Libertos

Sentada próxima a um carro sem rodas no chão imundo, não tinha outra saída a não ser deixar que a chuva me molhasse.

Me sentia tão fraca, tão ridícula.

Ouvi passos de repente entre as pilhas de entulhos. Quem seria? Pensei ao me encolher.

Erick surgiu entre as pilhas , com uma guitarra pendurada no pescoço, cobrindo a cabeça com a jaqueta. Não foi difícil reconhece-lo por seu estilo.

– Puta que pariu! – Erick encarou os portões, não me vendo ali. – Quem foi filho da mãe que trancou?

Naquele momento eu tossi com a chuva. Erick então me percebeu.

– Nós encontramos de novo! – Disse surpreso. – O que faz aqui?

– Estou trancada aqui. – Tossi.

– Então somos dois. – Erick olhou ao seu redor. – Tenho que dar um jeito nisso.

Ele encarou ao redor de novo.

– Perfeito. – ele pegou um extintor de incêndio próximo aos seus pés.

O encarei por um segundo, enquanto ele deixava a jaqueta sobre sua cabeça e a guitarra de lado. Jogou o extintor contra a as correntes, fazendo um barulho estrondoso, e as partindo com sucesso.

– Não posso ficar preso. Nunca. Por nada. – ele sorriu, deixando o extintor de lado e pegando suas coisas.

Então me levantei e seguimos para fora. Abri a porta da picape.

– Esse carro é seu? – perguntou.

– Sim. – respondi, me preparando para ouvir uma piadinha de mau gosto. – Quer uma carona?

– Essa caminhonete é um clássico raro hoje em dia. – Erick a examinou. – Não quero carona, obrigado. Mas aceito sua companhia.

– Entre. – entrei e coloquei as mãos no volante. – Mas tem certeza? Posso te deixar em casa.

– Tenho, não sei onde vou. – ele embarcou.- Te acompanho até em casa.

Liguei o motor, agora estava rumo a minha casa.

– Posso ser sincero? – ele me encarou. – Você não parece bem. Posso ver em seus olhos desde ontem.

– Só ando cansada. – não o encarei.- Então o que estava fazendo lá?

–Estava tentando compor, lugares diferentes me dão inspiração. – Erick encarou sua guitarra. – Sou guitarrista de uma banda de rock.

– Legal. – disse estacionando. – Bem, chegamos.

– Obrigado. Aqui está meu cartão – Erick disse, o entrando-me – Se precisar de alguma coisa, me ligue.