Nesta noite cessaram os clarões

Os rios das festas secaram-se todos

AS luzes queimaram ou foram estilhaçadas

O tabaco amargou

A comida esfriou

Nossa alma se cansou de tanta alegria

Todos foram para casa

Felizes e abençoados

Pois esta foi uma noite inesquecível

No entanto

Nesta noite tão fria

Tão escura

E recheada de estrelas

Meu coração se questiona

Incansavelmente

Por que nada daquilo é suficiente?

Por que não sobrevivemos das indústrias?

Al Capone vendia-nos uma mentira?

Um embuste? Um engodo?

Será que esta dor nunca passará?

Nessa noite fria, não tenho fome e nem sede

Mas sinto que me falta algo essencial

E eu sinto medo

Eu sinto o mais puro e honesto medo

Creio que nunca algo tão verdadeiro

Saiu desses meus versos amargurados

Eu sinto medo dos meus versos

Eu sinto medo das paredes do meu quarto

Eu sinto medo da solidão

Do cheiro do cigarro e da cerveja

Eu sinto medo de mim mesmo

Sinto medo do meu coração

Que sempre acreditou ser forte

Ser ferro, ser resistente

Mas que se provou, passadas as horas

As semanas e as refeições,

Um covarde

Eu temo pela minha sanidade

Pois quando me distraio, morro aos poucos

Uma nota por vez

Eu sinto que morro, sinto no meu coração

Todos os dias uma paciente punhalada

Ao longo das semanas infindáveis

Eu sinto meu irmão tomar conta de mim

Tomar conta desses versos

Tomar conta do mundo

E de todos os seus sentimentos

Arrepio-me de medo

Pois meu irmão não tem sede

Não tem fome

Não dorme

E não conversa

Em desespero eu sinto que as drogas deixam de ser suficientes

Em desespero eu percebo que a musica me abandonou

Em desespero eu vejo que o amor, aquele que me é tão caro

Mudou-se para o sul

Em desespero eu vejo o mundo perder seus tons

Meu coração se desespera

Meu coração se aterroriza

Meu coração se resigna

Mas meus olhos nada dizem

E o meu rosto, meu pobre rosto

É de um estudante ocupado

Numa tarde quente de verão.