Bohémienne

Fatalité!


— Papa? Papa!?

A voz doce, apesar de assustada, despertou o poeta na prisão subterrânea.

— Hélène! – Exclamou. Feliz por não estar sonhando.

O homem correu até a fresta com grades de ferro, única janela de sua cela.

— Hélène, o que está fazendo aqui? – Indagou pegando a mão da filha. – Eu pedi à Clopin que cuidas...

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— Fugi de Clopin, papai. Perdão, mas precisava ver-te!...

A menina agachada na rua, diante do “buraco dos ratos”, agarrava-se à mão do pai e às barras que o prendiam.

Porém, Gringoire não conseguia sorrir por vê-la.

— Papa, não está feliz em me ver? – Perguntou ela.

— Ora, claro que estou! Estou sim, ma petite lune... – Respondeu-lhe.

— Então, qual o problema?

Um instante de silêncio se seguiu e os dois entreolhavam-se com angustias.

— Quando é que vai sair daí, meu pai? – Ela questionou.

— Hélène, o homem que assassinei para te salvar era um homem bem quisto dentro do seu regimento. – Explicou. – E eu fui preso em flagrante.

A menina estremeceu diante do sentimento de pesar do pai.

— Só há duas maneiras para que eu saia daqui...

— Que maneiras, seriam essas? Papa, está me deixando sem esperanças. Quero tirar-te deste lugar! - Gringoire soltou-se da mão de Hélène. – Quebraria estas barras com minhas unhas e dentes, se pudesse...

Ele se virou de costas. Hélène começou a tomar consciência do rumo da conversa. Do motivo da angustia e dor de seu pai.

— Só saio daqui morto ou para morrer, minha filha. – Sentenciou-se Gringoire.

A garota encostou-se contra as grades abafando o grito com a mão, sentando-se no chão de pedra da rua.

— Não chore, ma belle lumiére. – Ele voltou-se à ela, enxugando as lágrimas e amparou-lhe o rosto. – Não tive a intenção!

De modo que Hélène ficou estirada de lado na rua, com o braço, o pingente de pedra azulada e parte do rosto para dentro da cela. Suas lágrimas caíram dentro da alcova.

— Mas preciso que entenda, ma fille; eu me condenei para salvar-te daquele monstro. Minha alma há de ser salva das chamas, há uma chance para redimir meus pecados, afinal. – Ele, por fim, sorriu. E beijou a mão da filha.

Hélène só conseguia chorar. Não queria imaginar viver sem seu pai. Sua vida resumia-se à companhia dele, aos seus ensinamentos, de latim e de letras e palavras.

— É por isso que você precisa ir ficar com Clopin. Ele vai cuidar de você. Confie nele. Assim como eu confio.

— Não! Não. – Protestou ela. – Não pode me deixar!

— Eu jamais te deixarei, Hélène. Estarei sempre olhando por ti. – Acariciou o rosto da filha. – Eu e a Lua. Lembra-se? Ela é tua madrinha. Vai sempre guiar-te. Iluminar-te... Até troquei meus poemas pela proteção dela sobre ti, não esqueças disso.

Ela sorriu em meio as lágrimas.

- Eu te amo, minha filha. – Disse beijando-lhe no rosto entre as barras de ferro.

— Eu também te amo, papa.

Ficaram ali algum tempo. Tentando, em silêncio, encontrar algum consolo naquela despedida entre pai e filha.

— Você tem que ir, está ficando tarde. Não podes ficar sozinha à estas horas da noite. – Dolorosamente, soltou-lhe a mão e empurrou-a para fora da grade.

— Adeus, pai. – Despediu-se ao levantar.

Hélène ainda chorava. Mas sabia que Gringoire tinha razão. O tempo escorria e não havia nada que pudesse ser feito. A não ser esperar que Clopin a acolhesse, mesmo após ter fugido sorrateiramente na calada do crepúsculo.

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Tendo somente à vista os olhos do pai, pelo buraco da rua que era a janela da cela, afastou-se com mais lágrimas nos olhos de luar. Por fim, criou forças e pôs-se a correr pela rua.

Gringoire deu às costas a abertura das grades. E desabou no chão de sua cela.

Num choro de criança perdida, desafogou toda a dor daquela despedida. Sua filha, única luz, havia lhe dito adeus. Havia descido, por fim, a noite sobre sua vida.

Paris, 1499...

— Peter, - Expirou Luce. – que lugar é esse? – Indagou.

Olhando ao redor eram vários casebres abandonados há anos, alguns queimados, inclusive. Com paredes de pedras e telhados de madeira e palha em ruínas.

— Um pedaço do passado, ma lune.— Respondeu dando três passos à frente da cigana.

— É a segunda vez que me chama disso.... – Resmungou. – “minha Lua”. Não faz sentido...

— Ah, faz sim. Você só não compreendeu ainda...– Retrucou ele. –Mas fique calma, querida. Siga-me...

Peter continuou a andar pela rua, passando os casebres e estudando cada um. Espiando entre as janelas quebradas e os buracos nas paredes. Ratos e cães e outras pragas de rua se apossaram de alguns lares.

Luce seguia atrás, hesitando cada passo que tomava na direção que o rapaz a guiava. Um sopro gelado varria-lhe o peito. E não era o vento da rua em sua pele despida.

O rapaz forçou uma das portas acorrentadas. E a madeira podre cedeu. Um barulho alto que ninguém ouviu, pois havia ninguém ali.

— Peter, o que está fazendo? Pode ser preso por invadir! – Alertou Luce.

— Não é invasão, se a dona está. – Retrucou ele.

— “Dona”? Peter, você bebeu um talho inteiro de vinho? Eu nunca, se quer, vim aqui na minha vida inteira! – Exclamou ela.

— Não que se lembre...

Peter adentrou a casa. Luce o seguiu, analisando o lugar.

O casebre de pedra era tão pequeno que só tinha um cômodo. Os únicos móveis eram uma mesa de madeira, e uma cama perto de uma lareira.

O sentimento de nostalgia que permeava seus sonhos lhe invadiu. Sobre a mesa haviam pedaços de papel, um tinteiro, cuja tinta já estava seca, e uma pena.

Não havia comida em nenhum lugar, mas havia cheiro de vinho. E exalava da cama. Luce sentou-se sobre ela, debruçou-se no colchão de palha. O cheiro de vinho e de cortiça impregnado nos lençóis, como uma lembrança incerta impregnada em sua mente.

Levantou-se.

— Que lugar é este? E o que eu tenho que descobrir? Peter, eu te peço, que pare de brincar comigo. – Luce clamou. Sentia seu coração falhar cada batida, ali naquele lugar.

— Está bem. Mas acho que vai querer sentar-se novamente...

Place de Gréve, 1495...

— Papa! Papa! Não! – Os gritos de Hélène eram os únicos que se opunham aos risos da multidão.

— Hélène! Menina, volte já aqui! – Os gritos de Clopin em seu encalço, eram exceção.

A multidão divertia-se. Há tempos não viam uma execução. Gritos de “Enforquem-no!”, “Andem logo!”, “Morte ao condenado!” vinham de todas as direções.

O tamanho diminuto de Hélène lhe dava vantagem para atravessar a multidão, chegando bem próxima ao patíbulo.

A multidão alvoroçou-se. Sedenta pelo entretenimento que a desgraça do homem lhes causava.

— Hoje, no dia de Nosso Senhor, segundo do mês de agosto do ano de 1495, o homem conhecido pelo nome Pierre Gringoire, é acusado dos crimes de não cumprir com seus deveres de súdito do rei de França, sonegando seus impostos, desrespeitando a lei. E pelo assassinato do soldado, Francis d'Alevigne. O réu foi julgado...

Os tambores dos soldados soaram. Graves e tensos.

— Culpado!

A multidão regozijou-se. E Hélène gritou em lágrimas. Clamou:

— Pai! – Aos prantos.

O homem, metido numa túnica branca, ao lado do carrasco olhou para baixo... E desviou o olhar da filha. Sem uma palavra que a pudesse consolar, um verso, uma rima derradeira que fosse.

O algoz cobriu o rosto de Gringoire com um pano preto e colocou a corda em torno do pescoço do homem. E, rapidamente, puxou a alavanca.

Não houve grito da vítima. Apenas comemoração da plebe.

O corpo caiu.

Como o coração golpeado e sangrando, a menina caiu de joelhos nas pedras da praça, em lágrimas. Berrando como uma criança com sede.

Clopin, a alcançou. Abraçou-a, tentou leva-la dali, mas Hélène rechaçou o cigano.

— Deixe-me vê-lo morrer! – Exclamou empurrando Clopin, enquanto via o pai se debater, cada vez menos, preso à corda.

A multidão ria. Ria alto. E as lágrimas de Hélène se tornaram silenciosas.

O corpo balançava com vento. E ninguém o tirava de lá. O pátio da catedral estava deserto. Já haviam horas que o enforcado deixara de se debater, não havia mais ninguém no pátio de Notre-Dame se não a menina que, de joelhos, ainda fitava o morto na corda. Seca demais para derramar mais lágrimas.

Ouviu passos se aproximando, mas não se mexeu. Se fossem soldados para leva-la, levariam para onde? Ela não tinha onde ir e estava completamente sozinha. Pelo menos com seu pai, quando não tinham onde ficar pelo menos ficavam juntos.

— Hélène? – Chamou uma voz ao redor. Clopin. - Hélène, venha comigo. Vou proteger-te agora. Teu pai confiou-te a mim, não vamos desrespeitá-lo.

Ela não respondeu e continuou a fitar o corpo de seu pai.

O cigano abraçou-a e a levantou. Hélène estava petrificada, mas seguiu com o homem.

Paris, 1499...

A garota, atônita, apertava os lençóis nas mãos. Ainda sentada sobre a cama, arfava como se tivesse sido açoitada. Mas o flagelo haviam sido as revelações que Peter fizera-lhe.

Sua vida. Agora, uma mentira. De repente, havia um pai, de quem ela não lembrava. Cruelmente sentenciado à morrer diante dos seus olhos. Um poeta, que amava sua vida de vadio, bem como apaixonava-se rapidamente por mulheres e que, porém, vivia enamorado da Lua. Que lhe rendia seus melhores sonetos.

Tal carinho que a Lua recompensou-o salvando a filha da fatalidade que se abateu sobre a mulher que ele mais amou. Protegendo-a da doença da mãe e das ruas. Para consolar e aplacar a culpa que Gringoire sentia pela tragédia que causara à cigana e à fille de joie, sua amada Cecille. Um presente, todavia, que exigiu seu preço. Os olhos da criança. Tinham neles a marca da madrinha. A Luz da Lua.

Luz que enfeitiça os corações jovens e sensíveis. Pura, contudo, cálida e misteriosa.

— Por que está me dizendo isso? – Indagou Luce.

— Os seus sonhos, são lapsos de lembranças da vida que você tinha antes de Clopin. Ele pode ter apagado suas memórias, lhe dado outro nome e ter feito você acreditar que sempre viveu no Pátio dos Milagres. Mas, não, Luce... Você ainda é Hélène. – Finalizou Peter.

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— Não foi isso que eu perguntei, Peter! Se você está me dizendo isso, primeiramente, é porque alguém te contou e, depois, tem algo que você quer com isso. – Ralhou ela. – Eu podia muito bem viver o resto da minha vida como Luce, sem nunca saber disso. Por que me contou?

— Você começou a se lembrar sozinha. Estava desesperada, com pesadelos e tem se revirado e suado na cama todas as noites. Eu estou lhe ajudando...

— Não sem um propósito. O que você ganha com isso? – Questionou, levantando-se.

— Nada, Hélène! – Exclamou ele.

— “Hélène”? Como ousa me chamar pelo nome que meu pai me deu?

— Porque é quem você é. – Respondeu Peter.

— Não cabe a você definir isso.

A garota, sem pensar, saiu correndo para fora do casebre. Alcançando a rua e apressou o passo. Não conseguia mais distinguir seus pensamentos, apenas suas lágrimas. O chão de pedra contra seus pés descalços e o vento frio do anoitecer contra sua pele. Os cabelos batiam em suas costas.

Virando ruas aleatoriamente e continuava a correr. Vagava, sem rumo, sem indagar aonde suas pernas a levavam e quais caminhos percorria dentro de Paris.

Já deveriam ser altas horas e seu cansaço já pesava em seus membros. Sem menor noção de onde estava, do quão longe do Pátio dos Milagres. E, pior, de quem ela era.

Tudo o que Peter lhe dissera transpassava sua mente como uma flecha num soldado durante um ataque surpresa. Seus olhos deixaram de chorar haviam horas, não porque seus sentimentos de conflito a deixaram, mas por desidratação. Seu peito arfava e a boca rachada implorava por uma gota de água.

Foi quando reconheceu os sons dos canecos de ferro e dos gritos alterados de álcool de La Pomme D’Eve. Não estivera ali desde a vez que estivera nas ruas com Gahel e Aimée.

Ela espiava do vidro da taberna, vendo os pratos e canecas cheias de vinho, virou as costas para a janela do local e deixou-se escorregar pela parede. Sentando-se ao chão, com o cheiro de carne assada lhe invadia, fazendo seu estômago reclamar do vazio e sua boca encher-se d’água que ela não tinha.

Quase desmaiando, devido ao cansaço físico tão bem quanto o emocional, ouviu a porta da taberna abrir. Num esforço, se virou de lado, pensando em mendigar um pedaço de pão a quem saísse.

Entretanto, os dois homens entreolharam-se, viram-na debilitada. Cochicharam entre si, algo que ela não pode decifrar.

— La demoiselle, está bem? – Perguntou um deles, abaixando-se para olhá-la.

O rapaz deveria ter seus vinte e poucos anos, olhos castanhos de madeira recém-cortada e cabelos loiros cacheados curtos, mas que cobriam-lhe as orelhas.

— Poderiam me dar um pedaço de pão? – Suplicou ela.

— Claro, vamos ajuda-la. Não vamos, Jacques? – Respondeu o primeiro e fez sinal para que o outro o ajudasse a coloca-la de pé novamente.

— Vamos, sim. – Disse enquanto o primeiro passava um dos braços da garota por trás de seu pescoço.

O outro rapaz fez o mesmo com seu outro braço. Os pés da menina roçavam o chão, impedindo-a de controlar seus passos. Eles viraram a esquina, na direção contrária à taberna.

— A-a taberna... – Gaguejou ela.

— Lá não é lugar para uma jovem como você, demoiselle.

A esquina era um beco sem saída. Ao final do beco, eles a colocaram no chão. Já em pânico, a menina enrijeceu-se o suficiente para ficar de pé sozinha.

— Eu já te vi por aí, menina... – Falou o primeiro. – Cigana.

O segundo rapaz agarrou-lhe os braços e os apertou em suas costas. E enfiou o nariz dentre seus cabelos, aspirando-os.

— Bruxinha linda. – Sussurrou.

— Dançando até parece que já estive no inferno... – Falou o primeiro com malícia.

O que estava à sua frente agarrou-lhe as pernas, e juntos os dois rapazes a deitaram no chão do beco. Seu coração acelerou, tentar debater-se no chão de pedra, além de doloroso, era inútil. Ela começou a chorar e quando tentou gritar, o mesmo que segurava suas mãos calou-a com um lenço em sua boca. E, se ela tentava cuspi-lo, ele o enfiava mais fundo em sua garganta.

Quando o rapaz começou a apertar outras partes de seu corpo, em busca de excitação, o outro, que lhe segurava os braços, puxou-os a cima de sua cabeça, imobilizando-a enquanto o primeiro erguia suas saias, apertava suas pernas com força. Outra vez tentou, inutilmente, gritar por ajuda.

— Depois eu deixo você se divertir com ela também, meu amigo. – Disse ao outro. Ele cravou as unhas nas coxas dela, a menina ganiu como um cão ferido. – Eu só quero ver o que mais ela faz como uma diaba...

Ele sorriu sadicamente, sem soltar as pernas dela enquanto ajeitava-se entre elas. A garota fechou os olhos esperando pelo pior. Tentou lembrar-se de algo para se livrar dali, mas nada lhe ocorreu. Sabia que não havia virtude que pudesse perder, já a dera de bom grado, mas o medo da violência lhe tomou. Poucas as ciganas que viviam horrores nas ruas voltavam para contar histórias. As que voltavam, sentiam-se impuras, sujas e jamais esqueciam o que lhes ocorrera. Outras chegavam a tirar as próprias vidas... Será que era o que aguardava, afinal? Pensou.

Quando ouviu, um grito seco, seguido pela sensação de algo líquido respingar sobre ela. Suas pernas também se libertaram. O cheiro delator. Sangue. Assustaram-na e ela permaneceu imóvel.

— Hélène. – Chamou-lhe uma voz conhecida. – Sou eu.

Ela abriu os olhos, retirando o tecido de dentro da boca. Nauseada, segurou-se na parede, mas não havia nada para seu estômago devolver. E se levantou com dificuldade.

— Peter... – Arfou. – Como... você me seguiu?

— Tentei. Ainda bem que te achei de novo, pelo visto. – Apontou com os corpos com a adaga suja ainda nas mãos.

— E o outro? O que estava segurando meu braços? – Perguntou ela.

— Ele fugiu quando me viu cortar a garganta do primeiro. – Respondeu Peter.
— Hélène...

— Não use meu nome! – Rompeu ela.

— Prefere que eu volte a chamar-te de “Luce”? – Questionou ele.

— Eu não sei!... – Bradou. – Graças à você, eu não sei mais quem eu sou! Era esse seu propósito o tempo todo?

Ela o olhou nos olhos. Seus olhos prateados de luar, refletidos no jade pétreo dos olhos dele.

— Me diga a verdade. Por que você me contou sobre o meu passado?

— Porque eu preciso da sua magia. – Despejou, antes que percebesse.

O rapaz levou a mão na boca, ela havia usado seu poder recém-descoberto nele e ele não fora capaz de lutar.

Ela riu.

— Eu sabia. Gadjê, nenhum, entra no Pátio dos Milagres por acaso... Você entra. Porque esse tempo todo você estava procurando por mim, pra me usar para sabem os deuses o quê! – Ralhou ela.

— Sim, mas...

— “Mas” digo eu, Peter! – Interrompeu. – “Mas” você não vai conseguir. Seja o que for, eu o repudio!

— Ali estão eles! – O grito ecoou da entrada do beco.

Era o rapaz que fugira ao ver o amigo ser morto por Peter. Ele trazia consigo três guardas, armadas de espadas e felizes em capturar ciganos.

— Esses vadios nos assaltaram e mataram meu amigo!

Os soldados avançavam na direção de Peter e da garota.

— Hélène, pegue minha mão! – Pediu Peter.

— Não use o meu nome! Não vou pegar sua mão, depois de ter me traído! – Gritou.

— Pegue minha mão! – Disse tomando a mão dela.

— Não, se vamos ser presos, ao menos mantenho-me distante de você, seu traidor!

Um dos soldados, apanhou Peter pelo braço e o outro puxou a menina.

Todavia, Peter desapareceu num nevoeiro. Deixando a adaga suja de sangue para trás e a menina a gritar de raiva.