Palavras ao Vento

Grão de Areia - 2010


Ainda no mesmo âmbito de pequenas histórias e repercussões singulares.

Eu passeava por uma praça, durante um verão. Algumas crianças brincavam em meio aos balanços, escorregadores e demais brinquedos, todas acompanhadas de seus grupos de amigos e conhecidos.

Com a exceção de dois meninos.

Dois filhos únicos. Um órfão de pai, o outro, filho de um casal que há muito já não se amava. Um desprovido de conforto material. O outro, carente do amor de pais negligentes.

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Duas crianças solitárias. Duas vivências aparentemente opostas, porém não paralelas. Apenas um preconceito, um temor intransigente que os impedia de se aproximarem.

Decidido, soprei forte, e fiz voar um largo grão de areia no olho do menino abastado. Carreguei das mãos do garoto humilde o papel que ele transformara em um aviãozinho, fazendo-o rodopiar e se prender em um tronco de árvore.

Frustrado pela perda do brinquedo, o menino pobre reparou no endinheirado. A outrora criança janota tornara-se subitamente igual a ele. Grão de areia nos olhos, piscando, coçando para tirar o que o incomodava. Por impulso, foi até o menino rico, e soprou-lhe os olhos.

Duas crianças, duas realidades. Olharam-se, e finalmente se enxergaram. Surpresos, descobriram que partilhavam, igualmente, a mesma candura.