Os Karas - Cigarros e Moscow Mule.

11. Território desconhecido.


Uma narração de jogo de futebol tornava no ambiente menos pesado. A casa estava toda revirada. Nenhum canto foi esquecido. Esconder provas era algo que o Dr. Q.I ensinará muito bem a seus subordinados. Este, em especial, tinha feições e um gênio mais explosivo. Quase um metro e noventa de altura, pouco grau de instrução… Q.I o recrutou por precaução. Era mais inteligente ter ele a seu lado, mesmo nunca vindo a utilizá-lo em tarefas de fato…

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...Bem, era isso que o gênio do crime pensou, mas a realidade agora era outra. Q.I já não possuía o benefício da escolha. O número de pessoas que o queriam morto era muito maior do que os convertidos a sua causa. O gigante abobado também fora útil para ele em outros assuntos. Ele aceitou o pedido de Dr. Q.I que levasse a sua irmã até a penitenciária de Segurança máxima. Q.I teve assim uma última noite de sexo dias antes de Miguel o visitar também.

Agora, o gigante precisava apenas esperar. Esperar ser pego, esperar Q.I dar sinal do próximo passo… o que viesse primeiro. Era sem dúvida algo valioso, mas o grande homem-músculo não entendia os termos daquele laudo. Só entenderá que era morte e de um famoso ex detetive. Um crime em São Paulo era acompanhado sempre pelo receio de se esbarrar com Andrade na outra esquina. Era lendária a história daquele homem. Mas, não existem alarmes bons quando um ladrão habilidoso quer algo.

Os pensamentos do gigante logo voltaram para o pior novamente. Sua imaginação era fértil como terra preta. Conseguia imaginar os policiais arrombando a entrada de seu esconderijo e apontando seus rifles para seu rosto…

De repente, a porta do esconderijo fez um barulho. Era um chamado. Sem pensar duas vezes, pegou sua 9 mm, destravou-a e escondeu debaixo da longa camiseta que usava. Sorte. Era apenas uma vizinha pedindo seu carrinho de compras emprestado. O gigante inventa alguma desculpa e volta a trancar a porta, assustado, porém, com boa parte do seu ser pedindo por um pouco de ação.

•|•

Peggy levantou as sobrancelhas quando certo rapaz conhecido por Calú visivelmente cansado e com fome chegou ao hotel já à noite. Magri estava junto de Peggy. As belas mulheres acabaram de jantar e conversavam enquanto o carro da família de Magri não chegava. Magri olhou no relógio de pulso: Nove e vinte e três. O aviso de Nicolas sobre a missão do dia seguinte fora um dos assuntos do jantar das senhoritas.

E o desfile? -Peggy perguntou tomando um gole d’água -

Sai no meio. Alta moda é altamente ”boring” sem você lá. - ele beija Peggy apaixonadamente e se volta para Magri a fim de abraçar a amiga -

—Então, o que você disse? - Magri perguntou para Calú se referindo à missão do dia seguinte -

Mais ou menos o que já havíamos decidido. Tornamo-nos pessoas públicas. Não podemos estar em atividade lá fora sem dar bandeira. Eu saio de um desfile hoje sem dizer onde fui. A tevê deve comentar isso em breve.

Calú se sentou mostrando-se de algum modo, abatido.

—Como está se sentindo..? - Peggy acariciou o seu rosto –

Ele suspirou fundo. Calú sentia-se de alguma forma impotente. Ele escolhera não se envolver no caso, mas, vendo aquilo tudo com olhos mais sóbrios, não poderiam nem se quisesse. Fitou o balcão de bebidas. A abstinência de álcool tinha gritado por trégua.

Suponho que isso passa depois… - Disse ele - não sei o que gostariam de escutar… Acho que não sou o homem mais otimista que conheço…

Magri e Peggy sorriem.

—Estamos no mesmo barco. Vamos enfrentar essa tempestade juntos. - Magri disse -

Não a tempestades para enfrentar, Magri. O que nós somos assina a sentença de público, não atração.

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Magri se levantou. Calú e Peggy a observaram.

—Se eles pensam em fazer tudo sozinhos, então eles nunca entenderam esses anos todos como eu funciono.

Calú sorriu. Aquela era a personalidade que um dia o fez ser apaixonado por Magri.

Naquele exato momento, o carro de Magri chegou ao hotel. Breves despedidas se deram por acontecer, quando notaram, Calú e Peggy estavam de pé. Calú falou com um funcionário do hotel e voltou depois para perto de Peggy.

Pensou em comprar alguma bebida… Mas mudou de ideia e foi em direção a Peggy a fim de concretizar o seu plano.

Peggy estreitou Calú com força em seus braços e encostou a cabeça em seu peito a fim de ouvir o seu coração.

—Dorme comigo essa noite? -Ela perguntou –

Calú fez que sim com a cabeça.

—Já disse aos funcionários do hotel que podem arrumar o meu quarto, não estarei lá essa noite.

•|•

Quando Miguel estacionou o carro naquela manhã, o mais nervoso era Nicolas. Era cômico dizer que Nicolas era o com menos experiências desse tipo. Crânio, Miguel e Chumbinho vestiam roupas mais casuais.

Certo, o plano é o seguinte: misturem-se até avistarem ele andando por aí. Podemos ter o azar dele não sair de qualquer forma de casa, mas isso é o de menos, podemos voltar outro dia se esse for o caso. O que fazer caso encontrá-lo. Parecer ser o mais antipático possível.

O porquê da antipatia?— Nicolas perguntou -

Precisamos parecer saber quem ele é. Temos a vantagem de procurá-lo em sua casa, vai parecer que temos o endereço dele. Precisamos apenas nos concentrar em localizar o laudo. Ele não vai entregar para qualquer um…

—Certo…

—Se não avistarem ele, esperem aqui no carro. Nos vemos em três horas, ok?

—Entendido.

—Muito bem…

—Vamos lá.

Saíram do carro e adentraram a periferia. Chumbinho constatou as construções. A falta de acabamento nas paredes, as lajes prontas para cair. Por um breve momento, o garoto sentiu-se extremamente deslocado. Q.I estivera certo. Era gritante a diferença entre os mundos. Algumas crianças caminhavam ou corriam do outro lado da calçada. Acompanhado por parentes, as crianças uniformizadas em direção a uma precária escola. Chumbinho finalmente encontrou um lugar para esperar e ver o movimento. Uma praça próxima a uma padaria. A banca de jornal tinha um velhinho que encarou o mais novo dos Karas com receio. Chumbinho evitou o contato visual, ficou ali sentado por algum tempo.

A única fonte de barulho, movimento e distração vinha da tal banca de jornal. Chumbinho sabia da necessidade de ser o mais discreto possível. Foi até a banca e comprou uma garrafa d’água sob o olhar suspeito do dono da banca.

“Ele deve pensar que vou assaltar a banca de jornal dele… Não o culpo” pensou o jovenzinho dos Karas. Ficou sentado na praça, assistiu a duas partidas de Xadrez entre dois senhores de idade, avistou diversas pessoas diferentes irem e virem, mas… Nada. Olhou no relógio. Haviam passado quase duas horas e meia e nada. Saiu do local, ainda sobre os olhares desconfiados do dono da banca.

•|•

Miguel estava pensativo. Esperar em um ponto de ônibus foi o que o líder dos Karas decidiu. Ficou extremamente atento a toda a movimentação de pessoas, muito mais intensa que na praça onde Chumbinho fizera sua vigília. Parou por horas em vários pontos distintos da tal periferia e não teve nem um sinal de alguém que se parecesse com o tal retrato falado. O laudo de Andrade seria a verdadeira e derradeira prova que eles precisam. Saber como o amigo veio a morrer…

Apesar, do caso não está resolvido, mesmo com tudo isso. Se se confirmasse o pior, voltariam para a estaca zero. Miguel não pode de ver o mundo a seu redor com pesar. Ele sabia o que vivia aquele povo. Piores tipos de atrocidades, violência. Falta de posto de saúde e escolas decentes. A impotência que sentiu em seus ombros fora grande. Pensou no que faria a esse povo que tanto sofre se um dia viesse a ser o presidente do país.

•|•

Crânio parou em um boteco de esquina. O cheiro de álcool era forte. Um pouco também do lixo que estava jogado em frente a calçada. Parou e pediu um refrigerante e o prato do dia. O servente estranhou. Eram seis horas da manhã. O que ele estava fazendo?

“Trabalho a noite na fábrica de produtos de limpeza e não jantei, estou com uma fome de leão”. Mentiu. Crânio perceberá que mentira bastante esses últimos dias. Não era saudável transformar aquilo em um hábito. Teve que comer o prato de comida. A sorte foi generosa com Crânio, ele não havia tomado café da manhã, mesmo achando estranhíssima uma refeição completa no café. Comeu dois terços do prato e ficou com uma extrema preguiça. Fingiu assistir a TV enquanto seus pensamentos voltavam para Maria. Teria sido sincero com ela? O que sentia de fato pela mulher? Seus pensamentos voavam longe quando com o canto de olho, viu o homem extremamente parecido com o do suspeito do retrato falado adentrar o boteco.

Em um primeiro instante, Crânio se assustou com o tamanho dele. Ele era literalmente um armário. Era gordo de rosto como na foto, mas atlético de certa forma. Músculos e gordura se misturavam nele. Crânio fingiu olhar para o prato e deixou que ele falasse com o balconista.

—”Luiz, enche esse galão aqui com água limpa”. - Pela voz do gordo bandido Crânio não saberia dizer qual era a idade dele - “Rápido”.

Ele tinha pressa. Crânio teria que agir rapidamente e abordar o bandido. Trocou de acento, colocou o prato junto a outras louças, entrando no campo de visão do bandido. Ele então pegou um papel de guardanapo e assuou o nariz. Crânio, um pouco enojado, pega um guardanapo também. Escreve rapidamente com a caneta que escondia em seu bolso e oferece o guardanapo ao gordo bandido.

Em um primeiro momento, o bandido o olhou desconfiado, porém, um breve tempo depois da ação de Crânio, ele aceita. Enquanto envolvia o guardanapo em suas mãos, ele leu as iniciais que Crânio escrevera. Parou por um momento, como se realizasse o que estava escrito ali. “Q.I”.

A sua reação foi se virar para Crânio subitamente. O rapaz não demonstrou, mas confirmou sua teoria. Ele não iria agir de maneira sigilosa, uma vez que ele roubara uma bolsa enquanto deveria esconder um item importante.

O gigante o observou e sussurrou.

—Você… Você é um dos homens do chefe?

Shhhh—Crânio fez com a boca - Não sei até que ponto é seguro falar aqui. Preciso das confirmações das últimas tarefas.

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Crânio estava nervoso e ao mesmo tempo, elétrico. Era inacreditável a situação em que entrou. Era uma excelente chance. O gigante recebeu o galão de água e observando Crânio, perguntou baixo.

—Qual o seu codinome?

—... ”Fêmur”. -Crânio teve de segurar o riso. Ele pensara a primeira coisa que veio a sua cabeça. Por alguma razão, associou Crânio, seu apelido, com os ossos do corpo humano e disse aquilo -

—Fê... Fêmur? Nunca ouvi falar de você..

Vim de outra parte da cidade. Muito longe. Fui mandado pelo Dr. Q.I, a situação dele não anda boa na penitenciária.

Crânio disse algo certo. Aparentemente a informação que Miguel conseguira era algo unicamente dedicado a interesse dos homens de Q.I. O gordo bandido o observou e engoliu o seco. Parou para pensar por meio minuto e o olhou com mais dúvidas do que certeza.

—Me segue, por favor. - Ele disse -

Foi só naquele momento que Crânio notou a 9mm presa ao Jeans do gordo bandido.