A Devoradora de Sonhos

Memórias de uma sonhadora.


A chuva caía do lado de fora, assustando algumas crianças que brincavam na rua. Elas correram para dentro de suas casas tão rápido quanto saíram pouco mais cedo. Olhei para baixo, para minhas pernas. Quebradas. Inúteis.

Não gosto de pensar nelas dessa maneira, mas que outra escolha tenho? É o que são. Tentei movê-las. Fiz o que lembrava fazer antes de perde-las. Nada. Nem um movimento sequer. Esmurrei e arranhei, porém, nada senão as cicatrizes vermelhas e as grandes marcas roxas. Ávida por um traço de dor, ardência. Nada. Nada, porém o vazio. Metade de si estava morta e não havia nada que pudesse fazer.

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Mordi os lábios com força enquanto lágrimas tenras escorriam por meu rosto e marcavam as tábuas de madeira do chão.

Tomei um susto quando ouvi o barulho das chaves na fechadura. Mamãe chegou. Apressei-me para cobrir minhas pernas com o lençol da cama e ligar a televisão. Estava passando um programa qualquer sobre animais selvagens.

Os passos não tardaram a se aproximar do quarto. Ao encontrar a menina com os olhos, a mulher alta não pôde evitar uma breve feição triste que logo se transformou em um sorriso. Aproximou-se, com donaire, e beijou meu rosto.