"Alice tem falado muito sobre se matar..."

Alice pensou consigo. Desejou ouvir, pela segunda vez, aquela palavrinha sair dos lábios da mãe — mas com um pouco mais de anuência.

Pôs os pés sobre a quina do precipício, afogando-se em lembranças.

"Acho que ela tá brincando, você sabe. Coisa de adolescente."

Largou a mochila e assentiu quando a brisa gélida do frescor acometeu-lhe os braços nus. Alice olhou para o céu, dona de tanta calmaria. Tampouco apreensiva ao ver que lhe restavam dez andares a baixo e um passo à frente. Nada além.

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"Ela quer contar algo pra gente. Você sabe... ela disse que não gosta de garotos."

Lésbica, lembrou Alice. Custara pra se atribuir aos pais e chorou baixinho quando recordou-se do desapego no olhar do pai ao vê-la contrair aquela definição a si mesma. Lésbica, pai.

Nenhum orgulho. Gritou decepção.

"Eu não criei filha pra ser machorra!"

Atazanou-lhe os ouvidos.

Por ora, Alice desejou poder ser um pouco mais resiliente. Quis não ter contado. Desejou não se sentir tão atraída pela melhor amiga.

Bem, só espero que o suicídio não tenha se mostrado tão atraente assim. Acho que um pouco compreensivo, sugiro. Era só do que Alice precisava.

Compreensão.