A mulher do retrato
Capítulo 24
Que tipo de mulher era Vitória? Capaz de forjar a morte do próprio filho e afastá-lo de sua convivência por vergonha? Tanto sofrimento por sua própria escolha? É claro que o acidente havia sido uma peça do destino, mas o que ela fez de Bernardo se tratava de pura escolha... Luíza ficou imersa nestes pensamentos, sem respostas. Não...não imaginava que a condessa fosse alguém que pudesse fazer uma coisa desse tipo. Era uma mulher forte, arrogante, certamente, mas, em seus braços, tinha uma nobreza que superava tais defeitos, embora para a jovem nunca tivessem sido defeitos, talvez até lhe tivessem atraído. Mas agora, tal arrogância, ela sabia, a conduzira a um ato desumano. Era escrava dos próprios pecados e pagava com sofrimento por eles. Que tipo de mãe afasta assim um filho? Era essa mulher de caráter duvidoso que amava?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!No café, Luíza soube que a condessa não desceria pois estava com enxaqueca. Conseguiu, a muito custo, permissão de Zilda para levar-lhe um chá e despedir-se, já que era dia de voltar para casa. Ao entrar no quarto, encontrou Vitória deitada mas já desperta. As cortinas estavam fechadas ainda. Colocou a xícara de chá no criado mudo e sentou-se ao seu lado.
— Eu pensei muito sobre o que me confidenciou esta noite.
— E me despreza?
— Sim. Não vou mentir. Mas um pensamento se sobressaiu aos tantos que me vieram à cabeça: eu conseguiria ir embora hoje para minha casa para nunca mais te ver? Eu poderia não me importar mais com você? E a resposta do meu coração foi “não”! Eu continuo te amando. Talvez eu ame uma mulher diferente do que eu idealizei, mas ela ainda é você!
As duas se abraçaram. Luíza acariciou-lhe o rosto, ajeitou-lhe os cabelos.
— Me deixe ajudá-la a achar seu filho.
— Ah, minha menina...É claro que sim! É tudo que eu quero. Encontrá-lo e irmos embora todos daqui.
— Que última pista teve?
— Sempre doentes, homens da idade de meu filho que são recolhidos em alguma casa de saúde, desmemoriados, confusos...mandam me avisar através do Bento. Mas nunca, nunca é ele e já estou tão cansada...
— Como sabe que ele veio pra cá?
Vitória recostou-se e segurou as mãos da menina.
—Allegra! Foi a palavra que meu filho escreveu na parede do quarto antes de fugir. O nome da mambembe por quem meu filho se apaixonou, a mulher que causou toda esta desgraça...
— Allegra...
— Ele veio atrás dela. Ele não a esqueceu. Chama-se Emília Difiori, é o seu verdadeiro nome. Vive aí pelas redondezas...
— E ela sabe que Bernardo...
— Não! Eu forjei a morte do meu filho principalmente para que ela o deixasse em paz. E agora, depois de tanto tempo, ele volta atrás dela...
Luíza percebeu o quanto de amargura havia no coração de Vitória, o quanto algo tão distante ainda a perturbava.
— Ele iria fazer um bom casamento em São Paulo, uma moça que eu escolhi para ele. Mas daí ele conheceu essa moça aqui, insistiu em casar-se com ela, destruiu a vida dele e, depois, o acidente...
— Um amor proibido? Por você?
— Pela sociedade!
— A mesma que proíbe o nosso amor?
— Ora, Luíza, é completamente diferente. Não vê? Ele desistiu de ser um nobre, de sua posição, para assumir uma oportunista, interessada no nosso dinheiro...
— E se foi um amor verdadeiro?
Vitória nunca admitiria que a mambembe amara seu filho. Nunca.
— Eu odeio esta mulher! Com todas as minhas forças, eu a odeio!
— E agora você veio procurá-lo antes que ele a encontre?
— Acha que não amo o meu filho? Que não procuraria meu filho onde quer que ele fosse?
— Desculpe...eu sei que sim...desculpe...mas me parece que este ódio por essa mulher te faz tanto mal quanto a ausência de Bernardo.
— Eu disse que eu não era uma pessoa boa, Luíza!
A menina voltou pra casa com o coração dividido. Amava, sem dúvida, a sua condessa. Mas amava uma mulher com muito menos virtudes do que ela imaginara. Descobria que o amor não era um sentimento apenas dedicado aos nobres de caráter, aos puros. E se não conseguiria esquecê-la, só lhe restava ajudá-la.
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