A mais Olimpiana

Respostas


- O-o que?- pisquei várias vezes, até cogitei a ideia de me beliscar, para ver se eu não estava sonhando.

- Sim, você quer se casar comigo?- seu sorriso confiante começou a sumir quando eu balancei a cabeça em descrença. – Não?

- Não!- Eu disse. Ele franziu seu rosto. – Quer dizer, não é isso que eu quero falar. Eu... Eu...

- Você?- Ele inclinou a cabeça e ergueu uma sobrancelha.

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- Eu não sei o que dizer. – coloquei uma mão na testa e me virei, olhando para o rodapé de madeira enquanto pensava.

- Então diga sim. – pude ouvir pela sua voz que ele sorria.

- Eu tenho 15 anos.

- E daí?

- Provavelmente eu vou morrer com 16.

- Mais um motivo para aproveitar enquanto pode. – Ele riu, eu não. – Ah, vamos lá, Aghata. Todo mundo sabe que no mundo olimpiano idade e parentesco são coisas insignificantes, sem importância.

- Importa pra mim.

- Qual é o verdadeiro motivo para você não querer se casar comigo?- sua voz estava séria.

- Não há nenhum. – nunca uma mentira soou tão falsa saindo de mim.

- Eu te conheço bem demais para acreditar nessa mentira.

- Tá. – eu me virei para ele. Sua expressão estava destruída, seus olhos amarelos estavam tristes e brilhantes, suas sobrancelhas franzidas e os cantos de sua boca caídos. Eu era um monstro por pensar duas vezes antes de dizer sim para ele. – Eu aceito. – eu suspirei, um enorme sorriso tomou conta de seu rosto. Suspirei de novo. Nossa, como eu o amava.

- MAS!- levantei um dedo.

- Ah, não, tem um mas. – seus ombros caíram.

- Mas, eu vou mandar aqui. – girei o dedo entre nós dois. – É o seguinte. Eu não vou ser submissa. Eu não vou ser como essas mulheres da mitologia grega tá. Vou ser tipo, Hera. Não, não vou ser corna conformada. Mas olha aqui, Apolo,- apontei um dedo para o seu rosto, ele apenas sorriu. – o senhor me respeite, viu?

Ele apenas sorriu, como se tivesse achando graça do que eu estava falando, me puxou pela cintura e sussurrou no meu ouvido:

- Você fica muito fofa dando sermão.

- Com licença. – uma voz disse atrás de nós. – mas você é aluno desta instituição?

Eu tentei me separar de Apolo, mas ele mostrava certa resistência. Joguei minha cabeça para trás e olhei para quem falava aquilo. Uma freira de braços cruzados olhava carrancuda para o braço de Apolo pressionando minha cintura contra seu corpo.

- Desculpe. – Apolo me soltou e jogou as mãos para cima, em sinal de rendição. – Eu já estou indo embora.

- Pois vá. – ela não se deixou abalar pelo sorriso de Apolo, mas eu vi a resistência em seu rosto.

Ele assentiu com a cabeça para a freira e lhe mandou uma piscadela. Virou-se para mim e me colou seus lábios nos meus antes que eu tivesse tempo de processar a informação.

- Mas garoto!- a freira protestou, batendo nas costas dele.

- Estou quebrando todas as regras hoje. – ele sorriu para mim uma ultima vez e se deixou ser puxado pela freira, que segurava a gola de sua camisa com força porta afora.

Percebi o recado oculto, mas estava cansada demais para pensar no que ele queria dizer.

Abri a porta do quarto com a expressão nas nuvens.

- Que foi? Algum garoto olhou para você?- Candy estava sentada na cama da parede, pintando suas unhas do pé de rosa claro, com os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo e os olhos azuis me reprovando.

- Na verdade, ele me ped...- percebi que estava quase despejei toda a verdade para ela.

- pediu... - ela ergueu uma sobrancelha para mim, com um sorriso malicioso noslábios.

- Essa cama é a minha. – coloquei as mãos na cintura, mudando de assunto.

- O caramba. – ela fechou o esmalte correndo e se enfiou debaixo da coberta.

- Como você é madura. – me joguei na outra cama de uniforme e tudo, fechei os olhos e me cobri.

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- Ei, Aghata. Nós poderíamos ser amigas.

- Ahá. – levantei o rosto do travesseiro. – Não. – cai.

- Tá. – seu tom parecia magoado.

- Ei, Candy. – Eu chamei depois de uns segundos.

- Que é?

- Gostei do seu pijama. – confessei e caí no sono.

Eu me encontrei admirando uma garota de no máximo 17 anos penteando seus lindos e longos cabelos dourados.

- Minha Rainha, o Rei lhe espera. – uma mulher alta e esquia apareceu na porta. Uma túnica branca caía sobre seus ombros musculosos, mas uma armadura protegia seu tronco. Fiquei horrorizada ao perceber que seu seio direito não existia, provavelmente fora cortado.

- Já vou, Esileia. Diga ao meu marido que logo irei a seu encontro. – fiquei atônita quando senti a voz saindo da minha garganta, mesmo sem eu sequer ter pensado isso.

A serva fez uma mesura e saiu de vista. Voltei a contemplar a beleza da menina. Todas as ações do meu corpo não eram ordenadas por mim.

Só então percebi que a garota copiava meus movimentos e sua bela forma estava limitada por uma moldura de bronze. Eu me olhava em um espelho. Sem querer, eu trançava meus cabelos, chegava mais perto do espelho e vasculhava minhas íris azuis como eletricidade.

Olhei ao meu redor. Eu estava em um quarto decorado com cortinas brancas e paredes pintadas com pigmentos arcaicos. Cenas de luta ilustravam as paredes. Corri até a janela. O sol forte se infiltrava pelas cortinas. Uma cidade antiga se estendia até o horizonte. Homens, mulheres e crianças vestidos com armaduras gregas completas treinavam com espadas e escudos. Mulheres em desconfortáveis e longas túnicas estendiam e teciam roupas.

Meus deuses, pensei, eu estou na Antiga Grécia.

Desci apressada a escada do enorme palácio em que eu estava e empurrei com certo esforço a altíssima porta dupla de bronze. Uma longa mesa de jantar estava no centro do salão monumental. Homens e mulheres em leves armaduras de couro aproveitavam o banquete, todos seus olhos curiosos correram para me analisar. Percebi, que assim como Esileia, as mulheres não tinham seio direito.

- Ah, até que enfim. Pensei que teria que pedir aos deuses que lhe tirassem daquele quarto. – um homem gordo e rançoso se levantou no extremo mais distante da mesa, estendendo uma mão na minha direção. – Lhes apresento Minha Rainha, Helena, Filha de Zeus e Leda.

Impossível. Foi tudo que consegui pensar. Uma luz passou pela minha mente. Agora entendia porque as mulheres não tinham um seio, fazia parte do treinamento de guerra daqui, para poderem atirar flechas melhor. Eu estava em Esparta, centenas de anos antes do suposto Cristo, com o ponto de vista da Rainha Espartana, minha meio-irmã e sósia, Helena de Esparta.

Todos inclinaram suas cabeças em sinal de respeito a mim.

- Meu rei – minha voz era musical e entediada, fluindo por todo ambiente. – Menelau.

Mas meus olhos voaram pela longa mesa, a procura de alguém mais jovem. Até que eu o vi e tive que conter o sorriso, ele era lindo. Isso na mente da Rainha. Na minha, ele era repugnante. Seus cachos negros caíam em seu rosto oleoso, pingando suor. Um sorriso torto e feio dominou seu rosto desfigurado por uma cicatriz de guerra, dentes amarelos e quebrados a mostra. Os produtores do filme Tróia haviam sido realmente generosos ao escalar Orlando Bloom para interpretá-lo.

- Helena, cumprimente os príncipes de Tróia, Heitor e Páris.

Antes que eu pudesse começar a fritar e correr até Heitor, meu herói preferido, e beijá-lo como uma fã enlouquecida, a cena mudou. Agora eu estava em um lugar alto, com o vento batendo em meu rosto e jogando cachos negros nos meus olhos. Eu olhava para uma cidade muito parecida com Esparta, mas quase não se via mulheres caminhando por ali, somente homens treinavam com espadas e arcos. A enorme cidade era envolta por gigantes muros. Tróia.

- Kassandra, é melhor irmos logo. – uma menina da minha idade com cabelos lisos e escuros como a noite disse ao meu lado, seus enormes olhos de avelã me suplicavam. – Olhe. – ela apontou para um castelo no canto da cidade. Vi pequenas figuras em armaduras saindo da porta principal. – eles estão vindo atrás de nós.

- Acalme-se, Andrômaca. – assim que me ouvi dizendo aquilo, queria pular no pescoço da bela garota. Ela era a esposa de Heitor. – Aliás, eu moro no Templo de Apolo agora, não devo temer. Nem você, veio apenas me visitar.

- Você pode ser sacerdotisa agora, mas ainda é uma princesa de Tróia, assim como eu. Não podemos ficar na vigia das muralhas, logo o protetor dos limites troianos nos delatará para Príamo. Você sabe como seu pai... - Ela continuou tagarelando, mas eu já não escutava.

Uma sombra me engoliu, meus ouvidos ficaram surdos, meus olhos correram para o mar azul que se estendia a minha frente. A imagem tremeluziu. O mar já não era mais azul, e sim negro de velas de barcos gregos.

- Os gregos. – a voz que saiu da minha boca parecia sábia e antiga, não era nem minha nem de Kassandra. – Páris. Fogo. Cavalo.

- Kassandra, você está bem?- Andrômaca agarrou meus ombros, me sacudindo. – O que você está falando?

- Helena de Tróia. – a voz que saiu da minha boca era igual a do oráculo.

- Não. Helena de Esparta. Ela é uma rainha espartana.

- O amor que destruirá. Helena de Tróia, a desgraça.

Tudo se apagou, fiquei imersa no escuro, caindo cada vez mais. Sacudia meus braços e pernas, gritava, mas não saía som.

Helena de Tróia não, uma voz antiga e fria correu pelo escuro, me fazendo tremer, Aghata do Ocidente, a desgraça.

- Ai! Acorda.

Senti uma coisa fofa e estofada batendo no meu rosto. Abri os olhos de pressa, ofegando.

- Ai!- reclamei. A almofada rosa em forma de coração de Candy estava jogada no chão ao meu lado.

- Você não acordava. – ela deu um sorriso malvado. Estava em pé perto da porta, olhando para mim com as mãos na cintura. Vestia o uniforme de torcida vermelho da Academia Católica Nossa Senhora (nome infeliz, eu sei) e um tênis branco de torcida, seus cabelos loiros estavam presos em um rabo de cavalo alto e seus olhos azuis rodeados por uma sombra rosa.

- Some, praga. – eu afundei meu rosto no travesseiro, caí de novo na cama, me virei e fiquei olhando para o teto.

- Bem que eu queria. – ela deu um sorriso azedo e foi até a janela. – Mas a treinadora Carson me obrigou a vir aqui e te acordar. – escancarou as cortinas, fazendo o sol entrar no quarto.

- Ah, meus olhos! – gritei com a luz me cegando. – Fecha! Fecha!

- Ela me obrigou a te levar até o campo agora. Aparentemente quer mostrar seu novo brinquedo reluzente para todos. – Candy rolou os olhos, jogando todo seu peso sobre a perna esquerda.

- Obrigada por me chamar de brinquedo reluzente. – me levantei em um pulo, peguei seus ombros e tentei lhe rodar.

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- O que você está fazendo?- ela perguntou assustada.

- Estou tentando ver o número do seu uniforme, se você parasse de se mexer. – um enorme 8 em vermelho com lantejoulas pratas estava estampado nas costas do tecido. – Boa garota. Cadê o meu?- fui até a minha mala, abri-a e agachei na frente dela.

- No pé da sua cama. – ela olhou para o outro lado, evitando mostrar a vergonha de ter perdido para mim. – Arrume-se. Lave esse cabelo. – ela pegou uma mecha do meu cabelo e a levantou, fazendo cara de nojo. Os fios brilharam a luz do sol. – E use maquiagem.

- Pode deixar. Mas rala daqui, volta pro seu treino, diz para a sua treinadora que a Barbie Edição Especial Líder de Torcida está indo. – peguei o uniforme, uma toalha e saí para o banheiro.

- Você é tão metida!- Candy reclamou.

- Huh, você acha que eu não sei?- fechei a porta.

“Que olhos! Que cabelo! Que corpo! Que rosto! Que vadia!” Eu ouvia as outras líderes de torcida cochichando me analisando dos pés à cabeça enquanto eu caminhava até elas.

- Ah, a bela adormecida chegou!- A Treinadora Carson disse com seriedade. – Pensei que nunca viria.

- Desculpe, treinadora, mas ninguém me avisou sobre o horário do treino. Pensei que eu teria aula daqui a – olhei no relógio. – 10 minutos. Aula, não treino.

- Ah, não se preocupe. As primeiras aulas estão livres para você, assim como para todas as minhas meninas. Vocês têm treino todos os dias, às sete e meia. Agora já te explicaram. – todas as garotas começaram a dar risinhos, cochichando coisas como “tomou; Ih, que surra.’’

- Obrigada. – dei um sorriso sarcástico para a treinadora e um olhar mortal e metido para as líderes, que dizia “Quer morrer ou vai continuar rindo?”

- Esse uniforme ficou bárbaro em você. – Carson me analisou.

O treino foi um saco. As meninas continuavam a rir de tudo que eu fazia de errado e eu continuava a lançar um olhar mortal, que as calava em um segundo. Assim que o sinal da escola bateu, avisando que teríamos 10 minutos para ir para a próxima aula, meu coração acelerou. Finalmente a tortura havia acabada. Como eu estava enganada.

A aula pareceu uma tortura ainda maior. A primeira aula do ano: física. A matéria que eu mais odiava em todo o planeta. A minha turma inteira conversava animadamente sobre as férias, todos juntos de seus amigos. Quando eu apareci na porta, todos ficaram me encarando. Um silêncio impregnou a sala. Juro, se olhar tirasse pedaço, eu não existiria mais. Vasculhei a sala rapidamente com os olhos, tentando encontrar um assento seguro. Encontrei um ao lado de Liam no meio da sala. Suspirei de alívio e fui sentar perto dele, dei um oi animado, mas ele sequer olhou na minha cara. Ele devia estar bravo pela situação com Apolo. Não dei muita importância, que se dane.

O professor chegou à sala mandando todos se sentaram. Tive que apertar muito os lábios para não soltar uma gargalhada ali mesmo. Sr. Denner, como ele se apresentou, tinha um cabelo castanho oleoso e repartido no meio, seus óculos eram de fundo de garrafa e ele usava roupas antiquadas e xadrez. Ele parecia tão clichê. Diverti-me a beça o olhando, mas também deixei minha mão pronta em Alexis no meu cabelo.

- Ei, Srta... – ele apontou para mim.

- Fleury. – respondi.

- Sim, Srta. Fleury, você gostaria de se apresentar para a turma aqui na frente?

- Ah, não, obrigada. Acho que você já fez isso.

- Mais uma gracinha e você sai de sala. – e foi assim que meu ano maravilhoso começou. Sendo marcada pelo professor da matéria que mais ferra com a minha vida.

Por causa do meu déficit de atenção e hiperatividade, fiquei quicando na cadeira que mal cabiam minhas pernas. Mal conseguia prestar atenção na aula, pensando que qualquer um ali poderia ser um monstro. O Sr. Denner não era um monstro efetivamente, mas na minha imaginação, ele carregava um tridente e tinha chifres e caldas vermelhas.

Quando a aula acabou... bem, eu não estava em sala de aula. Eu estava na sala de espera para ver o diretor. Deixe-me explicar o motivo. Qual é? Ah, sim. EU SOU UMA SEMIDEUSA! Eu não deveria ficar em sala de aula, sentada em uma cadeira que comprime minhas pernas e escutando um bando de velhas freiras falando sobre Jesus. E exatamente por isso, por ser meio sangue, eu me ferrei.

Eu estava tentando prestar atenção na aula de química, a matéria era fácil e eu já sabia, átomos. Algumas pessoas continuavam a me olhar, mas uma em especial me fuzilava. Era um garoto mais velho que os outros, tão gordo e alto que ficava mais confinado que eu no cubículo que era nosso assento escolar, me encarava como se eu tivesse lhe atirado uma bola de papel na cabeça. Minha primeira conclusão, considerando que meu pai é um deus? MONSTRO! CORRE! Mas eu não podia correr, não podia começar a gritar, empunhar Alexis e lutar contra o gigante, não. Eu só podia ficar ali, esperando que ele me atacasse. Mas eu podia fazer algo mais... quicar na cadeira. Bem, foi o que eu pensei.

- Pare com essa cadeira agora, Srta. Fleury. – uma freira que ensinava Religião me olhou feio. Aparentemente, todas as freiras me olhavam feio. Elas sabiam que eu era ateia.

Mas eu não pude parar. Srta. Clenver avisou outra vez. E dessa vez, foi pior. Os pés da cadeira levantaram uns 6 cm e aterrissaram fazendo um baque que se propagou pela sala inteira. E agora cá estou eu.

Mas por uma sorte que me acompanhava desde meu nascimento, mas que meio que me evitava vez em quando, o Reverendo estava ocupado demais para me receber, de modo que fui chutada para o meu dormitório até a manhã seguinte.

-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAFFE.- me joguei na minha cama, enfiando o rosto no travesseiro.

- Dia ruim?- uma voz disse atrás de mim.

Virei-me em um pulo, com os olhos arregalados.

E ele estava lá, lindo como nunca, escorado na parede do quarto com as mãos no bolso. Vestia uma calça jeans e uma blusa laranja, escrita “Exército do Titã”. Seu sorriso estava calmo, como sempre ficava perto de mim. Seus olhos azuis brilhavam como nunca. Ele parecia mais alto, mais musculoso, mais lindo, mais tudo... mas menos Luke.

- O que você quer?- perguntei com a voz embargada, meus olhos começavam a queimar e meus lábios tremiam.

Eu vinha lutando contra minhas memórias, contra a falta que ele fazia, vinha tentando evitar a tristeza que me inundava quando algo me lembrava um momento que vivi com ele. Mas agora, com ele ali, a minha frente, ao meu alcance, parecia impossível esquecê-lo. E era.

- Eu sinto muito, Aghata, mesmo. – seu rosto parecia afetado quando ele caminhou até mim, parando a minha frente quando eu fiz um sinal com a mão.

- Você não sente, continua ao lado dele.

- Ah, isso?- ele apontou para a camiseta. – uma brincadeirinha nossa com o acampamento meio-sangue. – ele riu.

Eu fiquei apenas o encarando.

- Aghata, olhe...- ele se sentou ao meu lado.

- Não, Luke, olhe você. Olhe para você. Quem é você? “uma brincadeirinha nossa”? Nós quem, Luke? Eles não são sua família.

- Aghata, não é nada disso. – ele pegou minhas mãos, me olhando direto nos olhos.

- Você está demolindo. – eu sussurrei, depois de um tempo nos encarando.

- O quê?

- Minhas proteções. Meus muros. – minha voz não passava de um sussurro fraco. – Eu venho lutando contra isso, venho domando a dor. Mas você está destruindo minhas barreiras, reabrindo minhas feridas. – meus olhos ficaram tão úmidos que eu mal pude enxergar o rosto triste de Luke.

Ele puxou minha cabeça para o seu ombro e passou os braços ao redor do meu corpo.

- Eu sinto tanto. – ele afundou seu rosto nos meus cabelos, parecia estar lutando contra um choro. – você parecia tão bem. Não pensei que vir aqui lhe faria mal. Eu nunca quis te machucar, desculpe.

- O que você está fazendo aqui?- me separei dele e limpei meu rosto.

- Eu vim te buscar. – ele suspirou.

- O QUE? – ergui as sobrancelhas. – Luke, não sou como você. Nunca trairia minha família.

- Eu não estou pedindo que o faça. E é exatamente porque eu não te trairei, que eu vou te levar.

- Quer dizer que você vai me raptar?

- Basicamente. – ele deu de ombros.

- Luke! Eu não vou. E você não pode me obrigar. – me levantei e fiquei olhando para ele com suspeita, disfarçadamente passando a mão no cabelo.

- Não se preocupe, não vai precisar de Alexis agora. Não é agora que eu vou te buscar.

- Me buscar o caramba, você vai me raptar!

- Como você é teimosa. – ele suspirou rolando os olhos. – Senta aí. - puxou meu braço para baixo, de modo que eu caí sentada na cama a centímetros dele.

- Do que você vai me proteger?

- Promete que não conta a ninguém?

- Claro que não!

- Tudo bem. Haverá um ataque ao acampamento.

- O QUE? EU TENHO QUE AVISAR QUÍRON.

- Ah, não se preocupe com isso. Eles já sabem. Enviaram Percy, Annabeth, Grover e um ciclope para o labirinto, que é nossa passagem.

- Espera, eles não me chamaram para a missão?- fiquei perplexa.

- Vamos lá, Aghata, você é claustrofóbica, não agüentaria navegar por um labirinto.

- E daí?- ele apenas rolou os olhos. – Espera, você disse nossa? Você também participará do ataque?

- Não se você vier comigo. Depois, se você quiser, eu te trago em casa. Será daqui a alguns meses.

- Você está marcando o dia em que vai me raptar comigo?

- Não, o dia será surpresa.

Coloquei as mãos no rosto e respirei fundo.

- Aghata, eu sei o que vai dizer, “Tenho que ajudar o acampamento.”. Mas, seja egoísta uma vez, Aghata. Você os ajudou a vida inteira. Não estou pedindo que venha para o lado de Cronos, só quero que me deixe salvá-la, depois você volta para a vida que quiser.

- O ataque será tão ruim?- olhei bem nos olhos dele.

- Haverá poucos sobreviventes.

- Eu não posso ir.

- Não estou pedindo sua permissão. – ele se levantou. – Já quebrei as regras antes, estou quebrando as regras agora, porque não mais uma vez?

- Você já vai. – saiu mais como um lamento que como uma pergunta.

- Você precisa que eu vá.

Fechei os olhos.

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- Adeus, Aghata. – ele se abaixou e deu um beijo na minha testa. – Nos vemos em breve.

- Luke. – eu chamei me levantando com esforço, mal sentia minhas pernas.

- Sim?- ele se virou.

Corri até ele e lhe dei um abraço.

- Eu sinto a sua falta.

- Eu também.

Ele se separou de mim.

- Eu te amo, Aghata. – disse sumiu em névoa.

Caí na cama de novo, pensando no que acontecera. Até que vi um caneco na cabeceira. Abri o caneco. Dentro tinha vitamina de banana, minha bebida preferida. Havia um bilhete embaixo do caneco.

Aqui Dionísio não pode te impedir, não é mesmo?