Darking Blue

Estranho indivíduo


Às vezes, a vida é muito difícil!

É difícil sorrir quando se chora por dentro, difícil tentar parecer uma criança feliz e amada quando uma solidão nos encobre o coração e cada passo é um obstáculo.

O meu nome é Satsuki e, apesar de viver no Japão há bastante tempo, a minha nacionalidade é Inglesa. Os meus pais eram perseguidos e por isso, fugiram para um lugar onde não pudessem encontrar-nos, levando-me a mim e ao meu irmão ainda bebé. A vida, decerto, não esperavam que fosse tão dura, tão pobre, num país estrangeiro. Além disso, nenhum dos meus pais tinha qualquer habilitação e consequentemente entrámos todos nesta miséria.

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Amanhã faço 15 anos e vou passar o meu aniversário sozinha. Ou melhor, antes fosse! Vou passá-lo com os meus colegas de trabalho o que é o mesmo que dizer, vou passá-lo com um bando de gorilas sem cérebro.

Demorava-me um pouco. Do que estaria á espera? Então percebi porque o meu corpo se começara a mover tão devagar. Sentira antes da minha cabeça que estava a ser observada. Virei-me e tentei detectar movimento. No entanto, nada de incomum. As pessoas andavam de um lado para o outro, atarefadas, alguns escorregando na lama, outros agasalhando-se nos seus casacos de lã.

Uma voz atrás de mim assustou-me:

- Não é muito tarde para uma menina como tu andar por aqui desacompanhada?

Era um guarda que me olhava pelo canto do olho, desconfiado. Quando detectou o medo em meus olhos, voltou-se completamente.

- Os meus pais estão numa festa aqui perto. Deixaram-me sair e passear um pouco. Nunca fui muito adepta de festas… - Menti de imediato. – Mas eu já ia mesmo voltar para junto deles…

Talvez fosse a minha singela aparência, a minha cara de inocente ou qualquer outro fator que desconhecia, mas eu conseguia, geralmente, fazer as pessoas acreditarem que o que dizia era verdade.

Enveredei pelo parque, tentando escapar dos ainda astuciosos olhares do guarda e, ao chegar a um passeio completamente deserto de areia fina iluminada pela luz dos candeeiros, trepei agilmente a uma árvore despida e sentei-me num dos seus únicos ramos.

Ouvi as badaladas do relógio da Torre da cidade e contei-as. Naquele dia, tinham um significado especial!

1… 2... 3… 4…

Quem estaria a observar-me poucos minutos atrás? Decerto não poderia ser o guarda, porque ele aparecera numa direção completamente oposta.

5… 6… 7… 8…

Um arrepio percorreu-me. Conseguiriam eles ter-me encontrado? Os perseguidores dos meus pais? Lembrar-se-iam eles da cara de uma menininha de 4 anos? Será que mesmo eu tendo crescido tanto, eles tinham-me, de qualquer maneira, reconhecido?

9… 10… 11… 12!

Assim que soou a décima segunda badalada, corri com os olhos a área deserta e reparei numa figura alta e elegantemente vestida de preto. Era um jovem de pelo menos 20 anos, mas mais bonito que qualquer outro que vira. Os cabelos eram prateados e os olhos de um doce tom de dourado. Ao ver que eu reparara nele, olhou na minha direcção uma vez mais e esboçou um meio sorriso.

Então tive a certeza de que fora aquele indivíduo quem me estivera a observar quando estava na praça e agora seguia-me. Quem seria ele?

Aproximou-se da árvore onde eu repousava e, instintivamente, preparei o salto, pronta para a fuga.

Fosse como fosse, não era muito bom que um estranho nos seguisse para um lugar deserto, noite cerrada.

Ladrão, não era! Parecia demasiado um conde, elegante não só no vestir, como no porte e nos movimentos. Mas teria decerto más intenções!

E eu nem me atrevia a pensar numa outra possibilidade, a de ele ter sido enviado especificamente à minha procura… para me matar! No entanto, era uma hipótese, reparando bem, também os perseguidores de outrora trajavam estranhas roupas pretas e deslocavam-se de noite, onde ganhavam vantagem…

Nesse momento, apareceu um idoso casal de mãos dadas que caminhava lentamente. A atenção do estranho jovem em mim dirigiu-se um momento para o casal recém-aparecido e eu aproveitei a deixa para descer a árvore num pulo, sob o olhar admirado do casal que não reparara na minha presença, e corri para a floresta.

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Bem sei que, a floresta, lugar deserto, não é um local muito propício para evitarmos situações desagradáveis como homicídios, mas, era a minha casa, e não havia qualquer outro lugar onde eu desejaria estar naquele momento. Era também necessário que se conhecesse bem a floresta sob pena de se ficar por lá perdido, às voltas. Era com isso que eu contava. Senti-me, portanto, mais segura, quando atravessara a floresta e do perseguidor, nem sinal!