Notas de Sal e Papel

O dia de todos os santos


Chegará o dia em que tudo será pouco

Em que tudo será comum

Chegará o dia em que os poemas não bastarão

Chegará o dia em que os cigarros não bastarão

Queimarão a nossa alma e consumirão o nosso corpo

Chegará o dia em que o álcool não será suficiente

Chegará o dia em que a realidade será tão torpe

Tão fria, nua e indelicada

Que a musica não bastará

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As drogas não bastarão

As lágrimas não bastarão

Não bastará o ódio nem a revolução

Não bastará o ouro nem as legiões

Não bastará o café

Não bastará o futebol

Não bastará o sexo ou o suor

Não bastará o debate

Pois não haverá quem deseje conversar

Sobre a imaterialidade das coisas

Sobre o absurdo da amizade

Sobre a nossa maldita vontade

De aventurarmo-nos no escapismo

Chegará o dia em que o céu estará morto

Eu próprio estarei morto

Mortos os meus poemas

Mortos os meus olhos

Morto, silencioso

Como um pântano sem acordes

Um funeral no dia de domingo

Chegará o dia em que as multidões se reunirão

E gritarão, tomada por completa revolta

Que seus direitos devem ser respeitados,

Elas querem sua coleira de volta

Chegará o dia em que não haverá medo

Não haverá malicia

Não haverá inveja

Não haverá escárnio nem o mais inocente sarcasmo

Não haverão deuses fantásticos e suas leis

Não existirão pessoas e suas opiniões

Não importarão as mentiras

Não importarão os nomes

Não importarão as arvores

Não importarão as casas

Não importarão as feiras e os cachorros da rua

Não haverá sol

Nem lua

Nem brisa

Haverá frio

Resignação

E depois,

Silêncio.