O Garoto que Roubava Canetas

Ás vezes é bom jogar sujo, pagar com a mesma moeda


Ding Dong

A campainha tocou e o Sr. e a Sra. Bittencourt foram atender. Ficaram um pouco assustados. Não pela aparência horrível e de pobre das pessoas que viram, mas pela quantidade. Eram 3 pessoas, mais precisamente 1 garoto e 2 garotas. Nosso trio maravilha.

—Oi, mãe do Pedro - Ribeiro cumprimentou — E oi, pai do Pedro!

— Nossa, é um prazer receber vocês, meninas - o Sr. Bittencourt respondeu —E menino.

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Os pais de Pedro deixaram os três entrarem na casa à vontade e logo, colocaram as bolsas com suas roupas e outras coisinhas na cama do quarto de Pedro.

— E aí, mãe. E aí, pai. E aí... - Pedro parou drasticamente de secar o cabelo molhado do chuveiro enquanto descia as escadas de casa. O garoto estava só de toalha. Que vergonha. — Pera, o que vocês tão fazendo aqui ?

— Ué, Pedro, você se esqueceu ? A gente combinou de dormir na sua casa hoje, lembra? - Neto forçou um sorriso, cutucando Duda ao mesmo tempo.

— É, lembra, Pedro ? - Ela perguntou, ajudando o amigo a disfarçar o óbvio.

— Ah, claro que me lembro! - Pedro tentava tirar a suspeita de seus pais o máximo que conseguia. Aqueles três cretinos gananciosos o pagavam. — Meus amigos!

O roubador loiro natural abriu os braços e deu um grande abraço em seus ‘‘amigos’’. Por um segundo, achou que a toalha iria cair. Ribeiro estava se contentando a não ter um ataque de nojo, porque o Pedro estava todo molhado. Eca.

— Vocês me devem uma explicação - Ele murmurou enquanto apertava os três amigos até morrerem sufocados. — E rápido.

— Relaxa, véi - Neto bateu de leve nas costas de Pedro.

— Bem, - Duda suspirou e se separou daquela suruba, pronta para pegar a sua mala e ir ao banheiro. — Vou colocar um pijama para me sentir mais confortável, beleza ?

Eles assentiram e Duda puxou Ribeiro e Neto por um instante para o cantinho do corredor ao qual o quarto de Pedro dava.

— Distraiam ele. - Duda sussurrou para os dois, os largando logo após de ter finalmente colocado o plano em prática.

Quando ninguém mais estava prestando atenção, ela saiu correndo para o banheiro. Por sorte, ainda se lembrava aonde ficavam os cômodos. A casa do Pedro é grande para caralho.

‘‘ Meu Deus, no que eu me meti ?’’, ela pensava, se culpando cada vez mais por ter concordado com Ribeiro.

Escolheu uma blusa de pijama com estampa de dinossauro e um short curtinho, porque, aliás, isso tudo se passa no Rio de Janeiro. E no Rio, é calor para cacete.

Saiu do banheiro e colocou sua mala no quarto junto com as outras novamente. Sua busca pelas preciosas iria começar agora.

***

Enquanto nossa heroína mais ruiva procurava feito louca pelas canetas, Ribeiro e Neto tentavam conversar (lê-se: tapear) com o Pedro.

— Cara - Neto começou, devolvendo um estojo azul com o material completo de Pedro e cheio de bilhetinhos passados em aula também — Foi mal mesmo.

— É, Pedro - Ribeiro lamentou — A gente tava tão cego pelas canetas que nem pensamos nos seus sentimentos.

— A gente veio aqui para se desculpar - Neto suspirou ( de falsidade ) — Sentimos muito mesmo.

— Ah - Pedro soltou — Se vocês realmente estão se sentindo culpados, eu perdôo. Senti falta de vocês também.

— Também senti sua falta, meu amor - Ribeiro choramingou, utilizando todas as suas técnicas teatrais para convencer Pedro.

— Tá bom, chega de choradeira. - Neto ordenou, levantando da cadeira — O que a gente vai fazer ?

— Tive uma idéia! - Ribeiro se entusiasmou — Vocês já comeram brownie com Banana Split e ovomaltine ?

— Não, nunquinha.- Pedro respondeu.

— Ah, queridinho, então você vai comer hoje a melhor coisa que já viu na vida!

Nossa fofoqueira correu feito uma estabanada procurando os ovos, a farinha, a manteiga e o chocolate em pó. Após alguns minutos e com uma ajudinha extra do Pedro e da tartaruga, ela conseguiu todos os ingredientes e começou o seu ‘‘ programa de culinária’’.

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— Bem vindos ao Mais Você! - ambos gritaram, arrancando umas risadas de Pedro — Hoje, nós vamos fazer um Brownie Split com Ovomaltine! Não é, Louro José ?

— Com certeza, Ribeiro! Bora chamar a Duda para a gente cozinhar! - Ele repentinamente se lembrou da ex. Acreditava-se ela que estava (ainda) no banheiro. Sabe de nada, inocente.

— NÃO! - Neto gritou, o que chamou a atenção de Pedro — Quer dizer: Não, porque ela tá com uma Diarréia que só, viu ? E...

— Ela tá com T.P.M! - Ribeiro ajudou.

— E ebola também. - Neto continuou.

— Nossa, coitada. Tem certeza que ela não precisa de ajuda ?

— Temos! - ambos disseram em uníssono. — Absoluta certeza.

—Ok, né - Pedro disse, desconfiado.

— Crianças! - a Sra. Bittencourt disse. Nem me pergunte o nome todo dessa mulher, porque eu não sei. Eu vou continuar chamando ela de Sra. Bittencourt mesmo e dane-se.— Vocês querem ver algum filme mais tarde ?

— Claro, tia!- Neto concordou na hora.

— É que eu e o pai do Pedro vamos na locadora e depois vamos passar no McDonalds. - a velha de 40 e poucos anos disse, toda feliz.— Vão querer algum lanche também ?

— Eu quero! Eu quero! - Os três responderam simultaneamente e não pararam de falar desde então.

— Calma, crianças! - ela tentou acalmá-los. — Um de cada vez, por favor.

Eles obedeceram à mãe de Pedro e pediram calmamente seus Big Mac’s e Quarteirões, porções grandes de batatinha e muita, mas muita Coca-Cola.

A verdade, como você, leitor, já deve saber, é que nenhum dos heróis de nossa história se esqueceram das canetas. Eram grandes aproveitadores, isso sim! Queriam roubar as canetas do nosso loirinho e ainda acabaram com o dinheiro da mãe dele no McDonald’s, mesmo sabendo que um lanche lá é caro. Bando de gordos...

Enquanto parte do trio maravilha se aproveitava da mãe do Pedro, Duda se descabelava para encontrar a merda das canetas. Tinha passado pela sala, pelo banheiro, pelo quarto de hóspedes e agora no quarto dos pais do ladrãozinho. Tinha virado um terço da casa de cabeça para baixo. Todas as roupas estavam jogadas no chão e os móveis fora do lugar.

Estava fudida.

Passara por vários cantinhos e não estava em nenhum lugar. Ele era realmente muito bom nesse joguinho de esconder canetas.

Não conseguiu pensar em mais nenhum lugar para procurar os objetos preciosos, então foi direto pro quarto de seu ex tirar uma folga. Se lembrava muito bem de todas as vezes que fora naquele quarto ver filmes com ele e também de todas as besteiras que o Pedro fazia só para divertí-la. Ela ainda o amava, mesmo não querendo. Ela precisava ter terminado com ele, mas não foi porque ele era infantil. Na verdade, ela gostava dele exatamente por causa disso. Seus pais é que eram o problema. Já falara milhões de vezes com eles, mas eles simplesmente não entendiam que ela amava um garoto mais novo. Diziam que era uma paixonite boba e que iria passar logo, logo. O fato é: meses se passaram depois do término de seu namoro e o sentimento prevalecia.

Ok, chega de romance e vamos partir para o resto da história.

De repente, enquanto descansava em meio às roupas jogadas no quarto do ex, achou um livro. Um livro não, um caderno mesmo. Daqueles bem baratinhos e vagabundos que tem imagem de paisagem, normalmente de praias ou florestas ( bem irônico, não? )

Sentiu que precisava abrí-lo. Ver seu conteúdo.

Abriu rapidamente em uma página qualquer, pois estava sem paciência de ver página após página. Iria demorar um século.

Aquela folha datava do dia 20 de Julho de 2013.

‘‘ Sei que é bobagem escrever sobre isso e que parece coisa de menininha, mas hoje eu conheci a garota mais incrível da minha vida. Ela é legal, engraçada, linda, e o cabelo dela é... extremamente cheiroso. O único problema é: ela é alguns anos mais velha, ela nunca ficaria comigo. Aliás, ninguém aprovaria um namoro assim. Mas talvez seja só coisa da minha cabeça. Eu deveria falar mais com ela. Quem sabe ela não goste de mim também? Nada vai me impedir! Vou conquistar essa garota.’’

Duda sentiu pequenas lágrimas em suas bochechas. Estava chorando (que menina sensível, Jesus). Ela ainda gostava dele, mas as canetas estavam pedindo para serem encontradas. Ela prometera a Ribeiro e Neto e eles confiaram na palavra dela.

Voltou a jogar tudo pro ar. Era o único jeito de encontrar as canetas. Tirou os móveis do lugar novamente e abriu todas as gavetas existentes. Eram as roupas de baixo dele.

Que nojinho.

‘‘ Nossa, ele tem cuecas vermelhas.’’, ela pensou. ‘‘ Que gozado. Isso aqui parece um sex shop.’’

Pegou uma, desta vez cinza, e deu uma cheirada rápida (impulsivamente, porque né...)

Até que não era tão fedido assim, achava que seria pior.

Ouviu passos vindo em direção ao quarto. Sem mais nada a fazer, colocou a cueca na cabeça e se escondeu debaixo do monte de roupas, que mais parecia o Pico da Neblina de tão alto que já tava.

— Duda, querida, o lanche já está... - a mãe do Pedro parou - Duda , você está aí?

Continuava escondida no meio do montinho, que infelizmente não é tão grande assim (outra falha na minha narração, esqueçam o Pico da Neblina) e deixava a pontinha da cabeça dela à mostra. Mesmo com a cueca cinza em cima para dar uma tapeada.

Sem querer, mas sendo destrambelhada mesmo assim, Duda pisou no caderno de Pedro, que estava no confim do mundo (vulgo: Pico da Neblina) junto com todas as outras tralhas. Caiu de bunda no chão e sentiu uma coisa afiada a incomodando. Era a merda do arame do caderno. Porra, Duda, sério mesmo que você nunca falha? Faça-me o favor, né...

— Duda, você está aí? - A mãe de seu ex perguntou, preocupadíssima (mais ou menos).

— Ahn oi, tia! - Duda respondeu, sem graça - E-eu, eu tava... arrumando a bagunça!

— Mas não estava assim antes - ela disse desconfiada.

— É que... É-é que veio um vento! - Duda falou desesperada. No que ela fora se meter... - Veio uma ventania bem forte e bagunçou tudo, tia!

— Tem certeza? - ela perguntou, com pena da nossa ruiva tingida.

— T-tenho, claro. - Duda soltou rapidamente. Uma mistura de sarcasmo e desespero. - Você não percebeu a ventania que deu aqui, tia?

— Hm... - ela a olhou da cabeça aos pés, que ainda estavam cobertos de roupa. - E o quê que a cueca do meu filho está fazendo na sua cabeça?

— Ah! - Duda começou a suar frio. - A cueca do seu filho? É...é...

— É o que? - a Sra. Bittencourt se zangou de vez.

— É que ele, ele me pediu para organizar por cores, tia. - Ela arrumou uma desculpa, tirando a cueca cinza da cabeça e pegando a vermelha no meio do montinho. — Viu? Vermelho e cinza, cores completamente diferentes, né?

— Está bem, então - A mãe disse, ainda um pouco conturbada - Eu só vim para dizer que o lanche já chegou e está servido.

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— Claro, tia - respondeu com certa vergonha. -Eu já vou lá comer, tá?

A mãe do nosso protagonista assentiu e saiu do quarto lentamente. Tinha os olhos pregados na nossa ruiva, como se dissesse ‘‘ eu tô de olho’’. Nunca se engane com mães boazinhas demais...

Quando a velha finalmente saiu, Duda suspirou de alívio. Não iria mais arriscar procurar no quarto de Pedro. Foi tirando as coisas de cima dela pouco a pouco até que estava finalmente livre daquelas tralhas.

Enquanto passava pela porta do cômodo, percebeu que se esquecera de umas coisas.

Voltou o mesmo caminho, se agachou e pegou o caderno/ diário vagabundo de Pedro, colocando-o em sua bolsa logo depois. Além de ter pegado a cueca vermelha também, só por precaução mesmo. Vai que algum dia dá a louca na nossa ruiva e ela sai correndo com a cueca na cabeça?