SanWar - Priére (Interativa)

Capitulo 6 - Uma noite problemática.


Assistir uma luta entre dois garotos e um demônio não é lá algo fácil de superar, ao menos não em um dia, nem mesmo para uma pessoa qualquer, o que de certa forma não era meu caso.

Ambos os garotos foram alojados em um mesmo quarto de hóspedes o mais próximo do meu, por motivos de segurança e tratamento, sendo possível cuidar de ambos ao mesmo tempo ao mesmo tempo em que mantinha todos próximos para caso houvesse algum outro ataque.

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Enquanto caminhava pela mansão para pensar melhor, encontro a porta da sala de estar semiaberta e nela a policial em pé falando em um aparelho de comunicação.

A sala era relativamente pequena em relação aos outros aposentos, pois nesse recinto só se tinha um sofá roxo grande, algumas poltronas e uma mesa pequena de vidro no centro logo abaixo de um lustroso candelabro de cristais brancos.

– Vários mestiços estão perdendo o controle e ficando mais agressivos devido à notícia de Gabriel... Eles temem a hora que morrerão e isso os tornam imprudentes. - Comentou a policial enquanto ordenava outros guardas a se posicionarem em meio a mansão e a cidade.

– Com licença, mesmo depois disso tudo ainda não perguntei seu nome... - Disse me aproximando calmamente e nesse momento poderia jurar que seus olhos se iluminarem com a pergunta.

– Olá, sou Maya Kutzow, 21 anos, escorpião, tipo sanguíneo... - Mas pareceu corar e logo em seguida então quando enxergou melhor e pareceu notar com quem falava ela tentou voltar a sua postura de comandante, porém desistiu depois de não muito tempo e se jogou no sofá suspirando. - Ah, é só você, achei que era um homem interessante... Eles são difíceis de achar...

Ela era ruiva, cabelos na altura dos ombros, lisos, pele clara e olhos verdes azulados. Usava o uniforme feminino da guarda, uma calça de couro preta, com coturnos e uma jaqueta preta com um símbolo desenhado na altura do coração, um triangulo com uma estrela e uma asa escura no centro, e nos ombros duas estrelas de cada lado, mostrando um grau de importância devido a patente, e uma camisa camuflada por baixo da jaqueta.

– Você está dizendo que tenho voz de homem? Ou melhor, está decepcionada que não sou um homem? - Retruquei irritada e como resposta, apenas recebi um aceno de mão nada formal.

Com isso pulei em uma poltrona em sua frente e passei a encara-la friamente por um bom tempo.

– Que foi, preocupada com os garotos? - disse ela jogando o corpo para frente com um sorriso malicioso no rosto. - Então já está na idade de se interessar por garotos ein? Não se preocupe, Mike ficará vivo, ele é forte, mesmo que seja extremamente presunçoso.

Meu esquentou por um bom tempo e enterrei-o em um travesseiro.

– Claro que não é isso. Não me interesso por ele, é só que eles enfrentaram aquilo em minha propriedade, então seria ruim para a imagem de minha família. - Retruquei levantando o rosto e observando-a.

– Não está preocupa com o Mike... Então seria aquele outro garoto? Achei que Mike fizesse mais seu tipo do que um moleque sem presença como aquele. Ainda mais com aquela uniforme escolar tosco, daquela escola velha. - E com esse comentário me levantei bruscamente e atirei o travesseiro em sua direção atingindo-a desprevenida. - Ele é sem presença, mal o notei, que culpa tenho?

– Ja disse que não é isso, droga. - Retruquei novamente me dirigindo a porta irritada e com o rosto estranhamente quente. – E aquela escola não é tão ruim.

– Que fofa, está envergonhada. Haha. - Disse ela rindo enquanto me dirigia a porta e quando minha mão tocou na maçaneta ela voltou a falar com um tom mais sério. - Então, não está curiosa sobre o que fez hoje?

Neste momento meu corpo paralisou, eu sabia que o que tinha feito não era algo normal, e ao ouvir aquelas palavras algo em mim ficou inquieto e isso me fez voltar e olhar em sua direção notando um ar incrivelmente nobre e intimidador.

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Ela fez um sinal para que voltasse a me sentar e decidi obedecer.

– Bom, indo direto ao ponto. Sim você é uma mestiça, um híbrido de um humano com alguma outra das raças e o fato de você poder ter controlado a água mais cedo é a prova definitiva disso. - Explicou Maya com um olhar penetrante como se quisesse julgar todos os centímetros de minha alma. - E dado os boatos de sua mãe, devo acrescentar que certamente é de anjo, já que de fato ela é a mais próxima dos anjos.

– Impossível. haha, minha mãe e um anjo? Impossível! - ri sem achar graça do comentário. - Minha mãe não trairia meu pai...

– Está enganada. - ela disparou fazendo meu ódio aumentar. - Não deve se lembrar por causa da sua idade e ignorância, mas seus pais casaram a apenas 15 anos, e vejam só, você tem 18. Mas nunca estranhou o fato de te contarem isso né? Afinal, você não representa muita coisa pra eles.

– Mentira! - Gritei sem perceber com meus olhos marejados e sem conseguir conter as lágrimas que surgiam com aquelas palavras. Era algo que constantemente pensava, mas ao ver meus pensamentos verbalizados tornava tudo pior. - Mentira, eles se importam comigo... Se importam. - Falei baixo, mais para mim mesma que para ela me encolhendo no sofá.

Maya aparentemente se surpreendeu com minha reação e ficou sem palavras observando tudo com um olhar triste. Então se levantou e caminhou para a porta.

– Bom, se o que diz é verdade então isso foi uma maneira de te proteger, mas isso não muda o fato de que seu poder, bem... - Ela fez uma pausa e respirou profundamente soltando todo o ar calmamente. - Pelo que vi, seu potencial é imenso. Seu poder será bastante necessário. Uma filha de um anjo que pode controlar a água... Espero poder contar com você.

Com isso Maya sorriu brevemente e se retirou deixando-me sozinha com meus pensamentos e eu adormeci ali mesmo.

Tempos depois acordei e me vendo naquele estado jogada em uma poltrona decidi esticar as pernas e voltar ao meu quarto, pois ainda era noite e ainda tinha tempo para dormir.

No meio do caminho encontrei uma luz acesa e vozes saindo do quarto de hóspedes em que os garotos estavam abrigados.

– Me pareceu um bom espadachim apesar de que sua destreza com seus poderes foram um tanto quanto ruins. Ainda mais por ter uma espada tão poderosa. - Era Inconfundivelmente a voz de Maya e por isso meu corpo paralisou. Ainda não sabia se conseguiria encara-la depois de nossa conversa.

– Mas ainda assim... Ele não tem uma aura de um guerreiro. - Comentou uma segunda voz que demorei um tempo pra perceber que era Claus usando um tom mais suave que o normal, talvez para não perturbar os feridos.

– Você está certo, Mike parece um nato combatente e experiente na o campo de batalha. Mas esse garoto... - Dizia Maya quando não consegui me conter e entrei no quarto sorrateiramente. - Não parece que já teve muita experiência, pelo contrário parecia sua primeira luta e... Ora, ora, o que temos aqui. Uma garotinha preocupada com o namorado.

Maya nem ao menos havia se virado quando falou aquilo, o que me pegou de surpresa e me fez saltar para trás derrubando uma cadeira no chão fazendo um barulho alto.

Nesse mesmo momento o garoto moreno levantou em um sobressalto ofegante. Seus olhos pareciam agitados o que apenas piorou quando ele começou a olhar em todas as direções em aparente confusão.

O mais surpreendente de tudo era a forma diferente que ambos eram tratados. Enquanto o guarda dormia na cama gigantesca com vários equipamentos ligados ao seu corpo, o outro dormia em uma cama improvisada em uma maca em um canto distante da sala. E quando me virei com um olhar acusando toda aquela injustiça, Maya apenas fez uma cara de inocente e disse.

– Que foi? Mike é meu subordinado, não posso deixa-lo morrer, mas esse ai. - Ela disse apontando para o outro garoto. - Não tenho responsabilidade sobre ele. Não posso fazer nada, e nem tenho obrigação.

Ao ouvir aquelas palavras me irritei o bastante para levantar a mão para Maya e pretendia atingir seu rosto, infelizmente Claus interveio.

– Acalme-se senhorita Lucina. Está tudo bem, mas nesta área não temos mais quartos disponíveis. E por favor, não ligue para ela. - Claus disse apontando discretamente para Maya que apenas virou o rosto e passou a encarar o teto. - Apesar de não admitir ela está tão preocupada com aquele garoto quanto com seu subordinado.

E não podia negar que poderia ser verdade dado a conversa que havia escutado. Então me contive e recuei alguns passos e passei a encarar aquele garoto que acabara de acordar e parecia mais confuso a cada segundo, felizmente havia se acalmado.

– Claus, transfira-o ao meu quarto. - Disse sem pensar e antes que Claus ou Maya pudessem protestar continuei. - Como não há mais quartos disponíveis, leve-o para lá. - completei firmemente fazendo um silêncio perdurar por alguns segundos.

Ao terminar de falar o garoto pareceu surpreso e abriu a boca e tornou a fechar, abrindo novamente alguns segundos depois.

– Seu quarto? Eer... Eu não... Você? Eer... Não poderia... - Ele dizia totalmente confuso e aparentemente envergonhado. E sem saber o motivo deu um passo para frente e ouvi uma risada feminina vinda de minhas costas.

– Hahaha, muito bom garota, vejo que já é uma mulher... E bem ousada se posso dizer. - Ela disse rindo muito, quase gargalhando enquanto chegava perto de mim e colocava sua mão em meu ombro e sussurrando algo com uma malícia e ironia em sua voz. - Quer uma noite agitada, certo?

Aparentemente ela falou alto o suficiente para que o garoto também escutasse, e quando olhei em sua direção nossos olhares se encontraram e pela primeira vez vi olhos como aqueles. Olhos prateados e tão reluzentes quanto às pratas mais polidas do mundo, um rosto suave e extremamente vermelho de vergonha, apesar da pele morena. E só então notei a confusão que havia feito e não pude evitar enrubescer também e ambos desviando o olhar para paredes distintas.

– Que... Quê vocês pensam? C-claro que não sugeri algo assim, eu irei para o quarto dos meus pais então não terá problemas. - Gaguejei ainda envergonhada pela confusão. - Isso é apenas para mostrar minha generosidade, ou seja, aproveite a generosidade de Lucina Lichwut, ouviu bem? - Disse tentando o máximo possível não vacilar na voz e nas palavras causando outro mal entendido.

– Lu-Lucina? - Gaguejou o garoto como se estivesse aprendendo a falar. - Prazer, meu nome é Eric. Eric Kuroyuki. - Apresentou-se por fim.

Depois disso um longo silêncio ecoou no quarto que foi quebrado por um espirro.

– Mike? - Disse Maya se virando e levando a atenção de todos para a cama principal. - Por. Quanto. Tempo. Pretende. Dormir!! - gritou puxando as cobertas e fazendo com ele resmungasse algo.

– 5 minutos... Só mais 5 minutos. - Ele respondeu tateando a cama a procura das cobertas que já estavam dobradas nas mãos de Maya que pulou pra cima dele colocando o cobertor dobrado em seu rosto.

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– Durma por 5 eternidades, seu inútil! - Ela disse e depois gritou pois faíscas começaram a flutuar acima da cama e o cabelo liso de Maya começava a se eriçar e então ela colocou uma mão na parede e logo toda a estática fora absorvida por ela e direcionada ao chão, pois ela era uma Elemental da terra.

– Mike... - Ela disse usando uma voz demoníaca e rouca assustando todos os presentes e fazendo finalmente Mike abrir os olhos. - Você sabe sua punição não é mesmo?

– Punição.... Hã? Maya?! - exclamou quando finalmente pareceu despertar e notar a situação. - ei, ei... Vamos, não tive... - Mas desistiu da ideia antes de completar a frase.

Sem mais motivos para me manter ali, sai da sala extremamente chateada e frustrada com toda a situação e com o rosto quente e o coração acelerado por algum motivo. Mas enquanto saía notei uma briga de Maya e Mike enquanto Claus ajudava Eric a se levantar e o guiar ao meu quarto enquanto me dirigia ao quarto de meus pais para dormir. Mas não antes de ouvir um grito de aviso.

– Claus, vigiem esses dois para não se encontrarem as escondidas, ok? - disse rindo.

Não consegui conter minha raiva e bati a porta do quarto com toda minha força e me joguei na cama adormecendo rapidamente devido ao cansaço e ao estresse do dia.

Apesar de não saber do que se tratava, não conseguia deixar de ter uma estranha sensação em relação aquele garoto chamado Eric.