What Happens into the Wood?

Flechas e conversas


LEIAM AS NOTAS

O pobre nobre soltou um gemido e seus olhos ficaram sem vida no instante em que sua cabeça foi de encontro ao chão, produzindo um baque. Todas as cabeças se viraram para ele assustadas.

— Ducan! — Trystan balançava o corpo adormecido com desespero, gritando repetidamente o nome sem conseguir pronunciar outra palavra.

A bruxa, mais calma do que o outro, levantou a barra da calça da perna esquerda, e antes o que era apenas um pequeno hematoma tomou a perna por inteiro. Sua batata ficou em um tom escuro. Esyllt começou a mexer em sua bolsa feita de coro com uma grande alça, procurando por ervas que o ajudasse.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Segure a cabeça dele! — ordenou.

— O que você vai dar para ele? — Tristan a encarou desconfiado.

— Se quiser que o seu amigo viva, é melhor só me obedecer, soldado imundo.

Contra vontade e de cara amarrada ele segurou seu amigo. A verdade era que, somente alguns seres podiam curá-lo, não importava o quão boa ela fosse. Nenhuma porção ou reza seria o suficiente. A sua situação já estava ficando como a da mãe. Conseguir um deus seria necessário, porém com um sacrifício que não tenho certeza se estariam dispostos.

Outra forma seria eu ou o Taranis.

— Ele não está respirando, corra, faça algo! Rápido! — exclama Trystan, descontrolado.

— Cala a boca, estou tentando. — Suas mãos mexiam rapidamente na tentativa de criar uma porção para tentar no mínimo melhorar o quadro de seu “paciente”.

A minha compaixão chegou em um nível duvidoso. Não poderia fazer o que estava preste a fazer, porém ele era uma boa pessoa. No entanto não faria muita coisa. Era contra as regras e as leis. Apenas um deus poderia retirar ou curar qualquer doença.

Coloquei o meu manto usual e adentrei o pequeno espaço dentro da floresta. Demorou exatamente 15 segundos para me notarem. Do outro lado, pude observar Taranis me olhando assustado e surpreso. Não podia deixar o jovem morrer ali.

— Não pode ser... — Esyllt disse em surpresa e perplexidade.

Quanto mais me aproximava do corpo flácido mais os dois se afastavam. Trystan arregalou os olhos, sua boca ficou entreaberta. E o espaço faumentava a medida que eu tirava o manto. Com cuidado encostei na perna apodrecida e a analisei. Eu iria receber uma bela bronca pelo meu ato que quebrava o pacto que eles tinham comigo.

Com a energia espiritual comecei a retirar a praga. Sua perna foi voltando ao normal de pouco em pouco, até não se notar diferença alguma de uma para outra. Vagarosamente, Ducan abriu os olhos, me estranhando. Olhou para os lado e ao notar todos os olhares esbugalhados, se assustou. Sua cabeça voltou-se em minha direção e então compreendeu quem eu era. Pronto o trabalho, fui me retirar, seguindo para a sombra. Mas antes que eu sumisse a bruxinha agarrou a minha mão me fazendo parar, impedida de continuar.

— Não pode ser... — ela repetia perplexa e assombrada. — Nunca acreditei que seria possível algum dia lhe ver pessoalmente.

— Sua mãe foi uma grande mulher, diria que uma das poucas pessoas que chamei de... como vocês dizem?... Amiga! Se parece muito com ela, e é tão sábia quanto. — respondo.

— Obrigada, porém tudo que sei se deve a ela. Mas... como falar... minha mãe disse que a cada vez que você aparece para uma pessoa sua essência, melhor, parte dela fica com essa pessoa.

— Ela lhe contou isso?! De certa forma sim.

— Isso não quer dizer quem em um determinado tempo você desaparecerá? — sua expressão era de um leve espanto.

— Não, não é bem assim. Eu precisaria ver muito mais humanos, mas eles precisam não se esquecer de mim, pois se assim o fazem a minha essência volta para o meu corpo.

Sorri com graça e passei a mão pelo seu belo rosto. Ela lembrava tanto a mãe. Um pecado ter morrido tão cedo. Era uma grande amiga.

Os meninos gritaram por ela e então fiquei sozinha na escuridão por alguns segundos antes que o elfo aparecesse.

— Sabes que é bem mais complicado que uma simples “memória”. Ao curá-los a tua essência desaparece mais rapidamente.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Já vivi demais, não tem problema.

— Céus estas falando como eles! Nem ao menos pareces uma protetor...

Uma flecha passou brandindo-nos, e acertou a manga da blusa de Esyllt. Em seguida aconteceu tudo de uma vez.

Mais duas flechas foram disparadas prendendo a bruxa na árvore, uma na outra manga e a terceira pegou de raspão o lado direito da cabeça dela. Do canto mais distante do bosque apareceu uma jovem repleta de fúria e ódio. Em sua cintura havia duas espadas penduradas, um bumerangue, e em suas costas uma aljava repleta de flechas. A morena de olhos azuis, com os cabelos beirando um pouco abaixo da sua cintura, empunhava um arco e uma flecha mirando o coração da bruxa.

Trystan brandiu sua espada, posicionando em frente a bruxa, protegendo-a. Ducan que até os segundos atrás estava meio atormentado pelo súbito apagão despertou-se.

— Saia da minha frente agora ou vou atirar em você!

— Não posso permitir isso, desculpa bela jovem... — o safado dentro do soldado voltou a vida quando visualizou novamente o corpo e o rosto da moça.

— Não estás me checando, certo? Pois se sim terei o prazer de atirar em ti primeiramente. — e esse foi o gatilho para o sorriso cafajeste do guerreiro renascer.

— Não acredito que já arrumou confusão! E ainda com esse sorriso repugnante, seu desgraçado bêbado! — A pequena soldado imperial surgiu dos cantos expelindo rancor e raiva — Sabe que merdas passei pra te encontrar? Você me paga Trystan, seu mulherengo.

Todos viraram em direção a menina. O sorriso de Trystan desapareceu assim como ela apareceu. Ela veio em sua direção e deu um tapa em seu rosto. Em seguida chutou em seus pertences baixos, o fazendo cair de joelhos de dor.

– Sua louc...

– Não me chame de louca, seu imundo, mendigo! — suas mãos agarraram o cabelo dele e puxaram. Em minha opinião era muito mais ciúmes do qualquer outra desculpas que ela arranjasse. — Sabe, eu tive que te caçar em cada canto. Deixe-me lembrá-lo novamente, escória, era para você dividir a guarda comigo. D-I-V-I-D-I-R! e não sumir por semanas.

— Ai, ai, ai sua pestinha você está me machucando! — exclama Trystan ainda no aperto da garota.

— Ah você não tem noção do que eu vou fazer...

Seu olhar varreu o local e parou na bruxa, que os olhava de forma interessada. Jogou sem cuidado o seu parceiro no chão e seguiu caminho até a árvore. Quando começou a puxar a primeira flecha, a jovem morena esquecida até então empunhou novamente o arco puxando a flecha com a corda e soltou... Trystan pegou a flecha antes mesmo de chegar a encostar na Lana. Ele quebrou-a no meio e olhou furioso, encarando-a.

— O que pensa que está fazendo Sabrina? Vai matar todas as bruxas até não sobrarem nenhuma para salvar pessoas doentes? — Lana questionou.

— Se preciso. Quanto tempo eu não vejo a pirralha Lana Bell. Ainda se dispondo das carinhas fofas para as pessoas te protegerem? — rosnou Sabrina.

— Querida, não sou eu que saio por aí mostrando os peitos e a bunda pra conseguir as coisas. Que eu me lembre, quem mesmo te protegeu da última vez?... Ah, é mesmo a carinha fofa aqui.

Os lábios de Sabrina se contraíram, estando irritada com a possibilidade de estar devendo à alguém. Qualquer um com uma boa distinção veria que elas são extremamente semelhantes, o cabelo negro que nem o carvalho, a boca, a pele clara. As únicas diferenças eram os olhos mais azuis de Sabrina comparado ao tom meio acinzentado de Lana. E há também os dois anos de diferença.

A mulher abaixou o arco. Consequentemente, a outra terminou de retirar as flechas. Ducan, que até então permanecia calado e sentado se manifestou.

— O que duendes acabou de acontecer aqui? E qual o seu rancor com as bruxas? Até parece o Trys...

— Ei! Prevenção é diferente de rancor cara. — rebateu Trystan.

— Viu?! É culpa de vocês, deuses imprestáveis. Primeiro um louco supersticioso, depois uma revoltada assassina. — reclama Esyllt.

— Vocês mataram a minha famili... — começa Sabrina, já irritada.

— Epa, epa, epa...! Escuta aqui criança: eu não matei ninguém, consigo nem andar imaginar matar alguém. — Esyllt respondeu com desdém.

— Ela matou? — Ducan perguntou, confuso. Era uma acusação sem fim, deixando os espíritos enfurecidos.

Começou uma bagunça deles brigando e discutindo juntos. Chegou a mexer com o equilíbrio de meus sensíveis ouvidos. Depois de algumas “intervenções” dos espíritos e a noite caindo todos se acalmaram. Juntos fizeram uma fogueira e deitaram em frente ao fogo, cada um em seu canto separados, exceto por Lana Bell e Trytan, que dormiram consideravelmente perto com a desculpa de que ela estava de olho nele.

Esse meu dia foi confuso.