Love Story

Adeus e Boa Sorte


Naquela mesma noite, Gil não voltou para o laboratório, pois de jeito nenhum deixaria Sara sozinha naquele estado. Ligou para Catherine avisando que não voltaria e que qualquer coisa ela podia ligar pra ele. Levou bastante tempo, mas o supervisor conseguiu acalmar Sara e fazê-la dormir, dando o maior apoio e amor do mundo pra ela.

Sara não teve pesadelos, mas mesmo assim não conseguiu dormir direito. Muitas vezes acordou do nada e ficou apenas de olhos fechados. Em uma dessas despertadas, já era pela manhã, e Sara já não estava mais agarrada a Grissom como das outras vezes, estava de barriga pra cima. Olhou para o lado e viu seu amor virado pra ela, dormindo profunda e serenamente.

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Sorriu de forma triste só de pensar em acordar num lugar distante e não ter mais aquela visão. Porque era assim que ficaria se mais algum caso a machucasse. Estava em seu limite, iria embora mesmo contra a vontade caso se envolvesse em mais alguma investigação. Não queria mais aquilo. E o que mais doía não era imaginar tudo o que iria sentir em mais pesadelos e casos horríveis, e sim imaginar o que Grissom sentiria caso ela partisse. Sabia que o machucaria muito e nunca se perdoaria por isso.

Com cuidado para não acordá-lo, Sara ficou deitada de frente pra ele para velar seu sono. Ficou um tempo assim, observando cada traço dele. Com todo o cuidado e delicadeza do mundo, Sara passeou a ponta dos dedos pela lateral do rosto liso dele. Só Deus sabia do quanto estava sendo difícil pra ela, ademais, somente ele também sabia o tamanho do amor que Sara sentia por aquele homem que ali descansava. O viu se mexer um pouco e sentiu-se ser abraçada na cintura pelo braço direito forte dele, olhou de relance com um sorriso no canto dos lábios. Sabia que se fosse embora não conseguiria se despedir dele. E ao pensar nisso, a morena sentiu seus olhos acumularem algumas lágrimas. Sentiria tanta falta dele…

Seu noivo…

Tinha até esquecido de que tinha aceitado casar com ele. Como seria agora? Grissom tinha ficado tão feliz e ela acabaria com a felicidade dele.

Tratou de secar as lágrimas que caíram rapidamente antes que ele visse quando acordasse e acariciou seus cabelos macios. Por fim, se aproximou devagar e deu um beijo suave em seus lábios.

Como se fosse um conto de fadas, Grissom despertou com esse beijo que recebeu de sua princesa e deparou-se com os mais lindos olhos que já tivera o prazer de admirar.

— Bom dia…- ela murmurou ao ver suas íris azuis de encontro com suas amendoadas.

— Bom dia…- ele sorriu ao sentir a mão macia dela seu rosto. — Acordou tem muito tempo?- perguntou ainda sonolento.

— Um pouquinho. Estava te observando dormir… Gosto de fazer isso…- sorriu de lado.

— Então somos dois.- sorriram um para o outro e ele abraçou mais a cintura dela. — Você está melhor?

— Estou sim. Obrigada por ter vindo…

— Eu nunca vou te deixar.

Aquela frase acertou em cheio seu coração e doeu de uma forma cruel. Sara conseguiu disfarçar o abraçando e apoiando a cabeça em seu peito. Grissom não percebeu que o que falou a machucou, de forma não intencional, e não percebeu também que o que acabara de falar era uma mentira, mas não vamos entrar nesse assunto ainda né ~ risos nervosos ~.

— Que horas são?- Gil se afastou um pouco dela para pegar seu celular. Viu uma mensagem de Catherine e o colocou de lado novamente. — Falta meia hora pro seu turno começar, eu vou com você.

— Eles não vão pra casa?

— Não. Não concluíram o caso depois que eu saí, vão fazer turno duplo. Vou voltar lá pra ajudar.

Sara assentiu.

— Vou preparar um cafézinho.- ele deu um beijo nela e se levantou indo em direção à cozinha.

Sara suspirou pesadamente. Sentia-se culpada até mesmo antes de fazer o que estava pensando. Aquela frase doeu no fundo da sua alma e ela achou que se fosse realmente embora, Gil talvez nunca a perdoasse.

Ah, mas por que ele não a perdoaria?

Porque Sara não pensava em voltar.

“É difícil ir quando se quer ficar, sorrir quando se quer chorar, mas difícil mesmo é esquecer quando se quer amar!” ― Bob Marley

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~ ♥ ~

Sara investigou um caso solo que encerrou lá pelo começo da tarde. Estava andando pelos corredores do laboratório meio desligada, com seus fones de ouvido e seus cabelos presos num coque. Nem percebeu que tinha gente saindo do locker quando se chocou com essa pessoa derrubando as coisas dela no chão. Era Warrick.

— Opa! Onde é o incêndio?

— Desculpa.

Ambos sorriram.

— Tudo bem.

Sara o ajudou a pegar as coisas e notou um frasco de zolpidem com o nome dele.

— Zolpidem. Esse é dos bons hein.

— É, me ajuda a dormir. Tem sido difícil ultimamente.

— Pra mim também.

— Você acaba de enfrentar uma tremenda barra... mas já se ajustou.- disse tocando o ombro dela. — Você é uma garota durona. Se cuide, está bem?

Sara sorriu.

— Obrigada.

Warrick também retribuiu o sorriso e passou por ela.

— Bons sonhos!

— Valeu!- ele disse antes de ir embora.

Sara mal sentou e Ronnie já apareceu na porta do Locker perguntando se ela já tinha acabado. Com a resposta positiva, a mais nova informou que tinham outro caso pra solucionar. Turno movimentado.

O caso que teriam que investigar era uma briga de um casal que chamou a atenção dos vizinhos. A casa estava revirada, havia sangue, mas não havia corpo.

Enquanto estavam lá, não demorou muito para um deles voltar pra casa, era a esposa. Ela parecia machucada e com os olhos marejados, meio desorientada.

Ao ser questionada sobre onde estava e onde estava o marido, ela disse que eles tinham tido uma discussão e que ela saiu pra caminhar, não sabia onde ele estava. Quando alegou dor nas costas, Ronnie viu que ela estava com uma faca cravada na mesma. Chamaram os paramédicos e enquanto ela estava sendo atendida o marido voltou à casa. Perguntou se ela estava bem e se ela tinha chamado a polícia por causa dele. Começou a gritar com ela e tentar agredi-la, os policiais e Ronnie tentavam separá-los e Sara… estava imóvel. Já tinha visto aquilo antes e também viu como terminou.

— Sara?- Ronnie chamou a atenção dela.

A morena queria sair daquele lugar o mais depressa possível.

— Por que não termina aqui?!- era nítido o seu desconforto.

— Espera aí, o que vamos fazer em relação a isso?

— O sujeito está preso.

— Mas vai estar solto amanhã. O marido claramente está maltratando ela.- Ronnie queria muito ajudar e não sabia pelo que Sara tinha passado senão resolveria aquilo sozinha. — Deve ter alguma coisa que possamos fazer.

— Voltamos pra pegar o corpo dela no mês que vem, ou o dele, ou dos dois.- a mais nova franziu o cenho com a “insensibilidade” de Sara. — Não há nada que possamos fazer, Ronnie. Não se iluda.- dito isso, Sara foi embora deixando Ronnie chocada.

De saco cheio, era como Sara estava. Farta de estar rodeada pela morte, sem um pingo de paz, com fantasmas a perseguindo e nem mesmo Grissom conseguia fazê-la se livrar disso.

Andando pensativa pelos corredores do laboratório, Sara passou em frente a sala de seu amado supervisor, ou não mais. Parou e o observou com a expressão suave. Lindo. Ele estava escrevendo alguma coisa e percebeu sua presença ao olhar pra porta. Sara sorriu de lado e Grissom acenou pra ela, em seguida,com a mesma mão ele a chamou pra entrar voltando a escrever.

Sara não queria fazer isso, pois certamente ele notaria que ela não estava bem e iria querer saber o motivo. Não queria conversar. Ignorou o chamado e seguiu seu caminho.

Grissom, quando notou que ela não foi, ficou com uma interrogação na face. Ué!

Seguindo pelo corredor, Sara foi abordada por Mandy que tinha o resultado das digitais do caso de Catherine.

Sara pediu que ela falasse com Nick, mas a técnica insistiu, pois sabia que Sara teria interesse no caso já que ela já tinha visto o suspeito antes. Ao ver nome e foto, a perita ficou surpresa.

Era Marlon West, irmão mais velho de Hannah West, aquela garotinha prodígio que a fez de boba em uma investigação antiga.

“Eu não matei a Stacy, foi o Marlon”. Aquela frase ainda ecoava em sua cabeça. Havia ficado em choque e ao mesmo tempo com raiva da garotinha que lhe enganou direitinho acabando com aquele caso, e assim, mantendo o irmão — que era culpado — livre.

Se Marlon estava envolvido em mais um assassinato, Sara teria que investigar, o caso sendo do diurno ou não. Foi até Nick mostrar o resultado que Mandy lhe deu e junto a ele foram até os arquivos de evidências para pegar todas as do caso antigo. Levaram pra sala de análises e chamaram Catherine e Grissom para explicar a situação, já que o caso tinha sido deles na época.

Com as fotos do caso de Stacy Vollmer sobre a mesa, Sara e Nick resumiram a história.

— Marlon West foi julgado pelo assassinato de Stacy Vollmer.- começou Nick. — Ele confessou e isso foi desconsiderado devido a um detalhe técnico. Não precisávamos disso, o caso da promotoria contra Marlon era forte.

Sara tomou a palavra.

— Até que a irmã dele, Hannah, testemunhou e confessou o crime.

— Ah é, eu me lembro desse caso.- disse a ruiva. — A garotinha do ensino médio, doze anos.

— Ela é um prodígio.

— Ela manipulou os acontecimentos, fabricou evidências e no final, Marlon foi inocentado.

— Ela alegou ter feito isso porque amava o Marlon, sentido de justiça distorcido. Ela se formou mais tarde naquele verão, tornou-se legalmente emancipada dos pais e foi pra Harvard, pré-médico.

Grissom surpreendeu-se e mais uma vez ficou preocupado.

— Você a tem acompanhado?

— Não recentemente. Acidente ou não, o Marlon matou antes e a Hannah acabou com esse caso. Marlon saiu livre, e agora ele matou de novo.

Olha ela se adiantando as evidências de novo.

— Bom, ainda não sabemos. Não temos o DNA de Marlon pra comparar com o sêmen encontrado na vítima, todas as evidências antigas foram eliminadas.

Enquanto a amiga falava, Grissom olhava para Sara e prestava atenção em suas expressões. Ele presenciou como Sara havia ficado depois daquele caso, o que Hannah havia feito com seu psicológico, e não queria que a história se repetisse.

Sara estava fragilizada, sabia que qualquer coisa que não saísse como ela queria naquele caso, acabaria mal. E se ela se envolvesse no caso, ninguém a tiraria dele.

— Eu quero esse caso.- disse a morena olhando para Catherine.

— Do cara que se safou?

Sara o olhou assim que ouviu ele dizer isso.

— Não devemos deixar que se safem, não é?

Nick sentiu o clima ficar pesado e o impacto daquelas palavras e olhou para os dois. Se Gil e Sara não fossem um casal zen, Nick diria que aquilo acabaria em discussão.

— Tudo bem, vou ver se consigo com o Ecklie. Mas Catherine terá que supervisionar, você terá que se reportar a ela.

Sara assentiu assim como a ruiva que já sabia onde ia dar. Sara tomaria a frente do caso e se machucaria no final.

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— Tudo bem.

Grissom passou por trás de Catherine pra sair da sala, mas antes ele parou ao lado de Sara.

— Olha só, Sara… Se o Ecklie deixar…

Ele nem precisou terminar, pois Sara entendeu.

— Eu sei, Griss…

Eles falavam suavemente, com carinho, isso fez Nick e Catherine sorrirem discretamente, mas deixaram esses sorrisos bem evidentes ao verem Gil beijar a testa dela e sair da sala em seguida.

Ela o observou sair e voltou sua atenção aos amigos. Corou um pouco e riu pronunciando:

— O que foi?

— Deixa o Ecklie pegar vocês dois de namorico aqui dentro.- brincou Nick.

— Não estamos de namorico, ele só está cuidando de mim.

— Você sabe o que esse caso vai fazer com você, não sabe, Sara?- Cath estava preocupada.

Sara suspirou.

— Eu sei, mas eu preciso acabar com isso.

— Bom…- começou Nick. — Estamos juntos nessa, como antes.- levantou a mão pra dar um high five nela. Sara retribuiu.

Esperaram na sala e assim que Gil voltou para avisar que o caso era de Sara, a mesma foi com Brass até a universidade falar com Marlon.

O garoto admitiu que estava sim fazendo sexo com Kira Dellinger, que as digitais dele estavam no quarto porque ele já esteve lá um milhão de vezes, e negou que havia matado a garota.

— Olha só, Marlon, te damos o benefício da dúvida em troca disso.- ela mostrou o cotonete pra ele. — Lembra disso?

Sara foi pega de surpresa ao ouvir a voz da vaca mirim, digo, da Hannah.

— Suponho que tenha um mandado pra colher o DNA.- a cara de espanto de Sara foi uma boa sensação para Hannah. — Porque se não tiver, certamente não terá o consentimento dele.- (ai como eu odeio!) — Não é mesmo, Marlon?

— Hannah, eu ouvi dizer que estava estudando no leste, o que faz aqui?

— Pós graduação.- respondeu com o nariz empinado e passou por ela. — Com licença.

É deboche que fala?

— Com licença você.- Sara rebateu seguindo ela. — Você não vai atrapalhar a investigação dessa vez.

Hannah sorriu.

— Tem certeza que saberia se eu o fizesse?- se Sara ficou com vontade de esganar ela? Ficou, mas como era só uma criança… — É bem vinda pra ficar.- disse ela ao subir no palco. — Talvez aprenda alguma coisa.

Ela é afrontosa ela.

Pois é, a demônia estava DANDO AULA na WLVU. Q

Voltando à delegacia, Sara foi curta e grossa com Jim porque queria um mandado pro DNA de Marlon e o detetive disse que não teria como. Ela estava virada no Jiraya mesmo e não estava nem aí, queria aquele caso fechado e Marlon na cadeia.

A investigação levou a mais fatos. O lubrificante sexual de Kira Dellinger foi batizado com GHB, uma droga que te deixa meio desorientado. Foi assim que o assassino de Kira a deixou impossibilitada de lutar por sua vida. Isso também afetou Jordan, um ficante de Kira e esse mesmo cara quebrou um pedaço do dente de Marlon numa briga. Briga essa que Hannah estava presente.

Conseguiram um mandado para um molde da mordida de Marlon, para comparar com o pedaço de dente que encontraram na mão de Kira.

Enquanto Nick estava em uma sala com Marlon, Sara foi até Hannah que estava sentada na sala de espera da delegacia.

— Ele não matou a Kira, ele se importava com ela.- a garota disse ao ver Sara entrar na sala.

— Hannah, o que a faz pensar que eu acreditaria em alguma coisa que você diz?

— Acho que sou otimista.- ela debochou e depois ficou um pouco séria. — Ajustar-se à faculdade tem sido difícil pro Marlon. Principalmente depois da morte dos nossos pais.

— Eu sinto muito por isso.- não transpareceu nenhum pesar e Hannah sabia disso.

— Na verdade, não sente.- mudou de assunto. — Quando o Marlon poderá ir embora?

— Olha, vamos mantê-lo aqui o máximo que conseguirmos.

Hannah riu debochando mais uma vez.

— Pelo menos está sendo honesta… mas também parece um pouco vingativa.

Sara manteve-se séria.

— Dado ao histórico do seu irmão, é bem sensato.

— Qual o problema, Sara? Está diferente do que era. Você está brava, e um pouco triste também … Por quê?

Sara ignorou. Sabia o que ela estava tentando fazer. Não cairia mais nos joguinhos dela.

— Se quer passar mais tempo com seu irmão, eu sugiro um bom advogado, Hannah.- dito isso ela saiu da sala, sem ter tempo de ver o sorriso travesso nos lábios de Hannah. A pestinha não ia facilitar nada pra morena, a começar com suas provocações.

E foi compatível, era o dente de Marlon na mão de Kira Dellinger. Mas como foi parar lá?

Ao olhar as fotos do dia da briga no site da banda gótica que Kira e Marlon participavam, Sara viu imagens de Hannah pegando o pedaço do dente de Marlon do chão. Naquele momento Sara teve quase certeza de que Hannah teve alguma coisa a ver com o assassinato da jovem.

Foi pra sala de análises dar mais uma olhada naquele molde e no dente também, estava confusa.

Grissom a viu sozinha na sala e foi ver como estavam as coisas.

— O que está fazendo?

— Eu só estou… dando uma olhada no fragmento de dente do Marlon.- deu a lupa pra ele e pediu: — Olha a orientação do fragmento na boca. Agora veja a maneira como o fragmento foi parar no punho direito da Kira.

— Parece ao contrário.- ele observou.

— Eu não acho que a Kira tenha acertado o Marlon. Acho que a Hannah pegou o dente de uma briga que Marlon teve antes daquela noite, e acho que colocou na Kira.- suspirou. — Isso é loucura.

— Isso é possível.

— Essa garota está me fazendo andar em círculo, de novo.

Grissom suspirou. Era melhor tirá-la do caso enquanto dava tempo.

— Olha Sara… alguns casos, algumas suspeitas, podem incomodar você, como esse dente. Mas não pode se sentir mal com isso. Se quiser eu coloco o Nick nesse caso.

Ele estava fazendo a mesma coisa que fez no caso do manicômio um tempo atrás, e ela também.

— Não! Não, eu… eu tenho que terminar esse caso.- ela insistiu. — Eu vou ficar bem.- mentiu, mas ele não podia tirá-la daquele caso.

— Tudo bem.- ele cedeu. Não conseguia dizer “não” a ela. Suspirou preocupado. Sara percebeu.

— Griss…

— Eu só estou com medo de você se machucar de novo. Eu estou cuidando de você.

— Eu sei.- ela sorriu triste e segurou a mão dele.

Mais uma vez ele suspirou.

— Vai ficar bem mesmo?

Sara assentiu. Grissom confiou e saiu de lá.

E ela? Foi direto pra delegacia interrogar Hannah com a foto que achou.

— O que é aquilo na sua mão?

— Acho que era um papel de chiclete.- cara de pau né? — Não se deve jogar lixo no chão.

Sara falou por cima curta e grossa. — É um pedaço de dente! O mesmo que a nova diversão de Kira arrancou de Marlon. Você já tinha colocado o GHB no lubrificante da Kira e então colocou um pedaço do dente dele no punho dela, ajeita ela na posição certa e seu irmão é um assassino de novo.

— Essa é uma série de eventos bastante improvável.- nessa hora Gil chegou na sala do outro lado do vidro e começou a assistir tudo. Brass contou a ele que Sara estava interrogando a menina. — Você não espera que eu confesse uma coisa que eu não fiz.

— Eu só estou te avisando que você não vai mais me fazer de boba.

Hannah resolveu provocar.

— Acho que sei porquê está tão brava, Sara. Eu andei pesquisando, eu li sobre o que aquele assassino serial fez com você no deserto debaixo daquele carro.

— Estamos falando de você, Hannah!

A menina ignorou.

— Deve ter sido terrível ter ficado presa daquele jeito sozinha. A sua vida passou diante de você como um flashback?

— Não é da sua conta!

Hannah ignorou novamente.

— Deve ter sido muito triste saber que perderia todos que são importantes pra você.

— Quer parar, Hannah!!- foi ignorada de novo.

— Olha, eu sei como é. Num minuto meus pais estavam vivos e no minuto seguinte eles se foram.

— Responda a pergunta!

E Hannah não parava. Gi já esperava pelo pior vendo Sara nervosa daquele jeito.

— A minha vida mudou naquela hora. Tudo o que eu tenho agora é o Marlon, por que eu faria alguma coisa pra feri-lo?

Sara ficou com raiva e bateu com as duas mãos na mesa assustando Hannah como se fosse avançar nela.

— Para de jogar comigo!- Sara estava fumaçando de tanta raiva daquela garota. Se levantou e saiu da sala, não sem antes ouvir o que ela disse:

— É você quem está jogando.

Grissom assistiu preocupadíssimo toda aquela discussão das duas. Sara não podia continuar naquele caso ou enlouqueceria. Precisava falar com ela. Estava muito nervosa e aquilo não era bom sinal. Sabia que o objetivo de Hannah era deixá-la assim, e conseguiu.

Assim que Sara saiu da sala, Grissom foi até ela.

— Oi.

— O que está fazendo aqui?

— Eu ia te fazer a mesma pergunta. Eu estou preocupado com você.

Sara o interrompeu enquanto andava pra trás e ele pra frente.

— Isso só deixa as coisas piores. Eu não posso falar agora, não posso.- deu as costas e foi embora da delegacia.

Grissom suspirou. Não devia ter ido falar com Ecklie, não devia ter dado o caso pra ela. Olha só o que estava causando! Grissom sabia que o final daquilo seria ruim, mas não tão ruim quanto imaginava e aquilo iria doer muito nele, mais do que vê-la chorando e tendo pesadelos.

Sara foi direto para o laboratório pegar mais fotos e voltar até a delegacia para falar com Marlon. Sabia que ele era inocente e que Hannah estava tentando incriminá-lo.

— Por que a Hannah ia querer me incriminar?- ele perguntou ao ver as fotos de Hannah pegando o dente dele.

— Eu não sei, Marlon… Ela é sua irmã.

— A Hannah sempre foi meio estranha,as desde o julgamento e depois da morte dos nossos pais ela tem ficado muito estranha. Muito grudada em mim, sempre querendo sair comigo.

— E isso mudou quando conheceu Kira?

— É, mas não pra Hannah.

Marlon contou que um dia estava aos amassos com Kira no quarto e Hannah entrou, como ele não a mandou ir embora, Kira se zangou e disse que não queria mais saber dele. Marlon queria “dar uma lição nela”, mas só causando um pouco de confusão. Pediu para Hannah lhe ensinar a fazer GH pra colocar no lubrificante, só isso. Hannah podia ter feito uma cópia da chave do quarto de Kira e entrado lá para matá-la.

— Acredito em você, Marlon, realmente acredito. Mas tudo o que o júri vai ver são as suas digitais no lubrificante, suas digitais no parapeito da janela e outra garota morta.

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— Por que a Hannah está fazendo isso comigo?

— Eu não sei, tudo o que eu sei é que você não merece levar a culpa por isso. E a pergunta é: Você vai deixar a sua irmã se livrar disso? Enquanto você passa o resto da sua vida na prisão?

— Se a Hannah me quer na prisão é lá que eu vou fiar. Não tem nada que eu possa fazer.

— Tem uma coisa sim.

Sara tinha um plano para fazer Hannah confessar. Marlon estaria com uma escuta dentro da cela e pediria pra falar com ela. Jim e Sara ouviriam tudo da delegacia. Mas não deu certo, Hannah era muito esperta.

Como Marlon estava preso pelo assassinato de Kira, e Sara não conseguiria provar que a culpada era Hannah, a morena resolveu dar uma pausa, respirar, parar de se estressar tanto com isso. Lembrou que Gil tentou conversar com ela e a mesma foi meio ignorante sem querer. Resolveu abrir o jogo com ele e contar como estava se sentindo ultimamente. Foi até a sala dele e sorriu ao entrar.

— Oi…

— Oi!- ele sorriu de volta tirando os óculos.

Sara nada disse, somente apoiou as mãos na mesa e suspirou.

— Muito bem…- ele sorriu. — Oque que houve?- sabia quando ela queria pedir alguma coisa e não sabia como, conhecia a namorada que tinha.

— Eu sinto muito.- Gil ergueu a sobrancelha como se procurasse um motivo pra isso. — Eu tenho estado…- foi interrompida pelo toque de seu celular e revirou os olhos. Gil ficou quieto e esperou que ela atendesse. — É a Sara.- ela ficou muda por alguns segundos e o olhou com uma expressão de preocupada. — Tá, eu já vou.

Sara desligou, o olhou e saiu da sala indo até a detenção na delegacia onde encontrou Brass falando com um policial. Quando a viu, ele a informou:

— O guarda o encontrou, disse que ele não emitiu um som sequer.

Ao ficar de frente pra cela de Marlon, Sara sentiu seus olhos acumularem algumas lágrimas ao ver o jovem morto enforcado. Marlon havia cometido suicídio porque sua irmã não o deixava viver em paz, querendo deixá-lo o resto da vida na prisão pra tê-lo todo pra ela.

Foi a gota d’água para Sara, aquela era a última maneira que a morena imaginava que o caso acabaria. Não dava mais pra continuar ali, estava em seu limite, não tinha mais condições. Mas agora ainda tinha algo pra fazer… dar a notícia a Hannah.

Foi direto para o campus, era fim de tarde e a garota já estava saindo para ir de encontro com a morena.

— Precisa falar comigo de novo?

— Preciso. Eu sei que matou Kira Dellinger, só não posso provar.
— Isso deve ser frustrante pra você.

— Hannah… o Marlon está morto.

— Uau!- a menina não acreditou. — Essa é mesmo uma jogada triste e desesperada, Sara. É muito baixa pra você.

Sara então mostrou uma foto que tirou do corpo de Marlon enforcado pra levar pra ela e mostrar o que ela fez com o irmão.

Hannah ficou sem reação.

— Ele estava se dando bem aqui né? Fez amigos, se junto a uma banda, se apaixonou… mas você continuou estranha como no colégio.

— Não, você está mentindo, isso é mentira.- as lágrimas já acumulavam nos olhos de Hannah.

— O mundo dele cresceu e o seu continuou o mesmo, e você matou Kira para que pudesse tê-lo todo pra você, não foi?

— É mentira!- esbravejou chorando. — Não! É mentira! É mentira!- agarrou a mão de Sara tentando machucá-la e ambas se ajoelharam na grama do campus. — Para!- Hannah estava em completo desespero e todos em volta olhavam. — Vai embora!- novamente gritou aos prantos. — Marlon! Não!- Sara, mesmo não gostando dela, sentiu pena, apesar de achar que não sentiria. — Ele não pode me deixar sozinha!

Sara a abraçou e tentou acalmá-la.

Hannah chorou nos braços de Sara, chorou muito, e quando se acalmou um pouco, ainda soluçando, a olhou.

— Você gostou né?- Sara franziu o cenho. — Por eu ter que viver com isso.

— Não estou feliz com isso. Mas sim, vai ter que viver.

Hannah pegou a mochila do chão e saiu correndo.

Sara foi para o carro e correu pra casa. Iria embora aquela noite mesmo e precisava fazer as malas.

Entrou em casa aos prantos e correu pro quarto sendo seguida por Hank. Arrumou uma mala de roupas e outra de pertences diversos, tudo o que precisaria. O resto ela deixou lá, só pegou o necessário já que não sabia exatamente pra onde iria, só sabia que tinha que sair daquela cidade.

Com as malas prontas, Sara pegou papel, caneta e dois envelopes, e ainda chorando escreveu uma carta de despedida para Gil, explicando tudo, todos os seus motivos. Ao terminar selou dentro do envelope com o nome dele e chamou um táxi. No outro envelope ela colocou sua carta de demissão que imprimiu uns dias atrás. Enquanto esperava o veículo, foi até Hank — que estava quietinho deitado na cama enquanto ela fazia tudo — e o abraçou forte.

— Eu vou sentir tanto a sua falta, anjinho.- soluçou por conta do choro. — Eu te amo muito, muito, muito.- beijou o topo de sua cabecinha e fez carinho em seu pelo. — Cuida do papai, tabom? Não deixa ele sozinho.

Estava doendo tanto ter que deixar seus dois grandes amores, era uma dor que ela não estava suportando.

Seu táxi chegou e Sara teve que ir embora. Hank ficou triste, pois sentiu que era uma despedida. Sara deu mais um beijo nele antes de partir.

— Poderia passar no laboratório criminal antes de irmos pro aeroporto?- Sara pediu ao taxista. — Eu preciso entregar minha demissão.- sorriu triste.

Na verdade, queria mesmo era ver Grissom pela última vez, mas sem se despedir. Se dissesse a Grissom era provável que não conseguisse partir, e ela precisava partir.

— Claro.- concordou o taxista.

Ao chegar em frente o prédio, Sara respirou fundo, desceu do veículo e entrou. Fez o que pôde para ninguém notar que estava indo embora, não chorou nem se despediu de ninguém. Viu Grissom no corredor conversando com Hodges e andou até ele. Não disse nada, ignorou o técnico por completo e pegou Grissom de surpresa o beijando ali mesmo, no meio do laboratório. Sara deslizou a mão direita do ombro até o cabelo dele, apertou ao aprofundar o beijo e em seguida o finalizou olhando nos olhos dele, mas só por um breve momento, dizendo com eles que sentia muito. Após o beijo, simplesmente seguiu pelo corredor e entrou no locker.

“Eu não vou estar bem sem você

E eu poderia quebrar sem você [...]

Eu quero estar com você” ― Lady Gaga

Grissom ficou paralisado olhando ela se afastar. Ela ficou maluca? E se Ecklie visse aquilo? Alguns técnicos que viram o beijo estavam cochichando entre si. Hodges o fitou e questionou:

— Por que ela fez isso? Não podia ter esperado eu sair? Ela estaria em maus lençóis se o Conrad visse.

— Eu não sei, mas eu vou descobrir. Me fala sobre os resultados primeiro.- Hodges o acompanhou até sua sala.

Enquanto Grissom falava com Hodges, Sara estava no locker se preparando para ir embora. Pegou seu colete e um canivete, e descosturou seu nome do mesmo, ao fazer isso, cortou um pedaço de fita e colou no lugar escrevendo “boa sorte” nele. Feito isso, Sara guardou o colete no armário de Ronnie. Esperava que ela crescesse muito ali dentro, ela era uma boa criminalista.

Quando Sara foi guardar a fita e a caneta em seu próprio armário, deparou-se com uma foto dela e de Grissom colada na porta. Ele quem capturava a imagem enquanto ela olhava pra ele toda apaixonada. Seu coração doeu e ela fechou o armário, não daria pra trás em sua decisão. Não haviam só fotos dela com Grissom, tinha dela abraçada com Nick, com Greg, foto dela ao lado de Catherine, Jim e Warrick, com Abby, Rayle e Hank, todos que eram importantes pra ela. Sentiria falta de todos eles.

Antes de sair, parou diante da lixeira e olhou para o tecido em sua mão.

“Sidle”.

Amava ser criminalista, passou anos da sua vida nessa profissão, mas um dia todos precisam de uma pausa, principalmente com um trabalho como esse. Para Sara essa pausa havia chegado. Jogou seu nome no lixo, literalmente, e saiu do locker em direção à recepção. Pediu que Juddy entregasse um envelope a Grissom e outro a Conrad.

Voltou ao táxi e pediu desculpas caso tivesse demorado. Foram direto ao aeroporto.

Enquanto Sara estava à caminho de sair da cidade, Grissom estava procurando a mesma pelo laboratório, a procurou por toda parte e nenhum sinal dela. Foi até a recepção perguntar.

— Juddy, você viu a Sara?

— Ela saiu há alguns minutos, senhor, mas pediu que eu lhe entregasse isso.- a secretária lhe entregou um envelope com seu nome, Grissom agradeceu e foi abrir em sua sala.

E o que leu o deixou sem chão.

“Gil,

Você sabe que eu te amo, eu sinto que sempre te amei.

Ultimamente, eu não tenho me sentido muito bem. Verdade seja dita, estou cansada. Lá no deserto debaixo daquele carro aquela noite eu percebi uma coisa e, não tenho conseguido me livrar dela.

Desde que meu pai morreu, tenho passado quase toda a minha vida com fantasmas, nós fomos bons amigos, e ... lá no deserto, me ocorreu que aquele era o momento de enterrá-los, e eu não consigo fazer isso aqui. Eu sinto muito. Não importa o quanto eu tente lutar contra isso, eu fico com o sentimento de que tenho de partir.

Eu não faço ideia de pra onde eu vou, mas sei que é o que eu tenho que fazer. Se eu não fizer, eu temo que eu vá me autodestruir ou ainda pior: você estará lá pra ver acontecer.

Se cuide.

Saiba que eu tentei muito ficar. Saiba que só existe você pra mim, e que eu vou sentir sua falta a cada batida do meu coração. Nossa vida juntos foi o único lar que eu realmente tive e eu não trocaria isso por nada.

Eu amo você e sempre vou amar.

Adeus.”

Grissom imediatamente tirou os óculos sem querer acreditar que aquilo era verdade, que aquilo estava mesmo acontecendo.

Sara havia partido pra sempre.