Pare! Não se aproxime

30 - Dá para resistir a um sorvete com filme?


Capítulo trinta

Dá para resistir a um sorvete com filme?

“Toda vez que um casal se reconcilia, armas são depostas, faces se desmascaram, os sinos tocam, os anjos sorriem, o céu se ilumina novamente.”

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(Arnaldo R. Barbalho Jr.)

Eu precisava apenas me concentrar na prova.

O que havia de tão difícil em responder onze questões sem ficar olhando para os lados afinal? Estudei bastante, tomei água, comi chocolate antes de vir para cá e dormi cedo. Nem sequer sai de casa, e muito menos vi o Lorenzo na minha frente por alguns dias.

Mas houve uma coisa que me tirou do sério. Algo que realmente me fez perder um tempo e me deixou nervosa. Depois daquela cena no banheiro com a Jully ela ficou todos os dias ao lado do Henry. E pensar na hipótese de ter levado meu conselho à risca me fez ficar arrependida.

Ele ia enganá-la como fez comigo!

– Faltam dez minutos. – disse o professor.

Olhei para o papel a minha frente e bufei. Descrente por ainda faltar cinco questões, sendo que duas são discursivas. Então rapidamente peguei minha caneta e chutei a letra D.

Mas e se o Nagel a ama?

Passei meus olhos pelas letras pequenas e escrevi sem parar. Não poderia perder tempo. E nem queria tirar nota baixa, mas sabia que isso com toda a certeza aconteceria.

– Cinco minutos. – gritou.

Entreguei sem nem revisar ou simplesmente ter feito a lápis antes. Eu nunca tinha feito algo assim. Minha cabeça pesava por conta do erro grotesco, todavia ao mesmo tempo estava leve por ter terminado.

Ouvi alguém gritando meu nome, entretanto nem virei para saber quem era. Simplesmente passei pelo de olhos azuis e a minha ex-futura-amiga e abaixei a cabeça. Percebi que me fitavam, o que realmente me fez querer fugir e me refugiar na biblioteca.

Sentei-me no canto mais afastado, perto daquela parede empoeirada e pouco movimentada. Aproveitei para pegar meu boletim do primeiro bimestre e verificar com cautela:

História – 8,6

Química – 10,00

Literatura – 9,8

Geografia – 8,2

Português – 9,1

Matemática - 6,9

Biologia - 8,5

Física – 7,3

Artes – 6,8

Educação física – 7,7

Filosofia – 9,0

Passei a mão por aquela de menor valor e senti uma imensa vontade de chorar. Por saber que teria de me esforçar muito para recuperar, até porque provavelmente não teria mais aquela ajuda de um ponto a mais na média.

Nem teria mais sequer necessidade de ficar ao lado dele depois disso. E a desculpa de querer ver suas notas para falar com ele seria desnecessário, mesmo que eu desejasse saber. As lágrimas rolavam pelo meu rosto neste instante, e eu queria crer que fosse por causa do final do livro que acabara de ler.

Estaria mentindo para mim mesma se assim o fosse.

Lia, ainda bem que te encontrei. – berrou.

– Fala mais baixo, estamos em uma biblioteca. – censurei-o.

Simplesmente me ignorou e pegou-me pela mão, levando-me para fora do local. Primeira vez que me tocava, contudo isso em nada me afetava. E eu ficava aliviada por saber que não tinha outra intenção por trás desse ato.

Perto dali estava o novo casal de pombinhos.

– Desculpa por isso. – sussurrou ao estarmos no pátio.

O quê? E ainda estão se beijando?

– Pelo quê? – quis saber.

Depois disso o Henry ainda olhou para mim e deu um sorriso. Como aquele quando o vi no banheiro com aquela garota. O pior é que ficou me encarando por muito tempo, fazendo-me voltar a olhar para o Enzo.

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– Por pegar na sua mão, sei que não gosta. – respondeu em nervosismo.

– Tudo bem. – declarei sem pensar.

E quando novamente me virei para os outros notei que a Megan estava discutindo com os dois, para depois dar um tapa na Jully. Só faltava tirar um tufo de cabelo dela. Mas o pior foi que aquele galã de quinta categoria pareceu me fulminar ao invés de ajuda-las.

Já o meu colega foi correndo até elas e pegou uma delas de maneira delicada, para depois voltar para me acompanhar até a saída. E nesse meio tempo notei que a garota que me acompanhava ao terraço estava com o rosto arranhado.

A razão de não me importar foi por termos combinado de lancharmos na minha casa quando a prova dessa semana acabasse.

– Posso sentar no sofá? – questionou.

Ele era educado. Diferente de uma outra pessoa.

– Pode. – respondi rapidamente.

Peguei o bolo e o nosso almoço e fui até onde estava, notando que folheava algo em minha mochila. É, sabia que algo tinha de acontecer.

– Não acredito que existe alguém que tira nota baixa em artes. – parecia assustado.

Meu rosto ficou vermelho por conta de seu atrevimento.

– Não era para ter mexido nas minhas coisas. – esbravejei.

– Se quiser eu te ajudo a desenhar melhor. – mudou de assunto.

– Como? – fiquei curiosa.

Então mostrou-me sua pasta, em que haviam alguns rostos e traços perfeitos entre vários que vi. E um deles era o da Thalia, com uma expressão magoada e chorosa.

– O que aconteceu nesse dia? – apontando para ela.

– Foi no dia que a Megan e a Lorena brigaram com ela e a expulsaram do grupo. – explicou com calma.

– E sabe o por quê? – insisti.

– Pelo que soube o motivo foi por ter beijado a paquera da Queen.

Ou seja, o Henry.

E como eu não tinha pensando nisso se tinha visto a lista de perto? E realmente o nome dela estava riscado.

– E acha que foram elas que bateram nela no banheiro? – pedi sua opinião.

Neste instante levantou uma das sobrancelhas.

– Não foi você? – detonou.

– Se bateu a foto dela deveria saber quem a machucou também! – irada.

– E-eu não consigo falar com ela. – sussurrou.

Percebi que estava cabisbaixo e um pouco rubro.

– Por quê? – questionei ao chegar um pouco perto dele.

Fiz isso por parecer estar arrasado, o que eu nunca tinha visto.

– Eu... – começou, mas parou ao me olhar.

E ao notar sua intenção me afastei. Será que realmente ia me beijar? Não sei, mas seu olhar em meus lábios denunciava isso.

– Eu? – incentivei-o, tentando acabar com o constrangimento.

– Acho-me muito feio para conversar com ela. – confessou.

– Isso quer dizer que não sou linda? – questionei sem estar chateada.

Sabia que não era a rainha da beleza.

– Não tem como comparar a Thalia contigo. – declarou.

Pelo menos foi sincero.

E quando ia falar algo o despertador tocou, afirmando que estava na hora de se arrumar para ir ao trabalho. Quando vesti o uniforme me despedi do Enzo, com o combinado de vir mais a noite e sábado para me ensinar a desenhar, e fui até a loja.

Sábado, 24 de maio.

– Aperta menos esse lápis, assim o traço sai muito grosso e torto! – repreendeu-me.

Esse era o Lorenzo autoritário que aparecia nesses momentos.

– Estou tentando. – rebati.

Escorreguei o objeto por entre minhas mãos com o intuito de que saísse mais fraco, mas o resultado foi um rabisco cheio de curvas sem sentido.

– É assim. – parecia sem paciência.

Ao se posicionar ao meu lado a campainha tocou, fazendo-me correr até lá. O fato é que eu sabia que ele ia me ajudar, mas isso acarretaria em toques e momentos constrangedores.

Só que se eu soubesse quem era pessoa que estaria do outro lado da porta eu preferia passar por aquilo. Porque eu nunca que ia querer encarar o Henry novamente. Mesmo se estivesse com aquele sorriso galanteador e uma sacola em mãos.

– Eu te liguei ontem, mas não me atendeu. Posso saber o por quê? – parecia irritado.

Cobrou-me como se não estivéssemos brigados. E nem ao menos que ficamos sem conversarmos por aproximadamente um mês. Tanto que nunca mais o via aparecer na frente da minha casa.

– E eu do motivo para estar aqui. Então faça o favor de dar meia volta e ir embora. – esbravejei ao empurrá-lo para fora.

Infelizmente ele foi mais rápido e me pegou no colo, segurando-me com um dos braços e entrando na residência sem ser convidado. No outro estava o saco, que vendo dali percebi que era sorvete, todavia havia também duas fitas ali.

– Agora sei porque não respondeu, foi por causa desse garoto ai. – a aspereza em seu tom de voz.

Realmente não tem noção da sua falta de educação.

– Me solta! – berrei.

Não ia ficar agarrada a ele enquanto os dois se fulminavam.

– Só se ele sair. – parecia mais que irritado.

Mesmo não o vendo sentia a tensão em cada gesto.

– Tudo bem, nos vemos outro dia Lia. – declarou.

Chegou perto de mim e deu um beijo no meu rosto, e então vi que o outro ficou mais nervoso. Tanto que uma veia saltou em seu pescoço.

– Mas... – ia completar, mas ouvi a porta se fechando e me aquietei.

Neste momento comecei a me mexer para tentar sair dali. Com toda a certeza eu ainda estava um pouco chateada.

– Se não parar com isso eu não te darei o sorvete de torta de limão, e nem iremos assistir ao filme do Mickey Mouse. – declarou.

Simplesmente parei e lambi meus lábios ao pensar no gosto dele, do meu preferido. Fazia tanto tempo desde da última vez que provara que me dava água na boca. Ainda tinha o elemento do vídeo, que eu nunca tinha visto dele. Tanto que era um sonho meu assistir a esse desenho.

Provavelmente falei sobre isso em nossos pequenos encontros na academia do meu domicilio.

– Ponha-me no chão então. – decretei.

Acatou a minha ordem, mas ao invés de me soltar colocou-me em seu colo ao sentar-se no sofá. E se continuar assim não conseguirei o expulsar e ficar com o que trouxe.

– Amélia... que tal começarmos do zero? – sussurrou em meu ouvido.

Seu corpo junto ao meu e um selo de levo no meu pescoço foi dado. Nada tão invasivo quanto antes, mas também era constrangedor. Só que o meu apelido dado por ele não soado deixou a situação diferente.

– Podemos apenas ver o filme? – pedi.

E isso significava que eu não ia aceitar de imediato sua proposta.

– Tudo bem. – em um muxoxo.

Peguei o dos três mosqueteiros e começamos a assistir enquanto eu devorava o gelado de torta de limão. Chegava a derreter na boca de tão cremoso, e o detalhe que tinha por cima deixava o alimento mais saboroso.

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– Não vai dividir? – disse depois de um tempo.

– Você trouxe para que eu o perdoe não? – rebati.

– Sim, porém... – cortei-o.

– Então é apenas para mim. – sentenciei.

Seu sorriso se desmanchou neste instante enquanto cruzava os braços. Quando o vídeo acabou ele me mirou de maneira pedinte, mas não era para pegar a minha comida.

– Amy... – de novo o interrompi.

– Deixa-me terminar. – esbravejei.

Se continuar a falar vai acabar com a graça e o prazer em saborear aquele delicioso sorvete. Quanto finalmente terminei o fitei, mas agora sabendo que teria de tomar uma decisão.

– Convença-me do porquê tenho de te desculpar. – declarei.

Ele suspirou antes de posicionar seus belos olhos azuis em minha direção.

– Você sabe que não é só uma da minha lista, é muito mais. Ela não me é importante quando se diz em relação a você. É minha parceira no colégio e professora particular. Eu confio em ti, preocupo-me com o que está fazendo ou com quem está. E em nada um beijo vai mudar isso, porque ainda ficaria do teu lado. E também não te forçaria a nada, nem a me perdoar. – disse.

Chocou-me ouvir todas as suas palavras, principalmente quando disse de preocupação. Isso significa que era importante para ele não? Será que alguém realmente sentiria isso por mim.

– O que mais? – apoiei-o a continuar.

Droga, não acredito que direi isso, mas senti sua falta. De brigar contigo, e lavar patada ainda é melhor do que te ver de longe. É como uma melhor amiga que nunca tive Amélia. - confessou, mas o final da frase disse quase aos sussurros.

Parei e fiquei mentalizando, repassando sua frase em minha mente. E se disse tudo isso não me desejava e me considerava sua amiga, então não correria o risco se me reconciliasse com ele. Só que eu não sabia o que esse galã de quinta categoria era para mim.

– Se for assim podemos recomeçar. – respondi ao fechar os olhos.

Percebi um braço me rodeando e uma respiração perto de mim.

– Obrigado. – o tom baixo e calmo.

Quando nos soltamos daquele aperto senti um frio passar em meu corpo, como se tivesse aquecida naqueles poucos segundos de contato. E foi neste momento que notei que estava usando o gorro que tinha o presenteado no aniversário.

– Por acaso usou o que te dei para que eu ficasse emocionada e o perdoasse? – perguntei enquanto apontava para o chapéu.

A carranca falsa se encontrava em meu rosto.

– Depende... pode ser porque me aquece, mas também coloquei por esse motivo. – o levantar de lábios saiu de maneira maliciosa.

Remexi-me no sofá e fiquei mirando a outra fita.

– Que filme é esse? – estava curiosa.

Quando mostrou-me dei um grito, até porque era de terror.

– Aceito um abraço em agradecimento. – comentou.

Não mereço!

– Não. – neguei.

– Então vou levar embora. – ameaçou.

– Se trouxe é para ser visto. – disse em um muxoxo.

Peguei a fita rapidamente e botei, e quando dei um grito por conta da surpresa o Henry me enlaçou com seus dois braços. Minha cabeça foi de encontro ao seu peito, fazendo-me parar de ver o que se passava na TV.

– Quero ver o resto. – gritei, pois sentia-me abafada pela sua blusa.

Aos risos afrouxou o aperto e ficou quietinho ao meu lado, mas em alguns momentos me abraçava e até tentou colocar-me em seu colo. Quando dei um tapa nele por causa de seu atrevimento parou.

– Confesso que estava com saudade até de quando me bate. – provocou.

– Se aproximar mais seu rosto farei isso novamente. – rosnei.

– E como está com sua mãe? – mudou de assunto.

– Péssimo, tanto que nem a vi no dia 11 de maio. – disse de maneira triste.

Apesar de ser uma pessoa ruim para mim era da minha família.

– Amy? – soou depois de um tempo.

– Sim?

– Por que mesmo depois de estarmos brigados continuou a colocar meu nome nos trabalhos? – quis saber.

– Precisava mostrar que ainda estávamos fazendo trabalhos juntos, pois precisava da média e do dinheiro. Só que nesses dias estava pensando em desistir do contrato.

Depois disse que tinha um compromisso e tinha de ir embora. Quando nos despedimos tentou me beijar, mas foi em vão porque o alertei sobre o que conversamos. Até porque ele teria de desistir de me riscar daquela lista. Ao ir para o quarto o telefone tocou.

– Alô. – comecei.

– Sou eu, o Enzo. – sem enrolações.

Até pensei que fosse o Henry.

– O que houve? – disse.

– Perdoou aquele garoto? – foi direto.

– Sim. – declarei depois de um tempo.

O silêncio se fez presente.

– Ele vai te machucar Lia. – praticamente berrou.

– Mas somos só colegas, e ele prometeu que não sou apenas mais uma da lista.

– Então sou eu que irei me afastar de ti agora. – sussurrou.

– Mas... – só que desligou na minha cara antes que terminasse.

Tentei ligar mais vezes para ele, mas não me atendeu em nenhum momento. Por fim fiquei pensando no peso dos dois garotos em minha vida, todavia nada resolvi. Decidindo-me por terminar as atividades com o intuito de ocupar minha cabeça com outra coisa que não fosse o que aconteceu.