A Seleção de Apolo

Papai me conta que vou me casar


11:48 AM - Monte Olimpo, dois meses depois da derrota de Gaia.

Entrei calmamente no salão dos deuses, parando na frente do trono de meu pai. Ele, por sua vez, estava virado de costas para mim, direcionando seu olhar pensativo em uma coluna de mármore qualquer.

— Pai? – chamei.

Ele se virou, suas feições logo endurecendo ao me notar ali. Merda. Ele estava com aquela cara.

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— Largue este celular Apolo. - Zeus mandou, se referindo ao pequeno objeto em minha mão.

Olhei para a tela. Já estava a três semanas trocando mensagem com Hedonê, a deusa do prazer, filha daquele idiota do Eros que por sua vez era filho de Afrodite, minha querida tataravó... Ela havia acabado de me responder que – finalmente – topava sair comigo.

Levantei um dedo: - Só um minutinho pai...

Cliquei na tela, começando a digitar o que seria “na minha casa ou na sua”, quando meu celular saiu voando e se espatifou no chão.

— Pai, qualé! – coloquei as mãos na cabeça. Não acreditava que ela havia acabado de quebrar meu celular! – Eu demorei três semanas para convencer essa doida gostosa da Hedonê a sair comigo! Quatro, se você contar com a minha insistência pra conseguir o número del...

JÁ BASTA!

Me calei. Zeus gritando nunca é coisa boa. Geralmente quer dizer que a coisa tá feia, que a cobra vai fumar... Enfim, que coisas boas não vão mesmo acontecer.

— EU ESTOU CANSADO DE VOCÊ, APOLO! – berrou. – CANSADO!

Eu ainda não compreendia o que eu havia feito de errado, mas mesmo assim baixei os olhos e fitei o chão como um menininho que levava bronca dos pais. Ou do pai, no caso.

— SERÁ QUE VOCÊ NUNCA IRA AMADURECER?!

OK, a última vez que ele começou com esse papo de “amadurecimento” fui transformado em um humano. Digamos que eu não recomendo essa experiência nem aos meus piores inimigos.

— É TUDO CULPA SUA! – continuou. – SE VOCÊ NÃO FOSSE TÃO EGOCÊNTRICO, ARROGANTE E ORGULHOSO...

Certo, pensei. Afinal, é mais fácil culpar os outros do que assumir sua própria culpa. Zeus arregalou os olhos. Duas vezes merda! Havia me esquecido que Zeus podia ler os meus – preciosos – pensamentos. Ele tinha poder sobre isso, desde que fossem seus filhos, o que as vezes era até bem constrangedor para nós. Virei minha cabeça em direção a janela, percebendo o tempo se fechar, e trovões começarem a surgir. Eu disse duas vezes merda? Pois agora é infinitas vezes merda! Merda, merda, merda!

— JÁ CHEGA! — declarou, sua voz vertebrando pelas lustrosas colunas de mármore. – EU IRIA TE TRANSFORMAR EM HUMANO...

Fiz uma careta entrecortada. Humano não, humano não. Aceito qualquer coisa, desde que eu não seja transformado em um patético humano!

— MAS PENSANDO MELHOR, VOCÊ MERECE UMA PUNIÇÃO MIL VEZES PIOR DO QUE ESTA!

Ufa, soltei um suspiro mentalmente. Peraí, o que poderia ser pior do eu ser transformado em um maldito humano? Mas Zeus estava sorrindo, um sorriso zombeteiro que me dava ainda mais medo do que seus berros.

— Que punição? – perguntei cautelosamente, com o coração quase saindo pela boca de tão acelerado que estava. – Pai, pense de novo. Eu não fiz nada... realmente importante que mereça uma punição. – completei sobre o seu olhar feroz e calculista.

Ele soltou um suspiro.

— Você vai se casar. – anunciou.