O Garoto que Roubava Canetas

Partindo para o plano B


– Pegou a merda do estojo ? - Ribeiro perguntou baixinho enquanto Neto fazia o trabalho sujo.

– Pera, tô procurando, porra - Neto respondeu.

– Procura rápido, porque parece que a briga lá entre os dois tá meio feia.
Depois de alguns minutos vasculhando a mochila do Pedro e enfrentando aquele bando de papel velho e tralha jogada naquele inferno, houve um resultado:

– Achei!

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Os dois saíram com o estojo e em seguida, correram escadaria abaixo. O percurso demorou um pouco, porque o João quase tropeçou no meio de um absorvente usado ( nojinho). Puta merda, quem em sã consciência deixaria um absorvente na escada !?

– Calma aí, a residência das irmãs fica aberta essa hora. Lá a gente pode se esconder.- Ribeiro disse, puxando Neto para a residência. Quando entraram pela pequena porta que dava para o apartamento das irmãs no colégio ( mais conhecido como a área proibida ) e checaram se não havia ninguém lá, ouviram uma voz conhecida. De lá, eles podiam ver bem a a figura alta e esguia ( Slenderman, só que não ) de um garoto moreno de cachos negros com o melhor amigo loiro, que falava:

– Cara, depois que eu conversei com a Duda, meu estojo sumiu! Foi muito sinistro...- O loiro de olhos claros reclamava com o moreno enquanto andava no corredor. Merda, eram Pedro e seu BFF, João Victor.

– Nossa véi, que tenso.- O cachinhos negros respondeu.

Os dois continuaram andando e conversando, até que pararam em frente a secretaria e entraram finalmente.

– Já foram ? - Ribeiro murmurou.

– Ufa, já - Neto suspirou de alívio - Agora, vamos ver as canetas.

Era a hora da verdade. Assim que nossos heróis abrissem o estojo e vissem as canetas, tudo estaria resolvido. Ribeiro voltaria a desenhar os carinhas do One Direction loucamente durante as aulas e bem, Neto voltaria a fazer absolutamente nada ( ou brigar com o pai, nas horas vagas). Duda não precisaria mais voltar com Pedro e, talvez, até conseguisse recuperar sua caneta da Hello Kitty que ele também tinha roubado. Assim que eles abrissem o zíper daquele maldito estojo, essa história estaria acabada e eu, a narradora diva e maravilhosa que vocês tanto amam, estaria desempregada. Ah, Deus, só de pensar nisso fico chorosa.
Mas, se vocês não perceberam, eu usei o futuro do pretérito, ou seja, é algo que pode ou não acontecer.

– Ué - Neto estava mais confuso que mãe mexendo no Google - Cadê as canetas !?

– Não tão aí ?

– Não tão aqui, não. - Neto afirmou, sacudindo o estojo que nem um doido, ao mesmo tempo em que todo o material do nosso ladrão de canetas caía no chão. - Ribeiro, tem certeza que pegamos o estojo certo ?

– Claro que sim, idiota, ele só tem um!

– É, mas as canetas não tão aqui, não...- Ele reclamou.

– Me deixa ver essa merda desse pedaço de pano.- Ribeiro arrancou o objeto das mãos de Neto com uma brutalidade do caramba e viu que ele estava certo. As canetas não estavam lá.- Mas que filho da puta!

– Ele com certeza deve ter deixado todas em casa. Ele não seria tão burro.- Neto refletiu sobre o assunto.

– Neto - Ribeiro pausou a fala dramaticamente por alguns segundos - Anota o que eu vou dizer agora: Nós vamos pegar essas merdas dessas canetas e acabar com o Pedro!

– Err... Como é que eu vou anotar se a gente tá sem caneta ? - Ele fez questão de ser sarcástico.

– Ai, Neto, não estraga o momento !

***

Pedro já tinha chegado em casa. Ele sabia que Ribeiro tinha pegado seu estojo. Era óbvio demais, mas ela nunca conseguiria recuperar as canetas. Eram dele agora e ninguém iria tirá-las dele. Mas ele não poderia ficar naquele lugar enquanto sua ‘‘ amiguinha’’ barraqueira tentasse pegar as canetas. Não mesmo!
Como ele foi estúpido! Achava que a coisa certa fosse devolver todas elas, mas o certo era que elas tinham que ficar com ele. Nunca deveria ter falado nada para Ribeiro. Deveria ter feito como fez com seus pais. Esconder um segredo nunca é de mais. Aliás, são segredos, não são ?

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Foi até o seu santuário, que ficava em uma parte escondida de seu quarto, mais precisamente atrás de um pequeno armário que usava para guardar roupa íntima. Abriu a pequena caixa que estava lá no fundo e pegou seu pequeno porquinho, Petúnia.

Havia guardado dinheiro durante 3 anos nela e esperava que tivesse o suficiente para uma viagem só de ida pro Acre. Somente assim poderia viver tranquilamente com suas preciosas.

Mas lá tinha só R$ 2,35.

Estava fudido. Era o fim.

Começou a pensar em alguma outra forma de escapar das mãos de Ribeiro, de Neto e de sua ex, mas nada lhe vinha a cabeça.

– Pedro, meu filho, ligação para você! - o pai de Pedro berrou da sala.

– Tô ocupado, pai! - ele berrou de volta.

– Parece importante, acho que é uma colega sua. - O Sr. Bittencourt disse, entrando no quarto do filho. - Vai, atende.

Sem mais encheção de lingüiça, ele pegou o telefone e atendeu:

– Alô ?

– Sete dias - uma voz um tanto rouca e sinistra respondeu.

– Quê !? - Pedro perguntou confuso - Sete dias pra quê ? Quem tá falando ?

– Sete dias para você entregar as canetas...

– Ah, vá se fuder, Ribeiro! - Ele respondeu de forma grosseira e desligou o telefone na cara dela.

Já estava cansado de tudo. Tinha que se esconder, tinha que ir para um lugar onde nunca seria encontrado. E que de preferência, fosse perto.

***

Duda estava sentada em sua cama, mais uma vez pensando em Pedro. Como ele poderia ser tão retardado ? E ela pensando que talvez ele ainda gostasse dela. Humpf, nem pensar. Ele só liga para aquelas canetas imbecis. Ela se sentiu ridícula só de cogitar a possibilidade de que eles ainda pudessem ficar juntos. Pedro definitivamente não é o cara certo para nossa ruiva.

De repente, o telefone de seu quarto começou a tocar:

– Ahn, oi ?

– Duda, não funcionou. - Ribeiro respondeu desanimada. - O que eu faço ?

– Eu disse que não daria certo.- Duda avisou - Quer saber ? Deixa ele lá com as canetas dele e...

– Pera aí - Ribeiro riu, ironicamente - Tá desistindo ?

– Estou pensando seriamente no caso - Ela suspirou.

– Não pode! - Ribeiro berrou, o que causou um ruído na outra linha. - Você prometeu nos ajudar! Prometeu!

– Eu sei, mas...

– Nem vem que não tem, Duda! - Ribeiro respondeu novamente - Você vai me ajudar, sim! Cadê a garota fodona e legal que eu conheci hoje de manhã ? Hein ? Hein ? HEIN !?

– AARG! Tá bom! - Duda perdeu a paciência - O que você quer de mim ?

– Vamos na casa dele, ué ? - Ribeiro disse, como se não fosse óbvio. - Falar com os pais dele que ele é uma baita de um ladrão!

– Não dá. A gente só iria arrumar confusão, garota.- Duda reclamou - Os pais do Pedro tão sempre do lado dele.

– Já sei - Ela concluiu - Vamos fingir que tá tudo bem. Aí, enquanto eu e o Neto ficamos distraindo o Pedro, você procura pelas canetas na casa!

– Ah, Ribeiro, eu não sei se eu posso...

– Ah, vai, Duda! - Ribeiro pediu - Você não tem nada com ele. Vocês já terminaram, esqueceu ?

– Hm, é tem razão.- Ela finalmente desistiu de discutir com Ribeiro - Vamos botar o plano B em prática !