Yin e Yang

Barry? Barry Allen?


– Obrigada por me receber – disse quando a porta automática de vidro se abriu no que seria um laboratório. O que não era de se estranhar já que estava dentro dos Laboratórios S.T.A.R.

– Seja bem-vinda, Senhorita Genine – o simpático Dr. Wells me fitava por baixo de seus óculos com um sorriso nos lábios – estes são Caitlin e Cisco – olhei para ambos enquanto ele os apresentava – em que podemos ajudar?

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– Você me mandou uma carta... – tentava formar as palavras – logo depois de... Tudo aquilo...

– Sim – ele me interrompeu – você e sua irmã passaram um tempo conosco, em observação.

– Sim – balancei a cabeça inúmeras vezes – ela... Vocês... Vocês sabiam?

O silêncio permaneceu na sala. Fechei meus olhos aceitando a ideia de que todos os três sabiam do que éramos capazes e em um estalo tudo começou a fazer sentido. Dr. Wells sabia o que fez comigo, com minha irmã e os outros e por isso nos trouxe até o laboratório para ficarmos em observação, para não machucarmos ninguém até inconscientes.

Coloquei as mãos na cintura abrindo os olhos, fitei o Dr. Wells quem tentava falar algo, mas logo ouvi um barulho forte e senti um vento bater em meu rosto e levantar parte do meu cabelo curto, levantei meus olhos e lá estava o homem de vermelho que toda a cidade não parava mais de falar, ele estava de costas para mim e todos os outros.

Tentava compreender o que ele fazia ali, será que ele era um cara normal antes de tudo acontecer? Assim como eu era uma simples advogada e minha irmã uma simples cantora? E por que os Laboratórios S.T.A.R. estavam com ele? O que ele fazia saindo de lá e agora voltando? Ele morava ali? As perguntas tomavam conta da minha cabeça, e o fato de todos me encararem – exceto o homem de vermelho, quem permanecia de costas para mim – enquanto eu tentava me manter no controle, não digo das aberrações que podia fazer com o fogo, mas sim de mim mesma. Queria gritar para todos para que me explicasse o que estava havendo e logo me injetarem uma cura antes que eu ficasse realmente insana.

– Está tudo bem? – Dr. Wells olhou para mim e logo em seguida para o homem de vermelho que nunca tinha visto tão de perto quanto naquele momento.

Fitei novamente a silhueta do homem de vermelho bem á minha frente. Era mais magro do que imaginava e tinha uma estatura mediana. Respirava acelerado enquanto fitava o chão. Todos os meus pensamentos sumiram enquanto pensava se ele estava bem, se tinha sido atingido ou algo do tipo.

– Você está bem? – falei atravessando um pedaço da iluminada sala indo em direção á ele.

Logo virou-se de frente para mim e paralisei enquanto ele abria seus olhos e me fitava nos olhos.

– Barry?

Barry? Barry Allen era o famoso Homem de Vermelho? O garoto especialista forense que perdera a mãe quando pequeno? O fitei assustada enquanto ele retirava a máscara e me fitava com uma respiração tão pesada quanto o olhar de pena que era dirigido á mim. Fechei os olhos por breves instantes balançando a cabeça negativamente, me recusando, bem ao fundo, a acreditar que Barry era o herói que salvava todos e, inclusive, até a mim já tinha salvo.

Barry e eu éramos amigos de infância. Morávamos na mesma rua antes de mudar-se para a casa do Detetive e sua filha, Iris West. Brincávamos juntos antes de tudo mudar em sua vida drasticamente e nos reencontramos anos atrás quando ele estava cuidado de um caso forense que envolvia a morte do marido de uma das minhas clientes que não aceitava falar com nenhum policial sem a minha presença. Apesar de ter ganho o caso contra Barry e sua equipe – os policiais queriam arquivar o caso – nos demos muito bem, mas fora a última vez em que falei com ele.

Por mais incrível que fosse, quando nos vemos depois de tanto tempo - eu ao lado de minha cliente e ele ao lado do Detetive - lembrávamos um do outro. Não sabia o que aquelas lembranças da antiga vida de Barry lhe trariam, mas ele sempre fora extremamente controlado e educado em relação á lembrar de sua amiga antes de sua vida mudar drasticamente. Trocamos o contato após o caso, falamos sobre combinar de sair e coisas que amigos que não pretendem se verem falam, mas lá estávamos nós, ambos juntos pelo destino mais uma vez através da igualdade.

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Uma igualdade que não desejaria á meu pior inimigo. Éramos anormais, monstros, anomalias, esquisitos, e o que mais quisessem chamar.

– Vocês... – Dr. Wells rolou os olhares para nós mais uma vez.

– Desde pequenos – Barry respondeu lhe lançando um rápido olhar – antes de tudo acontecer.

– Você é o cara de vermelho – falei ainda incrédula.

– Nós o chamamos de Flash – o garoto com os cabelos longos disse – fica mais estiloso.

Lancei-lhe um rápido olhar e tornei a fitar Barry quem segurava sua máscara na mão.

– Você é uma meta-humana? – Caitlin interrompeu nossa troca de olhares onde eu tentava acreditar que Barry era o homem... The Flash.

– Uma o quê? – perguntei virando meu rosto para ela.

– É como chamamos – Dr. Wells me explicou em seu doce tom de voz – todos os que sofreram alguma mutação com a explosão do acelerador de partículas.

– Então tem mais – afirmei.

– Sim – ele concordou – mais alguns. Não sabemos quantos, nem onde todos estão, mas você e Barry são exemplos e...

– Minha irmã – o interrompi sussurrando logo em seguida.

– E sua irmã – ele disse em um tom penoso.

– Pensei que fosse você quando vi nos noticiários – Barry disse fazendo com que me virasse para ele novamente – até que encontrei sua irmã... E percebi que não era você.

– Como?

– A heterocromia.

Novamente o silêncio tomou conta da sala e a voz do Dr. Wells dizendo que precisávamos conversar assim como ele precisava de Caitlin e Cisco em outro local. Os fitei saindo da sala e logo senti um vento bagunçar meu cabelo mais do que as outras vezes, virei meu rosto para frente mais uma vez e lá estava Barry com um pequeno sorriso no rosto com sua roupa normal de volta. Fechei o último botão de seu casaco azul marinho dando um fraco sorriso e o escutei me agradecer.

Dei um fraco sorriso e ele logo me chamou para algum lugar que não sabia muito bem onde era. Entramos por uma porta de vidro com o logo do Laboratório e uma esteira estava bem ao meio da sala, notei uma espécie de janela transparente e uns aparelhos pelo lado de dentro. Ali deveria ser alguma sala de monitoramento ou algo do tipo. Seria de treinamento? Não perguntaria naquele momento.

Ele sentou-se na esteira inclinada e continuou me fitando enquanto eu permanecia de pé na sua frente fitando toda a sala. Olhava para as caixas posicionadas e desarrumadas atrás da esteira, fitava a parede branca, os aparelhos ligados á esteira, tentando entender o que Barry andou fazendo com aquela velocidade que agora o pertencia.

– Legal, não é?

Virei-me para olhá-lo balançando a cabeça positivamente.

– Você não parece bem.

– Eu... Só preciso tempo – falei tão baixo que Barry teve de erguer o rosto para compreender.

– É assustador – ele disse – eu sei, eu me senti assim quando descobri. Se soubesse que você também tinha virado uma meta-humana tinha te procurado para... Não sei... Ajudar no que precisasse.

– Não faça de conta que somos amigos, Barry.

Ele nada disse.

– Não quis ser rude – falei me desculpando – é só... Só eles podem nos ajudar.

– Eles já estão fazendo isso.

– Não – balancei a cabeça negativamente – eles estão te ajudando a ser um herói. Eles podem ajudar á todos que sofreram com isso... Você, eu, minha irmã e quem mais estiver envolvido.

– Como? – Barry ainda me fitava.

– Criando uma cura – falei o fitando nos olhos – podemos ser normais de novo.

Barry me fitou com o olhar mais piedoso que já tinha visto em seu rosto – Não há cura, Deb.

Recusei-me a escutar – Tem que haver... Eles não são gênios? Eles devem saber a cura para que todos voltem a ser normais... Você não quer isso, Barry? Levar sua vida de volta a ser como era antes? Sem você ter que correr por ai salvando á tudo e todos?

Barry não me respondeu, fitou o chão enquanto eu soltava palavras aleatórias tentando explica-lo como tudo poderia ser normal de novo. Mas lá estava eu sendo tola e egoísta, mais uma vez, tentando retirar da cidade o melhor herói já visto, o que fez pela cidade, em dias, o que policiais e políticos não fizeram em anos. Minha cabeça estava cheia de ideias e estava disposta a fazer o que fosse possível – e impossível – para ajuda-los ou pelo menos pensava ser o melhor.

Barry levantou-se da esteira e ficou de pé em cima da mesma enquanto eu o fitava sem entender. Uma ventania lançou meus cabelos para trás e cerrei os olhos sabendo que Barry já não estava mais em minha frente, em questão de milésimos de segundos, varias caixas de papelão e papeis picados voavam sobre minha cabeça – e talvez a de Barry onde quer que ele estivesse.

Tentei me situar da situação e logo o ouvi dizer perto de meu orelha:

– Imagine que isso são pedras, facas, estiletes e o que mais quiser. Apenas imagine que isso vai te machucar se alguém não for rápido o suficiente para te salvar.

Virei meu rosto para a direita onde ele havia sussurrado. Barry não estava mais ali me pedindo para imaginar que morreria se todos aqueles pedaços de papel e papelão, inúteis, fossem algo que machucasse realmente.

– Viu?

Menos de um segundo depois ouvi a voz de Barry em minha frente. Virei meu rosto mais uma vez procurando-o e lá estava ele com um pequeno sorriso nos lábios e mais nenhum papel caía sobre nós, ele já tinha pego-os e as caixas estavam em seus devidos lugares: atrás da esteira. Cruzei meus braços o fitando com um pequeno sorriso e o compreendendo.

Lá estava ele, com aquele fraco, mas significativo sorriso. E ele não se importava se ia se machucar, se não seria capaz, ele queria tentar fazer o bem e salvar as pessoas que precisassem dele. Ele era veloz, era capaz e estava disposto. O que havia de melhor nisso? Para que Barry gostaria de voltar a ser um simples analista forense enquanto podia prosseguir naquela vida única e incrível?

Eu o compreendia, mas adoraria que ele também compreendesse o que estava tentando dizê-lo. Agora não mais sobre ele ser curado, ter sua vida normal de volta, mas sim de mim e minha irmã. Principalmente minha irmã quem estava fora de controle e não gostava de vê-la daquela maneira. Eu sabia, no fundo, que ela estava fazendo aquilo para chamar atenção, uma atenção que conseguiu e não estava gostando. Não entendo por que ela foi embora e agora, simplesmente, volta causando caos e confusão.

Tinha que arrumar um jeito de trazê-la de volta assim como á mim mesma. Não desistiria tão fácil assim como jamais tentaria fazer Barry desistir de tudo, afinal, era ele quem ainda fazia o mundo valer a pena.