— Por que você coloca esse despertador para tão cedo?

Blight cobre sua cabeca com o travesseiro enquanto eu desligo o barulhento aparelho. Eu me levanto e pisco os olhos fortemente, tentando acordar.

— Eu preciso desse tempo sozinha para treinar de verdade lá embaixo. Eu tenho tipo uma hora e meia antes de mais alguém chegar.

— Então eu vou dormir em meu quarto.

— Não precisa, fica aí que eu me troco no banheiro.

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Ele resmunga algo e volta a dormir, enquanto eu pego minhas roupas de hoje ( calca preta novamente, camisa colada azul clara e os mesmos sapatos ) e me visto rapidamente no banheiro, onde também penteio meus cabelos e escovo meus dentes. Quando saio estou quase apresentável, e saio pro café da manhã junto com Blight.

— Perdi o sono e estou te vigiando. Quase esqueci.

Eu reviro os olhos pela décima vez em vinte e quatro horas, e me sento na mesa. Blight faz o favor de tirar a faca de minhas mãos e me dar uma faca de manteiga.

— O que foi? Acha que eu vou atirar a faca em você?

— Você não toca em nenhuma faca até a arena.

Eu o xingo mentalmente e pego um pedaço de pão junto com geleias refinadas, além de um pedaço de bolo. Como rapidamente e vou para a secão de treinamento. Depois de ver que não consigo lançar lanças, decido esquecer isso é seguir para a estação de machadinhas. A técnica é parecida com a do machado e eu vou relativamente bem, acertando quase 80% das vezes, nessa tentativa. Eu me atrevo a lutar corpo a corpo com um dos instrutores e não me dou muito bem, mas aprendi algumas técnicas e depois consigo o imobilizar por tempo suficiente para o ferir, se eu tivesse uma faca. Não é perfeito, mas funciona e eu não me sinto tão insignificante. Logo trato de abaixar minha esperança de novo. Não quero passar muito tempo tecendo uma frágil rede de esperança para a ver ser rasgada na frente de meus olhos. Eu admito que meus unicos talentos são atirar machados e facas, nenhum dos dois perfeitamente. Não consigo usar mais nenhuma arma, reconhecer especies de plantas que poderiam me ajudar, lutar corpo a corpo, construir abrigos especialmente fortes, me camuflar, não tenho inteligencia o suficiente para matar todos de uma maneira indireta, não sou boa o suficiente para ganhar isso. O desespero comeca a tomar conta de mim, e eu me esforcço para continuar andando até a proxima estação.

Depois disso, outros tributos começam a chegar e eu decido ficar aprendendo sobre primeiros socorros até a hora do almoço, e o dia passa voando. Joshua me encara boa parte do tempo, mas eu o ignoro seguindo conselhos de meu mentor. Me certifico de pegar o elevador sozinha e como meu jantar rapidamente, para depois ir dormir. Quando já estava quase dormindo, Blight entra no meu quarto e se deita novamente no sofá, e eu finjo que estou dormindo até realmente cair no sono. O dia seguinte é igual, tirando a especie de prova que fazemos depis do treinamento. Não espero uma boa nota, eu simplesmente chorei e implorei piedade ate me arrastarem de lá. Joguei umas facas no chão, mas eles nem se deram o trabalho de olhar. Estava preparada para descansar até mais uma briga com Joshua, que se enfiou no elevador vazio alguns segundos antes dele fechar e me deixou presa com ele lá dentro. Eu vou para um canto já preparada para me defender. Talvez chutar ele até a morte, ainda não desisti dessa ideia.

— Você tem uma ótima estratégia, hein, sua piranha? Dormir com o mentor, por que não pensei nisso? Tenho certeza que ele deve estar desesperado pra te aceitar.

— Cala a sua boca, seu merda. Ele só está se certificando que eu não irei te matar enquanto você dorme.

— Essa é uma velha desculpa, e eu não estou com medo de você. Aproveite para se pegar muito antes de cair na arena, porque de lá você não volta.

— Você se sente muito corajoso agora que estou desarmada, não? Quando eu joguei a faca em você você ficou bem caladinho. Quero ver se terá coragem de me falar isso na arena... Por que lá estarei bem equipada.

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— Você pode ser a protegida do mentor mais isso não significa nada lá. Deveria tentar transar com algum dos carreiristas ver se pode ser mimada por eles também.

— Vai se foder. Eu não tenho-a obrigação de te responder enquanto você está nesse estado e nunca terei, por que quando eu sair daquela arena não deverei nada a ninguém e você estará indo para casa num caixão barato.

— Tente descobrir se Blight gosta de homens também, para eu ter uma chance.

— Por favor, você sabe que está morto desde o momento que chamaram seu nome naquele estrupido sorteio. Você está tentando me assustar com essa história de ser corajoso e forte, mas sabe que na arena você vai ter que correr de mim. Você sabe que entre nós dois eu ganho essa merda.

A cara dele me mostra que eu atingi seu ponto fraco, e eu sorrio enquanto ele tenta disfarçar sua expressão.

— Isso é o que vamos ver.

— Ameaças vazias não me assustam, eu estarei com medo o dia que voce provar isso. O que nunca acontecerá, por sinal.

— Eu já te imobilizei uma vez. Se eu tivesse uma faca voce já era. Eu sou mais forte.

O elevador para no nosso andar e descemos mas paramos na porta para continuar nossa discussão em um lugar sem armas. Tento me controlar para parar de gritar e deixar o predio todo ciente de minhas quase habilidades.

— Você me prendeu contra uma parede, uma vez, quando eu não estava prestando atenção. Eu me soltei assim que percebi o que estava acontecendo e te deixei no chão em menos de quinze segundos. Você realmente acha que tem alguma vantagem? Tenho que te lembrar do jeito que você me olhou quando eu poderia ter jogado uma faca em seu pescoço?

— Depois que eu constatei o quão fraca voce é? Fingindo não saber fazer nada?

— Em primeiro lugar eu não sou fraca, eu tenho inteligência o suficiente para formular uma estratégia. Uma estratégia que vai me trazer pra casa. Em segundo lugar, veremos se você ainda me acha fraca quando pisarmos naquela arena. Eu te prometo, eu talvez não ganhe isso, mas juro que vou te arrastar para o inferno.

— Eu digo o mesmo. Mesmo que isso signifique minha morte.

— Entao você vai calar a merda de sua boca e me deixar em paz.

— Assim que você parar de dormir com meu mentor.

— Bem, eu não posso parar sua mente de pensar merda. E ele não vai sair de meu quarto por que ele está TE protegendo. Entao, você vai simplesmente calar a boca. Nao é como se você tivesse uma opção.

— Você não tem ideia de quantas opções eu tenho.

— Ah é? - eu levanto minhas sobrancelhas - A mim elas tambem não faltam. Mas eu realmente te aconselho a não me obrigar a usá-las.

— Estou com medo - ele ironiza - Uma menina chorona quer me bater.

— Vai se foder. E trate de controlar sua língua perto de mim. Cada um em seu canto até chegarmos na arena.

— Fechado.

Cada um entra sem dizer mais nada e vai a seu quarto. Eu, tentando controlar o ódio, tomo mais um banho quente. Estou me apaixonando por esse chuveiro, juro, sentirei falta disso. Sentirei falta de viver tambem. Bom, isso não realmente importa. Estarei morta logo, de qualquer jeito.

Fico refletindo sobre a vida embaixo da água quente. Realmente espero que a arena não seja parecida com a dos Jogos do ano retrasado, com mutações horrendas e na completa escuridão 18 horas por dia. Quando eles tinham luz solar, eles viam paisagens quem mudavam a cada dia. Nunca prontos para o que esperar. O pior dia foi quando milhares de carcaças de passaros caiam do céu, matando varios tributos com traumatismo craniano. Eles explicam isso na tv, a Capital. Com detalhes. Não assistimos ao vivo, mas mostraram as gravações durante o almoco na escola, enquanto eu ainda estudava a noite. O tributo do 7 tinha uma irmã na minha turma, e ela assistiu enquanto os narradores detalhavam como os macacos geneticamente modificados eram inteligentes o bastante para saber que arrancando os globos oculares o tributo nao iria morrer na hora, mas sim agonizar durante horas. Enquanto os macacos do tamanho de seu pé arrancavam camada por camada de sua pele. Tivemos que segurar a sua irmã enquanto ela gritava e se recusava a deixar a sala, assistindo a cena ate o final enquanto os narradores dão risada das suas tentativas de se defender e explicam como isso nao vai funcionar já que os macacos sao realmente inteligentes e letais. Quando finalmente coseguimos a arrastar para fora da sala, ela gritou por horas e ficou semanas sem aparecer, e quando finalmente apareceu estava agindo normalmente, por alguns meses. Depois ela sumiu, simples assim. Pode ter escapado e ido ate a floresta ou ter se matado e ninguem nunca a achou, mas no fundo sabíamos que a felicidade que ela mostrava era tão falsa quanto minha completa falta de habilidades.

Afasto esse assunto deprimente e saio do banho rapidamente para me vestir com pressa e mesmo assim chegar atrasada para o jantar. Sorrio ironicamente e me sirvo de uma mistura e legumes feitos ao forno e uma taça de vinho.

— Bom, agora que alguem finalmente chegou aqui - Blight me encara juntamente com a mulher da colheita - eu posso explicar a vocês o que farão amanhã. Cada um de voces terá quatro horas comigo e quatro com Lachie ( ah, esse é o nome ridículo da mulher ) para treinar para as entrevistas. De noite, vocês obviamente terão as entrevistas e no próximo dia vocês irão a arena.

Depois dessa constatação, o silêncio pesa na sala. Tudo parece tão distante, mas a próxima noite é a última em que dormirei em uma cama quentinha. Depois disso, estarei correndo riscos o dia todo, a noite toda. Estarei lutando pra viver, e as chances não estão a meu favor. Essa constatação de algo que obviamente já sabíamos pesa mais ainda agora que dita em voz alta.

— Bom, eu vou ficar com Blight primeiro - Joshua declara - você pode aproveitar lições de etiqueta com Lashie.

Eu sorrio falsamente para não quebrar o coração da mulher com contatos na Capital.

— Isso mesmo, Lachie. Teremos uma ótima manhã!

Ela fica emocionada, estando acostumada a ficar calada e invisível, como um bichinho de estimação extremamente colorido e irritante.

Passamos o resta da refeição em silencio, e quando termino de jantar, vou até meu quarto sem dizer uma palavra e coloco um pijama confortável antes de me deitar e ficar encarando o teto.

Algum tempo depois, já fiz o que jurei evitar: pensar demais. Na arena, nos Jogos, na minha familia no Distrito 7, na vida que eu poderia ter se não tivesse sido sorteada. Não adianta tentar pensar na arena, nem nos Jogos. Nada do que eu fizer pode predizer como tudo será, eu fiz o meu melhor para acreditarem em minha fraqueza e treinei o máximo que consegui. O que vem depois disso é sorte e azar, sorte que nunca tive e azar que tenho desde o dia que nasci na parte pobre do Distrito 7. A minha mãe deve ficar bem. As tésseras vão continuar chegando por cerca de um ano e agora ela tem menos bocas para alimentar. Perder sua única filha deve ser dificil, mas ela vai sobreviver. As outras pessoas do Distrito vão a ajudar como ajudam todos os pais de tributos e um dia ela vai aceitar, ou pelo menos descobrir como sobreviver. E se eu ganhar? Ela terá a melhor vida no Distrito, e eu vou dar a ela tudo que eu sempre quis. Se minha própria vida não é suficiente para me fazer querer lutar, a de minha família certamente o faz. E Blight me disse que tenho uma chance. Ele diz isso a todas as pessoas para elas não morrerem tao desesperadas, ou ele realmente viu algo em mim? Eu quero uma chance de mostrar que sou capaz. Que eu consigo fazer isso, que uma menina chorona do Distrito 7 tem a chance de viver, que nos também podemos dar um grande espetáculo se nao formos assassinados em massa no primeiro dia! Eu tenho as habilidades necessárias para viver se não fossem os malditos carreiristas. Se fosse entre a "eu" de verdade e boa parte dos outros tributos, eu venceria isso. Mas eu não posso nem ao menos ter esperança. Esperanca dói. Esperança te faz fraco, e eu não posso ser fraca, por que eu preciso viver. Vale a pena viver? Eu vou descobrir isso quando estiver em segurança. Eu não terei tempo para pensar enquanto luto pela vida.

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Eu não me permito pensar assim desde que chamaram meu nome na Colheita. Eu digo a mim mesma que é por que eu não poderei ter um segundo de paz para pensar assim na arena, mas mentir para si mesma é dificil. Eu enganei todos os tributos daqui ( a não ser Joshua, mas ele nao é realmente um perigo ) mas não consigo contar uma simples mentirinha a mim mesma. Eu preciso pensar. Eu preciso aceitar que estou indo para a arena com grandes chances de morrer. Sinto vontade de chorar de verdade pela primeira vez, mas me contenho. Eu terei vontade de chorar muitas vezes na arena e se fizer isso, estou ferrada. Acabaram os patrocínios, e junto com eles minha chance de viver.

Enquanto estou deitada em minha cama tendo os mais profundos pensamentos, Blight entra no quarto, e eu me viro rapidamente.

— Você não se cansa de dormir em meu sofa? Eu poderia ter me assustado e jogado um vaso em você.

— Você não se cansa de ameaçar as pessoas de morte? Eu poderia te levar a sério e não te ajudar na arena.

Eu sorrio, derrotada. Ele se senta.

— Amanhã, depois de fazer o que quer que você vá fazer com Lashie, você pode voltar para cá. Esta pronta. Nada do que eu puder te dizer vai fazer sua estratégia melhor. Você estava pronta para a entrevista antes de seu nome ser sorteado, Johanna. Você esta pronta para vencer isso desde que chamaram seu nome. Eu vou estar na sala, se você quiser conselhos ou conversar, mas não vou te obrigar a responder perguntas vazias que sabemos que ele não te perguntará. Você mente melhor que qualquer um que já conheci, e isso nao é necessariamente ruim. Isso, Johanna, é o que vai te deixar viva.

— Blight, se eu não voltar...

— Você vai. Eu já enviei dezenas de tributos a arena sabendo que nenhum ia voltar, mas eu sei que você vai. Eu posso ver isso em você.

— Para. Se eu não voltar, eu preciso que você diga a minha mãe que foi tudo encenação e eu não estava com medo. Ela deve estar pior que eu, achando que sua filha morreu apavorada. Diga para ela, nós moramos perto da fábrica de papel. Pergunte pra qualquer um lá e eles vão dizer. Só diga isso, ok? Eu sei que estou pedindo demais.

— Vou dizer. Pode ir pra arena tranquila que eu vou me assegurar que tudo fique bem por lá se você não voltar. Eu tenho certeza que voce vai voltar sã e salva para casa, mas pode ficar tranquila.

— Obrigada.

— Você vai pra lá e eu vou fazer meu melhor pra você voltar pra casa o mais cedo possivel.

— E eu vou dar o melhor show que puder pra audiência.

— Você vai. Agora você deveria dormir, amanhã vai ser um dia longo.

— Vai mesmo.

Depois dessa conversa, fico encarando o teto pelo que me parecem horas. Consigo ouvir Blight dormindo, silencioso como um carreirista, e quase consigo ouvir os sons de todo o prédio, tamanho o silêncio. O silêncio me assusta, eu nunca tenho silêncio em meu Distrito. Durante a noite, bebês choram e o barulho da fábrica ao longe chega a ser relaxante. Durante o dia, o barulho das pessoas andando e conversando e o som dos machados batendo nas árvores fazem parte de minha vida. Não tenho medo do escuro, ele faz parte de minha vida, mas eu nunca tive silêncio. Ele realmente me deixa apavorada, e tenho vontade de gritar para ouvir qualquer coisa. Eu me viro na cama muitas vezes somente para ouvir algo, mas o som das cobertas não adianta. Eu quero a minha fábrica. Eu quero as crianças da vizinha chorando por algum pesadelo.

Acho que depois de me virar tanto na cama, acabei acordando Blight. Eu finalmente posso respirar de novo ao ouvir sua voz quebrando o silêncio.

— Johanna, é uma hora da manhã, você devia ter dormido três horas atrás.

— Eu não consigo.

— Por que?

— Eu tenho medo do silêncio - depois de falar essa frase vi o quão estupido isso soa, e tento consertar - não estou acostumada a isso, é sempre tão barulhento em minha casa.

A tentativa de consertar falhou. Agora ele deve me achar louca.

— Faz sentido. Quer algum remédio pra dormir?

— Eu não quero dormir. Eu não quero passar metade das minhas ultimas horas inconsciente. Mas eu não posso ficar acordada por que tenho medo do silêncio.

Minha voz parece realmente apavorada, e ao mesmo tempo coerente. Como uma pessoa louca que tem certeza que as paredes falam com ela e tenta convencer os outros disso. Ele parece ponderar o que fazer por algum tempo. Depois, ele diz para assistirmos um filme. Eu estou muito assustada para negar educadamente e o deixar dormir, então me enrolo em meu cobertor e sento do lado dele no sofa. Ele procura algum filme bom na tv, e acha um filme que acabou de começar na tv. O filme, filmado na Capital, foi bizarro, mas pelo menos me distraiu um pouco. Depois de me acostumar com o sotaque bizarro e ligeiramente forçado da Capital, consigo me focar na história idiota sobre como uma menina da Capital se apaixona por um garoto do Distrito 1. No final, o pai da garota manda matarem o menino, e ela prontamente vê que os cidadãos da Capital são muito superiores até ao mais rico cidadão de qualquer distrito rico e se apaixona por um menino filho de um homem influente na Capital e vivem felizes para sempre. Enquanto o filme passa, me distraio comentando o quão ridicularmente os distritos são representados na Capital, como se eles nos sustentassem, e em como a história tem furos enormes ( como o garoto vai até a Capital quase todos os dias? Eles se conheceram em uma festa mas por que o garoto do um estava em uma festa de alta classe na Capital? ) até que, logo apos o segundo filme terminar, meu despertador toca. Eu fico aliviada por finalmente poder me levantar e coloco minha roupa para o café da manhã no banheiro, decidindo tomar meu banho após a aula que terei com Lashie. Eu deixo Blight dormir e saio silenciosamente do quarto, colocando o despertador para as 7 horas e me sentindo um pouco culpada por tê-lo deixado acordado a noite toda.

Chegando a mesa de café da manhã, me sirvo com algum bolo colorido e um copo de suco de maçã e me sento na sala, esperando Lashie chegar. Ela chega exatamente as 7 horas, me deixando impressionada com sua pontualidade. Quando voce ve seus cabelos azuis e roupas coloridas, acha que ela é muito infantil para qualquer coisa alem de assistir tv, mas ela é bastante responsavel e fica conversando comigo enquanto fala sobre como esta tentando conseguir patrocinadores para mim, mas eu realmente não deixei uma boa impressão nos testes. Eu a digo para ela que assim que os Jogos começarem ela deve deixar os patrocinadores sabendo que essa é minha estratégia, e para ficarem de olho em mim. Depois, ela fala sobre como a entrevista é importante e como Caesar vai tentar me ajudar a conseguir patrocínios, e que eu deveria deixar minha marca. Eu digo que minha intenção realmente é parecer invisível, mas que apreciava seus conselhos. Depois, Blight chega para tomar o café da manhã e eu praticamente me ajoelho e agradeço aos céus pela oportunidade de sair daquela conversa fútil. Joshua entra na sala algum tempo depois mas eu finjo que não notei, e volto a conversar com Lashie.

Exatamente as 8 horas, ela me arrasta até o lugar onde fui vestida por minha estilista e comeca a me ensinar como andar de salto alto, me sentar o tempo toda ereta e andar com postura. Depois de duas horas, me descubro exausta quando ela me oferece uma pausa para tomar água e descansar por cinco minutos. Quando finalmente terminamos as quatro horas juntas, ela diz com uma cara desapontada que eu estou "apresentável". Ainda não descobri se isso é bom ou ruim quando subo até meu andar para almoçar e passar minhas ultimas quatro horas em paz. Depois de comer alguma coisa que não me lembro, eu decido tomar um banho relaxante, e acabo ficando mais de uma hora sentada embaixo do chuveiro pensando em como vou fazer para sobreviver durante as proximas semanas. Quando finalmente saio, coloco uma roupa confortável ( a última roupa que vou escolher, pelo visto ) e saio do meu quarto para deitar no sofá da sala. Blight está lá , e nós conversamos sobre os Jogos, já que minha mente não consegue pensar em nada além disso. Eu já sei várias coisas que são óbvias ( não devo beber agua sem filtrar, só devo atacar alguém se tiver plena certeza que posso vencer e não tem mais ninguém por perto, devo evitar me mover de noite, evitar conflitos se puder, essas coisas ) e sei como fazer essas coisas, já que aprendi no treinamento. Mas temos uma dificuldade em decidir se devo me arriscar a conseguir itens na cornucópia.

— Eu não vou conseguir fazer nada sem itens básicos. Sem um machado, para me defender, vou morrer assim que encontrar alguem! - eu argumento pela vigésima vez - e você sabe que eu não terei patrocinadores até mostrar do que sou capaz. E mesmo se conseguir um ou dois, o preço de um machado é astronômico!

— A maior parte dos tributos morre no banho de sangue. Morrem mais tributos nesse dia do que em qualquer outro! Todos os carreiristas estarão lá, esperando voces correrem até eles. As armas grandes ficam mais próximas da cornucópia, voce terá que chegar muito perto, não é pegar uma mochila enquanto corre!

— Se eu pegar um machado e facas, posso me defender. E não é como se eu tivesse escolha!

— Se defender de 6 carreiristas?

— Eu tirei 4 no treinamento. 4. E a única coisa que fiz direito na frente deles foi cair no choro. Eu não disse nada sobre isso por que é humilhante. Eu serei visada se estiver lá e eles não tiverem ninguém melhor para correr atras. Eles não vão se importar em correr atrás de mim quando eu sair de lá levando uma mochila e um machado!

— Você tem certeza absoluta que corre mais rápido que eles?

— Olhe para eles, eles são ridiculamente mais pesados que eu! Eu só vou pegar um machado e uma mochila enquanto corro, e tudo vai dar certo. E se não der e eu morrer, vai ser mais rapido do que ser torturada ou morrer de fome por que nao consigo caçar nada. Se eles me matarem lá, sera só isso, rápido, eles não tem tempo de torturar ninguém no banho de sangue. E eu não tenho a menor chance sem armas.

— Entao se arrisca, mas não tenta dar uma de heroína. Pega a porcaria da sua arma e sai correndo o mais rápido possível.

— Entendi.

Na verdade, essa foi a última discussão, já que depois disso teria que ir até a sala da retardada da minha estilista vestir o que será com certeza o pior vestido da história dos Jogos. Quando chego lá, os ajudantes da estilista andam de um lado para o outro tentando descobrir que cor ficara melhor em minhas unhas: bege claro ou uma especie de bege dois tons mais escuros, ou se eles deveriam cortar meu cabelo ( eles queriam cortar mas eu me recusei veementemente, entao eles só o hidrataram e tiraram cerca de dois centimetros para o deixar reto ) e, além disso, fizeram mechas verde escuras. Depois de ser inteiramente polida de novo, eu sou levada para ver minha estilista, que mal me encara nos olhos. Enquanto eu me sento, ela começa um discurso sobre ter se preparado o ano todo para fazer o vestido e eu o arruinei, e POR SORTE minhas alterações não ficaram ruins.

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— Bom, espero que o vestido de hoje tenha sido melhor, senão terei que ir nua.

— Acho que vai te agradar.

Ela tira a capa preta que cobria o vestido e eu fico surpresa ao ver o quão melhor esse vestido esta comparado ao outro. Inteiro verde escuro, ele tem manga em um só braco e as faixas se cruzam em minhas costas para terminar sendo apertado em meu busto e solto embaixo, formando uma longa cauda.

— Realmente, esse vestido está mil vezes melhor.

Eu não a agradeço por que ela não merece, mas deixo ela me vestir naquele lindo vestido e fazer uma maquiagem verde clara e dourada em meus olhos, junto com batom rosa escuro, o que surpreendentemente fica bom. Ela diz que é a prova d'agua, entao eu posso chorar a vontade durante a entrevista. Ela diz isso sorrindo ironicamente para mim, e eu me contenho de mandá-la a merda.

Quando ela finalmente termina a maquiagem elaborada, já está quase na hora das entrevistas. Ela me leva ate atrás do palco, e eu espero em uma fila com os outros tributos enquanto faço minha melhor atuação. Como a vida é realmente justa comigo, as filas são organizadas por distritos, Joshua acaba atrás de mim. Conforme o programa começa, Caesar vai contando piadas para animar a audiência, e falando sobre como os jogos desse ano prometem, antes de chamar a menina do distrito 1. Três minutos para cada um passam voando e antes que eu veja, faltam 2 pessoas para a minha vez. Eu respiro fundo e entro no personagem, e a próxima tributo vai até seu sofá e tenta ser sexy, sua estratégia. Não funciona realmente bem. Sua entrevista passa rápido demais e o próximo tributo vai até lá. Quase no final da entrevista dele, sinto algo atrás de mim. O infeliz está pegando em minha bunda. Antes que eu possa o matar, a sirene toca e eu tenho que sorrir e andar até o sofá.