Kitty's Pride
Uma conversa suspeita
Daquele lugar, tinha uma visão melhor do ambiente, embora ainda fosse encoberta por muitos convidados. Pôde finalmente ver Amélia e Susan Bolton dançando. Kitty sorriu ao perceber que estavam aborrecidas, certamente por não estarem compartilhando a dança com um par solteiro e sim com dois homens de meia-idade que ela não reconhecia.
Não ficou muito tempo sozinha, e logo uma figura ocupou um lugar ao seu lado. Era cerca de cinco centímetros mais baixa que Kitty, e trajava um vestido tão bonito quanto o dela.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Srta. Audrey. – Cumprimentou ela.
— Srta. Catherine. – Devolveu a jovem. – Se importa que eu a chame de Kitty? Sua irmã acaba de me informar que esse apelido é um hábito.
— De certo não me incomoda em nada. Ás vezes me esqueço que fui batizada com outro nome. – Garantiu Kitty.
— Receio que minha mãe tenha lhe passado uma ideia errada. Questionando-a como fez. – Disse ela. – Não quero que a tome como invasiva.
— Não se incomode com isso. Não tive tal impressão. Acredito que sua mãe seja uma mulher comunicativa e só. – Respondeu a jovem Bennet, satisfeita pela filha reconhecer um avanço da mãe.
— Ela tenta ser sutil, mas mal consegue conter seu entusiasmo. – Observou Audrey.
— Perdão? – Disse Kitty.
— Ela está ansiosa para finalmente conhecer a família Darcy. Eu provavelmente não devia comentar nada sobre isso, mas gostei muito da senhorita. – Comentou ela, confirmando o que Kitty havia pensado. – E também há Lara Bolton. Quero que essa conversa dure o suficiente para mantê-la longe de mim.
— Hum. Compreendo. – Kitty se limitou a dizer, achando estranho e talvez impróprio que a jovem estivesse revelando-lhe opiniões tão fortes sobre a Srta. Bolton mais jovem, mesmo que a própria Kitty sentisse o mesmo.
— Deve estar me interpretando mal. Tenho certeza. – Começou a jovem. – Então vou parar de falar.
— Por favor, não se contenha. Não quis censurá-la. – Garantiu Kitty, pousando seu copo vazio na bandeja de um dos criados.
— Mora em Derbyshire há muito tempo? – Quis saber a jovem.
— Sim. Desde o casamento de minhas irmãs, há quatro anos atrás. – Respondeu Kitty. – E a senhorita, sente falta da Alemanha?
— Estou longe daquelas terras a tanto tempo que mal me recordo de seu cheiro. – Disse Audrey.
— Sua mãe disse que se instalaram em Kent antes da mudança. – Lembrou Kitty, interessada.
— Sim. Lugar adorável. Não tanto quanto Derbyshire, é claro. – Observou a Srta. Höwedes. – Papai teria se estabelecido lá. Ele e meu primo adoram caçar e aparentemente, Kent é o lugar ideal.
— Não domino o assunto, mas creio que essa região também irá agradá-los. – Começou Kitty.
— Não tanto quanto a minha mãe. Veja, Srta. Bennet. Veja ela se deslumbrar. – Disse Audrey, em um tom que fez Kitty questionar a afeição da moça pela mãe. A jovem Bennet seguiu o olhar de sua nova colega pelo salão até notar que a Sra. Höwedes sorria largamente, recebendo Georgiana Darcy com todas as formalidades e cerimônias possíveis. Kitty ficou surpresa pela mulher não ter mandado que a música parasse para que todos pudessem dar atenção a recém chegada.
— Georgiana é uma alma adorável. Logo a senhorita verá. – Observou Kitty, voltando os olhos para Audrey.
— Não tenho dúvida. – Respondeu a jovem, sorrindo simpática. – Será que posso convidá-la desde já para um chá amanhã? Se não for um incomodo, é claro.
— Nenhum incomodo. É uma companhia mais que agradável, Srta. Höwedes. – Disse Kitty, aceitando o convite.
— Audrey. Deixemos as formalidades. Creio que já tenha percebido que a tomei por confidente, Kitty. – Devolveu ela.
— Não consigo imaginar o porquê, mas fico lisonjeada.
— Não fique. Eu falo muito. Vou cansar seus ouvidos. – Disse Audrey, soltando uma risadinha. – A esperarei amanhã ás cinco. Agora, se não se importa, irei sorrir um pouco mais ao lado da Srta. Bolton.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Kitty viu ela se afastar, ainda confusa e disposta a gargalhar. Mas por estar em público, limitou-se a rir discretamente. Audrey Höwedes era louca. Em uma das melhores hipóteses. Não muito longe dali, Georgiana era apresentada ao Sr. Höwedes, e conduzida por sua mulher como se esta fosse uma velha amiga. Eram todos loucos e invasivos, mas Kitty admitiu a simpatia que havia sentido por Audrey. Como Georgiana e Jane encontravam-se ocupadas, e os ferimentos nos pés tornavam a dança inviável, Kitty percebeu com alegria que uma das muitas portas que davam acesso a varanda da propriedade estava aberta. Sem pensar duas vezes, desapareceu por ali, deixando-se capturar pelo céu noturno.
Velas também haviam sido colocadas ali e além disso, era uma noite limpa de outono, o que deixava o lugar ainda mais iluminado. A varanda dava vista para um dos magníficos jardins de Ottercrow, ao qual Sir. Nichols tratava como a um filho. Kitty apoiou as mãos cobertas pelas luvas na pedra fria da bancada, e viu com deleite quão belas eram as fontes do lugar, quase totalmente ocultas pela escuridão.
— Não deveria estar lá dentro? Está privando a todos do prazer de sua companhia. – Comentou uma voz grave e desconhecida. Kitty se virou na direção do som e percebeu espantada que um jovem cavalheiro lhe observava do canto. Estavam sozinhos na varanda o que, era no mínimo, impróprio.
— Queria tomar um pouco de ar. Desculpe. – Disse, sem lhe encarar o rosto e pronta para deixar o lugar. Porém, como quem antecipa os passos de seu interlocutor, o rapaz deu um passo em sua direção, o que fez com que Kitty parasse.
— Não se desculpe. Poderia ter me ofendido de diversas formas, mas não vejo problema em sua necessidade de respirar. – Comentou o homem, com uma risada rouca que deixou Kitty desconcertada.
— Sei que o senhor me entendeu. – Respondeu Kitty. – Agora, se não se importa, gostaria de voltar a festa.
— Sua virtude não corre perigo algum, senhorita. – Se apressou em dizer o estranho, correndo umas das mãos pelos cabelos claros que lhe caiam lisos. – Mas sei que teme por sua reputação.
— Já que foi direto, não preciso fazer rodeios e fugir dessa situação. Não é bom ser vista a sós com um desconhecido. – Comentou Kitty, assustada com a precisão das palavras do cavalheiro.
— Nesse caso seria mais lógico que eu me apresentasse. – Sugeriu o estranho, dando mais um passo e se deixando atingir pela luz. Ele era muito mais alto que Kitty, tinha a barba por fazer (o que podia indicar uma vida boêmia ou desleixo), estava muito bem vestido e tinha os olhos mais lindos que ela já vira na vida.
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