No sábado, acordei cedo para me arrumar. Peguei os três conjuntos e coloquei-os organizadamente na mochila.

Havia combinado com Anna e Anabeth de irmos juntos, então assim que fiquei pronto, mandei uma mensagem avisando que desceria para esperá-las em frente ao seu respectivo Bloco e assim o fiz.

Meu celular apitou indicando uma mensagem nova. Dela.

Anna: Já chegou?

Acabei de chegar. - respondi.

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Anna: Já estamos descendo :)

Ok.

Cinco minutos depois, as portas se abriram e lá estavam elas.
Anna vestia uma minissaia preta com babados por cima de uma camiseta branca lisa e All Star cano alto num dégradé do branco para o preto.

Era a primeira vez que eu a via com o cabelo solto. Apenas uma mecha lateral estava presa por uma presilha em formato de lacinho e conferia-lhe um ar levemente inocente, o que a deixou ainda mais linda.

– Bom dia! - ela cumprimentou com a costumeira animação, juntamente com Anabeth.

– Olá! - respondi.

– Você está bem modelo hoje, rapaz! - disse Anabeth brincando.

– Estaria mais se não tivesse tirado a barba. - disse Anna de forma bastante casual.

– Obrigado. Vocês estão ainda mais lindas. - respondi com sinceridade e ignorando o comentário de Anna.

Anabeth usava uma blusinha branca por baixo de um colete, short jeans e tênis pretos. Seus cabelos castanhos foram amarrados num rabo de cavalo.

–Todos prontos? Minha mochila está um pouco pesada… - disse Anna segurando as tiras em seus ombros.

– Ah, deixe que eu levo. - falei.

Ela olhou para mim.

– Sério?!

– Claro. Me dê aqui…

Anna tirou a mochila das costas enquanto eu soltava uma das tiras da minha e me entregou suas coisas. Fiquei com minha mochila presa em um ombro e a de Anna no outro.

– Anabeth? - sugeri.

– Não precisa obrigada. A minha está mais leve. - ela sorriu.

– Tem certeza? - insisti.

– Sim. Obrigada, está tudo bem.

– Beleza.

– Obrigada, moço! - Anna agradeceu e completou - Vamos galerinha?

Assenti e Anabeth respondeu:

– Vamos nessa!

*

Nos encontramos com Piper no parque no horário marcado. Ela já estava lá, bem como duas garotas e outros dois caras, irmãos gêmeos, que eu nunca havia visto antes. Uma delas também carregava uma câmera no pescoço.

Piper nos cumprimentou assim que chegamos e, após eu apresenta-la à Anna e Anabeth, foi sua vez de nos apresentar à Janet - a segunda fotógrafa - Mary, Peter e Preston, os outros modelos.

– Muito bem - começou ela, depois das apresentações - muito obrigada por virem. Para tomar o mínimo do tempo de vocês, vamos começar com algumas poses em uns locais que eu e Janet escolhemos, depois vamos deixá-los à vontade para ficarem como quiserem. A partir daí as fotos serão espontâneas, o.k.?

Todos nós concordamos.

– Certo. Só relaxem, sorriam e deixem todo o trabalho conosco. - ela brincou fazendo um gesto na direção de Janet e nós rimos.

Em seguida ambas nos deram algumas instruções de como agir e posar para finalmente começarmos. Ficamos cerca de quarenta minutos posando como e nos lugares que elas queriam - que variaram desde os bancos até em frente ao lago. O grupo foi dividido do começo até o final, três de nós para cada uma delas, e nos juntamos para umas poses no fim de tudo. Foi tudo muito divertido até então. Eu estava gostando da experiência.

– Certo pessoal, vamos fazer uma pausa rápida agora. Trouxemos água e suco para quem estiver com sede. - avisou Piper.

Eu estava a fim de tomar um copo d’água, então segui Janet até a minivan que ela tinha trago.

– Está se divertindo? - perguntou ela, estendendo-me um copo cheio.

– Bastante. Obrigado pela oportunidade - respondi, pegando o copo.

– Eu que agradeço pela disponibilidade. Sério! - ela falou e sorriu.

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Nesse momento, Mary e um dos gêmeos se aproximaram. Observei o lugar enquanto tomava água e acabei por reparar em Anna. Ela conversava com o outro gêmeo e Anabeth. Sem saber exatamente por que, resolvi observar para ver se a forma como ela se portava era parte de sua personalidade mesmo.

A conversa parecia animada e elas pareciam estar se divertindo, mas Anna não demonstrou fazer nenhuma piadinha ou coisa do tipo com o rapaz. Parecia comportada como qualquer outra jovem de sua idade. Então ela olhou para o lado e me viu. Então, olhou para ambos, falou algo rápido e começou a caminhar em minha direção logo em seguida.

Fiz de conta que não a estava observando até ela se aproximar.

– Oi. - ela falou quando ficou bem em frente para mim.

– E aí?

– Está gostando da experiência?

– Está superinteressante. Sim. E você? - perguntei de volta.

– “Superinteressante”. Gostei desse adjetivo. Você geralmente é bem monossilábico – ela comentou – Estou adorando – acrescentou e riu.

– Sou? – perguntei.

Ela assentiu.

– Uau. Nunca ninguém tinha me dito isso.

Ela deu de ombros. Depois fez uma expressão curiosa e falou:

– Ei, você estava me encarando agora há pouco?

Encarei-a.

– Talvez. O que você acha?

Ela sorriu com um canto da boca.

– Está invertendo os papéis aqui, moço? - seu olhar tinha um misto de curiosidade e certa malícia.

– Bem, os olhos são feitos para ver não é mesmo?! - dei uma pescadinha para ela, que me olhou com ainda mais malícia.

– De fato. Contudo… - ela deu um passo para frente, se aproximando - deixe-me explicar uma coisa.

– Estou ouvindo. - respondi sustentando o olhar.

– Nessa história, são as meninas que dão em cima dos meninos.

Dito isto ela me lançou uma piscadela acompanhada do bastante conhecido sorriso maroto. Arqueei uma sobrancelha.

– Quer brincar com sentimentos, então? Cuidado para não se machucar. - falei.

– Bem, eu brinco se você brincar. Quer arriscar?

O sol matutino esquentou um pouco mais nesse exato momento. Como se a hora tivesse avançado para a próxima.

– Não. Lembra-se do que você disse na aula de S.D.?! – falei.

Ela estava bem perto agora. Eu podia ver seu rosto com riqueza de detalhes e com essa proximidade toda não pude deixar de notar em como seus olhos eram bem desenhados, assim como os lábios delicados, e como o nariz se encaixava perfeitamente no rosto ligeiramente moreno.

Meu coração começou a acelerar e minhas mãos ficaram um pouco úmidas.

Opa! Não. Isso não podia acontecer de novo. Respirei fundo e soltei o ar devagar. Não. Não iria rolar mesmo!

Ela, que até então olhava diretamente em meus olhos, falou:

– Com licença. Tenho que ajeitar seus cílios.

E quando ela tocou em meu rosto, foi como se uma faísca percorresse todo o meu corpo. Aquilo me assustou. Aquilo não havia acontecido da última vez.

Ela pareceu levar um susto minúsculo que eu quase não percebi.

– Tudo bem? - perguntei quando ela recolheu a mão um pouco.

– Sim… Tudo ótimo. – respondeu com uma expressão um tanto confusa – Isso foi estranho. – falou.

– O quê?

Ela olhou para mim, com as sobrancelhas franzidas.

– Você não... sentiu?

Balancei a cabeça, mentindo sem saber o motivo exato disso. Eu sabia do que ela estava falando.

– Foi como se... – ela parou, pensativa – Quer saber? Esqueça. Não foi nada – deu uma risadinha para disfarçar – Coisa da minha cabeça. – deu de ombros.

– Hum... ok então. – falei, preferindo mudar de assunto também.

O que estava acontecendo? Por que eu estava mentindo?

– Bem... com licença – ela disse, e então aproximou a mão novamente, com certa cautela.

Após ficar na ponta dos pés, fez o que queria. Então eu lembrei de algo.

– Ah! Posso tirar uma foto sua? - perguntei.

Ela franziu as sobrancelhas por um instante e falou:

– Para quê?

– Minha prima. Ela ficou curiosa para saber como você era… - expliquei de maneira breve.

Ela pareceu surpresa quando disse:

– Espera... você falou de mim para a sua família?!

– Falei, sim…

– Nossa! E isso tem tempo? – disparou curiosíssima.

– No dia em que nos encontramos pela segunda vez, no corredor. – respondi de maneira bem casual.

Anna não respondeu. Sua expressão era de leve surpresa e parecia também, pensativa.

–Bem… então estamos quites. - disse após alguns segundos.

– O quê?

– Nada. Pode tirar a foto, sim. - ela desconversou e sorriu - Quer que eu faça alguma pose, senhor?

– Não precisa. Só… sorria. Se quiser. - respondi pegando o celular.

Acessei o modo câmera e a apontei para Anna, que logo foi enquadrada de forma que seu rosto e apenas parte do busto apareciam.

Ela deu um belo sorriso e eu toquei na tela, capturando sua imagem sorridente.

Mostrei a foto para si, que sorriu, acenou brevemente com a cabeça e olhou de volta para mim, aprovando.

Enviei a foto para Dorothy com a mensagem “essa é a garota”.

– Obrigado. - agradeci logo depois.

– Sem essa. Agora é minha vez! - ela falou, tirando o celular do bolso também.

– É justo! – brinquei.

Anna, que já estava com a câmera apontada para mim, desviou os olhos da tela por um instante e piscou.

– Agora, sorria por favor. - falou.

Levantei um canto da boca, já que estava me divertindo com aquilo, e ela tirou a foto.

– Ficou ótima! Olha.

– É… ficou legal mesmo. O que foi? - perguntei após notar o sorriso de malícia que ela me exibia.

– Agora tenho uma foto sua!

– E…? - perguntei.

– E eu posso fazer várias coisas legais com ela.

– Ah. Bem, divirta-se!

Seu sorriso caiu e uma expressão curiosamente perplexa substituiu-o.

– Espera… você não desconfia de nada? - ela perguntou.

– Desconfiar do quê? Eu sei que, apesar de tudo, você não faria nada de ruim com essa foto. - falei porque sabia que era verdade.

– Está dizendo que confia em mim, moço? - ela pareceu surpresa quando disse.

– Estou dizendo que, caso você dê algum surto repentino de maldade, eu também tenho uma foto sua.

– Você não disse isso.

– Achei que estivesse deixado claramente implícito.

– Não gosto de coisas implícitas, se é que me entende…

– Não. Não entendo, para falar a verdade. Já que você vive falando coisas com duplo sentido…

Nesse momento, ela parou tudo e me encarou com olhos arregalados.

– Espera… você manja das minhas brincadeiras? Tipo capta elas? Pensei que era lesado demais para… - ela cobriu a boca com uma das mãos - Ah meu Deus! Eu já disse tanta coisa…

– Pois é. - respondi simplesmente.

Fiz questão de fazer uma expressão de “se deu mal” para envergonhá-la.

E de fato, fez-se um silêncio constrangedor.

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Pouco tempo depois, ela se manifestou:

– Bem, e o que você pensa a respeito?

– Das suas indiretas?! Não tenho uma opinião formada ainda. - fui franco.

– Bem, isso não é um “eu as odeio”, então vou ficar tranquila. - ela acrescentou. Depois, pareceu que ponderava se acrescentava algo ou não - Andrew, eu… bem, desculpe. - falou, enfim.

– Pelo quê?

– Por te chamar de lesado, apesar de você ser bem lento. - a última parte ela disse baixo.

– Relaxa.

– Olha, eu… hum… preciso falar algo. Sei o que disse na aula da Granma, e continuo achando aquilo seríssimo, mas…

– Mas…?

Ela olhou ao redor.

–Nada. Não é o lugar nem o momento adequado para falar, de qualquer forma. Besteira minha - ela sorriu, parecendo arrependida de ter começado a frase –Ei, você tem algo para fazer hoje à noite? - mudou de assunto.

Resolvi deixar para lá. Não devia ser nada importante mesmo.

– Hoje? Tenho. Por quê?

– Ah tá. É que vai rolar uma festa e eu iria te chamar.

– Entendi. Obrigado, de qualquer forma.

Então, me lembrei da competição:

– A propósito, é na semana que vem que começam as provas, não?!

– Sim! Animado? - não pude deixar de botar a expectativa que ela mantinha no tom de voz.

– Para ser sincero, não muito. Mas se você disse que vamos nos divertir, confio em você. E não da mais pra sair, de qualquer forma… - refleti.

Anna animou-se visivelmente.

– Obrigada! - me abraçou, surpreendendo-me mais uma vez – Tipo, por ter entrado nisso comigo.

– Ah, Anna… - falei.

– Shh! Já, já conversamos sobre isso! - ela falou, sem me soltar.

Sem saber como reagir, acabei por abraçá-la de volta.

Anna parecia ser do tipo que abraçava por muito pouco. Não sei ao certo o motivo, mas aquilo era de certa forma engraçado. Era uma moça com características realmente únicas. Uma moça única.

Ela me soltou e olhou para mim:

– Do que está rindo? – perguntou curiosa.

– Hum... você parece ser do tipo que gosta de abraçar. – falei.

– Ah... Isso é engraçado? – ela perguntou, com um tom do tipo “sério”?

– De certa forma, sim.

Ela ponderou. Depois, disse:

– Andrew, eu... Bem, eu sei o que disse na aula de segunda - olhava fixamente em meus olhos - Mas! - enfatizou - vou pedir que esqueça aquilo. Apesar de minha opinião permanecer a mesma, eu estou pronta para o que der e vier.

– Hã? “O que der e vier”? - perguntei com a sobrancelha franzida.

– É. Tipo, dar uma chance para a vida, tempo ao tempo, essas coisas… - ela explicou dando de ombros levemente.

– Então, você quer dizer que quer que algo aconteça entre nós. Algo maior que amizade?!

– Não exatamente. Estou dizendo que, se acontecer algo, da minha parte não vai ter muita resistência. Vou deixar rolar, eu acho.

– Hum. - respondi apenas. Não estava com disposição alguma para conversar sobre aquilo, ainda mais de novo.

Certo, então. Ela sorriu de uma maneira sincera antes de dizer:

– Posso te falar uma coisa?

– Pode.

– É bom te abraçar, moço.

E Anna dissera aquilo de uma forma tão pura que eu senti que seria maldade falar qualquer coisa que pudesse tirar aquele sorrisinho de seu rosto.

– Ah, obrigado… - respondi sem saber ao certo se fora uma atitude inteligente. O desconcerto era ligeiramente visível em meu tom de voz.

– O melhor é que você não tem um corpo nada exagerado - acrescentou rapidamente - e eu acho que seria bom se voltássemos para as fotos. Só temos eu e você aqui ainda - desconversou observando o restante do grupo.

Olhei ao redor.

– É. Tem razão... vamos lá!

*