Pare! Não se aproxime

29 - O famoso clichê "odeio amar você"


Capítulo vinte e nove

O famoso clichê “odeio amar você”


“Quando a gente fica junto, tem briga. Quando a gente se separa saudade. Quando marca um encontro, discute. Desconheço um amor tão covarde!”

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(Dorgival Dantas)

Posicionei no meu armário para pegar a apostila de história. Eu ainda tinha de passar minhas aulas e fazer os trabalhos com o Henry. E era muito ruim para mim saber que a pessoa que me considera uma caça, apenas mais uma, senta ao meu lado em todas as aulas.

Menos em educação física e as vezes artes, claro.

E ao abrir a porta com o número 666 algo me chamou atenção, um papel que caiu ao pegar o caderno.

“Você é muito mais que só uma da lista”

Com toda a certeza eu sabia quem era, mas isso não significa que ia perdoá-lo. Conquistadores tem lábia, e eu não queria cair nelas tão fácil. Com esse pensamento em mente fechei o objeto de metal, levando um susto depois disso.

Enzo. – berrei automaticamente.

E a sua risada foi ouvida logo depois. Poderia até me contagiar, se eu não fosse uma pessoa fria e quase sem sentimentos.

– Tudo bom Lia? – questionou.

Bem, ele me chamava assim há um tempo. Pois como seu apelido era o final do seu nome, resolveu fazer a mesma coisa comigo também. E esse foi o resultado. Desde aquele dia que entreguei as coisas na casa do Henry que ele falava comigo.

– Sim. – menti de novo.

E novamente engoli em seco.

– E eu estou muito bem, ainda mais por saber que posso sentar do seu lado nas aulas. Só que o diretor não me aceitou como seu parceiro nos trabalhos. – declarou.

O quê? Então o Nagel ficará longe de mim?

Nada respondi e simplesmente o acompanhei até a nossa sala. Lorenzo foi para o seu novo lugar e sorriu para mim, já eu dei de ombros e fiquei lendo a nova matéria. Hoje era uma segunda em que entregariam as notas do boletim do primeiro semestre.

Com o tempo o de olhos azuis entrou e me mirou, só que sua alegria acabou ao ver que não correspondia. Simplesmente o ignorei ao abaixar a cabeça e ficar fitando o caderno, mas sem prestar atenção no conteúdo.

Provavelmente sabia que não havia o perdoado.

Andou pela nossa fileira e parou na frente da sua carteira. Sua mão ficou em formato de punho no mesmo instante, o que me incomodou um pouco.

– Esse assento é meu! – exclamou.

Foi a primeira vez que ouvi sua voz depois da nossa última briga.

– Não é mais. – devolveu simplesmente o garoto.

– Por acaso seu nome está no mapa? – insistiu.

Percebi uma impaciência por parte do castanho.

– Logo estará. – de maneira irônica.

– Então até lá ficarei aqui. – praticamente gritou.

As pessoas que se encontravam ali começaram a falar em sussurros, e alguns já iam até os dois.

– Pode ir para onde eu sentava que essa cadeira não é mais sua. – provocou.

Simplesmente me virei quando ouvi um alto som, vendo que o Enzo havia apanhado. Essa atitude me deixou tão irritada que eu fui em direção ao garoto machucado e o levantei. Mirei o Nagel em reprovação e sai da sala, os passos rudes evidenciavam isso. Todavia antes de passar pela porta percebi que me fitava em um misto de surpresa, arrependimento e mais algo que não sabia identificar.

Não acredito que fez algo tão... cruel.

– É um covarde. – sussurrei.

– Vocês por acaso tem algo? – parecia curioso.

Lembrei-me de tudo que passamos, sabendo a resposta de cor. Enquanto seus olhos pareciam me analisar a cada instante, deixando-me até um pouco sem graça. O que realmente se tornou muito comum desde quando começou a mostrar interesse em andar comigo.

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– Não, nunca. – devolvi em exaltação.

Passamos pelo corredor e fomos até a enfermaria, para depois vê-la correndo até ele de maneira preocupada. O pior é que nunca fez isso quando precisei da sua ajuda, dando a entender que tem uma queda pelos alunos da escola.

– O que aconteceu querido? – parecia uma galinha cacarejando.

Digo, uma sereia cantando.

– É... – parou por um momento.

Fitou-me e ficou por um tempo me olhando. E isso me fez pensar na pergunta da mulher. A verdade é que não desejava que o Henry levasse a culpa, o que realmente fez com que me detestasse ainda mais.

Não, não sei o porquê de sentir isso.

– Cai da cadeira e na hora bati com o nariz na carteira. – explicou no improviso.

Sim, o soco foi bem nessa parte.

O que me incomodou foi se transpareci o que minha mente concluiu.

– Coitado. – berrou.

Ai, meu ouvido.

Passou os produtos no local e nos liberou, mas sem antes dar um beijo leve no ferimento do rapaz. Lorenzo gargalhou baixo ao passarmos pelo corredor. E o que eu realmente gostava nele era que nunca inventava uma desculpa para me tocar, até porque nunca o fez.

– Obrigado por me acompanhar. – com um fraco sorriso.

– Só devolvendo por me salvar aquele dia em que me afoguei na piscina. – revidei.

Omiti a raiva que tinha sentido por ter se machucado sem motivo.

– Mesmo assim agradeço. – continuou.

Depois disso voltamos a aula e o outro educador nos deixou entrar. Notei que o Henry estava um pouco longe, ou seja, no local onde o outro garoto sentava. Posicionei-me na minha velha carteira, suspirando em alivio e começando a acompanhar o que a pessoa falava na frente.

– Amélia, tem como pegar outra caneta para mim? – perguntou.

Isso que dá ficar na frente do único armário da sala.

– Tudo bem. – gaguejei.

Praticamente corri enquanto tremia para levar o objeto até a sua mesa. Poderia sim ser sombria e dar medo, mas era tímida também. Depois de todo aquela murmúrio o relógio e a campainha anunciou o intervalo.

– Te esperarei no terraço. – comentou o loiro.

Sabia que ia no banheiro primeiro, então preferia ir até lá do que me esperar. O segurança no começo ficou dizendo que éramos namorados, mas depois entendeu que somos apenas colegas.

Fiquei lavando minha mãos na pia e ao me olhar no espelho notei o quanto estava pálida. Neste meio tempo a porta bateu, revelando uma pessoa chorosa no toalete. E sabia muito bem quem era, a Jully.

– Amélia? – parecia assustada.

Pensei que ia se esconder e ficar na cabine para não precisar revelar nada, mas logo se aproximou de mim e se sentou na minha frente, ou seja, na pedra onde ficava o lavatório. E seria eu a ir embora, mas ela me parou ao me segurar pelo braço.

– Preciso falar contigo. – declarou.

Depois de sumir por semanas ainda quer se explicar?

– Tudo bem. – declarei.

– Primeiramente quero que não fique chateada, mas só me aproximei de você porque era sempre sozinha e parecia não gosto do Henry. Era muito ruim ficar do lado de alguém que o adora e sempre fala dele. – confessou.

Tentei esquecer o que disse no começo, já que a curiosidade falou mais alto.

– E o que mais? – apoiei-a.

– Eu o odeio, de todo o coração. Por ser meu amigo de infância, por me conquistar, dizer que gostava de mim e me apresentar aos seus pais, fazer com que me entregasse para ele. Era a minha primeira vez. Só que no final terminou comigo e ainda disse que não era homem de ficar com apenas uma pessoa. – as lágrimas caiam com mais força agora. – Vi que ele se aproximou de ti, então tive de me afastar para não precisar saber dele. Mas eu mesma ficava pensando nele o tempo todo por o detestar. – declarou.

Aquilo era muito estranho. Então seria o costumeiro amor e ódio?

– E por que está falando isso para mim? – quis saber.

Mordeu o lábio inferior e começou a mexer as pernas de forma inquieta. Seu rosto estava vermelho e quando percebi que quase me acertava com o seu nervosismo me afastei. Acabei por sentar perto e a fitar em expectativa.

– Percebi que não anda mais com ele e... – parou de repente.

– E? – não sou a rainha da paciência.

– Acho que está braba com o Nagel, então queria me ajudasse a se vingar dele. – propôs.

Meu queixo foi ao chão neste instante.

– Não. – decretei sem pensar.

Caminho até a saída, querendo ir para comer meu lanche.

– Mas ele me usou e jogou fora! – exclamou.

Aquilo me lembrou da maldita lista.

– Você quis e acreditou nele, então não pense que foi a vítima. Foi culpa sua também, por cair no joguinho mesmo sabendo que sua natureza é ser cafajeste. – gritei.

– Eu o amava. – rebateu.

– Não, está errada, você ainda o ama. Então deixe esse pensamento de tramar contra ele e tente o conquistar. – finalizei.

Depois disso ficou estática e me deixou sair. Deve ser por só ter percebido agora que o sentimento dela continuava o mesmo, mas com aquele rancor de ter levado um fora. Só que no fundo eu fiquei abalada com o que disse, e isso me deu mais razão para me afastar daquele garoto dos olhos azuis.