Virgin Suicides

Capítulo XVI


"Esse será nosso segredo. Certo... Len?"

Kagamine Len abriu os olhos bruscamente, o corpo coberto de suor e a respiração ofegante, como a de suas vítimas, minutos antes de morrerem. Não demorou muito para que os ritmos de seu corpo se estabilizassem e ele distinguisse o real do imaginário.

Outra vez tivera aquele sonho. Ele sempre começava e terminava da mesma maneira, mas Len nunca se lembrava do que realmente se tratava tal sonho nostálgico.

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Esse será o nosso segredo." Quantas vezes Len ouvira essa frase? As comprometidas eram sempre as mais fáceis, talvez elas estivessem cansadas da mesma pessoa sempre ao seu lado, e então, elas se entregavam a ele sem hesitar. Tudo terminava da mesma maneira, todas acabavam mortas. O brilho costumeiro dos olhos, que se intensificava ao verem o loiro, sempre sumira para algum lugar.

Mas... Quando foi que ouviu essa frase pela primeira vez? O rosto de sua mãe lhe veio à mente, ela sorria por alguma razão. Entretanto, não era um sorriso gentil e caloroso que lhe esboçava o rosto. Len forçou a mente para lembrar-se de mais alguma coisa, mas havia um bloqueio, e uma súbita enxaqueca aparecera misteriosamente, forçando o garoto a parar de remexer as lembranças do passado.

[...]

Luka Megurine observou irritada o vai e vem de repórteres que perambulavam nos corredores do Perpetual Light. Em geral, Luka quase nunca se importava com a presença da imprensa, era algo tão comum quanto respirar. Mas nessa situação particular, a comandante estava realmente alterada. Em parte porque ela sabia exatamente as perguntas que seriam feitas. Perguntas típicas e irritantes. Mas agora a coisa seria diferente, a culpa recairia sobre ela. Luka podia até imaginar o título da notícia nos jornais de amanhã: Incompetência da polícia resulta em morte de testemunha". E mesmo a rosada ter tentado convencer os pais de Zunko a transferi-la para um hospital mais seguro, ou quem sabe, colocar um agente vigiando-a 24 horas, Luka certamente teria de arcar com a responsabilidade.

Perpetual Light era um hospital terrível na opinião de Luka Megurine, com um sistema de segurança imprestável e frívolo, não era de se surpreender que Zunko fora assassinada.

Então agora ela apenas apreciava as várias pessoas que iam e vinham por debaixo da fita de restrição. Preparando-se psicologicamente para o interrogatório que estava por vir.

Kasane Teto e Aoki Lapis fotografavam os pontos marcados por pequenas placas amareladas, enquanto Rin Kagamine e Neru Akita analisavam o corpo de Zunko. Gumi buscava possíveis digitais.

Luka Megurine acabara de acender seu segundo cigarro quando Piko Utatane veio em sua direção. A face da comandante demonstrava uma mistura de frustração e irritação.

– Você está terrível comandante. - Piko Utatane comentou encostando-se a parede ao lado da rosada.

– Eu sei. - Luka pausou para expirar um pouco de fumaça. - Vai ser uma longa noite.

– Sabe que os pais de Tohoku Zunko irão culpá-la não é?

– E a imprensa e meus superiores... - A rosada completou. - Mesmo eu tendo advertido-os tantas vezes. Afinal, porque eles escolheram esse lugar para internar a única filha, que, olha só, acabara de ser testemunha de um assassinato brutal?

– Não é algo muito difícil de adivinhar. O fato de Tohoku Zunko estudar em um colégio católico revela certo grau de religiosidade vindo de seus pais. A política do hospital de "riso e esperança" prova ser uma escolha bastante compatível com essas pessoas. Mas, não é de todo mal... - Piko explicou voltando seus olhos para uma pequena câmera, quase que imperceptível, que jazia escondida ao lado do duto de ar, sobre uma pequena cruz de madeira.

– Bem... - Luka murmurou apagando a bituca do cigarro. - Ao menos uma coisa boa nessa droga de situação.

[...]

Mayu empurrou as portas de vidro, com pequenos desenhos de espirais lindamente esculpidos, que davam acesso ao Mon Chérie Rosalia. A loira utilizava um casaco vermelho sobre o vestido negro de babados que escondia em parte a meia-calça branca. O coelho de pelúcia que balançava de um lado para o outro, preso em suas mãos, também utilizava uma combinação de tecidos e rendas que, pareciam muito com o traje de Mayu. Como sempre, a loira assemelhava-se a mais bela de todas as bonecas.

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Mayu caminhou a passos firmes até a mesa isolada no fim do café. No caminho, a garota passou próxima a um grupo de pessoas amontoadas ao redor de uma mesa, e sem querer, acabara por ouvir a discussão que se gerara por ali. Todos falavam exatamente da mesma coisa: Os assassinatos recentes que estavam chocando e amedrontando toda a cidade. Em algum ponto, uma moça de cabelos cacheados confessara aos amigos que já havia se encontrado com o assassino, por acaso claro. Os olhos dos presentes se arregalaram, todos esperando que ela relatasse os fatos. A moça umedeceu os lábios com a língua. Estava empolgada. Isso significava que a história ia ser longa e que provavelmente, no meio da narração, tudo começaria a perder o sentido. Ela começou com a descrição física do assassino. Um homem já grisalho, com uma expressão de poucos amigos, ou quem sabe, aquela clássica expressão onde se bate o olho e já se pensa: Esse cara certamente tem um porão secreto com instrumentos cirúrgicos e pedaços de corpos em sua casa. De qualquer maneira, ele esperava a oportunidade em que suas vítimas ficassem isoladas e BOOM, acabava do jeito que todo mundo sabia.

Mayu se perguntou o porquê de ela ter feito o som de uma explosão quando chegara à parte do assassinato, mas riu quando comparou a descrição porca da moça com o verdadeiro assassino. A loira continuou a seguir seu caminho. Não precisava mais ouvir a conversa, a descrição fora a melhor parte, o resto seria apenas lorota.

Ela sentou-se a mesa solitária, frente a frente com uma pessoa que lia calmamente os jornais do dia anterior. Yuzuki Yukari.

– E então? O quê, de tão importante, você tinha de conversar comigo? A ponto de arriscar-nos e nosso lugar de encontro por isso.- Mayu indagou brincando com as orelhas de seu coelhinho.

– Eu acho que um Olá seria mais apropriado. - Yukari disse baixando o jornal.

– Você entende os riscos que corremos agora? - Mayu arqueou a sobrancelha.- Aqueles idiotas ali atrás estão falando sobre Len. Não muito tarde estarão falando sobre nós, acha mesmo uma boa ideia ficar exibindo a cara por ai?

Yukari não respondeu. Ela inclinou-se para o lado para poder enxergar a mesa formada por um grupo de amigos. Eles riam e riam sem parar. Em algum momento, Yukari pensou ouvir a palavra Caballeros. Um time de futebol espanhol que surgira pouco tempo atrás, mas que estava fazendo muito sucesso entre as pessoas.

– Eles não parecem falar de Len.-Yukari comentou franzindo o cenho.

Mayu virou discretamente o rosto para a tal mesa, fingiu estar assistindo a TV do café para não despertar suspeitas.

– Caramba, eles mudam de assunto tão rápido!- A loira disse ligeiramente surpresa.

E ambas ficaram assim, os olhos centrados da mesa de amigos e os ouvidos aguçados para tentarem ouvirem parte da conversa. Só pararam de ouvir quando um dos amigos iniciou o assunto de doenças sexualmente transmissíveis. O que foi uma boa ideia, visto que o tal amigo começou a narrar o fato de como sua prima adquiriu uma dessas e agora fazia consultas quase que diárias com um ginecologista.

– Bem... E então? -Mayu indagou novamente esperando que Yukari começasse a se explicar.

– Primeiramente eu quero advertir que esse assunto deve ficar somente entre a gente. Nem IA e nem Tone Rion devem saber sobre isso. Ficou claro?-Disse Yukari.

Mayu concordou com a cabeça.

– Ótimo. Primeiro quero falar sobre Miki. Obviamente, você já está sabendo sobre a testemunha que falecera certo?

– Sim, a garota que sobreviveu a ele não é? Dizem que tinha tanto sangue na capela que parecia um daqueles filmes de terror. Mas... O que Miki tem a ver com isso? -Mayu indagou.

– Você tem que saber que não foi aquele psicopata quem matou a testemunha. Não tinha nada a ver com o negócio de terminar o serviço como disseram os noticiários.-Yukari explicou rabiscando o rosto das pessoas estampadas nas páginas do jornal desatualizado em sua frente.

– Está dizendo que foi Miki quem...

– Estou dizendo que alguém fez. E é bem provável que seja ela. -A arroxeada interrompeu.

– E o que quer que eu faça? - Mayu apoiou o rosto nas mãos.

– Precisamos que Len permaneça fora da cadeia, pelo menos até executarmos o plano. A polícia vai estar tão ocupada com ele, que será muito mais fácil para nós. O que Miki fez, aumentou ainda mais a caçada pela cabeça dele. Eu não sei se essa garota fará outra estupidez, precisamos nos livrar dela. Abrir o caminho para que aquele assassino faça o que quiser. Assim poderemos passar quase que despercebidas pela polícia, só saberão o que aconteceu quando estiver acontecendo.

– Mas espera, se Len deixou a testemunha viva, ele não seria pego de qualquer jeito? - Mayu indagou.

Yuzuki Yukari riu.

– Acha mesmo que ele cometeria um erro desses? Deixar uma testemunha? Por favor, Mayu, é óbvio que ele tinha algum objetivo em mente quando deixou aquela garota viva. Eu não sei a intenção dele e nem me importo. Contanto que seja útil para nós. O único fato aqui, é que Miki estragou tudo, tanto para ele, quanto para a gente.

– Acha mesmo que é uma boa ideia? Mayu perguntou um pouco hesitante.

– É perfeita, eu tenho tudo planejado, só preciso que você cumpra sua parte.

– E que parte seria essa?

– Revelarei tudo quando for o momento certo.- Yukari falou com um sorriso na face.

Mayu observou-a por mais alguns instantes, na esperança de que ela parasse com esse joguinho e lhe contasse todo o plano de uma vez. Quando viu que Yukari não ia falar mesmo, Mayu levantou-se pronta para partir. Yuzuki Yukari segurou sua mão.

– Espera, para que tanta pressa? Eu ainda nem lhe contei a melhor parte.

– Melhor parte?

– Isso mesmo. Considere como um bônus. -A arroxeada sorriu inocentemente.

– Tudo bem. -Mayu suspirou enquanto sentava-se novamente. - Conte-me.

– Aquela detetive, Rin.

– O que tem ela?

– Eu já disse não? -Ela pausou para desenhar um bigode no rosto de uma atriz de cinema, que no jornal, sorria enquanto segurava seu primeiro filho. - Ela tem um grande potencial para se tornar a próxima vítima de Len.

– Aonde quer chegar? - Mayu fez um muxoxo.

–Ela também tem chances consideráveis de se tornar um problema. Não posso me esquecer de que foi ela quem achou a prova que pode incriminar você. - Yukari observou sua obra de arte na folha de jornal. Se pudesse dar um nome a ela, definitivamente seria Ceci n'est pas une femme, uma pequena sátira ao quadro de René Magritte, Ceci n'est pas une pipe.

– E o que você sugere?

– Daremos à Len o que ele quer: A detetive. - Yukari amassou o jornal até formar uma bolinha. - Não se preocupe, ele irá cuidar de tudo.