O céu estava mais do que azul naquele dia, o sol brilhava forte e nele não havia nuvens. Era uma perfeita manhã no verão francês. Um garoto estava parado em seu gramado, esticando-se por cima da cerca para tentar compreender o que acontecia na casa vizinha. Ele ouvira gritos, o som de coisas sendo quebradas e um tiro. Não daqueles disparados por uma arma moderna, com seus geradores de energia com toda certeza menos ruidosos que a arma arcaica disparada. Ele sabia que era de um modelo antigo, os novos eram bem mais silenciosos, não usavam pólvora. O garoto deixou-se vencer pela curiosidade e acessou o sistema de segurança de seu “quartel general” na árvore. Com o computador, invadiu facilmente o sistema de câmeras da casa vizinha. As cenas que ali viu, ficariam marcadas para sempre em sua memória. Viu a garota que morava lá, sua vizinha, apenas alguns anos mais nova que ele próprio, abraçada aos corpos ensanguentados e sem vida de sua mãe e de seu irmão. Ela chorava sem emitir nenhum som, as lágrimas escorriam por seu rosto já vermelho. Ela era a única menina da casa, tinha três irmãos mais velhos. A terceira dos trigêmeos, a princesinha da casa, chorava de uma maneira que ele jamais imaginara ver. Um de seus irmãos estava em pé ao seu lado, chorando silenciosamente.

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Quando eram mais novos, eles costumavam brincar juntos. Os garotos eram rápidos e a garota esperta, razão pela qual ele sempre gostava de ficar junto com ela quando formavam times. Ela entendia seus planos e estratégias, criava novas e executava-os com perfeição impecável.

O garoto chamou a irmã, ela assentiu com a cabeça e levantou-se, os braços pingando aquele sangue que não era seu, as roupas embebidas no sacrifício de sua mãe e irmão. A mãe lhes dissera, pouco antes de morrer, que havia apenas um lugar que os aceitaria pelo que eram, e que era para lá que deveriam ir. Não sabiam onde ficava, como encontra-lo, mas sabiam que lá deviam estar. Não tinham mais casa, não tinham mais família. Tinham um ao outro, isso era o que importava. Saíram dali, pois ali nada mais tinham e rumaram para o desconhecido. Um dia, seus nomes seriam conhecidos, lembrados, e o garoto da casa ao lado, tinha tido o privilégio de ver o início de sua árdua jornada.