Chiaroscuro
Capítulo 9- Por mais reinos que se governe...
Rouge soltou um suspiro ao sair da cozinha.
Não gostava daquele tal de Raylegh. Ele era um perfeito rato, e tudo nele a lembrava de um. Fosse o bigode irritante ou o modo que ele parecia provocar o mundo inteiro quando falava, ela não conseguia vê-lo fora dos moldes de roedor.
Mas Roger parecia gostar daquele sujeito, fosse qual fosse o motivo. Ela não fazia a menor ideia de como os dois se conheceram ou o porque do Silvers ter continuado no mesmo navio que eles e não simplesmente ido embora no barco de pesca que usará para chegar a Long Town, mas era óbvio que alguma coisa atraíra sua atenção a ponto de fazê-lo ficar. E, agora, Roger e as crianças já haviam se apegado tanto ao homem que não permitiriam que ele os abandonasse.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Ela teria de atura-lo, querendo ou não. Gostando ou desgostando, Silvers Raylegh continuaria no navio.
A ruiva soprou a franja para longe dos olhos. Era incrível como aquele dia havia sido estressante e irritante, mas, falando a verdade, o que mais ela esperaria da volta de Roger?
Rouge mal havia tocado a maçaneta quando ouviu o barulho de páginas farfalhando.
–-Roger?-Ela acendeu a luz do quarto- está lendo no escuro?
–-Rouge!!-- Ele a abraçou-- Lê pra mim?
Ela revirou os olhos, sorrindo divertida.
–-Está meio grande para história antes de dormir, não?
Ele franziu a testa, emburrando como criança.
–-Então lê o jornal.- Roger estendeu o calhamaço amaçado de folhas, trazidas naquela manhã.
Ela segurou os braços que a circundavam.
–-De novo aquele artigo sobre você? Vai acabar ficando narcisista!
–-Eu? Por que?
–-Pelo que você acha, Rei dos Piratas?
Roger soltou um muxoxo, se soltando.
–-Não quero que me chamem assim.
–-Ah, sim. Não quer ser um rato, não é mesmo?
–-Ahn? Ah, não. Não me importo nem um pouco em ser chamado de pirata. Não quero que me chamem de rei!
Rouge fez uma expressão confusa.
–-Como?
–-Não quero ser rei. O rei da história era um grande idiota.
Rouge deu um sorrisinho.
–-Achei que não se importasse com nada do que as pessoas diziam de você.
–-Não é como se eu me importasse. Mas....
–-Mas o rei é um grande sofredor. E você não quer sofrer.
–-Também não. É só que.... Se eu for o rei, você seria a rainha e não a princesa!! E eu não quero isso!
Rouge se segurou ao máximo para não rir.
–-É isso? Qual o problema? Ser rainha é até melhor que ser princesa.
–-Mas... Mas a rainha...
–-Roger- Ela cruzou os braços- Você não precisa ficar inventando desculpas para não querer ser o rei. Eu sei muito bem que você nunca simpatizou com ele.
O homem soltou um muxoxo.
–-Ele é um grande besta. Nunca faz nada, só manda os outros fazerem. E depois fica lamuriando sozinho.
–-Certo, certo. O Rei tem seus defeitos mas....
"Como eu já disse, o rei tinha muitos defeitos. Mas o rei tinha uma qualidade extraordinária, maravilhosa e admirável. Era um homem que tinha capacidade e disposição para amar de verdade."
–-... Mas também tinha suas qualidades. Já sei.
–-Então por que se preocupa?
–-Porque a rainha morre na história, Rouge!! E eu não quero que você morra!! Nunca!!--Ele a puxou para outro abraço desajeitado.
–-Roger...--Rouge tentava falar em meio ao sufoco-... Roger...
–-Hun?
Ela se afastou um pouco do peito dele.
–-Eu não posso.... Eu não posso prometer isso.
–-Por que?
–-Porque não é algo que eu possa decidir por mim mesma.
–-Então eu estou decidindo por você então!! Você nunca vai morrer!
–-Não é assim que as coisas funcionam. Você não se lembra da história?
"Esse é o perigo do amor. Por mais poderoso que seja, por mais reinos que se governe, ninguém pode impedir que a pessoa amada morra."
Roger soltou outro muxoxo, se separando dela um pouco.
–-Então me prometa que eu vou primeiro.
–-Ahn?
–-Só me restam dois anos. Prometa que vai ficar viva até lá.
A ruiva deu um sorriso doce, tomando uma das mãos dele entre as dela.
–-Certo, eu prometo. Mas prometa que vai viver, mas viver MESMO, até lá.
–-Eu não preciso prometer isso.
Ela entrelaçou os dedos nos dele.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!–-Roger... Não dê ouvidos ao que falam de você. Não precisa se preocupar com isso. Você é o meu pequeno cavaleiro, certo? É só nos mesmos podemos decidir quem somos. Ninguém nunca vai conhecer você mesmo tão bem quanto você mesmo.
Ele fungou.
–-Nem você?
Ela piscou, divertida, alargando o sorriso.
–-Certo. Talvez eu.
–-E eu? Eu te conheço tão bem quanto você mesma se conhece?
–-Talvez até melhor.
Ele abriu um sorriso largo, que se transformou num bocejo bem evidente.
–- Foi um dia longo, estamos todos cansados. Vá dormir, Roger.
–-Posso dormir no seu colo?
Ela corou um pouco.
–-Já não tem mais sete anos, Roger. E aqui é o alojamento feminino. Vá para o seu quarto.
–-Certo. Boa noite, Rouge.
–-Boa noite, meu pequeno cavaleiro.
Ele se virou, indo embora. Mas antes que ela pudesse fechar a porta, Roger se virou de volta.
–-Hey, Rouge!
–-O que?
–-Era uma vez!- E ele sumiu no meio do convés escuro.
Você deve estar estranhando essa última fala. " Era uma vez" é uma frase realmente muito bonita, realmente, mas em um contexto como esse pode soar das mais aleatórias.
E ela soou, sim, aleatória para qualquer outra pessoa que tenha ouvido.
Qualquer outra pessoa que não fosse Rouge. Porque ela estava sorrindo quando fechou a porta.
Ela já estava acostumada com os modos do amigo. Acostumada até demais. E um fato muito curioso sobre Roger era que ele dava vários significados para "era uma vez": Toda as vezes que ele não sabia o que dizer, ele dizia "era uma vez". Afinal, aquela eram as palavras mais poderosas que conhecia.
Dependendo do momento, "era uma vez" podia significar "isso é lindo". "Aquilo é legal". " Eu gosto disso". Sempre estava substituindo três palavras, e ninguém conseguia interpretar o que ele dizia tão bem quanto Rouge fazia.
Você está se perguntando o que ele queria dizer naquela hora, não está? Fique tranquilo, a mesma pessoa que me contou essa história me disse o que era, e eu digo para você: "Eu amo você".
Ou também pode ser que não tenha sido bem isso. Pode ser que Rouge tenha interpretado errado, porque nunca podemos ter certeza do que o outro está pensando. Principalmente quando esse outro sempre teve um parafuso a menos.
Mas ela podia garantir que, o que quer que fosse, era uma coisa muito boa.
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