Palavras ao Vento

O Frio Zéfiro por cima do Muro - 1989


Foi no fim do outono. Havia começado a perceber no ar pesado os grãos da mudança por vir. Na época, pastoreei nuvens de chumbo, que por pouco não produziram uma tempestade sem precedentes.

Nunca fui muito a favor de muros. Nunca vi no ato de separação qualquer tipo de glamour ou donaire. Muito pelo contrário. Mas, na metade posterior daquele século, pude acompanhar a construção, o auge e a queda daquela murada tão representativa da divisão política vigente.

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O mundo se dividia em dois polos, polos estes que eu visitava, pois não há cimento, cal ou pensamento pró-segregação capaz de me barrar. E não havia simbolismo maior para tal separação, naquela época, do que o muro que foi derrubado naquele dia fatídico.

Um país, dois lados.

Um mundo, dois lados.

Duas faces da mesma moeda que regia a ordem mundial; dois sistemas ambivalentes entre si, governantes em oposição. Levavam consigo toda a gente que aguardava, quieta, pelo desfecho daquele conflito silencioso.

Lembro-me de carregar as partículas da murada tombada. O fim de uma pretensa guerra que não se fez. O término de uma aludida ameaça global, e a implantação de um único regime majoritário.

Só sei que ainda restam vítimas.