Era terça-feira, o céu estava claro e o calor torrava a cabeça loira de Jason, que praguejou baixo e ajeitou os óculos de sol. Tinha que ter ido a pé para a casa de Percy, claro.

Mas também, bendita hora que concordou em ajuda-lo com a tarefa de recuperação.

— Jason, que bom que veio. – Sally disse ao abrir a porta do apartamento. — Você não sabe como é difícil tentar fazê-lo se concentrar no trabalho – reclamou.

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— Ah, eu sei sim. – Riu e entrou, deixando os chinelos perto da porta. Quase gemeu quando sentiu o chão gelado. — Ele tá no quarto?

— Provavelmente pegou no sono. – Sorriu. — Vou preparar algo frio para comermos. – E seguiu em direção à cozinha.

Jason, que já se sentia em casa, foi para o quarto do amigo e abriu a porta devagarzinho, acabando por ouvir a conversa que o outro estava tendo por telefone, deitado em sua cama.

— Eu sei que você sente a minha falta. – Riu. — Não negue! – Fez uma pausa. — Eu sinto a sua – sussurrou carinhosamente. — Eu ainda não disse isso, mas te–

— Que lindo. – Jason cantarolou interrompendo a declaração de Percy, que desligou o celular e escondeu debaixo do travesseiro.

Bro! – Percy sentou-se e Jason gargalhou. — Eu estava no meio de uma coisa importante! – reclamou.

— Eu notei. – Continuou rindo. — Quem é a felizarda? – perguntou mexendo as sobrancelhas de um modo engraçado, se sentando ao lado do amigo.

— Como vão as coisas com Leo? – desviou o assunto.

— Vão normais. – Agora Percy quem riu. — O quê?

— Se você acha que crise de ciúmes é normal. – Jason o olhou questionador. — Eu ouvi Leo falar para o Nico que você deu um show quando soube do tal Will.

— Ainda tá pra nascer pessoa mais fuxiqueira que você, Percy Jackson. – Balançou a cabeça negativamente, incrédulo com aquele mau hábito do outro. — E eu não tive crise de ciúmes.

— Só você e Leo acreditam nisso – debochou.

— Eu vim aqui para botar a fofoca em dia ou para te ajudar com o trabalho?

Gemendo descontente e frustrado, Percy foi pegar os livros e cadernos que precisaria. Jason balançou a cabeça negativamente e começou a ajudar o amigo.

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— Da pra acreditar que ainda estamos no começo das férias? – Percy perguntou após quinze minutos de estudo. — Digo, você. Eu ainda tenho que entregar esse trabalho de inglês.

— Eu tinha esquecido, na verdade. Parece que já estamos na metade. – falou fazendo careta. — Acho que a coisa toda com Leo acabou mexendo com a minha cabeça.

— Quem iria imaginar que sua vida iria mudar em um período tão curto. – Jason o encarou concordando. — Antes das férias você estava com a Reyna e, agora, vai passa-las namorando o Leo.

— Ei, não diga coisas que você não sabe – repreendeu. — Nem eu tenho certeza de que vou acabar gostando dele desse jeito. – Percy soltou um riso sarcástico.

— Claro, porque já gosta. – Jason o acertou com um livro.

— Menos conversa, mais estudo!

Mais uma vez Percy gemeu descontente e frustrado.

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O dia para Jason fora levemente tedioso e muito irritante, já que Percy mais enrolava do que estudava. Haviam dado várias pausas e não continuaram depois que Sally apareceu com o lanche.

— Deus abençoe as mãos santificadas da minha mãe. – Percy disse com a boca cheia de comida azul.

— Está muito bom, Sra. Jackson – elogiou, a mulher agradeceu com um sorriso e se retirou. — Sua mãe não namora, né? – Percy engasgou.

Bro! Que tipo de pergunta é essa?! – reclamou após um acesso de tosse. — Vou dizer para o Valdez que você está de olho na minha mãe.

— Não, não! Que ideia estúpida é essa?! – Jason fez careta. — Eu não estou interessado na sua mãe, bro!

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— Então por que perguntou se ela está saindo com alguém?

— Você não acha que ela ficaria bem com o Sr. Blofis? – perguntou como quem não quer nada.

— Nosso professor de inglês?! – O garoto se jogou no chão dramaticamente. — Você quer me matar, bro!

— Eu acho que ele gosta dela. – Percy gemeu. — Qual é, você não quer que ela seja feliz?

— O que te faz pensar que ela não está feliz desse jeito?

— Já notou como ela fica quando alguém cita o Sr. Blofis? Ela gosta dele também – afirmou.

Jason viu que o amigo iria protestar, porém o celular dele começou a tocar, distraindo os dois. Percy se levantou e foi atender fora do quarto.

Enquanto o outro não voltava, o loiro ficou a pensar em como algumas pessoas não conseguiam ver algo que estava na cara. Percy não via que a mãe gostava do professor de inglês, porque ele estava diretamente ligado à situação.

"Que gosta do Leo! Todo mundo já notou isso, até o nosso pai!", a voz de Thalia soou em sua mente.

Talvez com fosse a mesma coisa?

— Nico está convidando a gente para ir à casa da Hazel, ela disse que podemos usar a piscina. – A voz de Percy o impediu de encontrar uma resposta.

— Piscina? – Soou esperançoso. — Isso seria ótimo.

— Então vamos! – Sorriu e correu para pegar uma bermuda.

— Espera, eu tenho um encontro com Leo. – Lembrou.

— Se os dois estiverem, será um encontro.

— Com todo mundo nos olhando? – Percy o olhou com malícia.

— Pretende fazer algo que ninguém pode ver? – Jason corou.

— Vou ligar pra ele – falou emburrado, pegou o celular do amigo e digitou o número do latino.

Não, Percy, eu não sei se o Jason tem uma tatuagem na bunda! – A voz de Leo soava irritada.

— Eu sei que não tenho – respondeu rindo, ouviu Leo dar uma engasgada.

Jason! E-eu... O Percy, e-ele...

Ele é um idiota intrometido, eu sei – zombou.

É. – Riu. Mas por que me ligou?

— Hazel tá chamando todo mundo para dar um mergulho – respondeu. — Como a gente não tem nada planejado, pensei que podíamos ir. Sabe, como um... – Não completou a frase, pois Percy começou a fazer gestos como se estivesse beijando alguém.

Claro, vai ser legal! Que horas?

— Acho que... agora? – Percy assentiu. – É, agora.

Eu só vou poder sair em uma hora, mas nos vemos lá.

— Ok, até mais. Beijos. – Desligou.

Segundos depois notou a forma como se despediu e Percy começou a rir descontroladamente por conta da expressão do amigo. Jason bateu no outro com o travesseiro grunhido envergonhado, até que notou algo no celular do moreno.

— Espera, você tem uma foto do Nico como plano de fundo? – Ergueu o aparelho.

Percy parou de rir e se jogou sobre o loiro, tentando arrancar o objeto da mão dele.

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A casa de Hazel poderia não ser um luxo, mas a piscina no quintal valorizava o lugar. Jason era muito grato por Nico ter feito amizade com ela e a introduzido ao grupo – não que ele estivesse interessado apenas na piscina; a garota era incrível, mas Jason não conseguia pensar em outra coisa que não fosse dar um mergulho naquele momento.

Quando ele e Percy chegaram, Annabeth estava conversando com a mais nova e Frank. O moreno ficara levemente desconfortável com a presença da ex, já a loira pareceu lidar bem com a situação.

Annabeth e Percy haviam namorado por dois anos, era um casal açucarado e que todos viam como "feitos um para o outro". Até que o garoto, no ano anterior, desmanchou o relacionamento. Nenhum dos dois falou sobre o motivo na época e também não falavam agora.

— Que bom que vieram. – Hazel se aproximou e os cumprimentou sorridente. — Nico já está chegando, e Leo?

— Ele vai vir mais tarde, ainda tá trabalhando. – Jason explicou.

— Você sabia que eles estão quase namorando? – Percy falou alto suficiente para todo mundo ouvir.

Hazel tentou não parecer chocada, mas ficará claramente constrangida. Frank se aproximou curioso e pedindo mais detalhes, enquanto Annabeth fechou a cara.

— Isso não é verdade! – protestou sem graça. — Ele me pediu uma chance e eu resolvi dar, isso não quer dizer que eu vá namorar com ele.

— Eu não sabia que você gostava de... Caras. – Hazel mordeu o lábio inferior, nunca sabia lidar com esse tipo de coisa.

— Eu não gosto! – respondeu prontamente.

— Então porque aceitou sair com ele? – perguntou Frank, genuinamente curioso.

— Sei lá! Ele é o... Leo, entende? – O chinês riu com a resposta, balançando a cabeça como se tivesse entendido o que ele queria dizer.

— Realmente espero que de tudo certo. – Hazel o segurou pela mão. — Leo é um ótimo garoto, e vocês ficam... Bem, juntos.

Percy e Frank riram da cara de Jason, que não sabia se agradecia ou negava a afirmação da negra.

— Piper disse que está chegando e que encontrou Nico no caminho. – A voz de Annabeth soou pela primeira vez.

— Ótimo, vamos nadar! – Percy animou-se.

O moreno correu para a piscina, arrancando a camiseta e o sapato no processo, e saltou na água. Frank foi logo atrás, enquanto Hazel – mais contida – riu e seguiu os amigos.

— Ei, Annabeth, tudo bem? – Jason estava curioso em saber o motivo da expressão fechada da loira.

— Você se recuperou bem do término com a Reyna. – Ela respondeu secamente. Jason abriu a boca para dizer algo, mas ela o cortou: — Não quero saber, Grace. – E se afastou, entrando na casa.

Pouco depois, Nico e Piper chegaram. A garota, que reclamava do sol e do calor, mal o cumprimentou e já se jogou na piscina.

— E o Valdez? – Nico perguntou, ficando ao lado do primo que apenas via a bagunça dos amigos na água.

— Vai chegar mais tarde. – Riu vendo Piper desafiar Percy para ver que ficava mais tempo debaixo d'água.

— Ele me contou o que aconteceu com o Will. – Sorriu de lado, algo que incomodou o outro.

— Percy me disse. – Fez careta. — Não estava com ciúmes, só para você saber.

Nico apenas assentiu, não querendo contradizer.

— Você deve ter sido um peixe na vida passada, Jackson! – Piper gritou, vendo o moreno emergir um bom tempo depois dela.

— Eu sou filho deus dos mares, McLean! – brincou e voltou a mergulhar.

— Vocês dois não vão entrar? – Hazel perguntou, saindo da piscina para cumprimentar Nico.

— Eu ainda tô digerindo o que comi na casa do Percy. – Jason respondeu.

— Eu só vim porque você pediu. – Nico disse, enfiando as mãos na bermuda escura que vestia e fazendo pouco caso.

— Tira pelo menos essa camiseta, Nico – pediu. — Passo mal só de te ver todo de preto nesse calor.

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O garoto deu de ombros, mas não tirou a roupa. Já a garota, voltou para a piscina e cochichando algo para Percy, que se virou na direção dos dois e sorriu.

— Nico! – gritou saindo da água. — Que tal dar um abraço no seu amigo?

— Se tem amor à vida, nem pense nisso, Jackson! – ameaçou vendo o outro se aproximar.

— Não seja chato, Niquito – cantarolou, pulando sobre o menor antes que ele tivesse tempo de fugir.

O mais novo grunhiu e reclamou sobre estar sendo molhado, Percy se esfregou mais nele. Annabeth voltou a tempo de ver quando o ex pegou Nico nos braços e correu para a piscina com ele, fazendo todo mundo rir.

— Jason, Annabeth! Venham, a água tá ótima! – Piper berrou, começando uma lutinha com Frank, que era quase o dobro dela.

Morrendo de vontade de participar da festa, Jason tirou a camiseta e foi mergulhar.

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Como não podia deixar de ser, Leo chegou fazendo uma entrada escandalosa e cheia de pose.

— Eu sei que sentiram minha falta, mas o Grande Leo chegou! – Bateu no próprio peito.

— Ainda falta meio metro só para você ser considerado pequeno! – Frank tirou sarro, estava sentado na borda da piscina com Hazel ao seu lado.

— Agora terei um competidor à altura! – Percy comemorou. — Venha Valdez, vamos ensinar a esses otários, o que são saltos de verdade!

Sem perder tempo, Leo saltou – de roupa e tudo – na piscina com tamanha força que espirrou água em todos.

— Mas é um babaca! – Percy pegou um chinelo que estava boiando em jogou em Leo.

O latino riu alto, tirou a camisa molhada e a atirou contra Hazel, que foi pendura-la na lavanderia junto com a de Nico.

— Não vai cumprimentar seu boy? – Piper perguntou cheia de malícia, apontando descaradamente para Jason, que estava escorado em uma das bordas.

Leo nadou de costas até o loiro, batendo com a cabeça na barriga dele e sorrindo grande.

— Eai. – Jason cumprimentou olhando para baixo.

— Beleza? – O loiro sorriu e assentiu, Leo ficou de pé. – Hazel, sua piscina é muito funda – falou vendo que não conseguia tocar o azulejo sem ficar com água até o queixo.

— Você que é baixo, Valdez. – Nico zombou. O garoto estava fora da piscina, sentado em uma cadeira ao lado de Annabeth.

— Olha quem fala! – Jogou água contra o mais novo.

— Alguém mais está com fome? – Frank perguntou acariciando a própria barriga.

Uma enxurrada de confirmações deixou claro que todos estavam. Hazel se levantou dizendo que sua mãe havia deixado muitas coisas para comerem.

— Eu vou ficar mais um pouco aqui. – Leo avisou ao ver que todos estavam saindo da piscina.

— Vai ficar sozinho? – Piper o olhou com uma das sobrancelhas erguidas.

— Eu fico com ele. – Jason se prontificou. — Não tô com tanta fome.

Sorrindo, Piper assentiu e foi para dentro da casa deixando os dois sozinhos.

— Você não precisa fazer isso. – Jason, que havia se sentado na borda, revirou os olhos.

— Nunca ouviu dizer que crianças só podem ficar em piscinas com a supervisão de um responsável? – brincou.

— E o Sr. Grace se acha super responsável, não é mesmo? – Riu, mergulhou e emergiu soltando água pela boca. — Provando que será o pediatra mais cuidadoso e brilhante dos Estados Unidos.

— É, eu não sei se vou continuar com essa ideia – falou um pouco desapontado.

— Tá brincando?! – Parou de fazer graça na água e encarou o loiro. — Não é uma "ideia", é seu sonho!

— Meu pai tá fazendo pressão, dizendo que eu terei que assumir a empresa dele. – Leo riu zombeteiro.

— E desde quando você deve alguma coisa àquele homem?

— Desde que ele disse que não ajudaria com nem um centavo.

Jason olhou para as próprias mãos, brincando com os dedos nervosamente. Leo saiu da água e sentou ao lado do amigo.

— E? Thalia faz faculdade, está quase se formando em design e não precisou de um tostão do pai de vocês.

— Eu não sou a minha irmã. – Fez careta. — Não sei se eu iria conseguir me manter estável com essa jornada.

— E vai desistir antes de tentar?! – perguntou irritado com a postura do outro. — Você não é assim Jason!

— Quem disse?! – Revoltou-se. — Você e Thalia têm muitas expectativas, eu tenho o direito de desistir das coisas.

— Olha que coisa mais ridícula você acabou de dizer. – Leo falou inconformado, o que fez Jason se sentir um idiota. — Você é inteligente e cheio de oportunidades, Jason, qual é! Não esperamos de você mais do que sabemos que pode fazer.

O loiro se remexeu desconfortável pela cena dramática que fizera. Claro que Leo tinha razão, ele não era o tipo de pessoa que desistia de algo só porque o pai disse que não era possível.

Ele nem se importava com o que o pai achava!

— Além disso, eu vou estar sempre aqui para te ajudar. – Empurrou o mais alto de leve com o ombro.

— Eu sei – sussurrou e olhou para o amigo.

O encarou como se estivesse notando Leo pela primeira vez. Alguma coisa estava diferente no amigo, tinha certeza disso; algo que fez seu coração dar um salto de felicidade. Talvez fosse porque sabia que poderia sempre contar com ele, para qualquer coisa.

Jason sorriu, sem saber que a única coisa que tinha mudado era ele mesmo.