O pôr do sol incendiava o céu, um vermelho pintado à fogo iluminava o restante do dia. Meu corpo relaxado pelo banho se deleitava á mercê do prazer. Meus ouvidos focavam-se nos sons: Tanta alegria, confusão, desespero e amor em uma só floresta, fazendo o ambiente tão único e vívido.

Não tenho permissão para reclamar da minha hora, já vi e vivi de tudo! A primeira característica que notei e aprendi ao longo da minha existência é que todos os humanos, sem exceção, adoram um sarcasmo e se refugiam na ironia. A lástima maior é que juram por todos os deuses mais sagrados que sabem usar essas duas piadas tão banais. São como crianças, só que com um vocabulário maior.

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— Em que pensas?

— Nas vozes, nas conversas. Há tanto afeto. Nos meus sentimentos, acho que amo os humanos.

— Phelan também amava seus três lobos, amava tanto que chegou a se considerar o alpha. Um dia em quanto fazia sua refeição, o mais novo pediu um pedaço da carne e o mais velho, notando a audácia do irmão juntou-se ao pedido. O jovem caçador olhou para o seu prato e notou que não teria o suficiente para os seus três filho e decidiu que não daria para ninguém. Os três lobos contrariados com a atitude do seu dono e com fome de carne se revoltaram. No meio da noite enquanto o seu alpha dormia, os três, um por um, entraram no quarto e despedaçaram-no membro por membro, e a cada grito surgia mais gritos. Eles ,que antes era a paixão da vida desse pobre homem, o comeram até não sobrar nenhum osso porque ele não tinha dividido a carne.

— Ele era um simples caçador que subestimou o poder e o amor dos lobos. Eu não sou uma humana, eu sou uma protetora.

— Mas pensas e falas como estes! Nunca havia visto uma divindade agindo como vós.

— Como disse sou uma divindade, tão imortal como voc...

— Sabes que existe mais de um forma para sermos mortos. Só quero que tenhas cuidado, não te envolvais demasiado.

Sua pele clara, tão representativa dessa raça se fundia à minha. Meu cabelo alaranjado descia por meu torço, envolvendo minhas partes e terminando em meu peito. A grama verde que nos acolhia, pinicava minhas costas e pernas. Deitada assim ao seu lado, me peguei pensando em Phelan — Quem sabe se eu não tivesse pensando mais hoje, não fosse diferente?

O mundo é estranho, uma confusa metamorfose de acontecimentos. Construído em uma grande teia de aranha, todos os fios se conectam em um único destino, o centro, chamado vida.

— Não sei ao certo, porém acredito que já tenha escutado sobre a bruxa louca?!

— Aquela que fala sozinha e que vive amaldiçoando os deuses e o resto do mundo pela sua perna manca?

— Acredito que sim...

— Os espíritos vivem me perturbando e reclamando sobre ela. — revirei os olhos, só de pensar naquelas duas. Já me cansava. Sempre reclamando...

— Ela está próxima. Podes ouvir-la?

—Sim, sim... Sabe, cheguei a conhecer a mãe dela, digo pessoalmente. Uma entre poucos que permiti que se aproximasse de mim.

— Então dizes que ela já a viu? — Ele as suas pupilas dilataram-se de espanto, um olho ficou um pouco mais arregalado do que o outro, deixando-lhe com uma aparência cômica.

— Ela? Não, não... Somente a mãe.

Um pequeno gatinho, gordo e peludo, veio em minha direção. Seus olhos violetas me encaravam presunçosamente. Com a minha mão direita fiz-lhe um cafuné em seu tórax, o que fez com que ele achasse de direito pular em meu colo. Olha só, que folgado. Com o pequeno animal no meus braços caminhávamos silenciosamente. A cada milha percorrida, mais audível era o timbre da voz dela.

Andando e observando. Taranis com seu corpo esguio e delicado, tinha um andar delicado, porém firme. Ele era veloz e mais apressado, contudo discreto. Até hoje não sei o que sentia.

Em algum lugar soava uma melodia incrível, reduzindo a velocidade dos meus passos. Se olhassem bem, qualquer um seria capaz de ver os deuses, até mesmo à mim. Ninguém realmente enxerga, só vêem. Ao longe avistei criaturas admirando o dono da melodia, não consegui distingui-lo. Segui minha trilha, ao chegar me deparei com a bruxa de pele morena e bochechas gordinhas mais uma vez amaldiçoando o Lear e o Diancecht. Andava de um lado para o outro protestando contra a dor que a sua perna alejada lhe proporcionava.

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— Estas porcarias de ervas não ajudam mais em merda alguma, porcaria de perna. Lear aonde está a sua cura agora? Ta muito ocupado com Diancecht sendo merda nenhuma, aonde já se viu deuses que não conseguem curar a desgraça de uma perna manca?! — andava de um lado por outro colhendo mato e mais mato — Vai Esyllt, vai, sobe, pode ficar subindo na árvore, obrigada mãe! Como já diziam: praga de mãe é pior que praga de feiticeiro. Eu sei que vocês estão rindo, suas lástimas chamadas deuses.

Esyllt abaixou-se e colheu mais algumas ervas, de formatos e cheiros variados, logo depois jogando-as dentro de um minúsculo caldeirão situado em cima de uma fogueira improvisada. O gatinho que até aí não havia se pronunciado miou e pulou do meu colo, seguindo o caminho até a sua dona.

— Olwen, você finalmente resolveu aparecer, né!? Por onde passeava?— A gata, que pelo visto era ela, aninhou-se aos pés da bruxinha.

Quando o caldeirão começou a transmitir um aroma agradável, ela mexeu três vezes e com uma colher provou o caldo. Bebericando duas ou três vezes.

— Argh... — queixou-se — Preciso de mais Boa Noite!. Aonde está aquele desabençoado, metido a nobre? Acha que tem direito de se atrasar porque tem status!

Pegou um cálice e tomou a porção na esperança da dor diminuir. Rasgou o longo vestido em uma linha reta do pé á altura da bunda, mas na lateral. Levantou e apoiou a perna manca na árvore enquanto massageava-a.

Taranis observava toda a cena de longe, com os olhos vidrados de humor e curiosidade.

O soldado e o nobre viam caminhando em direção ao encontro, podia jurar que senti medo e pavor emanando de Trystan.

— Pelo amor dos deuses, Trys! Eu morrendo e você que fica defecando na própria roupa porque vai encontrar com uma bruxa!

— Uma bruxa não, a bruxa! — Sua voz desnivelou — Ah amigo, você que não têm juízo. Bruxas são piores que duendes, elas são belas e tentadoras. E eu já ouvi grandes história sobre ela.

— Então deveria saber que é uma das bruxas mais inteligentes e sáb...

— Exatamente! As pragas lançadas por ela são lendárias.

— Céus Trystan, pare!

— Sério? Sou tão famosa assim?

Esyllt continuava na mesma posição, com as longas pernas a mostra, um tentação como dizia nosso amigo. Seu olho tinha um sorriso secreto de raiva e frustração, e seu ombro se mostrava pela falta de roupa.

Trystan passava mal ao ponto de suar, suas mãos tremiam e seu peito subia e descia rapidamente, esperei o momento que ele sairia correndo.

— Voc.. vo... v... você! Por... Por favor não me rogue pragas! — Ele implorava, nem parecia o garanhão destemido de dias atrás.

—  Eu não sou macumbeira, devia saber que boatos são mentiras inventados por vagabundos taberneiros. — Jogou um olhar de acusação com a ultima palavra e veio de encontro a ele. Quando ela o tocou três coisas aconteceram.

Trystan deu um pulo para trás.

Taranis riu.

E Ducan desmaiou de dor.