O dia anterior havia sido perfeito. Jason e os amigos curtiram até a hora em que a mãe de Hazel chegou do trabalho – o bom senso fazendo com que a turma se despedisse e fosse cada um para sua casa. O que era, geralmente, um problema para o loiro, já que vivia com o pai. Porém ele estaria fora durante um bom tempo e isso só melhorava seu humor.

Quando acordou, a felicidade ainda refletia em seus olhos. Tomou um café da manhã reforçado e até cantarolou enquanto tomava banho.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

As férias não poderiam começar melhores.

Pensar naquilo o lembrava de que logo diria adeus à escola. Nunca achou que chegaria ao último ano, porém lá estava ele a um ano de entrar em uma universidade.

"Ninguém espera de você mais do que sabemos que pode fazer."

Aquela frase o fazia sorrir esperançoso. Iria continuar indo atrás de se tornar um médico pediatra, como sempre sonhara, e daria motivos para Leo se orgulhar. E Thalia, acrescentou mentalmente.

Como se houvesse sido invocado, o celular de Jason – que ele havia pegado a caminho da casa de Hazel – começou a tocar. O garoto correu até o quarto para atendê-lo e quando a voz do amigo atingiu seus ouvidos, seu sorriso ficou ainda maior.

Meu tio me deu o dia de folga! – Leo falou animadamente. — O que quer fazer hoje?

Não sei, a verdade é que eu não tava a fim de sair de casa – respondeu enquanto voltava para a sala e deitando no sofá. — Você poderia vir pra cá – sugeriu após ouvir um "ah" desanimado do outro.

Você realmente tem dificuldade em entender que seu pai me detesta. – Riu, a brincadeira fez o loiro se irritar com a lembrança de Thalia explicando o porquê daquele homem não gostar do amigo.

— Ele que se fo–

Opa, parece que estamos de mau humor hoje – interrompeu. Jason suspirou ruidosamente.

— Ele foi viajar, só volta no domingo – explicou depois de se acalmar.

Isso é ótimo! Então daqui a pouco eu estou ai.

— Traga algo pra gente comer – sugeriu, sorrindo para a notável animação de Leo.

Ah, cara! – Gemeu. — Você vai me fazer ir até seu apartamento cheio de sacola? Como é cruel.

Você só não quer gastar seu dinheiro – acusou, rindo quando o outro fez um som como se tivesse sido pego no flagra. — Tudo bem, a gente pede alguma coisa depois.

Eu posso levar meus jogos e alguns DVDs.

— Isso seria perfeito – concordou. — Então nos vemos mais daqui a pouco? Vou avisar o porteiro.

Tudo bem, até mais. – E desligou.

Jason olhou a hora no celular e calculou que teria uma hora para se arrumar e dar um ajeitada no apartamento. A primeira coisa que fez, então, foi trocar o pijama que havia vestido de volta depois do banho.

De camiseta roxa, bermuda e chinelo ele se pôs a arrumar a casa. Não estava uma zona, mas essa tarefa sempre despertará o lado preguiçoso do loiro; que voltou a se deitar no sofá para esperar o amigo chegar, após falar ao porteiro que Leo Valdez estava chegando.

Por algum motivo que nunca soube, ele era alguém que pegava no sono facilmente e logo que fechou os olhos, viajou para o mundo dos sonhos.

Ao acordar minutos depois, porém, ele não lembraria com exatidão o que acontecera naquele lugar. Saberia que estava em seu apartamento, que Leo lhe sorria de forma que tirou seu fôlego e teria a vaga sensação de ter tido algo entre seus braços, assim como um suave toque em seus lábios que lhe enchia o peito de calor.

O som de alguém batendo na porta fora o que o despertou, espreguiçando-se e caminhando descalço, ele foi abri-la.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Chegou rápido – falou olhando para o amigo, que tirava o tênis ficando apenas com as meias de cores diferentes.

— Você dormiu – afirmou rindo, conhecia o loiro bem demais para saber que aquela cara de paisagem era fruto do sono. — Trouxe os jogos e a sexta temporada de Friends.

— Oh, Valdez, você realmente sabe do que eu gosto. – Sorriu, já tirando a pequena sacola das mãos do mais baixo. — Você quer fazer o que primeiro?

— Te dar uma surra no Mortal Kombat e fazer você chorar no colo da sua irmã! – zombou já indo para a sala e ligando o vídeo game.

— Você já está me devendo vinte dólares, disse a mesma coisa e eu te quebrei inteiro no jogo. – Jason lembrou enquanto se sentava no sofá e pegava o controle que lhe era estendido.

— Andei treinando com o Percy e o Nico – explicou sentando-se ao lado do outro.

— Nico?! – Riu. — Ele é bom em jogos de cartas e... LOL? Dota? Sei lá qual ele joga, mas em Mortal Kombat e outros, ele é um lixo!

— Cala a boca e escolhe logo com quem você vai jogar – reclamou.

Ainda rindo, Jason selecionou o personagem e os dois começaram a se divertir.

O loiro movimentava os dedos ordenadamente, repassando em mente os comandos para cada golpe. Já Leo apertava os botões com mais agilidade, porém mal se lembrando das combinações.

— O que dizia, Valdez? – Jason pulou do sofá e apontou para a TV, que indicava a vitória dele.

— Estou apenas me aquecendo! – avisou. – Aposto dez dólares que consigo vencer a próxima.

— Adoro arrancar dinheiro de você. – Riu voltando a se sentar, o empurrando de leve com o ombro.

— Ria enquanto pode, Grace – ameaçou sorrindo.

Os garotos voltaram a competir, Leo olhava de vez em quando para as mãos de Jason tentando imita-lo. O mais alto ria, sabendo que teria outra vitória fácil pela falta de concentração do outro.

Vendo que não teria jeito, o latino começou a cutucar a perna do amigo com o pé. Não tendo muito resultado, se pôs a empurra-lo com o ombro.

— Isso é jogo sujo! – Jason reclamou franzindo o cenho, mas não tirando os olhos do jogo.

Isso é jogo sujo – imitou de um jeito caricato.

Em resposta, o mais alto começou a revidar. Logo os dois quase não prestavam atenção na TV, concentrados demais em atrapalhar um ao outro. Dizer que aquilo era divertido seria menosprezar o que sentia quando estava com Leo. Aos poucos, tudo o que ouvira de Thalia começava a se encaixar em sua mente.

Sair com Leo realmente era muito bom, não muito diferente do que sempre fora, mas no fundo sabia que as coisas começavam a ganhar um novo significado.

— Contemple a ascensão do rei Leo! – Ele gritou ao final da luta. — Ajoelhe-se perante a minha imagem, jovem guerreiro! – dramatizou fazendo pose, de frente para o loiro que revirava os olhos.

— Um rei trapaceiro – rebateu. — Sabe que nunca iria ganhar se não tivesse me atrapalhado.

— Cala a boca e me dê o dinheiro. – Sorriu e se jogou no sofá.

— Vá sonhando, você estava me devendo vinte!

Leo fez careta, se remexeu desconfortável e coçou o queixo como se pensasse no assunto.

— Te devo dez, então? – concluiu incerto.

— Agora estamos em acordo. – Balançou a cabeça concordando. — Mais uma partida? Vou pegar leve. – Sorriu zombeteiro.

— Você sabe como me conquistar – brincou.

Jason corou levemente com a frase solta pelo amigo, mas ao contrário das outras vezes, ele não sentiu nenhum tipo de desconforto ao ouvi-la.

Π

Os dois ficaram um bom tempo jogando, rindo juntos e tirando sarro da cara um do outro – principalmente quando Leo se assustou com um jogo de zumbis. O clima entre eles estava tão bom, que o tempo voou.

— Um alien quer sair da minha barriga, Jay! – Leo choramingou, estava deitado com as pernas sobre o encosto do sofá e a cabeça pendendo para fora do assento.

— Eu ouvi. – Riu sentado no chão, ao lado do amigo. — Barulhento igual a você.

— Estou sem forças para revidar, mas esse seu insulto irá custar caro – ameaçou.

— Vou pedir algo para comermos – disse. — Só me deixe terminar esse jogo.

O mais baixo gemeu concordando, fechou os olhos e se manteve quieto. Enquanto isso, Jason encarava a tela grande a sua frente concentrado.

Ao concluir o que fazia se levantou e desligou o vídeo game. Espreguiçou-se gostosamente e virou-se para ver o amigo ainda de olhos fechados e o rosto tranquilo, livre dos cachos que algumas vezes o escondiam. Silenciosamente, se aproximou e agachou de frente para Leo, que parecia dormir. Os olhos claros percorreram aquela face com muita atenção.

Então a sensação que teve ao acordar voltou, o fazendo engolir em seco quando os lábios do amigo entraram em seu campo de visão.

Eles eram finos e nada chamativos; não pareciam macios como os de uma garota. Estavam um pouco rachados e com um ponto avermelhado, onde Leo deveria ter tirado uma pelinha – mau hábito que sempre tivera. O que sentiria se os tocasse?

Jason não notou que a própria respiração ficara mais lenta, como se estivesse com medo de que ela acordasse o outro. Apoiou as mãos no sofá, pois quase perdera o equilíbrio ao se curvar um pouco para frente.

Ele não queria pensar no que estava quase fazendo; no que queria fazer. Porém, uma voz sussurrada soou em sua mente quando ele estava próximo à boca do amigo.

Tem certeza disso?

Uma simples pergunta que o fez mudar de direção no último minuto e beijar a testa de Leo, se levantando e indo para a cozinha logo em seguida ignorando o coração acelerado e as mãos frias de nervosismo.

Escorado à ilha de mármore frio, Jason deu um tempo para se acalmar e colocar a cabeça no lugar; havia quase beijado o amigo e aquilo o assustava um pouco. Após voltar a pensar racionalmente, admitia para si que algo estava diferente, mas ainda era teimoso demais para dar o braço a torcer.

Querendo esquecer aquilo, pelo menos por alguns instantes, o loiro voltou para sala e pediu comida chinesa. Acordou Leo e colocou o DVD de Friends para rodar, sabendo que aqueles personagens iriam distraí-lo.

— Eu acho que o melhor casal da série é Mondler. – Leo comentou pouco depois de o episódio começar. — Eles começaram como amigos e acabam ficando juntos, mostrando que um bom relacionamento precisa dessa base consistente que a amizade traz.

Ou não, pensou sentido a face esquentar.

Jason se manteve em silêncio, ignorando a impressão que teve de ter sido uma indireta, e tentou prestar atenção no programa.

Entre risadas e yakisoba, a tarde se transformou em noite que virou madrugada. Ambos só notando isso quando o tio de Leo ligou preocupado.

— Eu estou com o Jay, não precisava se preocupar – falou. — Eu sei... Eu sei... Sim, tio, eu sei. – Fez uma pausa para ouvir o homem. — Sinto muito, eu me esqueci do tempo. Prometo que não faço mais isso.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Ele tá bravo? – Jason perguntou baixinho, Leo balançou a cabeça negando. — Fala pra ele que você vai dormir aqui, tá muito tarde.

— Jason disse que eu posso dormir aqui – avisou, então ficou quieto apenas concordando com a cabeça. — Boa noite, tio.

— Ele ficou muito preocupado? – indagou após o amigo desligar o celular.

— Sim, mas eu não deveria ter me esquecido do horário – justificou. — Ele pira se passa da meia-noite e eu não dou sinal de vida.

— Você gosta de deixar seu tio pirado? – perguntou brincando, vendo o pequeno sorriso que se formou no rosto do mais baixo.

— Não, mas é legal saber que tem gente que sentiria sua falta caso você sumisse – respondeu encostando a cabeça no assento do sofá. — É errado sentir isso? – Encarou Jason, que negou.

— Eu sei como é, faz com que se sinta especial... Importante – falou, também pousando a cabeça no sofá, o fitando de volta.

— Você sentiria minha falta? – questionou sussurrando, como se não quisesse que o outro ouvisse.

— Mas é claro que sim – respondeu no mesmo tom. — É impossível não sentir, Valdez, você é único.

Leo riu baixo, sem quebrar o contato visual. Jason sentiu a mão do outro se embrenhar por debaixo da dele, entrelaçando os dedos.

— Eu também sentiria a sua. – Jason apenas sorriu de volta, apertando de leve a mão sob a dele.

Naquele momento ele ignorou qualquer tipo de pensamento que aparecesse, focando apenas no calor confortável que lhe aquecia o peito.