So You See, You And Me

Capítulo 2 - Desistência


“Eu já achei quem eu amasse de verdade

E eu pensei que era muito bom amar

Mas vai que alguém espalha isso na cidade

Com que cara eu vou ficar?”

Clarice Falcão - Irônico

A menina magra olhou-se no espelho outra vez, cuidando se o traje preparado para o teste de Cinderela estava bem passado. Ela conferiu outra vez, conferindo se a saia bordô com detalhes rosa claro era rodada o suficiente, se as sapatilhas que escolhera combinavam, e como deveria arrumar seu cabelo. Miku separou os cabelos e ficou envergonhada ao vê-la. Não que ela se achasse bonita, nem feia, mas vendo-a na roupa da personagem, a garota precisava admitir que não estava nada mal.

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O pequeno relógio em formato de panda tocou em cima do criado-mudo preto, e Miku correu para impedi-lo de tocar outras vezes. Com tudo o que acontecera no outro dia, ela não sabia como deveria encarar Kaito, ou seus amigos. Eles com certeza tirariam sarro, e ela teria de aceitar que o garoto não gostava dela. Foi pensando em como tudo era horrível, que Miku não conseguira dormir direito na noite anterior, e acordara uma hora mais cedo de tanto nervosismo. Sua barriga parecia um inferno congelado, de tanta ansiedade que a consumia.

Irritada consigo mesma por achar que seu plano daria certo, Miku despiu-se rapidamente e colocou o conjunto do uniforme, o vestido azul escuro com uma pequena camisa branca, com um laço rosa. Em seguida, vestiu-se com suas meias pretas 7/8. Por último, calçou a sapatilha preta.

Olhou-se no espelho, com uma careta de desaprovação. Não, aquilo não era nada comparado à roupa que pediu emprestada à Luka, para tentar o papel de Cinderela.

Ela não estava pronta para encará-lo, e, no entanto, ia à luta.

♥ ^ ♥

Miku tentou muito. Sempre achou que tinha azar por só fazer apenas uma aula com Kaito, a aula de pintura, porém, nunca pensou que pudesse ficar feliz com essa situação, até aquele momento. Ela sobreviveu muito bem. Chegou atrasada, correu para a aula de geometria, onde fez a sua melhor imitação de aluna concentrada, para que nenhum de seus amigos falasse com ela.

Depois, foi mais fácil, já que ela tinha só aula de química até o almoço, e apenas Kagamine Rin assistia a estas aulas com Miku. Geralmente, a amiga nunca se importava com nada além de si mesma, ou de suas mil e uma paixões, até que alguém gritasse para ela alguma fofoca, e a pessoa estivesse na frente dela. Do contrário, ela esquecia ou não ligava. Simples assim.

A loirinha chegou até a mesa de Miku, que esperava pacientemente a chegada do professor, e espalhou vários batons, dos mais variados vermelhos, rosas e roxos. Ela tinha até um azul, um preto e um marrom.

Ao ver a amiga sem entender, a baixinha sorriu.

— Qual desses você acha o melhor? – perguntou ela, escorando os dois cotovelos na mesa cheia de maquiagem. Os olhos azuis claros ansiavam por uma resposta, que Miku temia não conseguir dar.

— Eu – Ela olhou novamente para todas as cores. Eram muito bonitas. – Eu acho que todas são bonitas.

Rin revirou os olhos, e começou a abrir cada um dos batons para Miku ver melhor.

— Sabe, eu preciso de uma opinião concreta, Miku. – sussurrou Rin. Algumas colegas de classe cochichavam sobre os batons, e Miku se perguntou se elas achavam que Rin revendia os cosméticos. – Você não pode ficar em cima do muro sobre tudo.

— Tudo bem – respondeu Miku. Ela detestava ser indecisa. Mas e se ela prejudicasse Rin por causa da opinião? – Qual desses é melhor para o quê, exatamente?

Rin abriu a boca, em uma dramatização de surpresa. Em seguida, começou a juntar os batons e jogá-los dentro de uma mochila laranja, cheia de chaveiros.

— Você não ficou sabendo? – sussurrou ela, guardando o último. Em seguida, ergueu-se e jogou a mochila na cadeira atrás da de Miku. Ela sentou no lugar e continuou falando em voz baixa. – Hoje é o dia dos testes para a nova peça, a da Cinderela, eu acho.

O coração de Miku acelerou. Rin cantava muito bem, além de atuar, e ser fofa. Se Rin tentasse o papel de Cinderela, Miku nunca conseguiria ganhar. Talvez o melhor a ser feito fosse desistir.

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— Você não disse que essa peça era uma perda de tempo? – questionou Miku, virando a cabeça para ver Rin, que digitava alguma coisa no celular.

A loira apenas continuou conversando até bloquear o aparelho e voltar a prestar atenção em Miku.

— Disse. – afirmou, colocando a cabeça na mesa. – Mas você não me conhece, Miku? Sabe que eu mudo de ideia algumas vezes. – Miku quis rir. Não era só algumas vezes que Rin mudava de opinião, e sim o tempo todo, até mesmo sobre garotos, apesar de Miku não concordar com aquela atitude. – Vou tentar o papel de Cinderela. – A loira fechou os olhos. – Tentar não. Conseguir.

Imediatamente, Miku esqueceu toda a história de ter sido flagrada praticamente stalkeando o garoto que ela gostava, e começou a sentir uma dor no estômago. A peça que ela tanto queria contracenar, que tinha ensaiado dias para conquistar o papel, havia basicamente descartado-a.

Miku teve a certeza de que nunca conseguiria ultrapassar Rin no papel principal. Talvez, se ela tivesse sorte, poderia até ser uma das irmãs. A decepção era muito para Miku.

— Ah, estão dizendo que o teste para o elenco não vai ser hoje – falou Rin. – Parece que o Kaito não vai poder ir para tocar piano. – Ao ouvir aquele nome, Miku começou a se preocupar. Kaito quase não desmarcava nada. – Cá entre nós, Miku, ando achando o Kaito mais bonitinho ultimamente.

— Ah, é? – Miku perguntou, sabendo o que viria a seguir.

— É. Será que ele topa sair comigo? – Rin continuou.

Ah, não. Miku tinha praticamente perdido o papel, e o garoto que ela se interessava. Mas não ia ficar assim. Ela estava cansada de desistir de tudo, apenas para que os outros pudessem sentir-se bem.

Ela virou para frente, ao ver que a amiga estava tentando dormir. Enquanto o professor falava, Miku escrevia rapidamente no seu caderno de rascunhos. Desta vez, não ficaria parada.

Ela tinha um plano.