No Hospital

... Joaquim retorna após um tempo com um sorriso malicioso nos lábios.

– Já está tudo resolvido.

– Conseguiram entrar em contato com a minha mãe? Ou com a assistente dela?

– Pensei que a sua mãe estivesse em uma ilha – Joaquim se senta na poltrona que estava quando acordei e fica me observando.

– Minha mãe deve estar em uma reunião já que não conseguiu falar com ela. Apenas não quero deixa-la preocupada agora – comento pensando na cirurgia que minha mãe comentou, ainda não me convenci que se trata de algo tão simples.

– Não falei com a assistente dela também, nem sabia que era uma opção. Falaram com o colégio que vão mandar algum documento por e-mail e eu assinei a papelada, também fiz uma transferência bancária pelo aplicativo.

– Não era necessário. Meus cartões estão na bolsa.

– Você esteva naquela rua por minha causa. Quando o carro bateu em você, eu fiquei tão apavorado e me senti culpado. Percebi que não me comportei da melhor forma com você e por isso lhe peço desculpas. O mínimo que eu tinha que fazer era pagar a conta do hospital.

– Eu me deixei ser colocada na situação e fui para a rua. Agradeço por pagar, mas irei devolver o valor.

– Dinheiro não é problema. Como passaremos bastante tempo juntos, imagino que poderemos conversar.

– Conversar sobre o que?

– Sobre a gente, o que mais poderia ser?

– Mas isso já está resolvido. O máximo que há entre nós é pura amizade.

– Da para ver em seu olhar que você não quer isso – ele respira fundo, olhando para um ponto perto de mim – Já falei que não agi bem antes, mas vamos ficar um tempinho aqui e podemos conversar da forma como deveríamos ter feito antes. Eu terminei com Manuela ontem, logo após ter te conhecido. Não posso ficar com ela se estou pensando em você.

– Nos conhecemos ontem de manhã. Eu não acredito em amor à primeira vista – dessa vez sou eu que respiro fundo – e mesmo se fosse verdade. Manuela é minha amiga e você é o namorado dela ou ex, sei lá. Mesmo não sermos muito próximas, jamais seria capaz de fazer isso com ela.

– Eu sei, mas ela está muito decepcionada com a gente. Manuela jamais vai querer voltar a nos ver.

– Então, não quero que ela fique com mais raiva de mim. Será que você não me entende?

– Posso até entender, mas isso não vai mudar os fatos.

– Os fatos que aconteceram podem até não mudar, mas podemos fazer o possível para eles serem esquecidos.

– Talvez você só precise de um tempo, já que... – o interrompi.

– Não preciso de tempo. Parece que você não entende que mesmo tendo sentimentos nisso, não vamos ficar juntos – falo sentindo as lágrimas se acumulando em meus olhos, provavelmente efeito de alguma medicação.

– Por favor, pense em você e em mim, não nos outros.

– Eu sempre fui assim. Nada e ninguém irá mudar isso – falo olhando para ele séria – eu não quero mais te ver. Isso irá resolver as coisas por enquanto.

– Sinto muito, mas de qualquer maneira teremos que ficar juntos agora.

– Como assim?

– Eu sou seu responsável e terei que posar aqui.

– Não pode ser outra pessoa?

– Não, tem que ser o responsável que no caso sou eu.

– Tudo bem, mas por favor não volte nesse assunto. Já está tudo resolvido e não entendo como as coisas chegaram nesse ponto em dois dias.

– Isso é normal. É amor à primeira vista.

– Eu não quero mais saber de nada disso e nem mesmo pensar nisso, então por favor acha como se tudo aquilo e esse sentimento nunca tenham existido.

– Eu te entendo e te darei espaço nesses dias que os médicos a querem em observação por uma situação neurológica, mas me garantiram que está sobre controle e se trata só de uma observação. Depois que você melhorar voltaremos a conversar sobre esse assunto.

– Se não tem outro jeito, OK!

– Perfeito! Eu vou comprar alguma coisa para comer e já volto quer alguma coisa?

– Não estou bem.

– Já volto!

Joaquim me deixou mais uma vez sozinha no quarto sendo atormentada pelos meus pensamentos. Ele tem razão, eu sempre fui muito ingênua e sempre pensei nos outros e nunca em mim mesma. O meu dilema sempre foi fazer com os outros o que queria que fizessem comigo, mas não mando no meu coração e por mais que eu tente esse sentimento é maior. Por que será que toda vez que me apaixono eu sofro? Mas em todas as vezes que me apaixonei, nenhuma foi mais forte que esse sentimento.

Muitas vezes minha avô e minha mãe me dissera que eu ia se apaixonar muitas vezes, mas somente uma vez eu iria amar e que esse sentimento seria tão forte, mais tão forte que também seria o que eu mais iria sofrer. Nunca pensei que isso aconteceria tão rápido de forma instantânea e ainda mais pelo garoto ERRADO e isso foi tão INESPERADO que nem sei o que fazer.