A mais Olimpiana

Encrencas


- Candy, eu já disse que te odeio?- resmunguei.

- Já, e podia parar. – ela rolou os olhos. - Minha bunda já está ficando dormente. Essas cadeiras da sala de espera podiam ser mais confortáveis.

- Candy, seus pais estão lá dentro nesse momento, conversando sobre nosso mau comportamento e você está preocupada com a sua bunda dormente?

Ela assentiu.

- É, também acho essas cadeiras desconfortáveis. Da outra vez, fiquei um dia inteiro com a bunda latejando. Geralmente as cadeiras da diretoria são mais confortáveis. – concordei.

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- Você geralmente vai muito à diretoria?- ela perguntou.

- Digamos que eu sou a convidada de honra dos diretores.

- Vocês falam demais. – uma voz reclamou na ultima cadeira.

Nico estava esparramado na cadeira, todo de preto e um olho roxo.

- Você não devia estar aqui. – rolei os olhos.

- Não devia mesmo. – Candy concordou.

- Entrem agora. – Uma freira apareceu na sala. – O reverendo vai ter uma conversa com vocês. – vi no sorriso dela que nos daríamos mal.

Marchamos para a sala nervosos, prolongando a tortura. Eu não estava tão nervosa, mas estava triste. Eu seria expulsa. Ficaria sem escola para frequentar em Manhattan. Desapontaria minha mãe novamente.

Abri a porta e espiei lá dentro, congelei no mesmo momento. Em uma cadeira de frente para o diretor estava sentado um homem loiro e bonito, bem parecido com Candy, e na outra um homem meio grisalho, de olhos azuis-elétricos, bem bonito também. Ambos de terno.

- Podem entrar, Srta. Fleury e Zelguer. Seus pais lhe esperam. – chamou o reverendo, vendo a ponta do meu nariz na porta.

Amaldiçoei e entrei, forçando uma expressão séria. Fiquei atrás de Zeus, mantendo certa distância.

- Pai!- Candy correu para abraçá-lo, mas ele lhe lançou um olhar duro, recuando.

- Você me desapontou de novo, Candy.

Os olhos de Candy começaram a brilhar, mas ela não deixou que as lágrimas caíssem.

- Meu pai não veio. – conclui Nico meio triste.

- Eu não o chamei. – disse o reverendo.

- O que?

- Não vi necessidade. Você pode ir embora.

Nico obedeceu cabisbaixo.

- Bom, - o reverendo se virou para nós. – nos contem exatamente o que aconteceu. Eu deixei vocês duas por último, porque foram o motivo da briga.

- Não fomos só nós!- eu protestei.

O reverendo fez um sinal com a mão para que eu parasse.

- Sim, sim. A Srta. Ganji e a Srta. Portlove já foram devidamente castigadas por sua diretora. Agora é a minha vez de castigá-las. Contem-me tudo.

- Bom...- eu comecei. – Nós estávamos no jogo, fazendo nossa coreografia de animação, e ai elas chegaram...

- E chegaram nos olhando feio. – Candy completou.

- E ai, elas começaram a fazer umas coreografias

- Umas bem feias.

- E a capitã, a Vaca Ganji...

- Srta. Fleury!- o reverendo censurou.

- Desculpe. O animal mamífero, ruminante, artiodáctilo, com par de chifres não ramificados, ocos e permanentes, do gênero Bos em que se incluem as espécies domesticadas pelo homem Ganji falou: “Aprendam a fazer uma coreografia de verdade!” E começou a fazer a nossa coreografia!

- A coreografia que nós estávamos ensaiando há dias e não tínhamos mostrado a ninguém!

- Ai ela nos xingou.

- De nomes muito feios.

- E ai eu e Candy falamos para ela com a maior educação: “Sua vaca!” Desculpe, reverendo, quero dizer, “Seu animal mamífero, ruminante, com par de chifres não ramificados, ocos e permanentes, do gênero Bos em que se incluem as espécies domesticadas pelo homem, você roubou nossa coreografia.”

- Ai ela disse: “Vocês já apresentaram essa coreografia em algum jogo?”

- E ai nós ficamos com o cu na mão.

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- SRTA FLEURY!

- Desculpe, ai nós ficamos mal na fita, uma expressão do seu tempo. Porque nós não tínhamos apresentado, estávamos preparando para apresentá-la na Competição Estadual.

- Era uma coreografia do caralho. – Candy concordou.

Seu pai lhe olhou assustado e em seguida olhou para mim, como se eu fosse culpada por sua filha ter falado palavrão.

- E ai nós começamos a discutir.

- Ai os jogadores se meteram também.

- E ai virou aquele caos.

- E é tudo culpa de vocês quatro. – o reverendo conclui.

- HEHE- Candy e eu demos nosso sorriso de desculpa.

- Podem sair, eu vou conversar com os pais de vocês sobre seu castigo.

Nós saímos rapidinho da sala.

- Ah, não. Estamos ferradas. – Candy bateu a cabeça na parede.

- Você nem tanto, já eu vou ser expulsa direto. E o segundo semestre mal começou.

- Seu histórico vai te ferrar, não é?

- Sim. Já aconteceu antes. O reverendo vai conversar com o meu pai, e eles vão chegar a um acordo, mas ai ele vai olhar meu histórico e desfazer o trato.

- Mas você tem ótimas notas.

- Não vai importar muito. – eu me sentei no chão, escorando na parede.

- Seu pai é um gato. – Candy sentou ao meu lado.

- Nunca reparei. – dei de ombros.

- Dã, ele é seu pai.

Eu tive vontade de rir. Ser meu pai não importava muito na minha família, a parte grega pelo menos.

- Eu não convivo muito com ele.

- Pais separados?

- Antes fosse. – eu bufei. – Ele é casado, tem outros filhos e não liga muito pra mim, só quando precisa de mim.

- Então sua mãe foi tipo um caso?- ela sorriu.

- É, você pode classificar assim.

- Qual é o nome dele? Quero dizer, além de Zeus. É Fleury?

Eu não pude conter meu sorriso.

- Zeus Olympus. – inventei o sobrenome mais irônico possível.

- Isso não é tipo, um deus grego?

- Ah, sim. A mãe dele, Réia, era fanática pagã e colocou o nome dele para combinar com o sobrenome dela.

- Ah, está explicado. Que família complicada a sua.

- Você nem imagina.

- Sabe, valeria muito a pena ser expulsa se eu ao menos tivesse tido tempo de tocar em um fio de cabelo preto e sedoso daquela Ganji.

- Nem me diga. – eu suspirei. – Daria tudo pra arrancar fio ruivo por fio ruivo da Portland.

Nós nos olhamos e começamos a rir. Eu e Candy havíamos virado um pouco amigas, mesmo que negássemos com todas as forças. Era inevitável. Nós éramos da mesma turma, da mesma equipe de torcida e do mesmo dormitório.

A porta da sala se abriu. Nós nos levantamos em um pulo e esperamos como soldadinhos.

- Muito obrigado, Reverendo. Foi um prazer negociar com você. – ouvi a voz trovejante de Zeus.

- O prazer foi meu, Sr. Olympus. – a voz do reverendo parecia amedrontada. Meu pai intimidava mesmo.

Ele saiu da sala seguido pelo Sr. Zelguer. Percebi que ele era realmente bonito. Seu corpo era magro e alto, seus olhos elétricos contrastavam com seu cabelo grisalho. Não que ele fosse “gato”, ele era um velho charmoso.

- Aghata, me siga. – ele disse sério e começou a andar para fora do castelo. Eu o segui.

Quando chegamos ao gramado, eu tomei coragem e perguntei:

- E o que você e o Reverendo decidiram quanto a mim?

Ele não pareceu gostar muito da pergunta, pois se virou e me olhou de olhos semicerrados. Não sei se era pelo sol, ou pela reprovação.

- Você foi convidada a se retirar do colégio.

Estava acostumada, já havia escutado essa frase pelo menos 7 vezes na vida. Mas vinda do meu pai, era bem mais assustadora.

- Ah, vou arrumar minhas coisas. – disse meio triste.

- Calma, ainda não. Você poderá continuar até o fim do semestre, mas ano que vem você não poderá voltar para o colégio. Mas caso se meta em encrenca, será expulsa na hora.

- Ano que vem eu não vou estar viva mesmo. – dei de ombros.

- Você me decepciona cada vez mais. – ele me censurou com a voz e o olhar, se virou e foi andando para uma Mercedes. Todas as garotas ficavam olhando para ele e dando risinhos enquanto conversavam, algumas até acenaram, mas ele nem deu atenção. Quando o carro chegou ao horizonte, um raio caiu nele e, ele sumiu completamente, mas só eu percebi isso.

- Ai, Kane, sua mala está derrubando a minha. – Megara reclamou, tentando ajeitar a enorme mala de rodinhas ao gramado da Colina Meio-Sangue.

- Eu ainda não estou vendo o acampamento. – Nico enxugou o suor da testa, olhando para o acampamento.

- Está vendo aquele pinheiro no topo da colina?- apontei.

- Sim.

- Imagine pessoas ali, e você verá o acampamento. Veja através da Névoa.

Ele semicerrou os olhos e olhou para o pinheiro sem piscar, sua expressão começou a suavizar.

- Oh, meus deuses. É uma miragem! Que maravilha, eu vejo água, água, água... – ele começou a caminhar até o acampamento com os braços erguidos.

- Isso, caminhe para Jesus, Nico. – Megara riu.

- Kane, você leva a mala dele. – eu disse.

- Ah, porque eu?!- ele reclamou.

- Porque você é homem. E filho de Hefesto. E não está com nenhuma mala.

- Porque eu já mandei a minha mala, não tenho culpa se sou mais esperto.

-Não temos culpa se nosso pai não é Hefesto e nós não podemos forjar rodinhas que carregam a mala colina acima. – Megara rebateu.

- Ah, vamos lá, Kane. Seja cavalheiro.

- Me dá isso. – ele agarrou a alça da mala de Nico, que já estava no topo da colina, passando pelas barreiras.

Subimos a colina cansados, suando sob o sol escaldante. Quando chegamos, várias campistas nos olharam chocados e correram para avisar Quíron. Enquanto passávamos, pessoas acenavam para nós. Ou apontavam e cochichavam. Por enquanto ainda tinham poucos campistas, mas daqui a um mês isso seria o mesmo de antes.

O acampamento parecia um caos, os poucos campistas de ano inteiro treinavam sem parar, e até alguns de apenas verão também. Eu via o horror nas expressões das pessoas, quando eu passava, elas suspiravam como se eu fosse salvá-las.

Quando passamos em frente à Casa Grande, Quíron nos recebeu de braços abertos.

- Que maravilha vocês estarem aqui! Mas porque tão cedo? Ainda falta um mês para o verão.

- Fomos expulsos do colégio. Todos nós. – respondi, mas continuei olhando ao meu redor. – Quíron, o que está acontecendo?

- É uma pena! O que vocês fizeram?

- Corremos atrás de um Cão Infernal que nos atacou além dos limites do colégio, de noite. – Nico respondeu.

- Quíron, o que está acontecendo aqui?- repeti, franzindo as sobrancelhas.

- Ah. – Quíron suspirou, me ignorando novamente. – Você deve ficar no chalé de Hermes, Nico. E os outros sabem a quais chalés pertencem.

- Quíron, eu estou falando sério. O que está acontecendo aqui?- minha voz estava firme.

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- Bem vindos de volta ao acampamento. – Ele sorriu para os outros.

- Quí...

- Venha comigo, Aghata, eu vou te explicar. – ele sussurrou para mim.

Eu o acompanhei até a sala da Casa Grande. Dionísio estava esparramado em um sofá, comendo uvas. Como sempre.

- Dionísio, acho que devemos contar à Aghata o que está acontecendo no acampamento. – Quíron começou.

- Não acho. – ele sequer olhou para mim, apenas enfiou mais uma uva na boca.

- Escuta aqui, Dionísio, algo está acontecendo com o meu acampamento, e eu não vou deixar pra lá simplesmente. Se vocês não me contarem, eu descubro.

- Então deixe que ela descubra sozinha, Quíron. Afinal, ela é tão esperta. – ele ergueu uma sobrancelha, se levantou e subiu as escadas, me deixando sozinha com Quíron.

- Sente-se. – ele disse, eu o fiz. – Alguns de nossos campistas nos traíram, foram para o exército de Cronos.

- Já? Eles não deveriam manter os espiões até a batalha?- Quíron abaixou a cabeça. – Ah, não!

- Eles estão chamando todos seus espiões para treinar, só restarão 2 ou 3.

- Eles têm um acampamento de treinamento. – eu informei.

- Era o que eu temia. – o centauro assentiu. – Eles mandaram outra patrulha para o labirinto, em poucos meses eles chegam.

- Mas Percy, Annabeth, Grover e o ciclope não conseguiram salvar o labirinto?- franzi o cenho.

- Eu não sei, Aghata. Eles ainda não voltaram. Faz quase 3 semanas. – aquilo foi como um soco no estômago. Eu era a culpada, eu deveria cuidar de Percy, era o que a profecia dizia.

- Eu vou entrar no labirinto. – eu me levantei de uma vez, decidida.

- Usemos o raciocínio: você é claustrofóbica. Não pode viver sem olhar para o céu e o sol. – eu me lembrei desse fato e caí de novo no sofá. – O melhor que temos a fazer é treinar muito, montar estratégias e esperar a batalha do labirinto.

- Quanto tempo?

- Talvez um mês.

- Mas os campistas vão chegar em um mês.

- Eu já estou falando com os pais humanos dos campistas. Eles estarão aqui em até uma semana. Alguns, não temos o habitual. Inclusive sua mãe vai lutar conosco.

-Será épico.

Aghata do Ocidente, a desgraça.