Abriu os olhos azuis e percebeu que tinha cochilado no sofá, o revólver no colo. Olhou pela janela e viu o sol começar a despontar entre alguns prédios, indicando o começo da manhã. Guilherme levantou-se e resolveu conversar com Alice. E se ela ainda estivesse dormindo poderia beijá-la. Estava morrendo de abstinência por aqueles lábios rosados.

Subiu as escadas e encarou a porta branca por alguns momentos, ensaiando mentalmente o que dizer quando a visse. Alice estava lá, do outro lado da porta, deitada de pijamas por baixo de um cobertor, dormindo angelicalmente. Poderia simplesmente chegar lá, sentar ao seu lado, e, quando a garota abrisse os olhos, iria beijá-la apaixonadamente. E ela retribuiria, porque, mesmo com um pouco de medo que Alice sentia por ele, Guilherme sabia que ela o amava. Do mesmo jeito que ele a amava.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Respirou fundo, ajeitou o cabelo e colocou a mão na maçaneta. Abriu a porta, e tudo estava escuro, as cortinas fechadas.

– Alice... – fez uma voz baixa. – Bom dia.

Sentou-se na cama, e não encontrou nada lá. Um pensamento rápido o levou a caminhar até o banheiro. Bateu na porta, e como não ouviu nada em resposta, entrou. Nada, Alice não estava em lugar algum.

Mas que droga...

Foi até a janela, e o vento cortante da manhã entrava por ela, deixando todo o quarto gelado. Quase podia ver Alice pulando, não era uma queda muito alta, Isaac beijando-a na grama, os dois correndo e rindo dele.

Guilherme simplesmente não podia deixar que Alice risse dele. Não poderia deixar que Isaac a levasse para longe dele, beijasse-a. Alice era propriedade de Guilherme, e ninguém, nem mesmo Isaac poderia tirá-la dele.

Ficou sentado lá na cama dela, sentindo o cheiro dela nas cobertas, pensando em todos os lugares em que Isaac poderia ter fugido com ela. E logo Rio de Janeiro invadiu sua mente. Estava acontecendo o maior encontro de corredores do país. Todos estariam lá, inclusive Isaac, que raptara a garota que ele amava.

– Vou te encontrar, Alice. – murmurou, os dentes cerrados, a raiva pulsando em suas veias. – Vou te salvar, e nada vai me tirar de você depois que eu te abraçar. Nada nem ninguém, nem mesmo Isaac. Porque você me ama, e não ele.

Ficou ali, abraçado naquelas cobertas, beijando o travesseiro, esperando amanhecer para acordar o pai de Alice e sair de São Paulo, procurando incessantemente por ela.

(…)

Como era bom sentir o vento batendo em seu rosto, as janelas do carro abertas, correndo em alta velocidade pelas estradas quase desertas que ligavam São Paulo e Rio de Janeiro. Correndo como se estivessem em uma racha.

Do jeito que Isaac era completamente esnobe, estaria hospedado em um dos melhores hotéis do Rio. Provavelmente já tinha corrido e tinha alguns milhares de reais (e dólares também) nos bolsos. E Alice provavelmente gostava disso.

Ele devia estar beijando-a, abraçando-a, e esses pensamentos só o fizeram apertar os dedos no volante, irritado. Alice era propriedade dele, e de mais ninguém. Além disso, o pai da garota tinha dado passo livre para que Guilherme fizesse o que quisesse. Matar Isaac estava na lista.

Iria atrás deles até que os encontrassem, salvasse Alice e matasse Isaac.

Porque a amava.