Quando amanheceu, a primeira coisa que fizemos foi recolher nossas coisas e voltar para os carros. Ontem, quando Rick contou que teríamos que diminuir os carros nem passou por minha cabeça que o carro que Daryl e eu dividimos seria uma das vítimas. Assim que eles tiraram a gasolina dos carros que deixaríamos e se prepararam para sair Rick me contou a novidade, o trailer e o outro carro estavam cheios e eu teria que ir de moto com um caipira.

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Nenhum de nós estava feliz com isso.

Nos primeiros momentos da viagem, me recusei a abraça-lo, mas mudei de ideia quando percebi que se não me segurasse nele, meu corpo iria voar.

Bem, agora era oficial.

Atlanta já era.

Comecei a ficar desconfortável no meio da tarde, pois me pareceu que Daryl gostava de andar em ziguezague, não sei se para me irritar ou se ele realmente tinha prazer com isso.

Fomos os primeiros a notar o problema na estrada a frente. Estava lotada de carros abandonados, como estávamos de moto, Daryl se meteu por entre os carros e achou uma passagem que talvez desse para o trailer passar. Nós demos meia volta e ele nos levou para a janela do trailer do Dale, o qual estava parado esperando por notícias.

— Pode ir na frente? – Dale perguntou para o Daryl, assim que chegamos perto

Daryl afirmou com a cabeça e deu a volta no trailer, liderando o caminho para Dale e os outros. O lugar estava detonado, alguns carros estavam capotados e outros com portas abertas, dando a impressão de que quem quer que seja tinha corrido sem se importar com nada. Um barulho alto chegou aos meus ouvidos e eu virei o rosto, olhando o melhor que podia para trás, onde o trailer do Dale estava parando e soltando fumaça.

Céus, isso porque não temos problemas suficientes.

Daryl parou a moto e nós descemos, caminhei diretamente para o trailer, me alongando no caminho. Dale saiu do trailer, seguido por Shane, Glenn e os outros.

— Eu disse. – Dale comentou, olhando para o motor do seu trailer – Eu não disse? Umas mil vezes. Isso não ia durar.

— É grave, Dale? – Glenn perguntou, olhando dele para a fumaça branca que saia do carro

— Só o fato de estarmos presos no meio do nada sem esperança de... – Dale respirou fundo, balançando a cabeça – Tá bom, isso foi burrice.

— Não consegue achar uma mangueira de radiador aqui? – Daryl perguntou, enquanto fuçava no porta malas de um dos carros abandonados próximos de nós – Tem muita coisa que podemos achar.

— E posso pegar mais combustível desses carros para começar. – T-Dog comentou, caminhando por entre os carros

— E talvez alguma água? – Perguntei esperançosa, enquanto olhava por cima dos ombros de Daryl, vendo ele mexer em alguma mochila rosa

— Ou comida? – Rick sugeriu, deixando claro que não rejeitaríamos nada

— Isso é um cemitério. – Lori resmungou, olhando para os carros – Não sei como me sinto sobre isso.

Concordei em silencio, já que isso lembrava realmente um cemitério.

— Tá legal, tá legal. – T-Dog nos disse, meio que ignorando a mulher – Vamos nessa. Anda pessoal. Vamos olhar por aí. Peguem o que puder.

Cada um de nós caminhou em direção a um carro. Inspecionei o carro antes de abrir o porta malas do carro mais próximo e quando abri, o cheiro de mofo invadiu minhas narinas. Puxei a gola da minha camiseta para cima e tampei meu nariz, enquanto revirava as coisas que um dia foram de outras pessoas. A primeira coisa que achei foi uma mochila e ela era da onde o mofo estava vindo, pois tinham uma grande mancha nela. Antes de joga-la longe, a abri e verifiquei se tinha algo que poderíamos usar, mas não tinha nada.

Depois de conferir meu segundo carro, desisti de encontrar qualquer coisa. Ao passar por Daryl e T-Dog no meu caminho de volta ao trailer, dei uma conferida em seus trabalhos, apenas para irritar e recebi um comentário mal-humorado do caipira.

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— E aí, - Falei ao chegar perto de Rick, o qual estava de guarda – cadê o binoculo?

— Com Dale, lá em cima.

Ao receber a resposta, eu me aproximei da escada e subi devagar, para não cair. Odiava subir em escadas pequenas, na verdade, odiava escadas em gera. O elevador foi a melhor invenção que fizeram para alguém assim como eu.

— Está tudo bem? – Perguntei ao me sentar no teto do trailer, olhando para Dale, esperando a resposta

— Tudo sob controle. – Dale respondeu, depois de dar mais uma olhada no binóculo – Você está bem? – Ele juntou as sobrancelhas, ao me olhar atentamente

— É só um velho desconforto. – Respondi, tocando a minha barriga enquanto falava – Não é a minha melhor lembrança do Benning.

Eu estava praticamente curada do tiro que eu havia levado no horário de trabalho. Não sangrava, já que estava cicatrizado, mas dependendo do esforço que eu fazia, dava para sentir uma dorzinha leve e irritante.

— O tiro ainda incomoda? – Dale me perguntou

— Como sabe que fui baleada? – Perguntei em seguida, juntando as sobrancelhas confusa

— Adrian, - Dale respondeu, rindo fraco – ele contou semanas antes de você chegar, estava preocupado.

— Dale, - Balancei a cabeça negativamente, rindo – Adrian Jones não se preocupa com ninguém, a não ser ele mesmo.

Dale riu e concordou em partes, mas logo em seguida ficou sério, olhando para algo além de nós.

— É melhor você ver isso. – Comentou, logo me estendendo o binóculo

Assim que peguei o binóculo e me levantei, coloquei na frente dos meus olhos, olhando para onde Dale estava indicando com a mão. Uma pontada atingiu o meu coração quando eu vi o primeiro caminhante, vindo em nossa direção, seguidos por vários outros. Senti a mão fria de Dale me puxando para baixo e me deitei no teto do trailer, deixando o binóculo de lado e pegando minha pistola, para uma emergência.

Com o rosto colado no teto morno, desejei que todos estivessem se escondendo em locais que não fossem achados facilmente. Os gemidos se aproximaram e se tornaram cada vez mais altos e contínuos. Dei uma olhada em Dale e percebi pavor em seus olhos, pisquei lentamente para ele enquanto fazia um breve gesto com a cabeça, dizendo que estávamos bem.

Uma onda de adrenalina invadiu o meu corpo quando eu escutei um grito feminino de dentro do trailer, abaixo de nós. Me arrastei até a janela do teto do banheiro e vi a cena: Andrea estava tentando não deixar um caminhante entrar no banheiro. Ela me encarou e pareceu ter certeza que morreria, já que era eu que tinha a oportunidade de salva-la. Dale tocou em meu braço e me entregou uma chave de fenda, a qual eu joguei pela janela, nas mãos da Andrea. Voltei a me arrastar para longe da janela, já que isso era tudo que eu podia fazer por ela e dei uma olhada para Dale, enquanto mexia os lábios em um “Obrigada”. Deitei novamente a minha cabeça no teto do trailer e percebi que não estava mais escutando os gritinhos de Andrea, supus que ela tinha matado o caminhante e estava mais calma.

Quando os passos e gemidos dos caminhantes pareceram ter acabado, escutei gritos de criança. Levantei a minha cabeça imediatamente e tudo que eu vi em seguida foi Rick correndo em direção a floresta.

Conforme descia do trailer, o grupo estava se reunindo no acostamento, em direção ao mesmo lugar que Rick havia corrido. Enquanto eu me aproximava, notei que a única criança que estava entre a gente era Carl. Carol estava chorando nos braços de Shane. Não achei nada apropriado para dizer a ela e por isso me mantive em silencio, observando cada um deles.

Daryl estava subindo em cima do capo de um carro para ficar de guarda, T-Dog estava encostado no murinho do acostamento, segurando um de seus braços sangrentos. Andrea estava coberta por sangue, mas não era dela. Dale estava se aproximando de nós. Adrian estava sentado em um dos capôs dos carros, coberto por sujeira. Lori e Carl estavam perto de Carol, a qual tinha se separado de Shane e agora estava sendo consolada por Lori. E finalmente Shane, que estava subindo em outro capo para ficar de guarda também.

Um silencio horrível se instalou assim que Carol parou de chorar, com a ajuda de Lori. Eu não gostava de silêncios assim, eram mortos, estranhos.

Caminhei em direção a T-Dog e puxei a minha faca de combate, ele reagiu no mesmo momento, dizendo coisas como “Não fui mordido, sua maluca” e “Vai pra lá”. Eu apenas balancei a cabeça negativamente e rasguei a manga da minha camiseta camuflada, antes de voltar a guardar a faca, sentindo alguns olhares sob mim. Silenciosamente pedi para T-Dog me mostrar o machucado, assim que ele o fez eu amarrei firmemente o trapo de pano no machucado e assim que fiz o nó, vi que o pano já estava quase todo encharcado de sangue. T-Dog agradeceu e fracamente elogiou a minha tatuagem no braço, a qual costumava ficar coberta pela manga da camiseta. Era uma tatuagem que todos Rangers tinham. Uma caveira com asas de anjo e facas de cada lado, usando um chapéu militar escrito Ranger com duas armas cruzadas entre ela, junto com uma cobra enrolada em uma espada, a qual cruzava a boca até a cabeça e ao redor, escrito em circular estava os dizeres: “US ARMY RANGER – RAGERNS LEAD THE WAY”.

Ele estava mal, precisamos suturar o braço dele.

Um barulho nos chamou atenção para a mata e de lá escutamos a voz de Rick chamar a esposa, todos nós nos aproximamos ainda mais do murinho, onde Rick estava subindo correndo e assim que chegou pude avalia-lo, estava ofegante e tinha sangue em sua camiseta branca.

Nada de Sophia.

— Onde está a Sophia? – Rick nos perguntou, entre respirações pesadas – Ela não voltou?

Carol balançou a cabeça negativamente, seu rosto se contorcendo novamente, avisando que ela iria voltar a chorar. E foi o que ela fez. Nós ficamos em silencio, sem saber o que falar enquanto Lori e Andrea acolhiam Carol.

Foi aí que decidimos montar um grupo de busca. Rick nos levou aonde ele disse que tinha deixado e visto a menina pela última vez. Era um riacho, ele apontou para um pequeno local coberto e Daryl foi verificar, para ver se tinha algum rastro da menina, já que ele era o melhor nisso.

Em caçar.

— Tem certeza que é esse o lugar? – Daryl perguntou, depois de olhar o lugar e dar uma olhada para Rick

— Eu a deixei bem aqui. – Rick respondeu, ele estava visivelmente se sentindo culpado por tê-la perdido assim – Atraí os caminhantes bem para lá na direção daquele riacho.

— Ela ficou sem rumo. – Daryl comentou olhando para as arvores - Não achou o caminho de volta.

— Ela já tinha sumido quando voltei para cá. - Rick nos contou, gesticulando com as mãos - Eu pensei que ela tivesse saído e voltado para o grupo. Eu falei para ela. “Volte por ali e mantenha o sol no seu ombro esquerdo”.

Daryl caminhou pela água até o lugar que Rick tinha apontado, onde Glenn estava se aproximando. Ele foi mais para perto, tentar ver o rastro.

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— Ei, Short Round. – Daryl disse olhando de Glenn para o chão - Dá para sair para o lado? Você está bagunçando o rastro.

Glenn chegou mais para o lado, estreitando os olhos por conta do novo apelido.

— Isso se ela souber a diferencia de esquerda e direita. - Shane alfinetou alto

— Shane, ela me entendeu bem. - Rick retrucou também

— A menina estava cansada, cara. - Shane argumentou, balançando a cabeça negativamente - Ela quase foi pega por dois caminhantes. O quanto será que você disse e ela escutou?

— Tem pegadas claras bem aqui. - Daryl nos avisou, apontando para o chão e todos chegamos perto, para olhar - Ela fez como você disse, voltou para a estrada. Vamos nos espalhar.

Glenn ajudou Daryl a subir e depois fez o mesmo comigo, me deixando para ajudar Rick. Ao meu ver, tínhamos uma chance de encontrar a menina, mas só se nos movimentássemos rápido o suficiente.

Uma pequena chance, mas era uma chance.

Melhor que nada.

— Vamos voltar pra lá.

— Ela não deve estar muito longe. – Shane comentou, quando passei por ele e segui Daryl – Vamos acha-la. Ela só pode estar escondida na mata em algum lugar.

Segui ao lado de Daryl na mata, ele podia ser o melhor caçador do grupo, mas eu sabia algo sobre rastros, habilidade que eu tinha ganhado nos primeiros dias como recruta, antes mesmo de ir para Infantaria. Depois de caminhar alguns metros, Daryl se abaixou, se apoiando na besta enquanto olhava fixamente para o chão.

E então eu percebi.

— Ela estava no caminho certo, - Comentei com eles, apontando para o chão enquanto olhava para cada um deles – estava indo bem. Ela só tinha que continuar, mas ela virou para aquele lado. – Apontei para a minha esquerda

— Por que ela faria isso? - Glenn perguntou lentamente, apertando a espingarda nas mãos

— Talvez tenha visto uma coisa que a assustou? – Shane supôs, olhando para o lado que eu apontei – Ou que a fez correr?

— Caminhante? – Glenn perguntou em seguida

— Não vejo mais nenhuma pegada. - Daryl comentou, depois de balançar a cabeça negativamente - Só as dela.

— E então, o que faremos? - Shane perguntou encolhendo os ombros – Todos nós vamos seguir em frente?

— Não, eu acho melhor você e o Glenn voltarem para a estrada. - Rick respondeu, olhando para os dois – As pessoas vão começar a entrar em pânico. Avise a eles que estamos no rastro dela, fazendo o que podemos.

— É uma boa ideia. – Comentei, olhando para Rick - O mais importante é manter o pessoal calmo.

— Eu vou mantê-los trabalhando, - Shane avisou afirmando com a cabeça, olhando para Rick - vasculhando os carros. Vou pensar em outras tarefas. Vou mantê-los ocupados. – Ele olhou para Glenn e respirou fundo – Tudo bem, vamos voltar.

Glenn afirmou e seguiu Shane na direção oposta que iriamos. Daryl se levantou e nos guiou novamente. Agora sem os dois, estávamos quietos, não tinha muita conversa, apenas nos comunicávamos por pequenos sons.

Isso irritava.

— Esse silêncio, - Comecei a falar, olhando de Rick para Daryl – não gosto.

Antes que um dos dois falassem mais alguma coisa, Daryl parou de andar, encarando o chão novamente.

— O rastro sumiu. – Rick supôs, mas não tinha muita certeza

Encarei o chão e dei uma boa olhada no lugar que Daryl estava observando.

— Não, eles apenas diminuíram. – Expliquei, e logo em seguida Daryl me olhou, franzindo o cenho, provavelmente pensava que eu só estava ali para ajudar em um possível combate – Ele não sumiu. Ela veio por aqui.

Passei por Daryl e liderei o caminho, tomando cuidado com os meus pés para não pisar em um rastro.

— Como você sabe? - Rick me perguntou, angustiado - Eu não vejo nada. Só terra, mato...

— Quer uma aula sobre rastros, ou quer achar aquela garota logo para voltarmos logo à estrada? – Daryl lhe perguntou, logo atrás de mim

— Bem, eu posso dar uma aula rápida. – Comentei meio que provocando Daryl, o qual respirou alto, mostrando que estava impaciente – Rick, tudo tem um padrão, quando esse padrão se rompe, há rastros, pegadas, sangue.... Não que vá ter sangue nesse rastro...

— Será que pode se concentrar? - Daryl me perguntou abruptamente

— Olha só, se tem alguma coisa que eu estou é concentrada.

— Por deus, - Rick resmungou passando a mão pelo rosto – vocês não param.

Olhei para Daryl e com um sorriso sacana indiquei para que ele liderasse o caminho, o que ele fez, mas sem antes resmungar o quanto eu era irritante.