Paulo escrevia para morrer.

Não para despejar suas teses, muito menos para se tornar algum célebre cronista.

Em parte, escrevia universos piores que os seus. Almejava os piores vilões alcoólatras aos mais inúteis heróis de um tempo totalmente devastado. Em sua maioria, delineava a própria depressão bipolar como os grandes fardos que histórias sustentam.

Às vezes, escrevia para mostrar a si mesmo que existiam situações piores das dele.

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Degustou tantos vícios que até supôs que morreria dentro de biografias alheias. Drogou-se em Allan Poe e apodreceu nas disfunções suicidas de Tolstoy numa tentativa mútua de preencher as próprias tendências e já não torná-las tão únicas.

Mas, acima de tudo, jamais conseguiu diminuir a própria melancolia.

Enxergava-a em tudo; na mais oblíqua arte e no mais corroído cenário, até que passou a vê-la nas palavras. E desejou odiá-las tanto quanto as amava, mas a imersão no simbolismo das letras o reprimiu.

Gritou no silêncio dos versos e na quietude das estrofes, mas ninguém ouviu. Até quis chorar baixinho, o fez. Não repararam.

Era só um escritor e nada tão relevante. Era com o esquecimento que era considerado, certo?

Ele talvez tenha se refugiado nas palavras, mas talvez também tenha padecido nelas.