Dois Quartos de Vinho

O príncipe que ligou no dia seguinte


Um forte vento invadiu o quarto, porém ela já se arrepiara bem antes. Precisou afastar seu celular da orelha e conferir se era mesmo Elídio ao telefone, era capaz de esperar qualquer coisa daquela noite menos aquela ligação.

— Lia? Você tá me ouvindo? - a voz do homem arrancou-a de seus devaneios.

— Ah! Oi, estou sim. Aconteceu alguma coisa?

— Deveria ter acontecido?

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— Não sei... por que ligou?

Ele demorou para responder, como se estivesse escolhendo suas próximas palavras.

— Conseguiu terminar os relatórios?

— Me ligou pra isso? - perguntou rindo.

Não, não havia ligado para isso. A verdade era que, apesar da fama, ele continuava sendo o mesmo adolescente tímido da época da escola, divertido, engraçado, simpático, porém inseguro quando o assunto eram as mulheres. Com o crescimento do trio, não precisou mais chegar até uma mulher e conquista-la, normalmente elas iam até ele, deixavam claro o que queriam e ao amanhecer juntavam suas roupas espalhadas pelo quarto e ia embora. Sem conversas posteriores, não costumava ser o príncipe que ligava no dia seguinte.

— Só queria saber de você. Tive que viajar e não nos falamos depois... bem, depois de ontem de manhã. Só queria avisar que já cheguei em São Paulo e que quero te ver.

— Quer mesmo? - Elídio perdeu a bela visão da jovem arqueando apenas uma, grossa e desenhada, sobrancelha enquanto se levantava, ia até o parapeito de sua janela sem se incomodar com o cortante vento que vinha ao seu encontro e, se apoiando nele, dava mais um de seus maliciosos e sugestivos sorrisos.

— É o que mais quero no momento - Respondeu com seu tom mais brejeiro.

Faziam uma bela dupla, os dois sempre entendiam os joguinhos um do outro e, na mesma hora, entravam na brincadeira.

— Se quer tanto me ver por que não vem?

— Não sei se devo. Te ver não é o suficiente.

— E quem disse que vai apenas me ver?

— E o que mais posso fazer?

— Você pode escolher.

— Escolher?

— Sim. Entre seu carro e minha cama - simplesmente respondeu e desligou. Como disse mais cedo a Pedro, as mulheres não costumavam ser descaradas, mas ela não era como as outras e sabia que Elídio havia entendido o recado.

Pelos seus cálculos tinha pouco menos de meia hora para se arrumar e arrumar o quarto. Foi, novamente, tomar um rápido banho, passou um óleo na pele e escolheu a mais vermelha e rendada lingerie, tratou de vestir um belo e delicado robe de tom pastel, passou perfume e tratou de arrumar o cômodo. Pegou o furão em sua gaiola e levou para o quarto da amiga, que ainda não tinha chegado, fechando a porta. As próximas cenas não seriam muito adequadas para crianças.

Estava dando uma última ajeitada em seus cabelos quando o interfone tocou. Correu para atende-lo e logo pode ouvir a voz rouca do porteiro noturno do prédio.

— Alô? É do 118?

— Sim.

— Oh, tem um rapaz aqui que disse que tá te esperando, um tal de Emílio.

— Sim, sim - Emílio, pensou rindo - pede pra esperar que já estou indo. Conferiu no espelho pela última vez como estava e desceu.

Elídio não pode conter um sorriso assim que viu a jovem indo em sua direção, o vento que batia elevava de leve seu robe evidenciando suas coxas. Assistiu com entusiasmo ela desfilar até ele, puxa-lo pelo colarinho e dar-lhe um beijo nem um pouco calmo.

O porteiro tossiu propositalmente, Lia o encarou com um olhar carregado de desprezo, pegou Sanna pelo cós de sua calça e o puxou para dentro do elevador. E quantas noite embebidas de prazer antes de acabarem em camas começaram em elevadores, não é mesmo?

Injusto seria comparar a noite fria com o calor dos dois, com o fogo que tinham, com a vontade que sentiam um do outro. Os últimos encontros haviam deixado marcas e esse não seria diferente. Lia praticamente empurrou Elídio porta adentro de seu apartamento e as cegas chegaram até seu quarto.

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O caminho foi rápido e as luzes estavam apagadas, portanto o homem não conseguiu ver nada do lugar em que estava mas, honestamente, não dava a mínima para isso, estava ocupado demais com outra coisa.

Desfez o laço que prendia o robe da moça e em segundos a peça já estava no chão. Voltou a beija-la com mais vontade e passou a percorrer seu corpo com as mãos e os lábios, parando em seu quadril. Ela se afastou e andou em direção a janela. Elídio admitia que só uma coisa era melhor do que vê-la apenas de lingerie, vê-la sem nada.

— Como foi a turnê?

— Boa. Mas, seria melhor se você estivesse lá - respondeu sentando na cama.

— Eu? - perguntou rindo enquanto se aproximava. Mas ele foi mais rápido e puxou-a para seu colo.

— Prometa pra mim que vai com a gente na próxima - seus olhos fixos nos dela, mesmo que a vontade de olhar para seus seios fosse grande.

— Eu nunca prometo nada.

— Cruel!

Ela se aproximou e começou a beijar seu pescoço enquanto tirava sua camiseta, seus dedos estavam gelados e logo sentiu a pele do Barbixa se arrepiar. Continuou beijando seu pescoço, mas logo começou a descer pelo seu tórax, depositou beijos em sua barriga e parou logo abaixo de seu umbigo.

— O que você quer?

— Me diz você.

Horas depois, Lia acordou com um barulho e percebeu que a porta se abriu. Se levantou, vestiu seu robe e foi até a sala; lá encontrou Aline que acabara de chegar.

— Acordada à essa hora? - a loira perguntou.

— Line, presta atenção no que vou dizer e nada de dar escândalos.

— Ih, o que foi?

— O Elídio tá aqui - Sussurrou.

Aline arregalou os olhos e abriu a boca, mas não disse nada de imediato.

— O-o Elídio? - gaguejou.

— Sim, o Elídio. Desprovido de qualquer roupa e dormindo na minha cama, então, por favor, seja discreta - A outra não respondeu, como poderia? Tudo aquilo parecia surreal demais para ela afinal, Elídio Augusto Sanna estava em sua casa, no quarto ao lado do seu.

Lia apenas sorriu e voltou para seu quarto. Estava deitando na cama quando ouviu um leve sussurro:

— Lia? - o Barbixa perguntou sem abrir os olhos - Lia?

— Sim? - Questionou se aproximando dele, já deitada.

Elídio tateou a cama até encontra-la, subiu a mão até seu rosto e afastou seus negros cabelos para poder acariciar sua pele, abriu um pouco os olhos, com o cabelo bagunçado caído sobre seu rosto e com a voz embargada de sono perguntou:

— Promete que não vai me deixar amanhã de manhã?

Lia sorriu e beijou sua boca.

— Eu nunca prometo nada.

...

A mulher acordou antes do despertador tocar, virou para o outro lado e percebeu que não tinha mais companhia, sorriu, se apressou em levantar e foi correndo para a cozinha para poder dar um beijo em seu delicioso hospede. Porém, não havia mais ninguém no cômodo além de Aline, que tomava café enquanto lia o jornal, ela verificou a sala e até mesmo o banheiro, mas não, Elídio não estava ali.

— Cadê ele? - Perguntou para a amiga sem entender nada.

— O Elídio? Já foi. - Respondeu enquanto tomava mais um gole.

— Já foi?

— Sim, não faz muito tempo. Disse que precisava ir e que você estava tão linda dormindo que não quis te acordar, tomou café comigo e te deixou um beijo.

— Tomou café com você?

— Sim, conversamos um pouco.

— Ah, a minha vida anda confusa demais - lamentou sentando à mesa.

— E você acha que a minha não? Não sei se você sabe, mas eu não costumo receber famosos em casa e muito menos tomar café com eles.

— O que achou dele? - perguntou em tom mais baixo como se tentasse fazer segredo.

— Gostei dele. Na verdade o Elídio é um amor, difícil não se deixar conquistar.

— Pelo jeito conversaram bastante.

— Sim, falamos sobre você.

— Sobre mim? O que conversaram sobre mim?

— Ora, isso minha cara amiga, não lhe diz respeito. - Finalizou com uma risada sarcástica.

...

Os pés de Nathália latejavam e suas costas doíam. Amaldiçoou mentalmente seu par de saltos. Tratou de deixar sua bolsa no canto do quarto e foi tomar um banho morno para poder relaxar antes de poder, enfim, deitar e dormir. Já estava deitada quando resolveu dar uma última checada em suas mensagens e teve uma deliciosa surpresa.

Elídio: Disponível pra um sorvete?

Ela sorriu e se levantou. Ora, mas é claro que ela gostaria de tomar um sorvete.

O humorista a buscou em casa, como na maioria das vezes. O clima estava frio, mas compraram seus sorvetes mesmo assim. Conversaram e riram bastante, se beijaram muito mais, ela se divertiu com as caras e bocas que o outro fazia quando o sorvete sensibilizava seus dentes, mal viu o tempo passar estando com Elídio e percebeu que não tremia mais por estar ao seu lado.

O homem se esforçava para divertir a jovem, para fazê-la rir. Afinal, o que mais tinha a oferecer? Era só mais um cara em meio a tantos outros enquanto ela... Bom, ela não era como as outras e sem dúvida nenhuma merecia mais do que ele tinha para lhe dar.

As horas passaram e antes que ficasse muito tarde, o humorista levou-a de volta para sua casa. Conversaram brevemente no carro enquanto ouviam uma música qualquer, até que ela precisou subir. Saíram juntos e foram caminhando calados até o topo das escadas na portaria.

— Obrigada pela noite - ela beijou seu rosto e ele retribuiu com um forte abraço.

— Sabe que dia é quarta agora?

— Dia três?

— E o que tem de importante nesse dia?

— Nada - retrucou rapidamente.

— Nada?

— Não que me lembre.

Elídio sorriu amargamente e abraçou-a mais forte. Sussurrou em seu ouvido:

— Quarta é meu aniversário.

Ela não disse nada, é claro que sabia do aniversário do humorista. Não passou anos comemorando tal data atoa, para logo agora esquece-la.

— O Max vai me dar uma festa no Mundo do Max e eu quero que você vá. O que acha?

— Eu... eu não sei.

Ele depositou a mão sob o pequeno queixo da jovem e sorriu.

— Por favor, por mim.

Ela riu, virou-se para adentrar o prédio, mas Elídio a segurou.

— Tem mais uma coisa, nesse fim de semana a turnê do Improvável vai ser em Campinas, vem com a gente?

Deu mais um de seus sorrisos e entrou, deixando o Barbixa sem resposta, sem rumo e sem sono.