Através do espelho
Continuaria sendo aquela porca gorda
Valentina chegou na sala de aula mais pálida que antes, a garota repudiava sangue e mesmo que estivesse acostumada com o que saía de sua garganta, o dos cortes era bem pior, mais vivo, o que saía com o vômito era camuflado junto ao ácido e ficava bem mais claro.
O professor fez um sinal com a cabeça, indicando que era para a menina entrar logo, já que havia parado sua explicação porque a maioria dos alunos a observava.
Vale entrou na sala devagar, estava meio tonta e temia cair ali mesmo, então sentou na primeira carteira vaga que encontrou e Ethan levou sua mochila para ela quando o exercício foi passado, a garota sorriu fraco para o amigo, que logo voltou ao seu lugar.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Depois de verificar que ninguém estava a observando, Valentina soltou o lápis em sua mesa e abriu a mochila vagarosamente, pegando um vidro de laxante em seguida. O abriu e despejou vários comprimidos em sua mão, tomando todos de uma só vez, sentindo-os rasgar sua garganta por serem engolidos depressa e sem água.
Minutos depois a menina sentiu seu estômago revirar e sorriu sozinha, percebendo que os remédios estavam fazendo efeito. A última aula já havia começado e ela resolveu pedir ao professor para ir ao banheiro antes que fosse tarde demais. Quando recebeu a autorização necessária, saiu rapidamente da sala, não queria estar ali mesmo.
Sentou no vaso sanitário e sentiu-se leve imediatamente, adorava se sentir assim, como se estivesse se livrando de tudo o que havia comido e emagrecendo, era a mesma sensação que tinha quando miava, mas preferia os laxantes, afinal não doía e ela tinha mesmo uma pequena prisão de ventre.
O efeito finalmente cessou e Valentina foi lavar as mãos, reclamando mentalmente por ter demorado tanto e não participar pelo menos do fim da aula, esperava que o professor tivesse dado presença a ela na lista de chamada.
Olhou-se no espelho e se culpou por continuar com aquele rosto gordo, se tivesse recusado aquele pão de queijo talvez estivesse mais magra agora. Droga, por que tinha que ser tão fraca e sempre se render a comida? Assim nunca chegaria ao peso ideal, continuaria sendo aquela porca gorda porque não se esforçava o suficiente.
A menina caminhou até a porta do banheiro com a visão embaçada por conta das lágrimas que estavam acumuladas em seus olhos, pelo menos ela pensava ser por isso. Suas coxas ainda ardiam por conta dos cortes de mais cedo e ela preferiu não os olhar, não queria se sentir mal outra vez por culpa do sangue.
Quando colocou os pés no corredor viu tudo girar e tentou se segurar em algo, porém não conseguiu e caiu desmaiada no chão.
— Vale! — Ethan, que a esperava do lado de fora do banheiro gritou, se aproximando mais dela com a mochila da garota em mãos. — Ah meu Deus, o que aconteceu? — perguntou a si mesmo, pensando no que faria. De repente uma luz se acendeu em sua cabeça e o menino lembrou-se da enfermaria do colégio.
Ethan colocou a mochila de Valentina em seu ombro que estava vazio e se abaixou, pegando a amiga em seus braços. Ele se surpreendeu com a leveza da menina, não que a achasse gorda, mas para sua idade deveria pesar mais, contudo não era momento para pensar naquilo.
O garoto caminhou o mais rápido que pôde até a enfermaria e quando chegou lá a enfermeira estava sentada perto da porta.
— A senhora já vai embora? — ele perguntou, com medo de atrapalhá-la.
— Não, trabalho aqui à tarde também. O que houve com ela? — perguntou, se levantando.
— Eu não sei exatamente, só a vi saindo do banheiro e então desmaiou.
— A coloque aqui, por favor. — a moça disse, aproximando-se de uma maca, Ethan colocou Valentina lá e ficou parado ao lado. — Ela tem algum problema de saúde? — perguntou, pegando seu estetoscópio.
— Não que eu saiba. — o menino respondeu, pensativo.
— Vocês são amigos? — ela continuou indagando.
— Sim. — disse simples.
— E você tem reparado algo diferente nela? — a enfermeira continuou com suas perguntas, enquanto aferia a pressão da estudante, mesmo sabendo que estaria baixa.
— Não... — Ethan replicou, ainda pensando. — Na verdade sim. — completou.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— O quê? — seguiu com suas indagações, sentando novamente, porém dessa vez perto da maca.
— Ela vive pálida e não quer comer aqui na escola. — ele respondeu, encarando o rosto de sua amiga, estava pálida outra vez.
— Aah... — foi a vez da moça parar para pensar. — E hoje ela comeu?
— Sim, um pão de queijo. A senhora já sabe o que ela tem? — questionou aflito.
— Ela está com a pressão baixa, como era de se esperar, deve ter acontecido alguma coisa a mais, quero conversar com ela depois. — explicou.
— Ah, vou falar com ela também. — ele disse, preocupado com a menina.
(...)
Algum tempo depois, Valentina acordou um pouco assustada e sentou-se com a mão na cabeça, estava com dor naquela região e queria saber o que estava acontecendo.
— Vale, finalmente, que susto que você me deu! — Ethan exclamou, se levantando e ficando novamente ao lado da garota.
— Susto? O que aconteceu? — ela perguntou confusa.
— Você desmaiou quando estava saindo do banheiro. — o menino explicou e alguns flashes passaram pela cabeça de Valentina, fazendo-a se lembrar de algumas coisas.
— Então ainda estamos na escola? — perguntou, tentando entender melhor.
— Sim, estamos. — ele disse e logo ouviram a enfermeira se aproximar.
— Você acordou, que ótimo! — ela exclamou, observando Vale. — Sou a enfermeira do colégio, caso ainda não me conheça.
— Ah sim. — uma parte da confusão na cabeça da menina se desfez.
— Como se sente? — indagou.
— Com dor de cabeça. — respondeu, abaixando a mão que havia esquecido que estava na testa.
— Efeito do desmaio... Vou trazer uns biscoitinhos para você comer. — disse, se virando.
— Eu não quero, obrigada. — Valentina falou.
— Mas precisa comer, sua pressão está baixa e provavelmente é por isso. — se afastou, mexendo em alguma coisa.
— Mas eu não quero. — insistiu.
— Vai comer de qualquer forma, ou quer ficar aqui? — perguntou, entregando um pacote de bolachas água e sal a ela, que bufou. — E depois eu quero falar com você. — avisou.
— Fa-falar comigo? — a menina gaguejou e a enfermeira assentiu. Valentina comeu algumas bolachas (183) com a cara fechada, não acreditava que estava comendo de novo, como se livraria daquilo se não conseguia vomitar? Só de pensar nisso ficava triste, mais do que já estava. — Estou cheia, agora posso ir? — perguntou alto, fingindo não se lembrar do que a moça havia dito.
— Nós ainda vamos conversar. — a enfermeira a lembrou, indo aferir sua pressão novamente.
— E aí, como está? — Ethan indagou, quando o aparelho foi solto do braço da garota.
— Está um pouco melhor que antes. — ela respondeu.
— Então posso ir? — Valentina voltou a perguntar, já se levantando.
— Nós vamos conversar. — a mulher voltou a repetir.
— Eu preciso ir, minha mãe vai ficar preocupada. — Vale deu a primeira desculpa que veio a sua mente.
— Tudo bem, mas amanhã iremos conversar. — ela avisou.
— O.k., obrigada então. — a garota agradeceu, saindo da enfermaria rapidamente com Ethan a seu alcance.
— Calma aí Vale, está quase correndo. — o menino disse risonho, segurando o braço de sua amiga, a fazendo virar para ele.
— Não precisa me levar em casa Ethan. — ela avisou-o, tentando soltar seu braço.
— Claro que precisa, eu também quero conversar com você. — a menina gelou, o que tanto queriam com ela? Será que haviam descoberto algo?
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