Eu de Letras, ela de Irônicas
Capítulo 14 -
No sábado, acordei cedo para me arrumar. Peguei os três conjuntos e coloquei-os organizadamente na mochila.
Havia combinado com Anna e Anabeth de irmos juntos, então assim que fiquei pronto, mandei uma mensagem avisando que desceria para esperá-las em frente ao seu respectivo Bloco e assim o fiz.
Meu celular apitou indicando uma mensagem nova. Dela.
Anna: Já chegou?
Acabei de chegar. - respondi.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Anna: Já estamos descendo :)
Ok.
Cinco minutos depois, as portas se abriram e lá estavam elas.
Anna vestia uma minissaia preta com babados por cima de uma camiseta branca lisa e All Star cano alto num dégradé do branco para o preto.
Era a primeira vez que eu a via com o cabelo solto. Apenas uma mecha lateral estava presa por uma presilha em formato de lacinho e conferia-lhe um ar levemente inocente, o que a deixou ainda mais linda.
– Bom dia! - ela cumprimentou com a costumeira animação, juntamente com Anabeth.
– Olá! - respondi.
– Você está bem modelo hoje, rapaz! - disse Anabeth brincando.
– Estaria mais se não tivesse tirado a barba. - disse Anna de forma bastante casual.
– Obrigado. Vocês estão ainda mais lindas. - respondi com sinceridade e ignorando o comentário de Anna.
Anabeth usava uma blusinha branca por baixo de um colete, short jeans e tênis pretos. Seus cabelos castanhos foram amarrados num rabo de cavalo.
–Todos prontos? Minha mochila está um pouco pesada… - disse Anna segurando as tiras em seus ombros.
– Ah, deixe que eu levo. - falei.
Ela olhou para mim.
– Sério?!
– Claro. Me dê aqui…
Anna tirou a mochila das costas enquanto eu soltava uma das tiras da minha e me entregou suas coisas. Fiquei com minha mochila presa em um ombro e a de Anna no outro.
– Anabeth? - sugeri.
– Não precisa obrigada. A minha está mais leve. - ela sorriu.
– Tem certeza? - insisti.
– Sim. Obrigada, está tudo bem.
– Beleza.
– Obrigada, moço! - Anna agradeceu e completou - Vamos galerinha?
Assenti e Anabeth respondeu:
– Vamos nessa!
*
Nos encontramos com Piper no parque no horário marcado. Ela já estava lá, bem como duas garotas e outros dois caras, irmãos gêmeos, que eu nunca havia visto antes. Uma delas também carregava uma câmera no pescoço.
Piper nos cumprimentou assim que chegamos e, após eu apresenta-la à Anna e Anabeth, foi sua vez de nos apresentar à Janet - a segunda fotógrafa - Mary, Peter e Preston, os outros modelos.
– Muito bem - começou ela, depois das apresentações - muito obrigada por virem. Para tomar o mínimo do tempo de vocês, vamos começar com algumas poses em uns locais que eu e Janet escolhemos, depois vamos deixá-los à vontade para ficarem como quiserem. A partir daí as fotos serão espontâneas, o.k.?
Todos nós concordamos.
– Certo. Só relaxem, sorriam e deixem todo o trabalho conosco. - ela brincou fazendo um gesto na direção de Janet e nós rimos.
Em seguida ambas nos deram algumas instruções de como agir e posar para finalmente começarmos. Ficamos cerca de quarenta minutos posando como e nos lugares que elas queriam - que variaram desde os bancos até em frente ao lago. O grupo foi dividido do começo até o final, três de nós para cada uma delas, e nos juntamos para umas poses no fim de tudo. Foi tudo muito divertido até então. Eu estava gostando da experiência.
– Certo pessoal, vamos fazer uma pausa rápida agora. Trouxemos água e suco para quem estiver com sede. - avisou Piper.
Eu estava a fim de tomar um copo d’água, então segui Janet até a minivan que ela tinha trago.
– Está se divertindo? - perguntou ela, estendendo-me um copo cheio.
– Bastante. Obrigado pela oportunidade - respondi, pegando o copo.
– Eu que agradeço pela disponibilidade. Sério! - ela falou e sorriu.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Nesse momento, Mary e um dos gêmeos se aproximaram. Observei o lugar enquanto tomava água e acabei por reparar em Anna. Ela conversava com o outro gêmeo e Anabeth. Sem saber exatamente por que, resolvi observar para ver se a forma como ela se portava era parte de sua personalidade mesmo.
A conversa parecia animada e elas pareciam estar se divertindo, mas Anna não demonstrou fazer nenhuma piadinha ou coisa do tipo com o rapaz. Parecia comportada como qualquer outra jovem de sua idade. Então ela olhou para o lado e me viu. Então, olhou para ambos, falou algo rápido e começou a caminhar em minha direção logo em seguida.
Fiz de conta que não a estava observando até ela se aproximar.
– Oi. - ela falou quando ficou bem em frente para mim.
– E aí?
– Está gostando da experiência?
– Está superinteressante. Sim. E você? - perguntei de volta.
– “Superinteressante”. Gostei desse adjetivo. Você geralmente é bem monossilábico – ela comentou – Estou adorando – acrescentou e riu.
– Sou? – perguntei.
Ela assentiu.
– Uau. Nunca ninguém tinha me dito isso.
Ela deu de ombros. Depois fez uma expressão curiosa e falou:
– Ei, você estava me encarando agora há pouco?
Encarei-a.
– Talvez. O que você acha?
Ela sorriu com um canto da boca.
– Está invertendo os papéis aqui, moço? - seu olhar tinha um misto de curiosidade e certa malícia.
– Bem, os olhos são feitos para ver não é mesmo?! - dei uma pescadinha para ela, que me olhou com ainda mais malícia.
– De fato. Contudo… - ela deu um passo para frente, se aproximando - deixe-me explicar uma coisa.
– Estou ouvindo. - respondi sustentando o olhar.
– Nessa história, são as meninas que dão em cima dos meninos.
Dito isto ela me lançou uma piscadela acompanhada do bastante conhecido sorriso maroto. Arqueei uma sobrancelha.
– Quer brincar com sentimentos, então? Cuidado para não se machucar. - falei.
– Bem, eu brinco se você brincar. Quer arriscar?
O sol matutino esquentou um pouco mais nesse exato momento. Como se a hora tivesse avançado para a próxima.
– Não. Lembra-se do que você disse na aula de S.D.?! – falei.
Ela estava bem perto agora. Eu podia ver seu rosto com riqueza de detalhes e com essa proximidade toda não pude deixar de notar em como seus olhos eram bem desenhados, assim como os lábios delicados, e como o nariz se encaixava perfeitamente no rosto ligeiramente moreno.
Meu coração começou a acelerar e minhas mãos ficaram um pouco úmidas.
Opa! Não. Isso não podia acontecer de novo. Respirei fundo e soltei o ar devagar. Não. Não iria rolar mesmo!
Ela, que até então olhava diretamente em meus olhos, falou:
– Com licença. Tenho que ajeitar seus cílios.
E quando ela tocou em meu rosto, foi como se uma faísca percorresse todo o meu corpo. Aquilo me assustou. Aquilo não havia acontecido da última vez.
Ela pareceu levar um susto minúsculo que eu quase não percebi.
– Tudo bem? - perguntei quando ela recolheu a mão um pouco.
– Sim… Tudo ótimo. – respondeu com uma expressão um tanto confusa – Isso foi estranho. – falou.
– O quê?
Ela olhou para mim, com as sobrancelhas franzidas.
– Você não... sentiu?
Balancei a cabeça, mentindo sem saber o motivo exato disso. Eu sabia do que ela estava falando.
– Foi como se... – ela parou, pensativa – Quer saber? Esqueça. Não foi nada – deu uma risadinha para disfarçar – Coisa da minha cabeça. – deu de ombros.
– Hum... ok então. – falei, preferindo mudar de assunto também.
O que estava acontecendo? Por que eu estava mentindo?
– Bem... com licença – ela disse, e então aproximou a mão novamente, com certa cautela.
Após ficar na ponta dos pés, fez o que queria. Então eu lembrei de algo.
– Ah! Posso tirar uma foto sua? - perguntei.
Ela franziu as sobrancelhas por um instante e falou:
– Para quê?
– Minha prima. Ela ficou curiosa para saber como você era… - expliquei de maneira breve.
Ela pareceu surpresa quando disse:
– Espera... você falou de mim para a sua família?!
– Falei, sim…
– Nossa! E isso tem tempo? – disparou curiosíssima.
– No dia em que nos encontramos pela segunda vez, no corredor. – respondi de maneira bem casual.
Anna não respondeu. Sua expressão era de leve surpresa e parecia também, pensativa.
–Bem… então estamos quites. - disse após alguns segundos.
– O quê?
– Nada. Pode tirar a foto, sim. - ela desconversou e sorriu - Quer que eu faça alguma pose, senhor?
– Não precisa. Só… sorria. Se quiser. - respondi pegando o celular.
Acessei o modo câmera e a apontei para Anna, que logo foi enquadrada de forma que seu rosto e apenas parte do busto apareciam.
Ela deu um belo sorriso e eu toquei na tela, capturando sua imagem sorridente.
Mostrei a foto para si, que sorriu, acenou brevemente com a cabeça e olhou de volta para mim, aprovando.
Enviei a foto para Dorothy com a mensagem “essa é a garota”.
– Obrigado. - agradeci logo depois.
– Sem essa. Agora é minha vez! - ela falou, tirando o celular do bolso também.
– É justo! – brinquei.
Anna, que já estava com a câmera apontada para mim, desviou os olhos da tela por um instante e piscou.
– Agora, sorria por favor. - falou.
Levantei um canto da boca, já que estava me divertindo com aquilo, e ela tirou a foto.
– Ficou ótima! Olha.
– É… ficou legal mesmo. O que foi? - perguntei após notar o sorriso de malícia que ela me exibia.
– Agora tenho uma foto sua!
– E…? - perguntei.
– E eu posso fazer várias coisas legais com ela.
– Ah. Bem, divirta-se!
Seu sorriso caiu e uma expressão curiosamente perplexa substituiu-o.
– Espera… você não desconfia de nada? - ela perguntou.
– Desconfiar do quê? Eu sei que, apesar de tudo, você não faria nada de ruim com essa foto. - falei porque sabia que era verdade.
– Está dizendo que confia em mim, moço? - ela pareceu surpresa quando disse.
– Estou dizendo que, caso você dê algum surto repentino de maldade, eu também tenho uma foto sua.
– Você não disse isso.
– Achei que estivesse deixado claramente implícito.
– Não gosto de coisas implícitas, se é que me entende…
– Não. Não entendo, para falar a verdade. Já que você vive falando coisas com duplo sentido…
Nesse momento, ela parou tudo e me encarou com olhos arregalados.
– Espera… você manja das minhas brincadeiras? Tipo capta elas? Pensei que era lesado demais para… - ela cobriu a boca com uma das mãos - Ah meu Deus! Eu já disse tanta coisa…
– Pois é. - respondi simplesmente.
Fiz questão de fazer uma expressão de “se deu mal” para envergonhá-la.
E de fato, fez-se um silêncio constrangedor.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Pouco tempo depois, ela se manifestou:
– Bem, e o que você pensa a respeito?
– Das suas indiretas?! Não tenho uma opinião formada ainda. - fui franco.
– Bem, isso não é um “eu as odeio”, então vou ficar tranquila. - ela acrescentou. Depois, pareceu que ponderava se acrescentava algo ou não - Andrew, eu… bem, desculpe. - falou, enfim.
– Pelo quê?
– Por te chamar de lesado, apesar de você ser bem lento. - a última parte ela disse baixo.
– Relaxa.
– Olha, eu… hum… preciso falar algo. Sei o que disse na aula da Granma, e continuo achando aquilo seríssimo, mas…
– Mas…?
Ela olhou ao redor.
–Nada. Não é o lugar nem o momento adequado para falar, de qualquer forma. Besteira minha - ela sorriu, parecendo arrependida de ter começado a frase –Ei, você tem algo para fazer hoje à noite? - mudou de assunto.
Resolvi deixar para lá. Não devia ser nada importante mesmo.
– Hoje? Tenho. Por quê?
– Ah tá. É que vai rolar uma festa e eu iria te chamar.
– Entendi. Obrigado, de qualquer forma.
Então, me lembrei da competição:
– A propósito, é na semana que vem que começam as provas, não?!
– Sim! Animado? - não pude deixar de botar a expectativa que ela mantinha no tom de voz.
– Para ser sincero, não muito. Mas se você disse que vamos nos divertir, confio em você. E não da mais pra sair, de qualquer forma… - refleti.
Anna animou-se visivelmente.
– Obrigada! - me abraçou, surpreendendo-me mais uma vez – Tipo, por ter entrado nisso comigo.
– Ah, Anna… - falei.
– Shh! Já, já conversamos sobre isso! - ela falou, sem me soltar.
Sem saber como reagir, acabei por abraçá-la de volta.
Anna parecia ser do tipo que abraçava por muito pouco. Não sei ao certo o motivo, mas aquilo era de certa forma engraçado. Era uma moça com características realmente únicas. Uma moça única.
Ela me soltou e olhou para mim:
– Do que está rindo? – perguntou curiosa.
– Hum... você parece ser do tipo que gosta de abraçar. – falei.
– Ah... Isso é engraçado? – ela perguntou, com um tom do tipo “sério”?
– De certa forma, sim.
Ela ponderou. Depois, disse:
– Andrew, eu... Bem, eu sei o que disse na aula de segunda - olhava fixamente em meus olhos - Mas! - enfatizou - vou pedir que esqueça aquilo. Apesar de minha opinião permanecer a mesma, eu estou pronta para o que der e vier.
– Hã? “O que der e vier”? - perguntei com a sobrancelha franzida.
– É. Tipo, dar uma chance para a vida, tempo ao tempo, essas coisas… - ela explicou dando de ombros levemente.
– Então, você quer dizer que quer que algo aconteça entre nós. Algo maior que amizade?!
– Não exatamente. Estou dizendo que, se acontecer algo, da minha parte não vai ter muita resistência. Vou deixar rolar, eu acho.
– Hum. - respondi apenas. Não estava com disposição alguma para conversar sobre aquilo, ainda mais de novo.
Certo, então. Ela sorriu de uma maneira sincera antes de dizer:
– Posso te falar uma coisa?
– Pode.
– É bom te abraçar, moço.
E Anna dissera aquilo de uma forma tão pura que eu senti que seria maldade falar qualquer coisa que pudesse tirar aquele sorrisinho de seu rosto.
– Ah, obrigado… - respondi sem saber ao certo se fora uma atitude inteligente. O desconcerto era ligeiramente visível em meu tom de voz.
– O melhor é que você não tem um corpo nada exagerado - acrescentou rapidamente - e eu acho que seria bom se voltássemos para as fotos. Só temos eu e você aqui ainda - desconversou observando o restante do grupo.
Olhei ao redor.
– É. Tem razão... vamos lá!
*
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