhar muito para ele e ter contato excessivo.

— Hey, garota. Você está bem?

Sua voz é linda e admitir isso me parece errado. Muito errado. Não o respondo, mesmo estando curiosa sobre sua aparição ali. Segundos depois, ouço um barulho de passos. Quando olho para frente vejo que ele está sentando no chão assim como eu.

Pela primeira vez presto realmente atenção nele.

Seu rosto oval é mais bonito do que eu imaginava. As sobrancelhas são grossas e seus lábios são cheios, todavia, o que mais me chama atenção nele são os olhos. A tonalidade de suas íris me lembra citrino, quase como se ele possuísse âmbar em seu olhar com uma profundidade tão grande que eu poderia me perder sob.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Felizmente sua voz trouxe-me de volta à realidade.

— Escutou o que eu disse?

Não. É normal se deixar levar por alguém somente pela voz? Não sei dizer se é ou não, soa como algo estranho.

— Como você sabia…? — questiono, minha voz quase não saindo. A expressão no rosto dele se torna vaga.

Meu estômago embrulha. Mas não daquela forma que acontece quando estou enjoada e sei que a qualquer segundo irei vomitar, é como se algo se agitasse dentro nele o que faz com que eu queria me encolher num canto qualquer. De preferência longe do rapaz.

O que? — evito encará-lo. Isso ameniza a sensação estranha que sinto — Você está falando da porta? Eu simplesmente sabia.

Assim, simples. Mas não para mim, isso não é resposta. Percebo que ele acha estranho a indagação, mas não me importo. Minha mente ferve cheia de perguntas, e aqui, em frente a mim, está alguém que parece saber sobre tudo. O modo como ele falou e andou até mim evidenciou isso.

Sinto os questionamentos na ponta da língua como se a qualquer momento fossem fluir pelos meus lábios.

— Você está bem?

— Por que está aqui? — sai antes que me dou conta. Ele ri, como se achasse a pergunta uma grande brincadeira.

— Não me respondeu. Por que eu iria respondê-la?

Eu não sei. — digo de maneira apressada, quase que juntando as palavras. — Estou bem no momento, mas não sei se daqui a algum tempo continuarei bem depois...disso.

— Minha pergunta se refere ao agora. — diz, a sobrancelhas franzindo numa confusão estampada em sua face. — Você parece bem e disse que está, o que acontecer depois não me importa.

— Pois deveria ser de sua importância. — sua expressão se torna curiosa e eu desvio o olhar. — Quase me matou de susto.

— Bem, peço desculpas por isso. — ouço seu suspiro — Não foi minha intenção.

— Aceito suas desculpas. — digo devagar, pensando no que dizer. Eu não poderia deixá-lo ir assim sem ao menos uma explicação, não é?

— Não me parece que terminou de dizer o que quer.

Torno a olhar para ele e mordo a língua dentro da boca numa atitude nervosa, ponderando se exijo o que quero.

Não terminei. — sinto a ardência em meu rosto — Aceito suas desculpas se me disser tudo o que sabe.

— Tudo? — ele me encara como Tiffany olha para Wendy. Como se fosse louca — O que quer dizer com isso?

— Como sabia que a porta estava fechada? — ele começa a falar, mas o corto — Não me diga novamente que simplesmente sabia. Uma resposta não é assim, sempre há uma justificativa para o que responder.

Você é louca.

Ele se levanta num pulo, porém não o deixo ir muito longe e seguro seu braço.

— Se não me contar agora, eu juro pela minha vida que vou gritar tão alto que até as pessoas fora desse campus vão acordar. — me surpreendo ao notar que não gaguejo ao ameaçar o rapaz. — E acredite em mim, não vai ser nada legal quando nos pegarem aqui.

Quem diria que eu ameaçaria o primeiro rapaz que conheço?

Ah, se a professora Jeon me pegasse nessa situação me chamaria de selvagem por um mês. E provavelmente receberia um bom castigo por ser desrespeitosa com alguém do sexo masculino. Talvez me ajoelharia no milho enquanto recebo chicotadas nas costas para me lembrar como é ser uma dama.

Uma dama não faria o que eu fiz.

Mas também não saberia de muita coisa. E eu quero saber.

O rapaz parece surpreso e nervoso com minha atitude.

— Onde estudo não é muito diferente daqui, é por isso que eu sei — ele está irritado. Seus olhos vão para minha mão segurando seu braço — Satisfeita agora?

— Um pouco. — não amenizo meu aperto. — Isso é só o começo, eu tenho muitas perguntas.

— Consegui deduzir — responde e bufa. — Vai me soltar ou não?

— Por que veio parar aqui?

— Olha, se acha que sou algum bobo e pode fazer o que quiser comigo, está muito enganada. Eu...

— Não achei que você é bobo — sinto meu rosto arder novamente, e antes que eu me controle, as palavras fluem por minha boca — Na realidade, achei que você tem belo olhos.

Meu estômago embrulha mais uma vez. É possível que eu tenha algum mal-estar agora? Isso me parece um sintoma de uma doença cujo nome não lembro.

Solto seu braço e suspiro. O que eu estava pensando quando o ameacei? Não devia ter feito isso. Não tenho força para obrigá-lo a me dizer algo e se alguém nos pegar agora a única que sofrerá será eu. Por que pensei que um rapaz fosse me ajudar a desvendar coisas que eu mal sei?

Caramba, o contato que tive com ele é proibido.

— Na minha escola sempre tem alguém que é responsável pela biblioteca e é autorizada a usá-la de noite, mesmo que todos já estejam dormindo... — a voz dele faz com que eu fite seu rosto — Se essa pessoa for você, talvez eu possa voltar aqui e...Te contar algumas coisas.

— Que tipo de coisa?

— O que quiser saber — ele passa a mão pelo cabelo loiro — Só não prometo ter uma resposta pra tudo.

A vontade de sorrir cresce em meus lábios e tenho que fazer um enorme esforço para não demonstrar o quão feliz estou.

— Mas...Você conseguirá aparecer por aqui?

— Eu estou aqui, não estou? — diz, sorrindo levemente de lado.

Não sei o que dizer e muito menos o que pensar. Minha mente parece estar em branco e acho que me esqueci de como agir em frente à alguém.

O rapaz me observa por alguns minutos no silêncio que se seguiu. O objeto em seu bolso faz um barulho estranho e ele o pega.

— Eu tenho que ir, mas foi interessante te conhecer... — deixou a frase no ar sem saber como me chamar, a boca comprimida num sorriso simples.

— Yerim.

Por que não me apresentei antes? Devia ter me apresentado assim que o vi. Pensei que ele só ia aquiescer e então ir embora dali, mas em vez disso um riso contagiante surgiu de seus lábios.

Yerim... — balançou a cabeça e sorriu simplista — Combina com você.

Me senti como se tivesse respondido uma questão certa na aula da professora Bae e ela tivesse me elogiado na frente de todas as garotas. Acho que até mais do que isso, já que meu estômago se embrulhou mais uma vez e parece que a qualquer segundo derreterei no chão.

— Como se chama?

Tentei me despedir dele, contudo, parece que só sei questioná-lo.

— Essa vai ser a primeira coisa que responderei quando nos vermos novamente — para o meu espanto, ele ri mais alto, mostrando seus dentes retos e brancos me deixando um pouco indignada por não possuir um sorriso como esse.

O rapaz continuou rindo quando se afastou de mim, e em pouco tempo já o tinha perdido de vista.

E eu? Bem, eu respirei fundo e refiz o meu caminho até o quarto.

— Você demorou! —Gain se aproximou assim que entrei, passando a mão pelo meu braço. — Pensei que tivesse acontecido algo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Na verdade... — fitei minha doce amiga, vendo a preocupação estampada em seus olhos. — Acho que peguei alguma doença.

— O que disse? — Tiffany me observeu, se arrumando para sentar em sua cama. — Como pode ter pego alguma doença?

— Não sei, eu...Sinto como se tivesse algo crescendo dentro da minha barriga e sempre que penso nisso meu rosto fica quente. - confesso, me afastando de Gain e sentando em minha cama. — É horrível, só pode ser uma doença. Mas não é nada grave, não precisam se preocupar.

— Quer algum remédio para o estômago? Eu peguei alguns com a Nana quando fui pegar uns para a Joy.
— Não precisa, Fanny. Acho que se eu só dormir vai passar.

— Tem certeza?

— Tenho. — pego minha camisola e começo a tirar meu conjunto de blusa e saia. Assim que termino, entro de baixo da minha coberta. — Boa noite, meninas.

Só Gain e Tiffany me respondem, então presumo que Joy e Wendy já estejam dormindo desde quando cheguei. Me aconchego mais na coberta e fecho os olhos esperando que o sono venha rápido.

E ele vem. Mas junto a ele, um par de íris citrino aparece.

~*~

As meninas se despediram de Wendy e foram tomar o café da manhã.

Esperei que todas saíssem para que eu pudesse falar com Wendy sem nenhuma interrupção.

Todavia, diferente de outros dias eu não sei como começar a questioná-la.

Yerim? — sua voz demonstra sua confusão. Fito a garota que possuí uma postura relaxada na cama, os olhos violetas direcionados em mim como se conseguissem ler meus pensamentos — Quer perguntar alguma coisa?

— Como você sabe? — me sinto constrangida. Ando até ela e sento ao seu lado aproveitando para arrumar me cabelo já arrumado numa atitude nervosa.

— Não passei muito tempo com você, mas sei reconhecer quando quer perguntar algo. — ela sorri. Um sorriso sem mostrar os dentes e acolhedor — Geralmente você já lança a pergunta...O que quer saber?

Abro a boca para responder, entretanto, nada sai. Tento mais uma vez, mas tudo o que consigo é sentir meu coração bater mais rápido e minha mente ficar em branco.

Vamos lá, não deve ser uma pergunta tão difícil assim.

Seus olhos violetas se cravam em mim animados. Torço a barra da minha saia nervosa, muito mais nervosa do que jamais estive.

O problema não é questionar a Wendy e sim que tipo de questionamento farei.

Será que ela se decepcionará ao me escutar?

Eu devia indagar sobre o tempo antigamente, causas e ideais que ela tinha. Mas não, escolho questionar sobre algo que parando para pensar agora se torna fútil.

Como é um garoto?

Espero seu desapontamento, uma resposta evasiva ou nem mesmo alguma. Contudo, Wendy sempre me surpreende.

— É por isso que estava tão tímida e nervosa para vir perguntar? — seu riso ecoou alto e sua cabeça até mesmo tombou para atrás de tanto rir.

— Não ria de mim, por favor. Isso só parece piorar tudo.

— Me desculpe — ela ainda ri — É mais forte do que eu. — viro meu rosto para olhá-la melhor e encontro-me com seu amoroso olhar no caminho — Você quer saber como um garoto é?

Aquiesço, ignorando o constrangimento.

— Bem… — ela batuca suas unhas vermelhas no queixo pálido. Unhas essas que Joy pintou dias atrás — Eles são diferentes da gente.

Isso eu pude perceber ontem, mas é claro que não disse isso.

— Diferentes como?

— Em tudo. Suas feições, seus gestos e gostos, o corpo... — seus olhos se perderam num ponto atrás de mim por pequenos segundos. Ela pisca e volta a me olhar — Não entenda mal o que irei dizer aqui, mas não tenho uma experiência boa com rapazes. Ao menos não com os que não são Monstrum.

— Como assim? — aperto uma mão na outra e a espero responder.

— Bem, como você sabe eu já estive num colégio antes... — ela suspirou, colocando uma mecha atrás da orelha num hábito comum para mim — O meu Grande Dia foi incrível. A quadra do campus estava decorada num perfeito casamento dos sonhos, a música tocava alto e as garotas usavam belos vestidos. Todas nervosas, inclusive eu.

Lembro que Seulgi e Krystal me ajudaram a confeccionar meu vestido. Elas são mais novas que eu, mas são muito espertas para a idade delas e na época nós não éramos amigas como somos hoje. Você precisa compreender que eu era boba e ingênua, acreditava nas histórias das mais velhas que se casavam e vinham nos visitar. Eu cheguei a pensar que encontraria aquele amor perfeito que todas sonham. — riu sem graça, a expressão endurecendo logo em seguida — Não foi bem assim. O rapaz com quem passei metade do dia era um sedutor e eu não passei de mais uma vítima para ele. Quando penso nisso, não consigo acreditar que aceitei ir para os braços de alguém que mal conhecia. O pior não foi isso. A minha volta para o salão foi o pior, é como se todos soubessem o que havia acabado de ocorrer. Não as meninas, não, elas são muito bobas para entender, mas os rapazes...Eles sabiam. Era visível ver que para eles eu não passava de uma piada. E quem quer se casar com uma piada?

Wendy…

— Não me olhe assim, Yerim. Não quero a sua pena. O que ocorreu foi a pior experiência da minha vida, mas até que teve seu lado positivo. — Wendy percebe a confusão estampada em meu rosto — Seulgi e Krystal compreenderam o ocorrido, as duas me levaram para o quarto e me reconfortaram. Como eu disse, elas são muito espertas. Acho que Seulgi sempre achou errado como nós éramos tratadas, contudo, só quando ela conheceu Krystal que realmente teve certeza. Naquele dia eu conheci Yubin e posso afirmar que foi a melhor coisa que me aconteceu. Ela me ajudou a entender tantas coisas e me fez quem eu sou. Ah, caramba, acho que acabei fugindo do assunto, não é mesmo?

— Se eu soubesse que isso tinha acontecido com você, não teria perguntado. — me sinto mal por ter feito Wendy reviver memórias tão dolorosas. Eu sabia que ela tinha estudado na mesma escola que Seulgi e que era mais velha que todas nós, mas nunca imaginei que ela tinha passado pelo Grande Dia. — Me desculpe.

— Não se desculpe. — sua mão afaga meu cabelo. — Você só está curiosa, é normal perguntar. Além do que eu não te disse muita coisa sobre os garotos. Na escola só escutamos falar deles, mas nunca vimos sequer uma foto de modo que não tem como nos prepararmos direito. Eles não tem peitos e…

Que?! Como assim não tem peitos? — inconscientemente levo minhas mãos aos meus.

— Espera, acho que te assustei. Eles não tem seios, tipo os nossos, são só peitos. Normalmente eles tem a estrutura óssea maior que a nossa e a voz mais grossa. Eles são mais fortes e mais...Peludos. — Wendy faz uma careta ao terminar a frase. Se fosse em outra situação eu riria da expressão dela, mas estou espantada e a única coisa que consigo pensar é…

Peludos? — não consigo evitar uma careta também.

— Sim. Pelos e mais pelos nos braços, pernas, rosto e em todos os lugares que pode imaginar. É horrível, eu sei, mas tem mulher que gosta. Krystal não liga para essas coisas, na verdade… — Wendy revira os olhos, bufando — Ela disse que gosta dos pelos no namorado dela. Acho que nunca vou compreender isso.

— Ah.

Não mantenho minha atenção em Wendy, pois começo a lembrar do rapaz de ontem. Algumas coisas do que ela disse se encaixam no que eu vi, a voz, a estrutura óssea maior, mas não me lembro de ter visto pelos no rosto dele. Será que ele possuí pelos em outras áreas do corpo? Coro com esse pensamento.

— E tem outra coisa. Eles também são diferentes...Lá em baixo.

— Lá em baixo? — não entende a principio. Wendy suspira e aponta para a minha saia. Demoro a perceber que ela está falando do meu órgão genital, e quando percebo arregalo meus olhos. — C-Como assim?

— Bem, eles...Droga, eu não sei explicar direito. — ela balança a cabeça como se para afastar tal imagem de sua mente — Você tem que ver para entender, mas espero realmente que não veja. Não é bonito.

— Isso não parece ser… — não sei que palavra usar.

— Você deve estar imaginando um monstro — uma risada escapa dos seus lábios. — Para mim, eles são como monstros. Egoístas, presunçosos, babacas, falsos, corruptores e eu posso continuar essa lista até amanhã. Mas acho que isso vai de cada pessoa. — ela dá de ombros — Krystal é um exemplo disso. Ela é completamente apaixonada pelo namorado e não concorda quando digo que todos os homens são horríveis. Você devia procurar uma outra opinião.

Assento e começo a me levantar, mas uma das palavras que Wendy disse me faz parar. Seu significado é completamente desconhecido para mim e sinto que deve ser algo importante.

Wendy, o que é estar “completamente apaixonada” por alguém?

— É algo complicado e que exige mais tempo para uma conversa apropriada. Acho que você já está muito atrasada para o café da manhã, não é mesmo?

— Tem razão, não é uma boa ideia me atrasar tanto. — concordo com ela e me despeço rapidamente, não posso me dar o luxo de deixar que suspeitem de algo. Todavia, nem por isso esqueço de sua resposta.

Eu cobraria essa conversa no futuro.

~*~

Engulo em seco e tento não transparecer meu nervosismo.

— Deixe-me entender, você quer mudar de atividade? — a professora Bae juntou suas mãos ao fazer a pergunta, fitando-me seriamente sentada em sua cadeira.

Esperei pacientemente todas as garotas saírem para me dirigir até a professora. Essa é a última aula e sinto que se não falar com ela agora, não conseguirei falar depois.

Os preparativos estão tomando conta dos nervos das garotas e muitas delas estão importunando a professora para que ela as ajude no seu canto e dança. Uma garota deve ser prendada nas artes da música, culinária, dança, conhecer a história do país e saber fazer ao menos um curativo quando seu marido precisar. Poucas são as que realmente conseguem fazer tudo, então a maioria delas tentam ir para a área que mais se dão bem.

Sim — forcei um sorriso — Fazer parte do trabalho comunitário daqui me fez entender o quão importante é. Infelizmente, ficar encarregada de cuidar do lixo do campus não me instigou a continuar ajudando.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Eu posso saber o que a instigou, então? — Bae não parece compreender onde quero chegar.

— A biblioteca. — suspiro, me concentrando em ser convincente — Cuidar de quem entra e quem sai, ser a monitora de lá. Conquistou-me assim que vi.

— Mas esse é o trabalho da Mina.

— Eu sei — digo, apressadamente. — E ela tem feito um ótimo trabalho, eu admito. Mas eu gostaria de ser a responsável por hora.

— Por que esse súbito interesse pela biblioteca? — sua voz demonstra a desconfiança por trás das palavras ditas suavemente.

Sinto meu rosto esquentar e mordo o lábio inferior nervosa.

— A verdade é que eu quero estudar mais. O Grande Dia se aproxima e espero conseguir um bom casamento, mas sou péssima nas aulas de Comportamentos Femininos e História do País. Pretendo estudar mais de noite quando as outras já estiverem dormindo, sei que quem cuida da biblioteca tem essa oportunidade.

— Poderia pedir aulas extras com a professora Jeon.

— Sei disso, mas sinto que ela não gosta de mim. — faço uma expressão desconsolada e torço para que ela caia em minha farsa. — Duvido muito que ela vá me ajudar.

A professora suspira e pega um caderno dentro da gaveta de sua escrivaninha. Ela o abre e vira algumas folhas até encontrar o que procura.

— Você tem razão sobre a professora Jeon, mas não sinta-se chateada com isso. Ela não gosta de ninguém mesmo — Bae solta um risinho e pega uma caneta — Posso te colocar como monitora da biblioteca. Tenho certeza de que Mina não se importará com isso. Penso que até mesmo me agradecerá, pois ela anda tão cansada ultimamente.

— Algum problema em especial?

O mesmo de sempre — a professora termina de escrever no caderno e pega seu carimbo em cima da mesa. Após uma ultima olhada, ela arranca a folha e a entrega para mim — Pronto, aqui está. Mostre isso para Mina, ela reconhecerá minha assinatura e carimbo. Assim acreditará em você.

— Ela tem motivos para não acreditar?

— Infelizmente, muitas garotas parecem versadas em maldades... — Bae suspira e abre um sorriso triste — Ela não confia em ninguém além das colegas de quarto. Consigo imaginar vários motivos para não acreditar em sua palavra.

Fico extremamente incomodada com o que a professora Bae disse assim que saio da sala. Esse tipo de atitude não devia parecer tão comum e normal como parece. Eu devia fazer algo. Eu quero fazer algo a respeito, mas o que?

Passo por algumas garotas que comentam algo sobre a escolha de tecido de Tzuyu para criar seu vestido e riem com deboche. Por que elas fazem isso? Não percebem o quanto podem chatear outra pessoa dizendo coisas tão más assim? É asqueroso.

Meu peito se enche de raiva e começo a andar mais rápido que o normal. Passo rapidamente pela catraca e ignoro quando ouço meu nome ser chamado. Perco até mesmo minha fome, de modo que vou até a biblioteca sem hesitar.

Para meu alívio, nenhuma garota está aqui. Sento-me numa cadeira vazia e coloco os braços na mesa apoiando meu rosto em cima deles. Inspiro e expiro profundamente, tentando conter a raiva e descrença dentro de mim. Pouco a pouco começo a piscar mais e cada piscada mais pesada que a outra, minha respiração vai se tornando mais calma e não consigo me lembrar do porquê estava nervosa.

~*~

Acordo com um barulho de algo caindo. Abro os olhos devagar, tentando me lembrar de onde estou, meu corpo todo dói e sinto como se tivesse dormido mais tempo do que o aconselhado. Me endireito na cadeira e me espreguiço, escutando alguns ossos meus estalarem.

— Pensei que ficaria dormindo aí por mais um bom tempo.

Sua voz me assustou tanto que acabei pulando na cadeira. Meu coração se acelerou deixando meu corpo em estado de alerta, mas não foi exatamente pelo susto. Bem, não só por ele.

— Por que está com essa cara? Achou que eu não viria?

Ele está sentado no outro lado da mesa, as pernas apoiadas na mesma de maneira desleixada e um sorriso divertido em seus lábios. Contudo, o que me chama atenção mais uma vez são seus olhos citrino cravados em meu rosto.